Hoje o blog presta justa homenagem “in memoriam” ao pioneiro Waldelor de Silva Ribeiro, que era
inspetor da Guarda Territorial do então Território Federal do Amapá, e pai do
jornalista Édi Prado.
A pedido do blog, nosso ilustre parceiro aqui do Porta-Retrato
nos enviou a biografia que você vai ler agora:
Waldelor de Silva Ribeiro nasceu no dia 24 de junho de 1928,
na localidade de São Miguel dos Macacos, Afuá, município do Pará. Filho de
Joaquina da Silva Ribeiro e Abel José Ribeiro. Era uma espécie de faz tudo. Na
época os meninos eram iniciados desde cedo a aprender várias funções e ofícios,
entre elas a de desenhista e pintor de barcos.
Chegou ao Amapá no dia 23 de novembro de 1949. O Território
estava começando a se erguer. O primeiro trabalho de Waldelor foi como pintor na
Fortaleza de São José, enquanto preparavam a documentação para entrar na
Guarda Territorial, no tempo de Janary Nunes, primeiro governador e desbravador. Morava lá
mesmo na Fortaleza, enquanto aprontava um barraco no Beco da Mucura, ao lado do
centenário monumento.
Ele prometera que no máximo em um ano, levaria a mulher,
Maria de Nazaré Prado Ribeiro, a mãe, já viúva e mais dois irmãos para
Macapá. E nas horas vagas “abria letras”
para pintar os nomes das embarcações.
Além de pintor e desenhista, Waldelor possuía várias habilidades como
carpinteiro, eletricista, barbeiro e por ter uma caligrafia invejável, era
chamado para redigir documentos oficiais, cartazes, avisos e outros serviços
burocráticos.
Em pouco tempo ingressou nas fileiras da Guarda Territorial.
E com o dinheiro ganho com os “biscates”, cumpriu a promessa de levar bem antes
a família para Macapá em 05 de março de 1950.
Com o desenvolvimento e a chegada de veículos foi criada a
Divisão de Trânsito (Ditran) e ele foi indicado para fazer parte deste seleto
grupo, responsável pela emissão da Carteira de Motorista, fiscalização do
trânsito na cidade e nos interiores dos então cinco municípios: Macapá,
Mazagão, Amapá, Calçoene e Oiapoque.
“Ser aprovado para
tirar a carteira nessa época, precisava ter domínio de dirigir nas vias,
estradas e ter amplo conhecimento de mecânica e das leis de trânsito”,
relembram os motoristas pioneiros.
“Os inspetores Waldelor,
Queiroga, Dário Silva, o Peixeiro e outros pioneiros, eram osso duro de
roer e nessa época não havia corrupção e ai daquele que tentasse. Era preso e
ficava mais de ano sem o direito de fazer o teste para tirar a habilitação”,
contam os antigos motoristas.
Aposentou-se em 1984 e faleceu, vítima de erro médico em 28
de novembro de 1989. O nome de Waldelor da Silva Ribeiro está numa extensa lista
de ex-Guardas Territoriais à espera para serem homenageados com nome de uma via
na cidade ou outro monumento. “Um homem íntegro. Nunca se envolveu em
escândalo. Viveu para a família e criou nove dos 10 filhos, porque um deles
morreu prematuramente, com menos de um ano de idade. Chegou a concluir o então 2º
grau e formou quatro filhos com curso superior. O Edevaldo de Jesus Prado
Ribeiro, bacharel em direito e delegado de polícia; Elisabeth Maria Prado,
professora; Édi Prado, jornalista e Elinete das Dores Prado Ribeiro, secretária
executiva”, relembra a esposa, Maria de Nazaré Prado Ribeiro.
“A primeira casa ficava
na baixada da Mucura” (apelido de uma mulher, que mandava no pedaço, bem ao
lado da Fortaleza, que depois ficou conhecida como Elesbão. Era onde se abrigavam os primeiros moradores vindos das
Ilhas do Pará) “Lá funcionava um
matadouro de porco, mas eram também abatidos gado, caça e funcionava como
atracadouro de pescado”, relembra.
