domingo, 29 de setembro de 2024

RELEMBRANDO...HOMENAGEM À HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DO MANGA

O Manga partiu, mas deixou um legado e muitas histórias na lembrança de seus amigos...

Crônica da Vida

"O GAROTO DAS MARMITAS"

Por Humberto Moreira (*)

Foi quando eu morava na curva da Casa Santa Maria, ali no começo do bairro, que bati com os olhos naquele garoto branquelo e corpulento, que entregava marmitas. Se não me engano, a Dona Perpétua, mãe dele, vendia comida aos que trabalhavam nas redondezas do Mercado Central, edificação que não ficava longe da casa da minha avó. Naquela época, antes de completar 10 anos, eu ainda não sabia que iria manter uma relação de amizade com aquele garoto. Amizade sacudida por algumas discordâncias movidas por opiniões divergentes. Tenho certeza que a gente mantinha um respeito mútuo, fruto de longa convivência no mundo do futebol. Eu trabalhando desde o começo na imprensa esportiva e ele militando nos clubes da cidade como treinador. Estou falando de José Maria Gomes Teixeira, que nos deixou nesta sexta após se retirar das lides esportivas, deixando para trás uma longa trajetória no campo da Praça Nossa Senhora da Conceição, onde comandou por muito tempo a Associação Casados e Solteiros do Bairro do Trem. Manga era botafoguense, como eu e tenho certeza que, se permanecesse mais um pouco entre nós, estaria vibrando com a fase atual do Glorioso.

Juntos ultrapassamos as fronteiras da nossa aldeia correndo literalmente atrás da bola. Ele colocando seus times em campo e eu contando a história no microfone. Em duas oportunidades tivemos o prazer de dividir resultados importantes. Devo dizer antes que vida esportiva do meu amigo começou no Trem Desportivo Clube, onde foi atleta e depois técnico, revelando um sem número de jogadores. Cito aqui três ícones do nosso futebol, que, de alguma forma, foram orientados pelo Manga. Roberto Foguetinho, Vitor Jaime e Mário Sérgio. Estes viveram grandes momentos sob a batuta do treinador que, talvez tenha sido quem mais vezes exerceu o comando do rubro-negro. Mas Manga não ficou exclusivamente no Trem. Ele foi campeão no Amapá Clube comandando o craque Marcelino, que depois, faria sucesso no exterior (Los Angeles Aztecs, América e Necaxa). No Copão da Amazônia de 1989 ele conquistou o título com o Independente numa jornada que começou em Santarém e terminou no estádio Aluísio Ferreira, em Porto Velho. E eu estava lá com Paulo Silva contando essa história. Depois fomos a Guiana Francesa com a seleção amapaense, quando Haroldo Vitor Santos era presidente da FAF. A crônica representada por mim, Anibal Sérgio e João Silva. O jogo inicial contra a seleção da Liga local, foi um espetáculo inesquecível. O empate deixou a gente com orgulho de ser amapaenses. A seleção tinha craques como Miranda, Jorge Nunes, Nerivaldo, Eulan, Edinho, Vitor, Foguetinho e Camecrã. Os caras também tinham um time de respeito, com craques como Maluda (Chelsea e Seleção Francesa) e Darcheville, que jogou em clubes da Europa por muito tempo.

O segundo jogo foi em Kourou, contra o Geldar, time da Legião Estrangeira e o Trem ganhou por um a zero, com um gol do “Trator” Miranda. No comando estava ninguém menos que o Manga. O treinador ainda passou pelo Esporte Clube Macapá, Ypiranga e Santos. Vez em quando a gente batia de frente por não concordarmos com alguma coisa. Inteligente que só ele o Zé Maria sabia como me aborrecer. Ele mandou botar um número bem pequeno na camisa do Amapá Clube e embaralhou a formação, de maneira que o número onze estava com o lateral direito o número dois era um meio campista e assim sucessivamente. Tive que me virar para transmitir o jogo pois o número é o que identifica o jogador em campo. Hoje as coisas mudaram, mas antes os números eram fixos de um a onze. Esse foi mais um motivo de divergência. Mas a gente sempre acabava se entendendo.

