O
primeiro indício da presença de manganês no estado do Amapá veio de um relato
do engenheiro Josalfredo Borges, a serviço do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em local indefinido às margens do rio Amapari.
Com a criação do território federal, em 1943, a pesquisa despertou o interesse
do interventor, o capitão Janary Gentil Nunes, que
já em seus primeiros meses de gestão deu ampla publicidade ao relatório de
Borges. Para o militar, a mineração seria a base da economia e do
desenvolvimento do território, ao invés da pesca e dos produtos tradicionais de
extração, como a borracha ou a castanha.
Em 1945, ele ofereceu um prêmio em dinheiro para quem fornecesse informações
que levassem à identificação de depósitos de minério de ferro.
Um
comerciante ribeirinho chamado Mário Cruz levou pessoalmente ao interventor
algumas pedras escuras e pesadas, que usara como lastro para seu barco, em busca da recompensa
prometida.
O
material foi analisado na sede do DNPM no Rio de Janeiro, pelo engenheiro Glycon de Paiva (foto menor), que constatou tratar-se de
manganês de teor elevado.
O
mesmo engenheiro foi à Serra do Navio analisar os depósitos e concluiu haver
grande viabilidade comercial, mas recomendou que a exploração fosse feita por
uma concessão única, que assim teria mais competitividade no mercado internacional. O
interventor aceitou a recomendação de Paiva e convenceu o então presidente Gaspar Dutra a criar, por meio do decreto-lei 9.858/46, uma área de reserva nacional englobando todo o depósito de manganês
e conferindo ao território a competência para prospectar e explorar, por meio
de concessão. Empresas nacionais e estrangeiras foram convidadas a visitar a
região e a apresentarem suas candidaturas à exploração da área. Três empresas
responderam o convite: a Companhia
Meridional de Mineração (subsidiária
brasileira da United States Steel), a Hanna Coal
& Ore Corporation, e a Sociedade
Brasileira de Indústria e Comércio de Minérios de Ferro e Manganês (ICOMI). A brasileira ICOMI, com sede
em Belo Horizonte e atuação em Minas Gerais,
foi escolhida pelos nacionalistas brasileiros e venceu a concorrência contra as
gigantes estadunidenses. Mas
depois de ganhar a concorrência, a necessidade de capital para realizar a
prospecção fez a ICOMI associar-se a outra grande companhia estadunidense, a Bethlehem
Steel, maior consumidora mundial de manganês. O contrato previa que a ICOMI teria de
investir no Amapá pelo menos 20% de seu lucro líquido. Ainda assim, sofreu
severas críticas de nacionalistas brasileiros, que faziam objeção à
participação de uma firma estrangeira no negócio, do financiamento estrangeiro
e do caráter exportador da atividade. O
contrato assinado em 1947 previa ainda um perímetro máximo de 2.500 hectares,
o equivalente a 0,17% do território do Amapá, e o pagamento de 4 a 5% das
receitas totais na forma de royalties ao governo do território. Além da área
de exploração, foi concedida à empresa uma área adicional de 2.300 hectares
para a construção de instalações industriais e estações ferroviárias, além de
uma vila operária, que daria origem à cidade de Serra do Navio e à vila dos trabalhadores do porto e
da ferrovia, que começaram a ser construídas em janeiro de 1957 e ficaram
prontas em 1959. Cada vila tinha 330 casas, alojamentos coletivos para
solteiros, temporários e visitantes, e prédios coletivos (escolas, hospitais,
refeitórios), abrigando até 1.500 pessoas, entre trabalhadores e familiares. A
Vila de Serra do Navio foi dotada de ruas largas, postes de concreto para a
fiação elétrica e telefônica, calçadas, parques, clubes com piscina, quadras
esportivas, restaurante e lanchonete, drenagem de águas das chuvas e tratamento
de água e esgoto. Todas as casas tinham mais de 90m² e contavam com saneamento
e energia elétrica, proveniente de geradores da ICOMI.
No
entanto, a reserva esgotou antes do tempo previsto e a empresa deixou o local.
Com a saída definitiva da ICOMI e após a instalação do município, a sede passou
a ser administrada pela prefeitura, e a administração da cidade tornou-se mais
eficiente.
Uma
curiosidade que pode explicar o nome da cidade é, segundo os antigos moradores,
que o rio que passa em frente à cidade, se observado via área, possui a forma
de um navio. Fonte: Wikipédia
Foto de Mário Cruz reproduzida do documentário “Dr. Antunes”, um filme biográfico sobre a
vida de Augusto Trajano de Azevedo Antunes, o fundador da Icomi e de um
verdadeiro império industrial chamado Grupo Caemi.
Foto menor: Reprodução site da ADESG
Um resgate muito importante. Por isso vale a pena ver sempre o Porta-Retrato. Parabéns, Janjão.
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