segunda-feira, 27 de junho de 2022

MEMÓRIAS DA CIDADE - SONOROS DE MACAPÁ

 Por Nilson Montoril

O primeiro “sonoro” da cidade de Macapá foi instalado no dia 25 de fevereiro de 1945,

por iniciativa do jornalista Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, coordenador do Serviço de Informações do Governo do Território Federal do Amapá.

Os equipamentos para amplificação de som e voz foram assentados no subsolo da Intendência Municipal e o idealizador do sistema fazia a locução.

             Heráclides Macedo - técnico da Panair do Brasil que instalou o primeiro sonoros de Macapá, em 1945

Em pontos estratégicos da cidade foram colocados quatro alto-falantes, tipo corneta, através dos quais as informações sobre as realizações do governo territorial e as notícias da segunda guerra mundial chegavam ao conhecimento do público. A cidade era tão pequena, que, querendo ou não, todos os seus moradores ouviam as transmissões.

Este sonoro foi o embrião da Rádio Difusora de Macapá. Após a inauguração da RDM, os equipamentos do serviço de alto-falantes foram incorporados ao acervo técnico da emissora.

O segundo sonoro, instalado quando a Rádio Difusora já estava no ar, funcionou ao lado da Sorveteria Central, na esquina da Rua Cândido Mendes com a Avenida Siqueira Campos (Mário Cruz), com locução de Laurindo Banha.

Com um terraço aprazível, a sorveteria pertencente à firma Sarah Rofé Zagury atraía o pessoal apreciava sorvetes e picolés de leite, taperebá, açaí, nescau, maracujá e ameixa. E os que curtiam músicas sentimentais. Corinhos, sambas, baiões, sambas-canção, tangos, foxtrot, guarânias e outros ritmos que faziam grande sucesso no cenário nacional eram executados com muita frequência. Os frequentadores que estavam desiludidos no amor pediam composições como “Lama”, “Último Desejo”, “Dez Anos”, “Devolvi”, “Lencinho Branco” e “Madressilvas”.

Estes e outros sucessos também tocavam no alto-falante da Farmácia e Drogaria Serrano,

que revelou para o rádio amapaense o saudoso amigo Pedro Afonso da Silveira. Posteriormente surgiram as aparelhagens de som rotuladas como “picarp”, detentoras de invejáveis discotecas.

Elas se esmeravam na animação de festas dançantes, sendo a mais famosa a que pertenceu a Jefferson Pechouth, mais conhecido no seio da sociedade boêmia e festeira como Pecó. Cada sonoro festivo tinha suas peculiaridades e locutores.

O sonoro da “Casa Ribamar”, localizado no poste fronteiriço ao referido estabelecimento comercial, na esquina da Avenida Padre Júlio Maria Lombaerd com a Rua Cândido Mendes, entrava no ar as 16 hora e encerrava suas atividades as 18 hora, após a execução da música “Ave Maria”.

Uma sentida mensagem religiosa era lida pelo locutor, que se intitulava como “o amigo de Vocês”. Deste sonoro saiu mais um bom valor do rádio amapaense, Bonifácio Alves. Não havia um só dia que o sonoro da Casa Ribamar não tocava uma música catastrófica, cujo início era: Sangue, Sangue, Sangue.

Na frente da Casa Ribamar, na Rua Cândido Mendes, estava edificada a Casa Dora, propriedade de Thanus Ziade. O som do alto-falante incidia agressivamente no quarto onde o Raja Ziade, filho do seu Thanus, costumava tirar uma sesta.

Um dia, cansado de ser perturbado, o Raja apanhou um rifle e detonou vários tiros contra a “garganta de ferro”. Foi o que bastou para que um novo aparelho fosse instalado, mas voltado para outro ponto. À proporção que a cidade crescia, algum dono de casa de comércio mandava instalar um sonoro para fazer a propaganda de seus produtos.

No Elesbão, área próxima ao flanco oeste da Fortaleza de Macapá, existiu um sonoro denominado Alvorada. O locutor gostava de tomar uns aperitivos antes do início das transmissões. Além do mais, seu português era sofrível. Quando o sonoro entreva no ar, ele caprichava na identificação da aparelhagem, baixando e subindo o nível de som do prefixo.

Certa vez, por ocasião de uma animada festa dançante, o locutor quis deixar patente que seu equipamento era melhor que os demais e sapecou esta preciosidade: “Estão ouvindo o Sonoro Arvorada, o único que não tem ruído, não tem zumbido e não tem porra nenhuma. São 250 kilowatts de saída e respeite a porrada nas caixas”. Os fofoqueiros que se encarregaram de espalhar está suposta louvação juram que ela de fato aconteceu.

Fonte: Diário do Amapá

Nenhum comentário:

Postar um comentário