José Maria Gomes Teixeira comandou por muito tempo a Copa do Mundo Marcílio Dias, que começou no campinho da tropa escoteira e se transferiu depois para a Praça Nossa Senhora da Conceição. Sempre em parceria com figuras como o narrador Manoel Biroba e o jornalista Pantaleão Oliveira. O evento é a maior competição amadora do país. Hoje são mais de 100 seleções disputando o título. Manga ficou na direção até começar a ter problemas de saúde. Passou o bastão para pessoas como Vitor Jaime e foi morar na Zona Norte. O nosso amigo também tinha o seu lado folclórico. Foi um dos criadores do futebol à fantasia nos carnavais e quando esteve no comando do Independente produziu vários “causos”. Contam os jogadores do elenco do “Carcará” que Manga era fã do goleiro Camecrã. Porém, esse jogador, que estudava advocacia em Macapá, não podia frequentar os treinos, pois tinha os seus afazeres. Além disso, os treinamentos eram realizados em Santana. O reserva era Apolônio, um goleiro muito bom também. Morando no município portuário, Apolônio não perdia nenhum treino. O time alviverde tinha um clássico para jogar no domingo seguinte. Na sexta Camecrã deu as caras no treino. Manga ficou com a batata quente na mão, pois Apolônio estava preparado para ser o titular pegando até pensamento. Mas o treinador matutou até arrumar uma maneira de barrar o goleiro reserva. Ele disse que ia fazer um treino sem bola com os dois goleiros. Simulou estar segurando uma bola e botou o Camecrã no gol. O técnico fingia que atirava a bola no gol e o goleiro titular fingia que pegava. Aí vinham os elogios para as supostas defesas de Camecrã. Após fazer isso várias vezes, o Zé Maria mandou Apolônio para o gol. O reserva não se fez de rogado. Só que desta vez o técnico mudou. Ele simulava ter jogado a bola num canto, Apolônio se atirava no chão e Manga calmamente fingia jogar a bola para o outro lado. Era como se ele usasse uma paradinha para tirar o goleiro reserva da jogada. Depois de repetir o engodo várias vezes, Manga disparou:

- Tá vendo. Estás sem reflexos. Vou ter que escalar o Camecrã.

E como esta foram várias histórias engraçadas protagonizadas pelo MANGA LOVE, que partiu (...) para se encontrar com o criador. Quem o conheceu sabe que ele foi um ser humano com erros e acertos como todos nós. Sua história é uma página importante no livro do futebol amapaense.

Quero deixar aqui minhas homenagens ao amigo que parte e dizer que ele vai fazer falta. Quando a gente falar nos treinadores de futebol amapaense vai lembrar com certeza daquele garoto das marmitas e da Copa do Mundo Marcílio Dias. Boa viagem Manga. Que a sua última jornada voltando para Deus seja tranquila.

(*) radialista, jornalista e cantor do Amapá

sábado, 28 de setembro de 2024

MORRE EM MACAPÁ, AOS 77 ANOS, JOSÉ MARIA GOMES TEIXEIRA – O MANGA

Faleceu na manhã desta sexta-feira (27), aos 77 anos, vítima de uma parada cardíaca, um dos maiores nomes do futebol do AMAPÁ, José Maria Gomes Teixeira, o Manga. 

Durante várias décadas, o desportista coordenou a tradicional Copa do Mundo Marcílio Dias, no bairro do Trem.

Manga deixa esposa e filhos.

Manga nasceu no bairro central de Macapá, em 17 de maio de 1947. Filho de Teófilo Domingos Teixeira e Perpétua Gomes Teixeira. O casal cearense chegou à capital amapaense nos anos 40, durante a criação do Território Federal do Amapá pelo governo de Janary Gentil Nunes. Manga participou da Copa do Mundo Marcílio Dias, foi membro do Escotismo, atuou como Guarda Territorial e trabalhou na Polícia Civil. O início do futebol foi como guarda metas (goleiro). O apelido "Manga" é atribuído ao grande goleiro do Botafogo e Seleção Brasileira, Haílton Corrêa de Arruda, o famoso Manga, que atuou nas décadas de 50, 60, 70 e 80. Como técnico, Manga atuou no Atlético Latitude Zero, Trem Desportivo Clube, Ypiranga Clube, MV-13, Amapá Clube, São José, União Esporte Clube, Guarany Atlético Clube, Independente Esporte Clube, Seleção Amapaense e Copão da Amazônia. 

