Passou agosto! Levou consigo nosso “Galinho de Ouro”.
Há quinze dias, o competente e festejado radialista Orivaldo Santos foi chamado para o plano celeste. Ele partiu dia 29, três dias antes do florido e
verdejante setembro, chegar. Foi um choque para todos. Embora soubéssemos
que ele passava por delicado e preocupante estado de saúde, a notícia de morte,
sempre surpreende e nos deixa incrédulos, num primeiro momento. Galinho viveu
entre nós, superando barreiras e transpondo obstáculos que a vida lhe impôs. Mas
sua vivência foi marcada por uma História de Superação, muito bem detalhada na
narrativa de nosso contemporâneo jornalista José Machado:
IN MEMORIAM
IN MEMORIAM
ORIVALDO LEÃO DOS SANTOS, era
natural de Chaves-Pa e veio ao mundo em 5/3/1955. O segundo de cinco irmãos, e
o terceiro a falecer. Derivaldo e Edna Santos residem em Belém-Pa.
Aos sete anos, com o falecimento do
pai - Amor Leão
dos Santos, a viúva Catarina Monteiro dos Santos, enfrentou sérias dificuldades
para criar cinco crianças pequenas.
Orivaldo, foi entregue ao padrinho,
com quem conviveu até aos 17 anos de idade. Aos treze, tornou-se
vendedor ambulante de pastéis e bolos, para contribuir com a rentabilidade
familiar. A faina do garoto lourinho, iniciava às 9h da manhã quando deixava
sua casa atravessava o dia e, nunca retornava antes das 17h quando já havia
vendido tudo.
Após o almoço e um pequeno descanso
seguia para o colégio onde cursava o supletivo. A exaustiva rotina era um
desafio contra o cansaço, o sono e a vontade de desistir. Concluiu o ginásio
com muito sacrifício e o segundo grau muitos anos depois.
Em uma certa manhã de suas
caminhadas mercantis, entrou na Difusora e vendeu tudo rapidamente, encorajando-o
a voltar diariamente e, foi se enturmando ao ponto de direcionar as vendas
exclusivamente aos RDMistas para posterior pagamento.
Após zerar seus produtos, ficava
horas na sala de áudio deslumbrado com os equipamentos e o desempenho do sonoplasta.Perguntava
muito e ia assimilando as informações.
Um certo dia, sentindo que dois
comensais queriam lesá-lo, após alguns impropérios, tirou o costumeiro boné do glorioso
(Botafogo) e os desafiou para o embate físico.
Uma cena hilariante, de um
infanto-juvenil franzino, queimado de sol em atitude agressiva com os punhos
fechados em guarda contra dois brutamontes.
Como seria previsível, os dois pagaram
e tudo terminou em risos. Era mais zoação, para testar o equilíbrio emocional
do garoto.
Pela pose adotada de enfrentamento,
Humberto Moreira, Pedro Silveira e José Machado, que presenciaram, expressaram uníssonos:
“olha aí o galinho de ouro “. Numa alusão ao pugilista Eder Jofre,apelido que o
acompanhou pela vida toda.
A partir daquele dia, sumiu por um
certo tempo e quando reapareceu já adolescente, pleiteou uma oportunidade de
estágio como operador.
A diretora da emissora à época,
exercia paralelamente o magistério e, dessa forma José Machado que era o
secretário, na prática era quem geria a rádio e foi quem lhe possibilitou o ingresso.
Um
sonho profissional que procurou alcançar com obstinação.A oportunidade
finalmente surgiu quando foi indicado para substituir EDUARDO SANTANA que pediu
demissão para trabalhar nas Guianas.
Seu jeito introspectivo, calmo,
fala pausada uma postura tranquila, disciplinado, sempre focado em fazer um bom trabalho, foi
angariando simpatia, respeito e admiração de todos.
Era perceptível que se tratava de
uma figura ímpar. Algum tempo depois, substituiu Humberto Moreira que pediu exoneração
à chefia da discoteca.
A dedicação em tempo integral,
obrigou a deixar a sonoplastia temporariamente. Três servidores sob suas ordens
o ajudavam em suas atividades.