“Depois o prefeito
mandou ajeitar a área e nós tivemos que mudar para o Laguinho, que estava
começando com a chegada dos negros, que moravam na Favela e nas Praças Barão do
Rio Branco e Veiga Cabral. Por isso chamado de bairro moreno da cidade”, narra D. Nazaré.
“O Delô (como era
chamado carinhosamente pela esposa), construiu
ele mesmo a própria casa e mudamos para a Rua Gal Rondon, 618, em 1955, onde moro até hoje. Eu já tinha o Edilson José, Edvaldo de Jesus, Elisabete
Maria e o Edevonildo Nazaré Prado
Ribeiro, (o Édi Prado), ainda no colo.
Depois vieram o Ednelson (falecido), Edival, Elinete, Waldelor Filho, o
Luizinho (também falecido), Edna e Edinaldo Prado Ribeiro. O salário não era
tanto, mas dava para manter a família. A vida dos meninos se resumia à escola,
igreja, brincadeiras. Mas era tudo controlado. Não havia drogas, miseráveis,
bandidagem e a Guarda Territorial era respeitada. Havia hora para sair e chegar em casa. Os filhos obedeciam aos pais. ”
Como era e como está -
com 90 anos - católica fervorosa, D. Nazaré acompanhou a construção da primeira
capela de São Benedito e lembra da paz que reinava na cidade. “Meus meninos, com outros da vizinhança,
jogavam bola na frente de casa. Carro quase não havia. O movimento começou com
a construção da hidrelétrica do Paredão. Eram tratores, máquinas pesadas e
caminhões que passavam diariamente levando equipamentos”, relata.
“A cidade cresceu de
forma desordenada. Não levaram a sério o planejamento. Cada prefeito, embora
nomeado pelo governador, fazia o que dava na telha. E hoje vivemos o drama em
decorrência disso,” vem recordando D. Nazaré Prado Ribeiro. Lembra ainda
que “a educação e a saúde eram
prioridades do governo. Todo menino tinha que estar em sala de aula e o governo
dava uniforme, bota, material didático e os professores eram exigentes,”.
“Lembro bem que quando
construíram o hospital por volta de 1947, o pessoal comentava: para que um
hospital tão grande para tão pouca gente? E é esse mesmo hospital que temos até
hoje para atender não só a capital, mas todo o Estado. ”
Waldelor era um dos inspetores responsáveis para habilitar os
motoristas e conceder Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Um produtor de
hortaliças, gado, porco, galinhas e patos, além de fornecedor de frutas para
atender ao Mercado Central, passava diariamente em frente a casa dele como
trajeto de ida e volta. Um dia o dito cidadão, se envolveu num acidente e foi constatado que não tinha a CNH. Ficou impedido de dirigir enquanto não tirasse a carteira.
E faltando uma semana para realizar os testes, ele parou em frente à casa
do inspetor e deixou uma carrada contendo frutas, legumes, galinha, pato,
porco. Um abastecimento para mais de mês. Foi colocando tudo no pátio da casa e buzinou para anunciar o grande presente. Como Waldelor não atendia ao chamado pela buzina, decidiu bater palmas. E com um sorriso maior que o
caminhão, disse que era um presente. Desconfiado, Waldelor lembrou que aquele homem passava todos os dias pela frente da casa dele e nunca havia se dado ao trabalho
de um "bom dia" e agora trazia presentes, às vésperas do teste para motorista?
E deu o prazo de cinco minutos para o mesmo colocar tudo de volta no
caminhão sob pena de receber ordem de prisão. O vendedor tentou argumentar e
Waldelor disse que agora só tinha quatro minutos. Numa ação relâmpago, o citado
senhor limpou o pátio.
De quebra foi advertido que ficaria suspenso para realizar os
testes durante um ano.
Era assim que funcionava o serviço público. E Waldelor da
Silva Ribeiro dizia que um homem sem moral e sem caráter não honrava as calças
que vestia.
Texto do jornalista Édi Prado – filho do biografado – com
depoimentos de antigos motoristas da cidade e da viúva de Waldelor, professora
Maria de Nazaré Prado Ribeiro, que, com idade avançada, ainda mora em Macapá.
Como já foi escrito há algum tempo, o mesmo foi atualizado e adaptado ao
blog, com a devida anuência do autor.