Via Franselmo George 

História - A primeira edição, da Copa Marcílio Dias, ocorreu em 1952, com o objetivo de integrar ainda mais os jovens, e com o futebol, fazer com que ser um escoteiro se tornasse mais atraente. Seguindo o modelo da competição realizada pela FIFA, a Copa Marcílio Dias passou a ser realizada de quatro em quatro anos, e assim seguiu nas copas de 1966, 1970, 1974 e 1978. No ano seguinte, a partir da chegada do Comandante Barcellos, a competição passou a ser anual. Essa mudança também atendia  pedidos dos jovens, que queriam ter mais oportunidades para jogar a Copa. Da primeira edição participaram 16 seleções, que eram formadas pelos escoteiros e moradores do bairro. As equipes eram: Alemanha Ocidental, Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, Colômbia, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, México, Tchecoslováquia, União Soviética e Uruguai. Os jogos e o regulamento foram baseados no álbum de figurinhas, que é lançado em cada Copa do Mundo.

A imagem abaixo, foi publicada em P/B no Jornal Diário do Amapá em 1995, quando a Copa Marcílio Dias era realizada no campo situado atrás da sede dos Escoteiros do Mar "Marcílio Dias", no bairro do Trem, onde atualmente está localizada a Escola Municipal "Hildemar Maia".

Colorizada po IA

O empresário Elíuço está à esquerda, seguido por José Maria Gomes Teixeira, o Manga, e o repórter José Maria Trindade, o Zeca Diabo, à direita.

Encontro entre amigos do bairro do Trem, a partir da esquerda: Guarda Gentil, Jeconias Araújo, Zequinha Monteiro, José Maria Oliveira e Manga.
Os bancos das fotos eram da Casa Deuzarina, do bar do Sr. Manoel Paixão.
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Repercussão

Luiz Nery, que atualmente gerencia o Bar Du Pedro no Mercado Central, publicou a seguinte mensagem na rede social:

"José Maria Gomes Teixeira, meu vizinho Manga, faleceu.
Sua paixão era o esporte, especialmente futebol.
Vivi minha infância na Avenida Rio Maracá, onde morou por muitos anos Dona Perpétua, sua mãe.
Gostava de reunir a molecada para partidas de futebol na rua ou na praia, empinar papagaio,organizar a fila da molecada no mês de Junho, quando o posto Santo Antonio, homenageava seu santo protetor, distribuindo mingau e não era pouco, pois só a turma da baixa da mucura fazia a fila dobrar quarteirão. O Manga, tranquilo fazia a fila andar sem bagunça. Embaixo da mangueira em frente a sua residência, reunia a molecada para cortar cabelo e não cobrava nada.
Certo final de semana, manga sofreu um acidente que cortou nervos do tendão, isso fez com que parasse de beber, mas o esporte e a vontade de dias melhores, juntamente com meu falecido irmão José Maria Sandin Nery, meu primo falecido João Dasteca, entraram em um puque-puque e rumaram para a Guiana Francesa, lá passou por dificuldades, mas o futebol facilitou realizar uma cirurgia e evitar o pior. A saudade da Dona Perpétua e de sua esposa Marina, fez com que regressasse a Macapá. Aqui continuou ajudando sua mãe na banca que funcionava no cruzamento da Avenida Rio Maracá com São José.
Veio uma chance na Guarda Territorial e o Manga , agarrou com todo carinho até sua aposentadoria.
No futebol, foi um vencedor sem ser biricica(*).
Descanse na paz do senhor amigo."
Luiz Nery via Facebook
(*) intrometido / presunçoso
O corpo de José Maria Gomes Teixeira (Manga) foi sepultado na manhã deste sábado, 28, no Cemitério de São José, bairro de Santa Rita.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

REGISTRO MEMORÁVEL > TRÊS BALUARTES DO ESPORTE AMAPAENSE

 Direto do baú de Lembranças do amigo João Silva:

(Reprodução)

Uma fotografia dos anos 70 mostra uma solenidade realizada na Federação Amapaense de Desportos – FAD

As imagens apresentam, a partir da esquerda, Milton de Souza Corrêa, Waldemar Vilhena, o Vavá, e o Dr. João Telles.

Milton de Souza Corrêa foi um desportista amapaense, membro benemérito do Conselho Regional de Desportos (CRD), fundador do Guarany Atlético Clube e sócio proprietário do Esporte Clube Macapá.

