sexta-feira, 10 de abril de 2020

Lembranças da Macapá de Outrora: A Turma do Buraco

(*) Por Milton Sapiranga Barbosa
  como   aluno da  terceira série  do curso  primário,  queria que o tempo passasse  bem rápido, para logo chegar a quinta série  e então poder  prestar o exame de admissão ao  ginásio, pois assim, além de melhorar meu grau de conhecimento para  a vida, poderia  vir a almejar uma vaga   no quadro da “Turma do buraco”. Essa era minha grande meta, já que  o programa, uma espécie de bolsa para  estudantes, mantido pela PMM,  iria aliviar a folha de  despesas da minha querida mãe, que dava um duro danado, amassando açaí, lavando e  passando  roupa da vizinhança, além  de trabalhar com a venda de mingau e tacacá  para poder manter a casa.
Quando estava na quarta série, já estava estabelecido que quem tivesse notas boas podia prestar o exame. Utilizando deste benefício, tentei o Colégio Amapaense e não passei, e após concluir a quinta série, fiz exame na Escola Técnica de Comércio do Amapá (que depois foi CCA e hoje é Gabriel de Almeida Café).  Fui aprovado. Aliás que só o Colégio Amapaense mantém o nome original desde sua inauguração.
Foi como aluno da ETCA que pude então ser um dos integrantes da famosa “turma do buraco”, junto com Raul Seabra, Odoval Moraes, Machado, Jackson Picanço, Maquizanor, Carneiro e outros tantos. Por três anos servi como bolsista da PMM e vivi três casos engraçados, que não poderia deixar de postar aqui.
1) – Raul Seabra,  o namorador  da turma  e o mais enxerido,  disse para a namorada que trabalhava num escritório e a turma ficou sabendo: um belo dia (sempre tem um belo dia) estávamos  cavando buraco  para plantio de mangueiras em frente ao HGM   quando, como que saindo do nada,  a namorada do  Raul  apareceu  e ao  vê-lo de picareta na mão, perguntou: “ é esse o teu  escritório?”  Na hora um gaiato completou: “é, e essa é a caneta dele”.
2 – Fomos destacados para derrubar as árvores    que existiam na Praça do Aeroporto para que fossem feitas ali algumas melhorias. Sol quente, machado tinindo na madeira dura, o Raul jogou para cima uma das pedras que protegiam os canteiros   e a mesma atingiu o Maquizanor que desmaiou (fingiu) e o Raul ficou apavorado, pois insinuávamos que ele havia morrido. Depois de muita    zoação, a vítima voltou à vida para alívio do nosso amigo Seabra.
3 – Uma outra missão foi cavar buracos na praça em frente ao barracão da Fortaleza (onde funcionou o Círculo Militar) para arborização do local e lá fomos nós. Como a terra era fofa não demorou para que o serviço fosse   concluído. Para aproveitar a folga no horário de trabalho, fomos tomar banho e fazer guerra com casca de melancia na praia. Guerra comendo solto, percebi que alguém tentava me surpreender e dei uma volta por trás de uma grande pedra e tasquei um pedaço de melancia no toutiço do  inimigo. Quando a vítima se virou para ver quem atirara, para minha surpresa, constatei que era o apontador Dinamar, que tinha ido pegar o ponto do pessoal e como não viu ninguém na área de trabalho foi atrás. Quando ele tirou a camisa e a calça, ficando só de cueca, já me preparava pra correr, quando, para meu espanto, Dinamar se abaixou e juntou uns bagaços de melancia   e entrou na guerra também.
Os alunos bolsistas da “turma do buraco”, no tempo do apontador, a guerra com casca de melancia, são lembranças da minha infância feliz vivida no meu querido bairro da Favela.
Publicado em 4 de setembro de 2009 no blog da Alcinéa Cavalcante.
(*) articulista
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NOTA DO EDITOR: 
Milton Sapiranga Barbosa é um amigo de longas datas, e contemporâneo de Macapá.
Trabalhei com Sapiranga em 68 no Jornal “A Voz Católica”, enquanto aguardava a Rádio Educadora São José entrar no ar.
Pouco tempo depois, estávamos novamente juntos na Rádio Educadora.
Milton, como eu, também passou pela Rádio Difusora de Macapá.
Milton Barbosa, o nosso “Sapiranga” é uma lenda viva de Macapá.
Pense num tucuju que conhece bem sua terra natal!
Falou da Macapá antiga, Sapiranga conhece todos os personagens.
Principalmente os moradores da Favela, Laguinho, Trem, Centro, Bairro Alto, baixada da Olaria, ele sabe tudo, conhece a história de cada um.
Sobre o esporte, nem se fala, é autoridade no assunto.
Não é à toa que nosso Sapiranga -- por sua competência e conhecimento de causa – foi escolhido como Assessor Para Assuntos Memoráveis aqui do blog Porta-Retrato.
Milton Barbosa, hoje com 74 de idade - depois de enfrentar um sério problema de saúde e fazer tratamento médico em Fortaleza, capital do Ceará - está residindo em Santana-AP com a filha dele, e a saúde sob controle.
João Lázaro - Editor do Porta-Retrato
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( Última atualização às 10h35m )

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