A “Alfaiataria São José”, instalada
em Macapá pelo senhor Pedro Ribeiro à Rua 24 de Outubro, na frente de Macapá,
foi um marco importante na história da cidade.
Pedro Ribeiro era contramestre da
“Alfaiataria Pinto”, em Belém e tinha decidido tentar a sorte no comércio de
borracha. Com a produção da borracha em baixa, ele preferiu retomar sua antiga
profissão. Casou com Carmosina Reis Cavalcante, filha do Oficial do Registro
Civil da Comarca de Macapá, Cesário dos Reis Cavalcante e da senhora Odete
Reis. Carmosina estava viúva do senhor Cícero Lemos e tinha os filhos Altair
Cavalcante de Lemos, Altamiro Cavalcante de Lemos e Maria das Graças Cavalcante
de Lemos. Dos três, apenas o Altamiro aprendeu a costurar.
Com a anuência do senhor Cesário
Reis, a alfaiataria ocupou um dos cômodos de sua residência. Trabalhavam na
alfaiataria o senhor Pedro Ribeiro, sua esposa Carmosina e o garoto Vadoca.
Vadoca, cujo nome de batismo é
Vicente Valdomiro Ribeiro, na época, com apenas oito anos de idade, esbanjava
curiosidade e vontade de aprender a profissão que ainda preserva. Nascido e
criado na Rua 24 de Outubro, que o povo preferia rotular como Rua da Praia,
Vadoca estava sempre perto de sua genitora para ajudá-la nas tarefas de
carregar água, rachar lenha, fazer recados e compras. Dificilmente ultrapassava
a área da então Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos (Veiga Cabral) devido
à rivalidade que os moleques da Matriz e do Formigueiro devotavam aos pirralhos
que residiam na frente da cidade. Só ia à Igreja São José acompanhado dos pais
ou de parentes. Vadoca veio ao mundo no dia 7 de setembro de 1932, na casa dos
pais, Celso de Atayde Ribeiro e Esmerlinda de Carvalho Ribeiro. Sua genitora
era natural do Maruanum e residia na casa da Professora Cora Rolla de Carvalho,
sua parenta, quando conheceu Celso Ribeiro. Antes de ingressar na “Alfaiataria
São José”, o menino Vadoca realizava deveres domésticos e vendia pasteis feitos
pela irmã Angelina e jogava futebol com bola de meia e de sernambi. Angelina
era casada com Miguel Gantus e morava no início da Rua do Abieiro.
Só quando estava mais “taludinho” é
que passou a jogar com bola de verdade no campo do Cumau Esporte Clube, o time
alviverde da Cidade, cujo campo correspondia a uma área entre as Travessas
Floriano Peixoto (Presidente Vargas) e Braz de Aguiar (Coriolano Jucá), onde
depois foram edificados os prédios dos Correios e da antiga Lojas
Pernambucanas. Posteriormente defendeu as cores do Inca, São José, Macapá e
Trem. Em 1955, com 23 anos de idade, Vadoca casou com Odineia dos Santos
Ribeiro. Continuou jogando futebol por mais quatro anos, deixando de fazê-lo em
1959, porque precisava trabalhar em tempo integral para sustentar condignamente
a família. O casal gerou nove filhos, seis mulheres e três homens.
Antes de 1943, ano em que foi
criado o Território Federal do Amapá, a cidade de Macapá tinha alfaiates e
costureiras de primeira linha. A alfaiataria do senhor Ataíde ficava na
Travessa Castelo Branco (Rua Tiradentes) no espaço onde depois funcionou o
Cartório Jucá.
Seu Ataide José de Lima(Barbudo),
era acreano onde nasceu em 08 de abril de 1920; chegou a Macapá em 1943.
