quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A história do Saci Clube, de Macapá

O Artista Plástico e Professor aposentado  Carlos Nilson da Costa, conta, com exclusividade ao Porta-Retrato, com riqueza de detalhes, a história desse clube de jovens que surgiu no Amapá nos anos 60, o Saci Clube:


"Corria o início da década de sessenta quando fui eleito a primeira vez presidente do Saci, em uma renhida disputa com o amigo Olivar Bezerra. No início  eram as manifestações de cunho somente social.
Solicitamos e conseguimos aquela área de fora da Fortaleza de São José(foto). Lá construímos nossa sede. Era um ambiente muito bonito.
Foto de 1964 mostra um baile de Carnaval do Saci Clube, no Círculo Militar de Macapá. 
Estão na foto a partir da esquerda: Ubimar, Neuracy (Santos) Jucpá, Hector Santos (ao fundo), Maria Façanha e Amujacy.
O Saci começou então se politizar, pela razão de eu pertencer a política estudantil e aí sobressaiam Sebastião Cunha, José Maria Cunha, Oseías, Conceição e  suas irmãs muito queridas, o sócio Derossy no Banco do  Brasil, além de simpatizantes como  a top D. Diva Façanha, Seu Jacy e D. Alice Jucá,  Dr. Barbosa e a esposa D. Ercília, Moisés Zagury e esposa, Abdallah Houat (desculpe os esquecimentos que com certeza aconteceram), davam apoio e o Saci começou a fazer promoções culturais. Nesse ponto foram importantes o grande Alcy Araújo, Elson Martins, Arthur Rafael, Isnard Lima com muito incentivo entre outros. Promovemos um baile, até hoje o único, totalmente com música clássica (erudita). Contratamos uma grande orquestra em São Paulo, a orquestra Tobias Troisi, que só de violino tinha oito, fora os demais componentes. Houve colaboração da Icomi através do Freire. 
Foi um sucesso total no antigo Aeroclube.
Fervilhava a política nacional e o Amapá sem jornal bem atualizado, só com uma rádio, a Difusora e, lógico sem TV. Notícias mesmo era o jornal da semana nos cinemas. Íamos mais no achismo. Crescia a onda contra o Jango e aqui pedíamos a encampação da ICOMI. Nesse ponto agia muito o Isnard, que nem sócio era. Na sexta, 13 de março fizemos uma vigília SACI e CA na Piscina Territorial, onde fiz um pronunciamento favorável à estatização da ICOMI, que me custou uma detenção após 31 de março, lá pro fim do ano. Fui defendido pelo Bispo D. Aristides Piróvano e Pe. Caetano Maielo. Foi quando instituímos a camisa do Saci. A cor escolhida era o vermelho, que era pintado por mim e o Ronaldo Bandeira.
Em fins de 64 e 65 o Saci, em ação paralela começamos a pintar os muros contra o governo da ditadura. Reuníamos em casa com vários sócios e colaboração do Lucas, Ribeirinho, Rafael, Isnard, Carlos Teixeira, Gil Platon, Sérgio Arruda e outros. A tinta eram restos de velas da Igreja derretidas e misturadas com anelina colorida. As pinturas eram feitas de madrugada.
Nós éramos chamados de comunistas, inclusive pela cor das camisas.
No aspecto cultural mandamos buscar o elenco do Teatro de Amadores do Amazonas, para exibirem as peças "Judas no Tribunal" e" Prostituta Respeitosa ". Esta de Paul Sartre, que trata da discriminação da mulher e do negro nos EUA. O governador Gal. Luiz Mendes estava presente. Ao término da exibição perguntei ao Gal se o governo ajudaria o SACI, patrocinando um espetáculo. Aí ele disse: você está preso. Ação contínua, me pegou pelo braço, subiu no palco desandou em impropérios e mandou prender todo o elenco. 
Fomos conduzidos para o prédio (foto acima) onde hoje é a Delegacia do Ministério da Agricultura, na Coriolano Jucá. De manhã invadiram minha casa para saber de quem era uma bandeira que eles não sabiam. 
A bandeira era do Estado do Amazonas, que eu tinha ganho.
Esse fato desandou em outros que não é o caso agora, inclusive repercutiu em todo país, até na Academia Brasileira de Letras, que na ocasião recebia a visita de Leopoldo Señor, presidente do Senegal, país de língua francesa "que tinha sido desrespeitada no Amapá" (Sartre era Francês), disse Austregésilo de Athaíde.
Alguns meses depois nos tomaram a sede da Fortaleza, alegaram não ser possível um clube numa praça de guerra. Hoje é só lembrança." (Carlos Nilson, via e-mail)

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