segunda-feira, 2 de novembro de 2020

MEMÓRIAS DA CIDADE DE MACAPÁ

 O Historiador Nilson Montoril, tem publicado no Jornal Diário do Amapá, uma série de artigos em que ele conta suas Recordações de Infância, em Macapá.

Por terem uma enorme importância histórica, resolvemos transcreve-las no Blog Porta-Retrato, ilustrando com fotos históricas de nossos arquivos:

Recordações de minha infância (I)

Por Nilson Montoril

Há momentos em minha vida, que fico lembrando da minha infância e do meu convívio com moradores da Avenida General Gurjão, no centro de Macapá. Gerado na cidade de Mazaganópolis, onde meu pai Francisco Torquato de Araújo era prefeito, ali vivi de maio de 1944 a abril de 1946, ocasião em que meu genitor decidiu solicitar exoneração do cargo e foi cuidar dos seus empreendimentos comerciais na região das Ilhas do Pará. Fixamos morada no “Reduto do Rio Furo Seco, cuja foz fica na margem esquerda do canal norte do rio Amazonas em frente a entrada do rio Mutuacá, mais conhecido como Mazagão Velho. Em dezembro de 1948, eu estava caminhando para completar 4 anos de idade, quando meu pai comprou um imóvel bem construído pelo empreiteiro João Pernambuco e decidiu transferir a família para Macapá. Ainda hoje tenho duas irmãs que residem na via pública acima mencionada, nº 171, entre as Ruas São José e a Tiradentes.

O cenário era muito diferente dos dias atuais. Quase todas as casas eram erigidas em taipa de mão, posicionadas nas duas laterais da General Gurjão. Umas ocupavam terrenos longos. Outras quase não tinham quintal. 

No trecho citado diversos imóveis estavam abandonados, quase em ruínas. Quando comecei a ter noção das coisas da vida, ainda entrei em alguns deles, sem pensar o quanto deve ter sido penoso seus ocupantes baterem em retirada. Nem todos os residentes da Avenida General Gurjão eram de Macapá, mas estavam bem confortáveis no seio da comunidade macapaense. 

A partir da Rua Cândido Mendes, no sentido do Cemitério Nossa Senhora da Conceição, relembro da casa do senhor Luiz Pires da Costa, proprietário da “Casa das Cordas”, cidadão português egresso de Manaus, que casou em Macapá com Lina de Matos, integrante de tradicionalíssima família local.

O casal havia morado bem perto da margem direita do rio Amazonas, ocupando área que o governo territorial do Amapá desapropriou para melhorar o aspecto da frente da cidade e construir o Macapá Hotel. 


Depois da Casa das Cordas existiam quatro residências geminadas feitas em taipa. 

Uma delas abrigou por muito tempo a Escola Municipal de Macapá. Onde estão eretos os prédios da Embratel e uma residência pertencente à Companhia de Eletricidade do Amapá, existiu uma espécie de pracinha, sendo possível trafegar por ela, entre as avenidas General Gurjão e Cora de Carvalho. Isso, antes da criação do Território Federal do Amapá. Com a implantação da nova unidade federada, o governo utilizou o amplo espaço para edificar a Garagem Territorial e a Usina de Força e Luz. 

A partir da usina recordo o aspecto da humilde habitação do casal Adão e Eva, vizinhos dos macapaenses Emanuel Serra e Silva e Antônia Picanço e Silva, conhecidos como Duca Serra ou Minduca e Antonica. Minduca era pequeno comerciante e já havia trabalhado no Serviço Especial de Saúde Pública-SESP, como “mata mosquito”. Vinha a seguir o “Café Moeda”, local preferido pelos funcionários da Garagem Territorial e da Usina de Força e Luz. Seu proprietário era o senhor Antônio Pinheiro Sampaio, rotulado como “Seu Moeda” e casado com Antônia Silva Sampaio. Passando um terreno sem construção alguma vinha a “Pensão Sempre Viva”, gerenciada pela Madame Nenem Veríssimo e por sua filha Maria do Carmo.

A pensão integrava um bloco de casas geminadas composto por três unidades, às duas últimas pertencentes à Dona América Tavares e ao casal Herádito de Azevedo Coutinho (Ditinho) e Raimunda Coutinho (Dica). A Rua São José separava esse conjunto de uma edificação muito antiga, feita em taipa de pilão, com paredes bem grossas. Ali tinha funcionado a Cadeia Pública da Vila e da Cidade paraense de Macapá. Sua ocupante era Dona Mariinha tendo como coabitantes o barbeiro Jorge Modesto e sua esposa Nilza, seu Jayme e dona Benedita (Biló). Diziam que o local era mal assombrado e que as almas dos que morreram no poço seco escavado em uma das celas gemiam e arrastavam correntes. Tudo fantasia. Rente a Cadeia morava João Barca e Raimunda Coutinho (Dica) compadres de meus pais Francisco Torquato e Olga Montoril.

Fonte: Jornal Diário do Amapá

Leia também:

Recordações de minha infância (II)

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