No post de hoje, trago uma relíquia do acervo de Derossy Araújo e Lúcia, que nos foi compartilhado pelo filho do casal, Márcio José Andrade da Silva.
Trata-se de um registro fotográfico
de outubro de 1960, com imagens dos fiéis, acompanhando o Círio de Nazaré, em
Macapá, no momento em que a procissão
dobrava da Rua Cândido Mendes para a Av. Mário Cruz e chegava à igreja Matriz. É importante observar que ainda existia, na época, na Cândido Mendes, uma das seculares mangueiras, que originariamente faziam parte do cenário da antiga Praça da Matriz.
O Primeiro Círio em Macapá:
Detalhamento Histórico: A primeira procissão do Círio de Nazaré
realizada em Macapá aconteceu em 1934, com o entusiasmo das religiosas da
Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, ao comando da senhora Ester
Benoniel Levy, esposa do então prefeito de Macapá, major Moisés Eliezer Levy. A
pesar da cidade já ter seu padroeiro, São José, cuja festa é realizada todo dia
19 de março, a concentração de romeiros do Círio de Nazaré em Macapá consegue
ultrapassar, em volume de massa, os penitentes do próprio padroeiro São José,
crescendo a cada ano o número de fiéis.
A trasladação da festa foi realizada no sábado, três de novembro, saindo
a imagem, às 20h30, da residência da família Serra e Silva, percorrendo a Travessa
José Serafim, Largo dos Inocentes (atrás da área de Igreja de S. José), Rua
Siqueira Campos (atual Mário Cruz), dobrando à direita da Rua Souza Franco, e
depois av. Amazonas, chamada pelo povo de Rua da Praia, em direção à casa de
Cesário dos Reis Cavalcante e de sua esposa Odete Góes Cavalcante, onde foi
montada uma singela ermida, que acolheu a imagem até o dia seguinte.
No dia 4 de novembro, às seis da manhã, a população começou a se aglutinar
em frente à casa onde estava a imagem. O
padre Filipe Blanc, vigário de Macapá, foi quem acompanhou a procissão, seguido
do interventor do Pará Magalhães Barata, deputados do Pará Abel Chermont e
Clementino de Almeida Lisboa, o prefeito Moisés Eliezer Levy, o médico e
professor Acelino de Leão, o juiz de Direito João Gualberto Cruz, o
tenente-coronel Jovino Dinoá, que era coletor federal e fundador do jornal
Correio de Macapá, o comerciante e ex-prefeito Clodóvio Coelho, o segundo
faroleiro de Macapá José Maria de Santana, o comerciante Vicente Ventura, o
político Secundino Campos.
Como a matriz de São José não possuía imagem da Santa de Nazaré, o
vigário solicitou a única existente na cidade, que pertencia à tradicional família
Serra e Silva. Daí o Círio ter saído solenemente desta casa. Como berlinda foi
usado um velho automóvel, devidamente adaptado.
A primeira romaria teve a presença destas autoridades e famílias,
seguidos de um pequeno cortejo formado de 60 cavaleiros armados de lanças que,
com clarins e fanfarras, anunciavam à população a passagem da procissão. Em
seguida vinha o anjo Custódio, imagem colocada sobre o dorso de um boi manso
chamado Beleza, seguido de uma corte de anjinhos, ricamente trajados. No
primeiro Carro dos Milagres havia uma reprodução da imagem da Virgem, que
salvou a vida de Fuás Roupinho.
Durante o percurso, uma pequena banda de música tocava hinos em louvor a
Nossa Senhora. No fim da procissão houve uma missa e depois um leilão, repetido
na segunda-feira (5), pela manhã. A festa durou apenas oito dias, com terços,
ladainhas e cânticos. No arraial havia brincadeiras diversas, vendas de
produtos da região e comidas típicas.
O dia 5 de novembro foi dedicado a São José. Historicamente têm-se cinco
de novembro de 1934 como realização da primeira romaria do padroeiro, que é
festejado no dia 19 de março. No dia 11, domingo, houve missa e Te Deum. À
noite procissão em redor da Praça Capitão Assis de Vasconcellos (Veiga Cabral).
O recrio foi realizado na segunda-feira, 12, com a imagem retornando à
casa da família Serra e Silva.
No Círio de 1937 a comunidade financiou a compra de outra imagem,
colocando-a sob a guarda do padre Blanc. A compra foi feita em Belém, de onde
veio também a berlinda.
No Estado ele segue a tradição do Pará, sendo realizada a festa sempre no
segundo domingo de outubro. Apesar do
grande numero de romeiros em Macapá, o Círio é uma festa de paraenses. A
presença da Virgem andando pelas ruas de Macapá nesse período é justificável
historicamente. É que Macapá pertencia, juntamente com Mazagão, ao Estado do
Pará até 1943, quando foi criado o Território Federal do Amapá.
A confecção da indumentária da santa foi, por alguns anos, obra de uma
devota fiel, de nome Raimunda Mendes Coutinho, educadora da fase territorial do
Amapá, já falecida, conhecida popularmente como professora Guita. Mas a exemplo
das religiosas da congregação fundada pelo padre Júlio Maria Lombaerd, várias
outras congregações como religiosas de Maria Menina (Bartoloméa) não mediram
esforços para que a maior festa religiosa do Estado
tivesse, ao longo dos tempos, um colorido maior.
Pesquisa e texto: Edgar Rodrigues
Fonte: Blog
do Edgar Rodrigues
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