Residiu inicialmente, na Presidente Vargas em frente à casa onde morava a família
Zagury, depois em uma travessa que ficava entre São José e Cândido Mendes, ao
lado onde residia o Sr. José Trajano Neto, depois mudou-se para a rua São José
esquina com a Cora de Carvalho, onde hoje funciona uma agência do Banco do Brasil. Alguns anos depois passou a morar atrás do
Hospital São Camilo. Depois que se submeteu à uma cirurgia em Belém em 1962,
ele abriu um bar, pois ficou impossibilitado de trabalhar na profissão de
alfaiate. Seu Ataíde também era espírita e, nos anos 80 e 90, sempre atendia às
pessoas num barracão localizado à Rua Mendonça Furtado, entre as ruas Hamilton
Silva e Manoel Eudóxio Pereira. Depois
por motivos de saúde, passou atender só na residência dele.
Seu Ataíde era casado com a
paraibana Benedita Alves de Almeida, com
quem teve 7 filhos.
Ataíde José de Lima (Barbudo),
faleceu em Macapá no dia 08 de março de 1999 e seu corpo está sepultado no
Cemitério de São José, no bairro Santa Rita.
Na Avenida General Gurjão (bairro
Alto) atuava o Nelson e no Largo do Formigueiro (atrás da igreja Matriz) o Lameira.
Lembro também do Seu Luiz (foto), alfaiate que por muitos anos morou, com a família, na Av. Feliciano Coelho, onde antes funcionou o banheiro público do bairro do Trem e depois foi transformado em rinhadeiro, palco de concorridas brigas de galo, que reuniam muitos aficionados desse esporte, (uma tradição antiga, que tinha juiz e apostadores), que desde 1998, está proibido no Brasil, sendo considerado crime ambiental. A família do Seu Luiz, continua morando no local, no mesmo prédio agora cedido pela Prefeitura Municipal de Macapá.
Depois da instalação do Governo do Território do Amapá, a 25 de janeiro de 1944, a migração de jovens para Macapá foi marcante. O governo precisava de mão-de-obra para a construção de prédios públicos e para diversas atividades que estavam sendo implementadas. Entre os que buscavam emprego estava Herundino do Espírito Santo, conceituado alfaiate e bom futebolista. Ela conhecia o Pedro Ribeiro e não perdeu tempo em procurá-lo.
Lembro também do Seu Luiz (foto), alfaiate que por muitos anos morou, com a família, na Av. Feliciano Coelho, onde antes funcionou o banheiro público do bairro do Trem e depois foi transformado em rinhadeiro, palco de concorridas brigas de galo, que reuniam muitos aficionados desse esporte, (uma tradição antiga, que tinha juiz e apostadores), que desde 1998, está proibido no Brasil, sendo considerado crime ambiental. A família do Seu Luiz, continua morando no local, no mesmo prédio agora cedido pela Prefeitura Municipal de Macapá.
Depois da instalação do Governo do Território do Amapá, a 25 de janeiro de 1944, a migração de jovens para Macapá foi marcante. O governo precisava de mão-de-obra para a construção de prédios públicos e para diversas atividades que estavam sendo implementadas. Entre os que buscavam emprego estava Herundino do Espírito Santo, conceituado alfaiate e bom futebolista. Ela conhecia o Pedro Ribeiro e não perdeu tempo em procurá-lo.
