domingo, 11 de maio de 2014

Do Fundo do Baú: Santa Inês, A "fazenda" que virou bairro.

Este registro raro, foi publicado no Facebook  pelo amigo Paulo Tarso Barros. Além de professor e ativista cultural de Macapá, Paulo é nosso parceiro no blog Porta-Retrato; é um exímio pesquisador e sempre nos brinda com essas preciosidades garimpadas nos arquivos históricos do Amapá.
Ao tomar conhecimento dessa relíquia, solicitei a ajuda ao amigo Édi Prado - também parceiro do blog - para que me conseguisse uma foto semelhante à antiga, se possível no mesmo ângulo das imagens.
Imediatamente, Édi repassou a ideia ao seu amigo fotógrafo Alex de Paula, voltaram ao local e registraram vários cliques, dos quais escolhi a tomada mais aproximada da anterior, para vocês compararem como o local está hoje, após 17 anos.

Saiba como surgiu o nome do bairro Santa Inês:
O Bairro Santa Inês surgiu em Macapá, em 1985, acompanhando o desenvolvimento econômico e populacional que vinha sendo observado na capital amapaense. (Wikipédia)
Nos primeiros anos de Macapá existia, na orla da cidade, depois da Fortaleza de Macapá, uma reentrância que chamavam-se Remanso e Elesbão.
O historiador Nilson Montoril, conta detalhes desses dois antecessores do Bairro Santa Inês.
"Sobre a praia do remanso, no terreno do entorno oeste da fortaleza e na área do Elesbão, os moradores de Macapá, que apreciavam residir na margem do rio, foram construindo suas habitações. No trecho identificado como Elesbão, atualmente cortado pala Avenida Hélio de Souza Pennafort, que começa na Avenida Henrique Antônio Gláucio e termina da avenida 1º de Maio, vários pioneiros da edificação do povoado de Macapá formaram um aglomerado urbano. Este amontoado de casinhas e gente perdurou até meados da década de 1980, ocasião em que o Governador do Território Federal do Amapá, Annibal Barcellos, o extinguiu e transferiu os moradores para o bairro Nova Esperança. O aterro da área do remanso, do Elesbão e do igarapé do Igapó começou a ser feito em 1978, durante a gestão do Governador Arthur Azevedo Henning. A contar de 1979, os trabalhos foram intensificados pelo Comandante Annibal Barcellos, se estendendo pela orla de Macapá até as proximidades do igarapé Jandiá, dando origem à Praça Abdalla Houat, Praça Jacy Barata Jucá e expansão do Perpétuo Socorro. Para iniciar o aterro dos trechos citados o DNOS procedeu à drenagem da praia onde seriam construídas as rampas acostáveis do bairro Santa Inês, do Igarapé das Mulheres e próximo ao canal do rio Amazonas. Somente na conclusão do aterro utilizou-se laterrita. O Elesbão era uma referência para quem queria comprar peixe, carne de caça, frutas e açaí que os caboclos das ilhas fronteiriças a Macapá traziam para comerciar. Ali morou uma senhora sobejamente conhecida em Macapá como Maria Mucura. Com todo respeito à sua memória, o rosto da ditosa senhora era tal e qual a cara do marsupial devorador de aves. O pequeno declive existente perto de sua casa ficou famoso como baixa da Maria Mucura. É claro que ela não gostava do apelido e xingava os desrespeitosos até a milésima geração. Moradores do bairro do Trem de Lapidação e adjacências que gostavam de degustar uma cachacinha da marca Alvorada não deixavam de passar no boteco do seu Neco Brito e deliciar, de uma talagada só, o famoso produto advindo de Abaetetuba. Na volta para casa voltavam a encostar-se à birosca que não tinha nome para engolir a saideira. No entorno da Fortaleza, junto ao remanso, foi instalado um matadouro municipal. 
Sobre a praia funcionou um abatedouro de porcos pertencente ao senhor Pedro Pinheiro Borges. Também existiu um dançará na área, cujo nome parece ter sido “Bela Vista”. Quando a “porrada comia no centro”, dava gosto ver os brigões caírem na lama ou na água. Sujos e molhados iam depurar a maldita cana e sossegar o facho na Delegacia de Polícia. Ambiente mais calmo era o “Bananeira”, aprazível recanto onde uma família do local promovia festas e vendia refeições. Só funcionava nos fins de semana. Quem caísse na besteira de beber, comer e não pagar era sumariamente denunciado na Polícia e esconjurado pelo resto da vida e mais três meses." (Nilson Montoril)
"O Remanso desapareceu entre os anos de 1979 e 1980, quando foi aterrado."