Dr. João Telles foi presidente do Juventus Esporte Clube e primeiro presidente do Conselho Regional de Desportos. Waldemar Vilhena integrou a Juventude Oratoriana do bairro do Trem, foi jogador e diretor de futebol do Ypiranga Clube.

Milton Corrêa, falecido em 18 de agosto de 1994, virou nome do Estádio Zerão; Dr. João Telles, que foi Secretário Geral do governo do T.F.Amapá e respondeu diversas  vezes pelo governador Janary Nunes, também já faleceu; Waldemar Vilhena, ainda vivo, trabalha e mora com seus familiares em Belém do Pará.

Fonte: Facebook

terça-feira, 24 de setembro de 2024

MEMÓRIA DO FUTEBOL AMAPAENSE > TREM DESPORTIVO CLUBE

CAMPEÃO AMAPAENSE DE 1952

Resgate histórico

Foto reproduzida do jornal Amapá apresenta imagens da equipe do Trem Desportivo Clube, vencedora do Campeonato Amapaense de Futebol de 1952.

O fato de ser um recorte de jornal torna a qualidade bastante prejudicada, mas, devido à raridade e importância histórica do registro, fizemos o possível para melhorar a resolução, de forma a permitir uma visualização mais nítida.

Postagem substitui publicação anterior que continha incorreções.

Em pé da esq.p/dir: Guloso, Cabral, Caboco Alves, Turíbio, Manú e Aristeu. Agachados: Chico, Vadoca, Adão, Carlos e Joãozinho.
Foto: Anselmo George

domingo, 22 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA JUSTIÇA DO AMAPÁ > PAI DE CORA CORALINA FOI JUIZ DE DIREITO EM MACAPÁ

 Resgate Histórico

Sobrenomes semelhantes aos de uma poetisa goiana de renome nacional, Cora Coralina, identificada como Anna Lins dos Guimarães Peixoto, despertaram a atenção dos pesquisadores Michel Duarte Ferraz (museólogo) e Marcelo Jaques de Oliveira (historiador), do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), que atualmente realizam a análise documental de processos judiciais antigos com objetivo de resgatar registros de valor histórico para justiça amapaense, desde o período do Brasil Império (de 1822 a 1889).

Os investigadores criaram uma tabela que continha, ano após ano, os nomes dos magistrados, servidores e outros colaboradores da justiça que foram identificados durante suas leituras. A pesquisa virtual realizada na seção de hemeroteca da Biblioteca Nacional revelou o nome do dr. Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, que desempenhou o cargo de juiz de direito da Comarca de Macapá em 1868. Ao examinar a biografia de Cora Coralina, verificou-se que ela era descendente do magistrado.

 Fonte: Almanach Administrativo, Mercantil, Industrial e Noticioso da Provincia do Pará para o anno de 1869, p. 389-391.

Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto nasceu em Areias, Paraíba, no ano de 1821. Dada a proximidade com sua terra natal, tudo indica que se formou em Direito pela antiga Faculdade de Direito de Olinda, localizada no mosteiro de São Bento. Sua trajetória profissional inclui a atuação como Chefe de Polícia nas províncias do Amazonas e Piauí. Exerceu a magistratura nas comarcas que fazem parte do Tribunal de Relações do Pará, como Macapá, Manaus e o Termo Judiciário de Cametá. Exerceu a função de Auditor de Guerra da Província do Amazonas. Em 1884, torna-se desembargador do Tribunal de Relações de Goyaz, tendo trabalhado como Desembargador Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional. Em 1889, com 68 anos, faleceu na Vila Boa de Goyaz, hoje cidade de Goiás.

Perfil e personalidade

Até o presente momento, não é possível estabelecer de forma precisa um perfil da sua atuação profissional ou da sua personalidade. Os jornais demonstraram isso claramente.

Eram parciais e distribuíam notícias e versões de interesse dos seus proprietários e dos partidos políticos aos quais estavam ligados. Alguns periódicos das províncias em que atuou tratavam-no como um magistrado exemplar, enquanto outros o acusavam de cometer abusos de autoridade, de conceder favores indevidos aos seus aliados ou de ser um juiz "venal".

É notório que sua trajetória profissional foi marcada por diversas controvérsias, o que pode ter causado mudanças de funções ou até mesmo a transferência de comarcas.

