João Zacharias Teixeira Leite, o
Mestre Zacha, um dos primeiros moradores de Macapá, Prefeito Honorário da
Favela...
Mestre Zacha foi proclamado, quando
vivo, patrimônio da capital amapaense. Mais que isso: um amapaense símbolo das
aspirações, da cidadania de um povo trabalhador e generoso, que exige respeito,
e tem direito de ser feliz...
Zacharias foi um cidadão acima de
qualquer suspeita! Por isso sempre gozou de respeito e consideração de todos,
parentes, amigos e conhecidos, pelo excelente conceito de honestidade e
decência, em sua vida e em sua história.
Lembro-me de um pequeno
relato feito pelo amigo Milton
Sapiranga Barbosa, "para homenagear
as pessoas que completaram um século de vida sem nunca terem feito mal a
ninguém. Em especial ao
senhor Zacarias Teixeira Leite, que sempre
foi um exemplo para seus
filhos e demais familiares, aos
seus amigos e também para os garotos
do bairro da Favela, que sempre
seguiram seus conselhos, ensinamentos, e o
respeitavam como um pai,
tanto que todos trilharam o caminho do bem e seu ZACA teve grande parcela em nossas vidas.”(A bala da paz -Milton Sapiranga Barbosa)
Assim que casou, seu Zacharias foi
morar com a mulher, D. Dica, na mesma casa simples em que residiu até sua
morte, na Av. Mendonça Furtado, aos fundos do Cemitério Nossa Senhora da Conceição,
no antigo Bairro da Favela, em Macapá. A companheira leal, a mãe dos seus
filhos - Francisco, João Leite, Lelé, Percival, Maria Lina e Odete - faleceu em
99 e levou com ela um pedaço do coração do Mestre Zacharias, que ficou triste,
reclamando de solidão sem nunca estar só, já que não lhe faltou o calor humano dos
familiares, dos amigos, dos muitos amigos!
Para falar a verdade, não foi
fácil; como grande e frondosa árvore centenária, resistiu a ventos e
tempestades sem nunca ter ido ao chão. Pelo tradicional endereço dos Teixeira
Leite, pela sala de visita da velha casa da Favela, passaram figuras influentes
nos últimos 50 anos oferecendo cargos, vantagens, fazendo propostas que
poderiam macular a imagem de um homem da sua formação, mas a “samaumeira” não
cedeu.
Tranquilo, como sempre, na mesma cadeira de
balanço em que viu o homem chegar à lua pela televisão, rejeitou uma a uma
todas as tentativas feitas contra sua dignidade.
Ex-servidor público municipal,
aposentado do Exército Brasileiro, pé de valsa e namorador, na mocidade tocava
trombone na Banda do padre Júlio Maria Lombaerd, ao lado do poeta e amigo, José
Serra e Silva (Zeca Serra). Ao responder ao amigo João Silva sobre o que fazer,
num pais como o nosso, para viver cem anos?
Zacharias – o mestre do tempo - respondeu: “Temperança, honestidade, equilíbrio
diante dos arroubos da juventude, nada de drogas, nada de bebida; família bem
constituída, amigos leais, humildade, amor ao Amapá, ao Brasil e dormir ao lado
de quem você ama”. Disse, sem pedir segredo, que o amor pela
companheira de mais de 70 anos fora de fato o grande elixir da vida longa e da
felicidade duradoura que os uniu e haverá de juntá-los, de novo, um dia, em
algum lugar do universo.
Texto atualizado e adaptado da Crônica
publicada na Rádio Antena-1, pelo jornalista João Silva, no dia 05 de novembro
de 2003, data do centenário de vida de João Zacharias Teixeira Leite, que
faleceu na madrugada do dia 07 de novembro do mesmo ano, dois dias depois de
completar 100 anos de vida.
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