domingo, 1 de junho de 2025

MEMÓRIA ESCOTEIRA: O INÍCIO DO ESCOTISMO NO AMAPÁ

No ano de 1942 e nos anos seguintes, o mundo vivia em plena Segunda Guerra Mundial. O Brasil, até então neutro, viu-se envolvido no conflito após o afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães em águas territoriais nacionais. Essa tragédia resultou em perdas humanas e na interrupção do abastecimento entre o Sul e a região Norte, que ainda não contava com rodovias para facilitar o transporte.

Belém do Pará, cidade natal de José Raimundo Barata, não ficou imune aos reflexos da guerra. Com a entrada do Brasil como aliado dos Estados Unidos, Belém tornou-se uma base estratégica para operações militares. Aviões aliados faziam escala em Macapá, no Território Federal do Amapá, onde os americanos haviam construído uma base aérea — posteriormente transformada na Escola de Iniciação Agrícola do Amapá.


Essa parceria trouxe melhorias estruturais significativas às cidades de Amapá, Belém e Natal, especialmente quanto à infraestrutura dos aeroportos, que foram adaptados para funcionar como bases militares. Além disso, houve aumento de empregos diretos e indiretos, contribuindo para o desenvolvimento econômico local.

Naquela época, Raimundo cursava o segundo ano de Marcenaria numa escola técnica de Belém, que oferecia regime de semi-internato com refeições diárias incluídas. Entre os alunos, havia uma forte união, alimentada pela diversidade social e pelo espírito coletivo de aprendizado. 

Imagem; reprodução internet

Além disso, ele participava do grupo escoteiro católico “São Raimundo Nonato”, vinculado à igreja de mesmo nome no bairro do Telégrafo.

Filho de uma família modesta, Raimundo via seu pai, embarcadiço em uma companhia fluvial, sustentar todos sozinho. Após o falecimento do genitor em abril de 1944, a situação financeira da família se agravou. Para ajudar, sua irmã de criação e sua mãe passaram a vender gêneros alimentícios e lavar roupas para fora, enquanto Raimundo buscava trabalho sem sucesso. 

Foi então que, em abril de 1945, surgiu uma oportunidade inesperada.

Imagem meramente ilustrativa

O chefe escoteiro Glycério de Sousa Marques apareceu em sua casa com uma proposta promissora: recrutar dois jovens para fundar o movimento escoteiro no recém-criado Território Federal do Amapá. O governador Janary Gentil Nunes era um entusiasta das ideias de Baden-Powell e enxergava no escotismo um instrumento de formação cívica e moral.

Raimundo foi indicado ao cargo por ser considerado apto ao perfil desejado e por estar em situação difícil. Antes de assumir a missão, porém, precisou passar por um curso intensivo promovido pela Federação Paraense de Escoteiros, sob a orientação do experiente Chefe Castelo (Gonçalo Lagos Castelo Branco Leão). Ao final dos 90 dias de treinamento prático e teórico, estava pronto para partir.

Em 17 de agosto de 1945, Raimundo Barata e Clodoaldo Nascimento, seu parceiro de missão, embarcaram no Iate "São Raimundo" com destino a Macapá. A viagem foi longa e desconfortável, mas, ao chegarem na manhã do dia 21, iniciavam ali uma nova fase: a implantação do escotismo no Amapá. Apesar das instalações precárias e das dificuldades enfrentadas, os jovens seguiram firmes no propósito, guiados pelo lema escoteiro: "O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades."

Assim, com dedicação e resiliência, José Raimundo Barata tornou-se um dos pioneiros do escotismo no Amapá, contribuindo para a formação de jovens e para o fortalecimento de valores essenciais à sociedade.

O Chefe José Raimundo Barata, hoje (2025) aos 98 anos, embora com problemas de saúde, está lúcido e reside em Belém do Pará.

NOTA DO EDITOR:

Início do escotismo no  Amapá narrado pelo Chefe José Raimundo Barata, um dos pioneiros do Escotismo na região.

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