Características de sua atuação

O dr. Peixoto esteve em Macapá entre 1868 e 1870 e, sem dúvida, contribuiu para a jurisdicionalidade e a consolidação da comarca. 

Processo criminal de 1868 com a assinatura do dr. Francisco de Paula Lins dos
Guimarães Peixoto. Acervo do TJAP.

Foram identificados diversos processos judiciais assinados por ele. Além de magistrado, exercia a função de Delegado de Ensino. Cabe ressaltar que, em Macapá, o dr. Peixoto estava envolvido nas questões políticas criadas e ampliadas pelos aliados dos partidos Conservador e Liberal. Um desses eventos foi noticiado pelo jornal O Liberal do Pará no dia 17 de janeiro de 1869.

O jornal noticiava que o magistrado estava em viagem para Belém com o objetivo de se defender das acusações que lhe eram imputadas. O evento ocorreu no ano anterior e oferecia risco à vida do Capitão Fernando Álvares da Costa.

O Liberal do Pará, Anno I, Número 7, Belém do Pará, 17 jan. 1869, p. 1.

 Conta o relator anônimo do caso: O Dr. Peixoto, com um punhal em uma bengala, provocou o nosso amigo de uma forma inusitada e tentou feri-lo. após ter usado todos os meios para espancá-lo. Não tendo o dr. Peixoto procurado em lugar isolado e solitário, muito de propósito quis que a sua façanha fosse decantada por todos. Outros exemplos de questões políticas que envolvem o dr. Peixoto podem ser encontrados em periódicos da antiga província do Piauy.

Transferência para Goiás

O dr. Peixoto estava entre os magistrados mais antigos aptos a concorrer à vaga de desembargador no Tribunal de Relações de Belém. Mas, em 15 de novembro de 1884, foi nomeado desembargador do Tribunal de Relações de Goiás.

Em Vila Boa de Goiás (atual cidade de Goiás), aos 66 anos, ele se casou com Jacintha Luiza do Couto Brandão e, dessa união, nasceu Anna (Cora Coralina).

Relação pai x filha.

Imagem disponível em: Disponível em: <http://www.conhecendomuseus.com.br/noticias/dica-de-leitura-cora-coralina-em-8-obras-fantasticas/>

A poetisa não conviveu com seu pai, uma vez que ele faleceu dois meses depois dela nascer. No entanto, essa ausência parece ter deixado marcas profundas em sua vida. 

Imagem: Dr. Peixoto em foto póstuma. Museu Cora Coralina. Disponível em: <
https://www.got2globe.com/editorial/vida-obra-cora-coralina-escritora-margem/>

Isso fica evidente na fotografia póstuma do dr. Peixoto colocada na parede da casa velha da ponte (antes residência da família e hoje museu Cora Coralina) e nos seus versos, como no poema "Meu pai". 

Dr. Peixoto em foto póstuma: Imagem disponível em:
<https://areiaontemehoje.blogspot.com/2017/02/paternidade-areiense-da-poetisa-cora.html>

  • Meu Pai (In Memoriam)

Meu pai foi embora com suas vestes de Juiz. Eu nem sei quem o vestiu. Eu era tão pequeno, mal nascido. Ninguém previu que eu viveria.

Não coloquei nada em suas mãos. Nenhum beijo, nenhuma oração, nenhum suspiro triste. Eu era tão pequena... E fiquei uma criança minúscula na enorme ausência do meu pai que sentia falta.

Cora Coralina, inclusive, reformou o túmulo do pai,...

Túmulo de Desembargador Peixoto e da poetisa Cora Coralina. Foto Maria Elizia Borges. Disponível em:
<http://docplayer.com.br/113688367-Meu-adeus-a-vida-cora-coralina-1965.html>

 ...adquiriu um espaço ao lado e construiu, no local, o seu próprio túmulo.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social 

sábado, 21 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA MÚSICA AMAPAENSE > LANÇAMENTO DO LP “MARABAIXO” DOS MOCAMBOS

Resgate histórico

A amiga Nilza Maria Corrêa, filha do motociclista Bianor, publicou uma fotografia histórica de seu acervo familiar em uma rede social.

