O Artista Plástico
e Professor aposentado Carlos Nilson da
Costa, conta, com exclusividade ao Porta-Retrato, com riqueza de detalhes, a
história desse clube de jovens que surgiu no Amapá nos anos 60, o Saci Clube:
"Corria o
início da década de sessenta quando fui eleito a primeira vez presidente do
Saci, em uma renhida disputa com o amigo Olivar Bezerra. No início eram
as manifestações de cunho somente social.
Solicitamos e
conseguimos aquela área de fora da Fortaleza de São José(foto). Lá construímos nossa
sede. Era um ambiente muito bonito.
Foto de 1964 mostra um baile de Carnaval do Saci Clube, no Círculo Militar de Macapá.
Estão na foto a partir da esquerda: Ubimar, Neuracy (Santos) Jucpá, Hector Santos (ao fundo), Maria Façanha e Amujacy.
O Saci começou
então se politizar, pela razão de eu pertencer a política estudantil e aí
sobressaiam Sebastião Cunha, José Maria Cunha, Oseías, Conceição e suas
irmãs muito queridas, o sócio Derossy no Banco do Brasil, além de
simpatizantes como a top D. Diva Façanha, Seu Jacy e D. Alice Jucá,
Dr. Barbosa e a esposa D. Ercília, Moisés Zagury e esposa, Abdallah Houat
(desculpe os esquecimentos que com certeza aconteceram), davam apoio e o Saci
começou a fazer promoções culturais. Nesse ponto foram importantes o grande
Alcy Araújo, Elson Martins, Arthur Rafael, Isnard Lima com muito incentivo
entre outros. Promovemos um baile, até hoje o único, totalmente com música
clássica (erudita). Contratamos uma grande orquestra em São Paulo, a orquestra
Tobias Troisi, que só de violino tinha oito, fora os demais componentes. Houve
colaboração da Icomi através do Freire.
Foi um sucesso total no antigo
Aeroclube.
Fervilhava a
política nacional e o Amapá sem jornal bem atualizado, só com uma rádio, a Difusora
e, lógico sem TV. Notícias mesmo era o jornal da semana nos cinemas. Íamos mais
no achismo. Crescia a onda contra o Jango e aqui pedíamos a encampação da
ICOMI. Nesse ponto agia muito o Isnard, que nem sócio era. Na sexta, 13 de
março fizemos uma vigília SACI e CA na Piscina Territorial, onde fiz um pronunciamento
favorável à estatização da ICOMI, que me custou uma detenção após 31 de março,
lá pro fim do ano. Fui defendido pelo Bispo D. Aristides Piróvano e Pe. Caetano
Maielo. Foi quando instituímos a camisa do Saci. A cor escolhida era o
vermelho, que era pintado por mim e o Ronaldo Bandeira.
Em fins de 64 e 65
o Saci, em ação paralela começamos a pintar os muros contra o governo da
ditadura. Reuníamos em casa com vários sócios e colaboração do Lucas,
Ribeirinho, Rafael, Isnard, Carlos Teixeira, Gil Platon, Sérgio Arruda e
outros. A tinta eram restos de velas da Igreja derretidas e misturadas com
anelina colorida. As pinturas eram feitas de madrugada.
Nós éramos chamados
de comunistas, inclusive pela cor das camisas.
No aspecto cultural
mandamos buscar o elenco do Teatro de Amadores do Amazonas, para exibirem as
peças "Judas no Tribunal" e" Prostituta Respeitosa ". Esta
de Paul Sartre, que trata da discriminação da mulher e do negro nos EUA. O
governador Gal. Luiz Mendes estava presente. Ao término da exibição perguntei
ao Gal se o governo ajudaria o SACI, patrocinando um espetáculo. Aí ele disse:
você está preso. Ação contínua, me pegou pelo braço, subiu no palco desandou em
impropérios e mandou prender todo o elenco.
Fomos conduzidos para o prédio (foto acima) onde
hoje é a Delegacia do Ministério da Agricultura, na Coriolano Jucá. De manhã
invadiram minha casa para saber de quem era uma bandeira que eles não sabiam.
A
bandeira era do Estado do Amazonas, que eu tinha ganho.
Esse fato desandou
em outros que não é o caso agora, inclusive repercutiu em todo país, até na
Academia Brasileira de Letras, que na ocasião recebia a visita de Leopoldo
Señor, presidente do Senegal, país de língua francesa "que tinha sido
desrespeitada no Amapá" (Sartre era Francês), disse Austregésilo de Athaíde.
Alguns meses depois
nos tomaram a sede da Fortaleza, alegaram não ser possível um clube numa praça
de guerra. Hoje é só lembrança." (Carlos Nilson, via
e-mail)