O País em plena fase do regime
militar, havia um grande controle da mídia e a Difusora mesmo estatal, era
obrigada a encaminhar diariamente até as 17h a programação do dia seguinte.
Um calhamaço com trinta e cinco
laudas contendo o título de 1065 músicas ao Departamento de Censura e Diversões
Públicas da Polícia Federal. O descumprimento implicava em grave infração, caracterizando transgressão das normas vigentes, e a rádio estaria impedida de
funcionar no outro dia.
Além do grande vexame moral para o
Governo, prejuízo comercial (patrocinadores dos programas) a falta de
compromisso social como ouvinte, muitas cabeças seriam decaptadas.
Era como o deadline (linha da morte)
no jornalismo, em que o profissional precisa aprender a conviver
com o prazo de entrega do seu trabalho.
A atividade do discotecário à época
era muito exaustiva mental e emocionalmente e vivia-se em constantes apuros. Mas
com o decorrer do tempo acabava acostumando-se.
Às sextas feiras eram os piores dias,
considerando que sábado e domingo o DCDP não funcionava, as programações do fim
de semana e mais a da segunda feira, teriam que ser entregues todas dentro do
prazo acima mencionado.
Continuamente, colegas de outros
setores iam em auxílio do “galinho”, para que pudesse cumprir com o compromisso
e, livrar da guilhotina vários pescoços.
Mesmo enfrentando esse serviço
extremamente estressante, Orivaldo Santos, foi o que mais tempo permaneceu na
função...Dez longos anos.
Alguns anos de profissão e vasto
conhecimento musical o levaram a buscar um novo desafio. Meados dos anos 80 se
lançou como DJ com um programa independente em que apresentava diversas
sonoridades.
O “TOCA
TUDO” - passeava pelos mais variados estilos:rock, disco, samba-rock pop,
house, discothec, brega e ritmos caribenho em três horas de duração.
Com uma comunicação coloquial, criou uma
intimidade inédita com os ouvintes.
Mostrava
um feeling apurado para discotecagem, tinha um bom gosto musical e uma técnica
surpreendente. Deu mais opções ao ouvinte para agregar diversidade musical e conduzi-lo
por vários estilos. Ganhou mais projeção, consolidou sua carreira artisticamente
e provou ser eclético.
Mas
como disse Guimarães Rosa “Viver
é muito perigoso... Porque aprender a viver que é o viver mesmo”. É uma travessia
com alegrias, tombos e tristezas.
Desposou
a professora MARIA TEREZINHA, ambos muito jovens e, dessa relação nasceram: Marivaldo
e Sandro. Enviuvou dez anos após o casamento.
Foi
difícil a compreensão daquele novo momento em sua vida, viver uma nova
realidade, lidando com a viuvez precoce foi um choque. Resolveu dar um tempo para relacionamentos, pensar com calma e, ter clareza na situação. Retomou
gradualmente a vida, buscando suporte em amigos,familiares e a religião.
Em
2006, conheceu MARIA JOSÉ MARTINS FERNANDES DOS SANTOS, recepcionista e colega
de serviço. Uma relação que perdurou 13 anos de casados, até que a morte os
separou.
No
museu da memória, se expõe as lembranças, a mitologia familiar de um personagem,
cuja vida lhe foi hostil, interrompendo precocemente o sentido que não houve,
como se desdobrasse para trás.
A
vida/arte do “galinho” é um momento entre nós seus contemporâneos no espaço da
vida, em que ele brilhou como emblema de uma época.
Para quem teve a oportunidade de acompanhar o
seu percurso, há de convir que ele foi um vencedor, idealizou sua própria trajetória de vida. Seu círculo de amizades foi mensurado pelo grande público que
compareceu para despedir-se e prestar-lhe a última homenagem.
ORIVALDO
LEÃO DOS SANTOS (O GALINHO) conseguiu o milagre da vida...Escrever sua
história, deixando sua biografia gravada no coração de muitas pessoas
independente de idades.
Texto:
José Machado
Foto: João Silva (Cortesia)
Foto: João Silva (Cortesia)
Orivaldo
Leão dos Santos descansa em Paz, no Cemitério São José, no bairro Santa Rita.
Que seu ORIVALDO descanse em paz!
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