É relevante salientar que Bianor, devido às suas raízes no Quilombo do Curiaú e no Bairro do Laguinho, era um excelente tocador de caixas de Batuque e Marabaixo

Colorizado por IA

Os pais de Nilza, Raimundo Nonato Banha Corrêa (Bianor) e Nilza de Magalhães Corrêa (de braços cruzados), estiveram presentes no lançamento do LP de Marabaixo pelos "Mocambos", em 1974, no Centro Folclórico do Laguinho, bairro em que Hernani Victor Guedes conheceu o marabaixo nos anos 40, na residência do mestre Julião.

O Centro Folclórico do Laquinho foi construído em um terreno que, anteriormente, servia como campo de futebol, na Praça Dr. Lélio Silva, em frente à Escola Estadual General Azevedo Costa.

O jornalista Hélio Guarani de Souza Penafort, calvo, aparece de branco, com a mão próxima à boca e o olhar para baixo.

À esquerda, Hernani Victor Guedes e seu filho Nivito Guedes

Fonte: Facebook

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA AVIAÇÃO COMERCIAL NO AMAPÁ : RESGATE HISTÓRICO > PASSAGEM AÉREA DA CRUZEIRO DO SUL DE 1945

 Apresentamos um resgate histórico relevante que nos foi enviado por Michel Ferraz, curador do Museu de Justiça do Amapá (TJAP)

Imagens: Acervo do Arquivo do TJAP 

São imagens de uma passagem aérea da Cruzeiro do Sul, no trecho Belém/Macapá, emitida em 26 de novembro de 1945. O passageiro é Laurindo Banha Netto.

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Resumo

Em 26 de novembro de 1945, foi emitido o bilhete de passagem para o voo 24/35 da companhia Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. O trajeto entre Belém e Macapá, em 29 de novembro de 1945. O menor de idade LAURINDO BANHA NETTO embarcou no aeroporto de Val de Cães.

Valores da época:

Passagem        360,00     cruzeiros

Menos 50 %    180,00    por ser menor

Total parcial   180,00

Mais Seguro    18,40

Mais 2% quota previdência 3,60

Total Geral     202,00  cruzeiros.

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Empresa no Amapá

De acordo com publicação no blog, a Cruzeiro do Sul, representada pela empresa Moysés Zagury & Cia, começou a operar em 31 de maio de 1945 e, apesar de ter sido negociada com a Varig, o Agente em Macapá permaneceu responsável por administrar todos os eventos ocorridos, destacando o primeiro pouso noturno em 12 de fevereiro de 1953 e a implementação da rota diária Belém/Macapá/Belém a partir de 23 de julho daquele ano.

Agradecemos ao curador Michel Ferraz pela contribuição!

Fonte: TJAP

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

MEMÓRIAS DA COMUNICAÇÃO AMAPAENSE - AMAPÁ - O PRIMEIRO JORNAL OFICIAL DO ESTADO

Em 25 de janeiro de 1944, quando o Capitão Janary Gentil Nunes assumiu o governo do recém-criado Território Federal do Amapá, uma de suas primeiras medidas foi criar  um Serviço de Imprensa e Propaganda, para divulgar o  seu programa de ação e desenvolvimento.

Um desses órgãos de divulgação foi o Jornal AMAPÁ – um semanário composto e impresso nas oficinas da Imprensa Oficial - que circulou, em primeira edição, no dia 19 de março de 1945, há 79 anos.

Esse era o logo da primeira edição do Jornal Amapá que circulou naquela terça-feira.

Na época, ainda se utilizava a impressão tipográfica, uma técnica de registro em relevo, na qual o texto ou imagem está sobre uma superfície elevada, semelhante a um carimbo de borracha, para a produção das primeiras publicações.

A divulgação das decisões do executivo territorial era replicada no “Jornal Amapá”, impresso da época, que divulgava as ações de governo à população. O processo era mais lento que o atual, totalmente digitalizado desde 2018, contudo, marcou a memória do servidor Raimundo Tavares.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Dos 38 anos de serviço público, 19 foram dedicados à produção do Diário Oficial do Amapá.

Conheço cada parte desse arquivo. As pessoas chegam aqui e pedem alguma informação e eu já sei onde procurar”, conta o servidor.