Herundino nasceu em Belém dia 23 de
julho de 1919, filho de Serafim Ferreira do Espírito Santo e Raimunda Jacinta
do Espírito Santo. Fez o curso Complementar no Colégio Dr. Freitas e começou a
trabalhar em oficina de alfaiataria onde aprendeu a profissão. Chegou em Macapá
em 2 de novembro de 1945, ingressando na antiga Guarda Territorial quando
assumiu a alfaiataria da instituição, aprontando o fardamento dos policiais e,
nas horas vagas costurava para pessoas da sociedade, inclusive para o Capitão
Janary Gentil Nunes, primeiro Governador do TFA. Foi atleta do Esporte Clube
Macapá e atleta fundador do Trem Desportivo Clube. Casou-se com D. Joana Silva
do Espírito Santo e com ela teve oito filhos. Aceito na “Alfaiataria São José”,
Herundino colocou em prática sua larga experiência no corte e confecção de
roupas masculinas em casimira. A alfaiataria de Pedro Ribeiro também contou com
os préstimos de Hermínio Costa, Antônio, Zé Arigó, Maria e Antônia. Com essa
equipe, Pedro Ribeiro atendeu a todas as encomendas que a Indústria e Comércio
de Minérios S.A lhe fez. A encomenda da ICOMI compreendia o vestuário que os
empregados da empresa usavam. O Antônio também se desligou da equipe de Pedro
Ribeiro e seguiu o mesmo caminho traçado por Herundino. O Hermínio Costa, irmão
do Hélio Costa, o grande centro-avante do Paysandú, passou a trabalhar na Escola
Industrial de Macapá, onde, desde março de 1953, atuava o famoso irmão
futebolista. O Formiga e o Passarinho I também fizeram parte da alfaiataria da
Guarda Territorial. Todos eles, no período de folga, continuaram realizando
atividades particulares em alfaiatarias de amigos. O Herundino montou a “Zaz
Traz”, uma alfaiataria estabelecida no Largo da Matriz.
Segundo o Vadoca, a equipe de Pedro
Ribeiro era muito boa e o trabalho realizado para a ICOMI agradou plenamente.
Nessa fase o Vadoca costurava numa máquina Pfaff de fabricação alemã e
aprontava quatro calças por dia. À época, as grandes lojas das capitais
brasileiras e cidades mais desenvolvidas não vendiam confecções, só tecidos e
armarinhos e isso favorecia os alfaiates. Em Macapá a situação não era diferente.
O sujeito comprava a fazenda e a levava ao alfaiate para que ele tirasse suas
medidas e fizesse a roupa que desejava. A maioria das lojas comerciais de
Macapá vendia secos e molhados. Vadoca trabalhou na “Alfaiataria São José” até
1956, ano em que faleceu Pedro Ribeiro. A alfaiataria já não funcionava na Rua
da Praia, mas na Avenida Presidente Vargas ao lado da casa da Dona Carmem
(Carmita) Mendes, filha do Coronel da Guarda Nacional Manuel Theodoro Mendes,
que comandou a guarnição da Fortaleza de Macapá e foi Intendente Municipal.
Vadoca conta que o Pedro Ribeiro tinha um calo no dedo mínimo do pé direito,
que o incomodava bastante. Ele costumava cortar a parte dura do calo com uma
velha lâmina de barbear, fato que redundou em ferimento que infeccionou. Sem
dar a devida atenção ao problema de saúde que a lesão lhe causava, Pedro
Ribeiro foi acometido de tétano.
Em 1956, o Governador do Amapá era
o médico Amílcar da Silva Pereira, freguês do alfaiate. Ao constatar que o
estado de saúde de Pedro Ribeiro era grave, o Dr. Amílcar Pereira o mandou para
o Hospital dos Servidores Públicos, no Rio de Janeiro. O estágio do tétano
estava tão avançado que a perna do alfaiate precisou ser cortada quase no
tronco da coxa. De volta a Macapá, usando uma prótese, Pedro Ribeiro apenas
cortava pano, mas não tinha como fazer roupa. Faleceu pouco tempo depois da
cirurgia, ainda em 1956. Vadoca ficou gerenciando a alfaiataria por alguns
dias, entregando-a a senhora Odineia Ribeiro, com quem Pedro Ribeiro havia
casado depois de ficar viúvo de Carmosina Cavalcante. Casado há um ano, Vadoca
sentiu que era o momento de trabalhar por conta própria e assim procedeu. Seu