Saiba mais no blog Arambaé

Em fevereiro de 2011, através do blog da Alcinéa, o leitor Jefferson Souza repassou o que ele ouviu em uma missa celebrada pelo  padre Dante Bertolazi, que na época era pároco da Igreja São Pedro. 
"Segundo o pároco havia naquela região uma  fazenda e o lugar era conhecido por “vacaria”. Percebendo que ao redor do local algumas famílias começavam a ocupação cada vez mais contínua,  ele, padre Dante, então pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição, paróquia responsável pela região,  foi ao encontro do dono da “fazenda” para solicitar que este lhe ofertasse um pedaço do terreno para a construção de uma capela para os fieis que ali por perto já habitavam.
"Segundo o sacerdote, o “fazendeiro” (que ele não citou o nome), disse-lhe que não seria possível ceder o local, já que ele tinha um empreendimento e não queria perder o domínio na área. Contudo, a região continuava sendo ocupada.
Passados quatro meses o proprietário foi ao encontro do padre manifestando o desejo de   doar a área solicitada pelo pároco para que este construísse a capela. A justificativa para a mudança de opinião era que já havia muitos ocupantes na área da “vacaria” e que ele já não tinha como impedir a invasão, achando justo doar para a Paróquia um punhado do terreno a fim de promover a fé católica e criar a comunidade na região.
Após a construção da capela, afirmou padre Dante, houve uma dúvida: Qual seria o nome? ou como se chama no catolicismo, a quem ela seria dedicada?
O sacerdote revelou que na sacristia da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição encontravam-se guardadas duas imagens: uma de São Tarciso e outra da Santa Inês. Logo ele pensou que uma das duas poderia ser destinada àquela nova comunidade. Para a escolha ele levou em consideração que não poderia ser a de São Tarciso, pois sendo este o padroeiro dos coroinhas deveria permanecer ali para o culto dos seus ajudantes de altar. Então, resolveu que seria Santa Inês.
Após a escolha de Santa Inês, organizou-se uma procissão que partiu da Igreja  da Conceição em direção a pequena capela. A imagem foi introduzida na capela e tornou-se sua padroeira, continuando até hoje no altar que lhe foi confiado. A mesma imagem pode ser encontrada hoje na Igreja de Santa Inês.
Com o fato e o crescimento do bairro, popularizou chamá-lo de “Santa Inês”, por conta da Capela em honra à Santa. Tão logo, a prefeitura reconheceu o nome, passando a usá-lo ao referir-se ao local; e mais adiante, o Governo do Estado com a construção da Escola Estadual em honra a mesma Santa."
Nota do blog: O nome do dono da fazenda era Seu Antonio Barbosa.

2 comentários:

  1. Essa foto é bem antes do ano de 1997, pois lembro bem que a Rua beira rio foi pavimentada e asfaltada no segundo semestre do ano de 1995 e por consequência os moradores dessas casas
    foram remanejados para o conjunto hospital de base no bairro buritizal.
    Rubem silva (morador do santa Inês)

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  2. A paisagem urbana de Macapá muda com muita velocidade e não é só na área urbana central. Em toda a capital as mudanças se processam rapidamente. E o João Lázaro vem registrando e divulgando este processo. Parabéns Janjão.

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