As vezes sou surpreendido pelas
lembranças da infância, do cinema no barracão paroquial.
Reprodução Dreamstime.com |
Ficava a contar os
tostões durante toda a semana, na esperança de que eles pudessem bastar para
comprar a entrada da matinê de domingo.
Além de me desdobrar para conseguir
a grana fazendo pequenos serviços, ainda tinha que obter média às “Composições”
(simuladão de provas) que eram aplicadas todas as sextas feiras.
Era um só dia de diversão, uma data
marcada, uma solenidade para o espírito, a única grande atração da arrastada
existência infantil daquele tempo.
Reprodução Google images |
Às tardes de domingo logo após o
almoço, lá ia eu para ver o Gunga Din, Sansão e Dalila, o Gordo e o Magro,
Robin Hood, Durango Kid, Johnny Mack Brown – Apolong Cassidy, Roy Rogers e, tantos
outros ídolos do Far West.
Mas nada se comparava aos seriados
– principalmente quando era do Batman (o homem morcego). Era o sonho de um
menino embalado uma vez por semana, apenas uma tarde, o resto era estudo ou
trabalho.
Enquanto aguardava a abertura da
bilheteria, a garotada se concentrava em frente ao barracão paroquial
improvisado de cinema, barganhando a troca de gibis.
Parecia um antigo pregão da bolsa
de valores ou mercado persa - pela algazarra generalizada de todos falando ao
mesmo tempo, trocando ideias de como o mocinho do seriado se salvaria do
perigo.
Quebrávamos a quietude e a rotina
dos padres.
Reprodução: Facebook |
Com perfuração dos dois lados, os
filmes em preto e branco vinham em duas grandes latas metálicas presas por uma
correia de couro.
Enquanto o carretel da fita partida
rodava em alta velocidade, a molecada batia o pé no assoalho de madeira que
pela densa nuvem de poeira, creio que nunca sequer fora varrido, quanto mais
lavado.
Começava então, uma guerra de
bombons que literalmente viravam balas, acompanhada de assobios e palavras de
ordem “não vale roubar “e “morra a mãe” – deixavam o Nemias e o Cascavel
operadores, muito mais nervosos.
Por questão de ordem, acendiam as
luzes. Aqueles que eram surpreendidos pelos padres, levavam um série de
cascudos e eram postos para fora com chutes na bunda.
Colada a fita, reiniciava o filme,
muitas vezes numa cena que nada tinha com a anterior quando foi rompido. As
palavras de ordem acima recomeçavam, até o padre ameaçar encerrar
definitivamente a sessão.
À maioria das vezes não dava pra
continuar, nunca se entendia o enredo. Muitos deixavam espontaneamente o
cinema. Como se não bastasse a descontinuidade do filme, acrescente-se a
retaliação dos manifestantes postos pra fora a tapas e chutes, que conturbavam
a sessão, atirando pedras sobre o telhado de zinco.
O assoalho de madeira, sem declive,
com longos bancos sem encosto, dificultava a visualização, situação que se
agravava principalmente quando algum retardatário ou aqueles que deixavam o
cinema antes do término da sessão passavam em frente do foco de projeção
obstruindo a cena.
Momentos inesquecíveis e
hilariantes perdidos no tempo. Se a vida fosse tão simples como o cinema de
antigamente nos mostrava, não precisaríamos nos preocupar em recarregar os
revólveres.
E sempre que tivéssemos de sair às
pressas de um restaurante ou bar, atiraríamos dinheiro em cima da mesa sem
precisar contá-lo e sem esperar que o garçom trouxesse a nota.
Em antiquários, museus, onde quer
que estejam, as velhas Hows & Bells merecerão sempre o carinho e a
admiração de uma geração que não se continha de tanto encantamento e, era feliz
até o THE END.
(*) jornalista, ex-radialista e escritor
Texto publicado originalmente na
rede social
Fonte: Facebook
Meu amigo José Machado, homem de brilhante memória, nos dando a graça de revivermos através de seus texto e ilustrações, os grandes momentos vividos nas decadas de 50 e 60 e 70. Obrigado amigo Machado, por me fazer reviver atraves desta leitura grandes momentos vividos e que hoje só nos resta boas Lembranças.
ResponderExcluir