Após décadas de circulação do Jornal Amapá, que logo depois se tornou o Novo Amapá, foi criado o Diário Oficial do Estado, em 23 de julho de 1964. Ao longo do tempo, o processo foi se modernizando de acordo com os avanços tecnológicos, até atingir sua digitalização completa em 2018.

Digitalização

A última edição do diário impresso foi publicada no dia 17 de junho de 2016, com uma tiragem média de 500 exemplares diários. 

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Desde então, as publicações oficiais da administração pública direta, indireta, outros poderes e particulares têm sido feitas pelos sites diofe.portal.ap.gov.br e sead.ap.gov.br.

No Núcleo de Imprensa Oficial, é possível encontrar documentos históricos, como a primeira divulgação dos atos do Poder Executivo, que aconteceu através da publicação do Jornal Amapá, de 19 de março de 1945.

Diário eletrônico

Em 2018, o governo do Amapá começou a publicar o Diário Oficial de forma eletrônica. A mudança teve como objetivo facilitar o acesso e preservá-lo em um ambiente virtual, além de reduzir os custos.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

O novo método de publicação torna possível a organização de todos os dados da gestão, publicados no Diário Oficial virtual.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Hoje, é possível conferir o acervo totalmente digitalizado. 

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

O fim da edição impressa reduziu os custos com papel e manutenção de máquinas, além dos custos para distribuição. A sede da Imprensa Oficial está situada na Avenida Procópio Rola, número 2070, no bairro Santa Rita, em Macapá.

Fonte: Portal AP

terça-feira, 17 de setembro de 2024

MEMÓRIAS DE “ZÉ PENHA – UM CARA SENSACIONAL!”

Hoje, o homenageado do blog Porta-Retrato de Macapá é o saudoso amigo JOSÉ PENHA TAVARES.

A fim de resgatar as memórias desse mazaganense inesquecível, apresentamos, com a permissão expressa do autor, uma compilação atualizada e adaptada de textos elaborados pelo jornalista Elton Tavares, editor do blog De Rocha!

JOSÉ PENHA TAVARES  (Foto: Arquivo pessoal)
Por Elton Tavares 
I

No dia de hoje (17), se meu saudoso pai estivesse entre nós, faria 74 anos. Antes eu dizia “se estivesse vivo”, mas ele está, dentro de nós, por isso, ainda é seu aniversário. É difícil definir um modelo de vida, acredito que cada um vive da forma que lhe é aprazível. José Penha Tavares viveu tudo de forma intensa e foi um homem muito feliz (Era feliz, como poucos). Eu sigo seu exemplo e sou felizão também.

O mais legal é que ele nunca fez mal a ninguém, sempre tratou as pessoas com respeito e foi muito amoroso com os seus. Meu irmão costuma dizer que ele nos ensinou o segredo da vida: “ser gente boa” (apesar de alguns gatos pingados não comungarem desta opinião sobre mim).

Quando o bicho pega, falo com ele. Uma espécie de monólogo, mas juro que sinto conforto em lhe contar meus raros problemas. Acredito que papai escuta e, de alguma forma, me ajuda. Devaneio? Não senhores e senhoras, é que aquele cara foi um grande pai, ah se foi. Portanto, deve mexer os pauzinhos lá por cima.

Ele partiu em 1998, faz e fará sempre falta. Sinto saudade todos os dias e penso nele sempre. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Gostaria de lhe dar um abraço hoje, desejar feliz aniversário e tomar muitas cervas com o Penhão, como costumávamos fazer todo dia 17 de setembro.

II

Há (...) 26 anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu José Penha Tavares, o meu pai. O meu herói. Já que “Recordar, do latim Re-cordis, significa ‘passar pelo coração”, como li em um livro de Eduardo Galeano e dito também em outro texto pelo amigo Fernando Canto, passo pelo meu essas memórias.

Filho de João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares, nasceu dia 17 de setembro,  no município de Mazagão, em 1950, de onde veio o casal. Era o primogênito de cinco filhos.

Ele começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem não os comete?

Em 1975, casou-se com minha mãe, Maria Lúcia, com quem teve dois filhos, eu e Emerson. O velho não foi um marido perfeito, era boêmio, motivo que o levou se divorciar de minha mãe, em 1992.

        Fotos Arquivo pessoal - Penha em diferentes momentos.

Na verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não diminui o grande homem que ele foi.

Após o seu falecimento, li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde ele trabalhava: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos, mas quem se atreve a culpá-lo por este extremo defeito?”.

