terça-feira, 3 de maio de 2022

O embaixador do bairro do Trem: Belarmino Paraense de Barros

Por Nilson Montoril (*)

Dentre os auxiliares do Governador Janary Nunes que tiveram papel marcante na implantação do Território Federal do Amapá, merece especial referência o belenense Belarmino Paraense de Barros. 

Este cidadão, formado em Guarda Livro pela Fênix Caixeiral Paraense, veio para Macapá atendendo convite formulado pelo governador, seu superior hierárquico na Companhia Independente de Metralhadoras Anti Aérea estabelecida em Val-de-Cãns.

Na época, Belarmino havia dado baixa do Exército como Sargento e dono de um prontuário notável. Entre 1º de março de 1940, ano de sua formatura, até 21 de julho de 1941, data que marca seu ingresso no Exército, o jovem contabilista trabalhou fazendo a escrituração contábil de diversas firmas comerciais de Belém. Estava com vinte anos de idade quando sentou praça para prestar o serviço militar obrigatório.

Mesmo não mantendo contatos frequentes com a tropa, Belarmino exercia boa liderança na corporação, devido sua dedicação aos esportes. Sempre estava metido no grupo que organizava as competições esportivas. A 22 de janeiro de 1943, passou a ocupar o posto de Cabo, sendo promovido ao posto de Sargento em 1944. No dia 29 de outubro de 1945, chegava a Macapá. 

Na capital do Amapá, Belarmino reencontrou vários companheiros de caserna, entre eles o seu comandante. Seu primeiro cargo no governo territorial foi de contador do Serviço de Administração Geral, órgão que coordenava as atividades de pessoal, finanças, material, conservação, limpeza, etc. Depois passou a exercer a chefia da Seção de Municipalidade, percorrendo frequentemente as sedes dos municípios de Mazagão, Oiapoque e Amapá para proceder as inspeções contáveis das comunas e analisar as tomadas de contas. Agiu da mesma forma no que se refere ao balaço de material permanente dos demais órgãos do governo. 

A 18 de abril de 1951, foi convocado para desempenhar uma missão bastante desafiadora: gerenciar a Olaria Territorial. 

Deveria elevar a produção de tijolos, telhas, manilhas para esgoto, cerâmicas, azulejos e outros materiais necessários às obras públicas que estavam sendo realizadas em Macapá.

Na fase de implantação da Olaria o superintendente foi o senhor Nicanor Gentil, primo do governador. O deslocamento deste cidadão para outra atividade motivou a nomeação de Belarmino. O governador sabia que seu comandado dos tempos da Companhia de Metralhadoras Antiaérea tinha liderança e lábia suficiente para motivar os trabalhadores, levando-os a atingir as metas necessárias.

A Olaria Territorial vinha se recuperando de um incêndio que destruiu parte de sua estrutura. Ao assumir o cargo de Superintendente da Olaria Territorial, Belarmino Paraense de Barros já era sobejamente conhecido e benquisto pelo operariado. Ele representava para o Bairro do Trem o mesmo que Julião Ramos simbolizava para o Laguinho.

A eficiente gestão de Belarmino se estendeu até o dia 13 de julho de 1961, correspondendo a um ano e dois meses. 

Na mesma data ele retomou suas funções de contador no Serviço de Administração Geral. Neste órgão, em dezembro de 1962, alcançou o cargo de Diretor, nomeado pelo Governador Raul Montero Valdez.Em 1963, no período de 30 de janeiro a 11 de abril, Belarmino foi o titular da Secretaria Geral do Território Federal do Amapá.

O ocupante deste cargo era uma espécie de vice-governador, cuja nomeação era feita pelo Presidente da República. Em 1964 ele voltou a merecer a mesma distinção.

Com o golpe militar de 1964, deflagrado dia 31 de março, Belarmino foi colocado sob suspeição de ter praticado improbidades administrativas. Mesmo sem a ocorrência de um julgamento feito nas conformidades da lei, ele foi exonerado a bem do serviço público. Mais tarde, foi inocentado e recuperou seu cargo de servidor público embora com aposentadoria compulsória. Mudou-se para Belém no dia 6 de outubro de 1964.

O clima político em Macapá não lhe era favorável e muitas pessoas que ele tanto ajudou, inclusive tornando-as servidores públicos federais evitavam falar com ele temendo represálias por parte dos governantes. Na capital das mangueiras criou a firma Planamazon Ltda, através da qual elaborava projetos agropecuários e industriais. Também prestava assessoramento técnica, econômica, contábil e de engenharia. Belarmino Paraense de Barros era natural de Belém, onde nasceu a 26 de junho de 1921. Seus pais eram Amélio Brasil Barros e Benvinda das Neves Barros. Sua passagem por Macapá revestiu-se de muitos méritos. Integrou o Rotary Club de Macapá, sendo um dos seus membros mais atuantes.

 A primeira residência de Belarmino, em Macapá, demorava na Avenida Pedro Baião de Abreu, lado esquerdo, entre as ruas Rua Tiradentes e General Rondon. A casa ficava ao lado de uma velha fábrica de sabão. Posteriormente a família mudou-se para outro prédio que seu Belarmino mandou construir na esquina, de frente para a então rua José Serafim Gomes Coelho(Tiradentes). Na época, aquele trecho era identificado como bairro da Fortaleza.

(*) Historiador, professor, radialista e blogueiro amapaense. Artigo publicado, originalmente no Jornal Diário do Amapá, edição do dia 09/10/2021.

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