A tão falada Pedra do Guindaste, era apenas uma pedra, com a mesma matéria encontrada nas falésias do
platô da Fortaleza de Macapá.
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Foto do Trapiche de Macapá com
a Pedra do Guindaste,
antes da homenagem a São José, do acervo do memorialista Gil
Reis,
publicada por Walter Jr. do Carmo, extraída do site Pinterest.com
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Ela ornou a praia de Macapá até setembro de 1973.
Desde 1970 existiu sobre ela uma imagem de São José, esposa de Maria e pai
putativo de Jesus Cristo.
A importante escultura
foi feita pelo luso-brasileiro Antônio Pereira da Costa, (foto menor) natural da Freguesia
de Valadares, Conselho Vila Nova de Gaia, Distrito do Porto, em Portugal. Na comunidade
de Valadares as atividades principais concentravam-se na agricultura e na
produção de cerâmicas. Antônio Pereira da Costa e seu pai eram ceramistas e
escultores de inegáveis méritos, com importantes obras realizadas no Rio de
Janeiro, em São Luiz do Maranhão, Belém do Pará e em Macapá.
Na então capital do
ex-Território Federal do Amapá, Seu Antônio Costa instalou sua oficina de
trabalho no quintal da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Duque de Caxias
tendo recebido especial autorização de seus irmãos, que sempre o distinguiram
como um invulgar “obreiro da paz”. Muitas das suas obras ainda são vistas e
admiradas nas cidades de Macapá e Amapá: Grupo Escolar Barão do Rio Branco,
Hospital Geral de Macapá, Maternidade Mãe Luzia, Fórum de Macapá, que hoje
abriga a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, os Leões assentados na
frente do citado prédio, a Estátua de Francisco Xavier da Veiga Cabral, em
Amapá, o Busto de Tiradentes, o busto do Deputado Federal Coaracy Nunes, na
Praça do Aeroporto Internacional Alberto Alcolumbre, o Tempo da Loja Duque de
Caxias e a Imagem de São José que ainda permanece sobre um pilar de concreto
ereto sobre as pedras menores da antiga formação rochosa derrubada pelo navio
Antônio Assmar, em setembro de 1973. Outro leão esculpido pelo Senhor Antônio
Pereira da Costa foi encomendado pelo comerciante Hermano Jucá Araújo, tio
paterno de Nilson Montoril e torcedor apaixonado do Clube do Remo. Pintada de
azul, a escultura foi mandada para Belém e instalada no Estádio Evandro Almeida.
Em setembro de 1931,
estando exercendo suas atividades na Promotoria Pública do Pará, o Dr. Otávio
Meira foi designado para vistoriar todos os cartórios, juizados e prefeituras
de Belém até Mazaganópolis, sede do município de Mazagão. Os municípios de
Macapá e Mazaganópolis estavam sob jurisdição do Estado do Pará. É bem
pitoresca sua narrativa sobre desembarque e embarque de cargas e passageiros em
Macapá, pois ainda não havia sido construído o trapiche da cidade. Segundo o
Dr. Otávio Meira, na maré alta, os barcos com menor calado podiam entrar no
Igarapé do Igapó ou Bacaba, mas o mesmo não acontecia com os navios, que
fundeavam e ficavam ao sabor das ondas. Tornava-se mais prático aguardar a maré
baixa, que deixava inteiramente à mostra a Pedra do Guindaste. Em algumas
oportunidades, quando a maré estava alta e as águas calmas, usava-se uma
embarcação tipo barcaça para receber as cargas dos navios. Neste caso, elas
permaneciam fundeadas próximo à pedra, sobre a qual, uma engenhoca tipo
bate-estacas, equipada com moitão/roldana e corda fazia o papel de um
guindaste, daí o nome atribuído à formação rochosa. Para vencer o estirão da
praia era usado um carro puxado por dois bois. Foi graças aos termos do seu
relatório, que o Interventor Federal Magalhães Barata liberou verbas para a
construção do primeiro trapiche de Macapá.
O Intendente Municipal
era o Major Eliezer Levy e a obra teve início em 1932. Tiveram início em 1969,
as entabulações para a concepção de uma imagem de São José, padroeiro de Macapá
e seu assentamento na Pedra do Guindaste. Sem alardes, as partes interessadas,
envolvendo Dom José Maritano, Bispo Prelado de Macapá e o Governador do Amapá,
General Ivanhoé Gonçalves Martins, tomaram todas as providências cabíveis.
Ninguém contestou o fato de a imagem não carregar o Menino Jesus nos braços e
ficar de frente para o rio mais caudaloso do globo terrestre. Devidamente
iluminado, a imagem de São José não recebeu a missão de proteger a cidade. Como
um importante símbolo do catolicismo ali ficou incólume. Porém, na noite de 23
de setembro de 1973, o navio Domingos Assmar, que fazia linha fluvial entre
Macapá/Belém/Macapá foi arremessado contra a pedra, quebrando-a e lançando nas
águas agitadas do Amazonas a apreciável escultura do santo padroeira da cidade.
O cidadão Antônio
Assmar, proprietário da embarcação assumiu os ônus pelo restauro da imagem e a
construção de uma pilastra de concreto, para substituir a Pedra do Guindaste.
Novamente entrou em ação o luso-brasileiro Antônio Pereira da Costa, recuperando
sua obra de arte.
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Imagem meramente ilustrativa |
Para erigir a pilastra foi contratada a firma Platon
Engenharia e Comércio, então capitaneada por Clarck Charles Platon. Tudo voltou
a ficar como antigamente, até o momento em que, apareceram os difusores de uma
nova ideia, imediatamente refugada pela comunidade macapaense que preza suas
tradições. Pretendiam os arautos do turismo trocar a atual imagem por outra bem
maior. Também seria removida a pilastra pioneira por outra de maior diâmetro,
da qual partiria uma passarela ligando-a ao trapiche Eliezer Levy.
A nova imagem deveria
conter o Menino Jesus nos braços e ficar de frente para a cidade. Estas
propostas não foram o ponto que fez despertar o descontentamento popular.
Inaceitável foi ignorar o valor histórico da obra concebida pelo escultor e
arquiteto Antônio Pereira da Costa, apenas porque ela não tem tamanho
exorbitante. Outro erro cometido pelos idealistas malfadados foi dizer que a
imagem atual iria ser colocada na frente da Fortaleza de São José. Ora, a
frente do monumento bélico corresponde a sua área de proteção patrimonial, onde
a escultura seria um “corpo estranho, que não faz parte do projeto de autoria
de Henrique Galúcio. Felizmente, as novidades não encontraram guarida no seio
da comunidade macapaense. Até praticantes de outros credos não as aprovaram.
Ocorre, que a imagem de “São José da Beira Rio” precisa ser protegida e
colocada longe de gente fantasiosa. Um pedido formal de tombamento da imagem
será dirigido ao IPHAN. (Nilson Montoril)
Fonte: Texto de Nilson
Montoril, adaptado para o blog Porta-Retrato, publicado na íntegra e
originalmente, em duas edições no Jornal Diário do Amapá, datadas de 25 de
novembro e 2 de dezembro de 2017, respectivamente.