primeiro auxiliar foi o Chunda, bom costureiro, mas problemático por causa da
bebida. Certa vez, com a cuca cheia de cachaça, o Chunda esqueceu o ferro
elétrico ligado sobre a mesa de passar roupa e faltou pouco para a alfaiataria
do Vadoca virar cinza. O Chunda também trabalhou com o senhor Ataíde e anos
mais tarde foi residir em Laranjal do Jarí, onde pereceu afogado. Vadoca domina
como poucos a arte da costura. Faz paletó, blazer, jaquetão, camisa, bermuda,
calça e outros tipos de roupa. Trabalhou
muito tempo com o linho caruá, linho tubarão (difícil de cortar), casimira
aurora (que não pode ser lavada), tropical (caro e bonito), tricolina
(apropriada para camisa), chita (usada prioritariamente para camisão de
dormir), seda (tecido preferido pelos festeiros e malandros para camisa de
manga comprida porque a navalha não lhe causa danos), brim, tergal (que não perde
o vinco), etc. Aliás, o Vadoca trabalha com qualquer tipo de fazenda. Nas
décadas de 1940, 1950 e 1960, as fazendas de linho dominavam a preferência dos
homens. Por ocasião da festa de São José o macapaense da gema não deixava de
mandar fazer calça e camisa para ir à missa, acompanhar a procissão e frequentar
o arraial. As autoridades territoriais só usavam ternos de linho muito bem
engomados por ocasião das solenidades mais expressivas da cidade. Nas lojas que
vendiam fazendas em Macapá, todos os apetrechos necessários à costura eram
encontrados. O fecho, que hoje é chamado de zíper só era empregado nas roupas
das mulheres. Braguilha da calça de homem só levava botões, todos brancos.
Vadoca nunca quis ser funcionário
público, preferindo viver da sua profissão. Começou a pagar a previdência em
1952, como autônomo e sempre primou pelo pagamento das contribuições em dia.
Beirando os 86 anos de idade, Vadoca faz expediente em dois turnos, de
segunda-feira a sábado na sua frequentadissima alfaiataria, na esquina da Rua
Jovino Albuquerque Dinoá com a Avenida Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho,
bairro central. É um ponto de encontro de novos e velhos fregueses. Ali, Vadoca
conta e ouve histórias interessantes sobre todos os assuntos. Em uma das
paredes há dezenas de fotografias que comprovam sua condição de jogador de
futebol e junto a amigos. Chama a atenção de todos, um espelho cuja moldura faz
lembrar o famoso espelho mágico que a madrasta da Branca de Neve usava para
saber qual era a mulher mais bela da terra. O espelho que o Vadoca conserva na
alfaiataria pertenceu à sua genitora e tem mais de oitenta anos de uso. O
alfaiate mais antigo de Macapá ainda confecciona e reforma roupas de acordo com
o gosto do freguês. A primeira máquina Singer que ele comprou foi usada de 1956
a 1996. Ainda funcionando bem, foi doada a um amigo. A máquina atual, também da
marca Singer, foi adquirida em 1996. Há uma máquina Singer elétrica que ele só
utiliza para fazer o arremate de algumas partes da roupa que fabrica. Por recomendação
médica, Vadoca deve continuar pedalando sua máquina de costura enquanto o vigor
físico das pernas permitir.
(Foto: Reprodução / TV Amapá - print de tela) |
Texto de Nilson Montoril, atualizado e adaptado ao blog Porta-Retrato, com a devida anuência do autor.
( Fonte: Blog Arambaé - Nilson Montoril
Nota do Editor: Santino Inajosa, também alfaiate da Guarda Territorial, é outro
personagem da arte da costura, que não pode ficar fora desse registro. O jornalista
Ernani Marinho lembra que a alfaiataria de Santino ficava próximo à Casa Leão do
Norte, na antiga Av Amazonas, e depois na Candido Mendes, ao lado da Imprensa
Oficial, hoje SuperFácil. A amiga Sarah Zagury, confirma que Seu Santino e Dona
Carmosina, esposa dele, eram amigos de Dona
Clemência e Isaac Zagury, pais dela. Grato pela contribuição! João Lázaro.
(Última atualização em 05/jul/2018, às 11h45m)
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