Zé Penha pode não ter sido um marido exemplar, mas com certeza foi um grande pai. Cansou de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as melhores roupas e bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas, dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir tais peculiaridades.

Penha não gostava de se envolver em política. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preta, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Aquele cara era extraordinário!

Foto de Arquivo

Esportista, foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das incontáveis peladas.

Atravessamos tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de amizade extrema. Ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.

Com ele aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, e aprendi que para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.

Acredito que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os 13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne”, como ele mesmo brincava.

Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele, pois acredito que as pessoas morrem, mas nunca em nossos corações.

Fotos: Arquivo pessoal

José Penha Tavares foi muito mais de que pai, foi um grande amigo. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu comigo ou vi acontecer com alguém”.

Meu mais que maravilhoso irmão, Emerson Tavares, disse: “papai nos ensinou o segredo da vida: ser gente boa e companheiro com os que nos são caros (família e amigos)”. Sempre nos espelhamos nele. Para mim é um elogio quando falam que tenho o jeito dele, pois o Zé Penha foi um homem admirável, um verdadeiro ser humano!

“Quem já passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. A frase é do poeta Vinícius de Moraes. Ela define bem o meu pai, que passou rápido e intensamente por essa vida.

Queria que o Zé Penha tivesse vivido pra ver a Maitê, pra sacar que consegui me encontrar e ser um bom profissional, pra ver o grande cara que o Emerson se tornou. Enfim, pra tanta coisa legal. Também faço minhas as palavras do escritor Paulo Leminski: “haja hoje para tanto ontem”.

Obs: não tem um dia na vida que eu não fale ou lembre do meu pai.

III

Lembro da minha infância com alegria. Eu e meu irmão fomos agraciados com excelentes pais, que nos proporcionaram tudo de melhor possível (e muitas vezes impossível, mas eles fizeram mesmo assim). Graças a Deus, minha mãe continua aqui e é meu anjo da guarda.

Lembro que nós nunca fizemos a primeira comunhão, nem eu e nem Emerson, pois fugíamos das aulas de catecismo para ir com o papai pra AABB. Ele ia jogar bola e nós curtíamos a piscina. Apesar de não ter sido um frequentador de igrejas, Zé Penha tinha muito mais Deus no coração do que a maioria dos carolas que conheço.

Lembro-me de quando ele me levava para ver seus jogos de futebol. Era goleiro dos bons. Lembro quando tinha mais ou menos uns quatro anos ele me chamava de “Zôk”, apelido dado por causa da risada que eu dava quando ouvia o nome da moto Suzuki.

Lembro que sempre foi nosso herói, meu e do meu irmão Emerson. Depois, também virou ídolo de muitos amigos, por conta do nível caralístico de paideguice que ele tinha. Lembro que poucas vezes vi meu pai triste ou irritado.

Lembro-me das poucas broncas, de algumas porradas, de poucas discussões. Disso mais lembro de esquecer. Lembro muito mais das viagens, da parceria, da amizade, da proteção, da admiração que tinha e tenho por ele.

Lembro-me de papai nos levar para jogar bola, ao cinema, circo, arraial ou qualquer lugar em que ficássemos felizes. Éramos moleques exigentes, mas lembro que ele e mamãe sempre davam um jeito, mesmo com pouca grana. Lembro dos ensinamentos e sei que uma porção grande de bondade que trago em mim herdei de meu pai.

Lembro que conviver com meu pai era viver no paraíso. Lembro-me de como todos o amavam e até hoje, todos sentimos saudades. Lembro que já são 26 anos sem você. Lembro, Zé Penha, de o quanto fomos parceiros, confidentes e grandes amigos. Aliás, pai, fostes o melhor de todos. Lembro de como eras sensacional, cara. Incrível, mesmo!

Lembro de tudo amorosamente, pouquíssimas vezes com lágrimas nos olhos, mas a maioria com sorrisos. Pois o que mais lembro é que tu, pai, era a personificação da alegria e bom humor. Enfim, de vida. Lembro de ti, Zé Penha, todos os dias. E amo lembrar o que fostes e o que representas.

Zé Penha, (...) fez a subida dimensional em 1998, mas vive na minha memória afetiva e coração. Afinal, discorrer sobre vivências é minha válvula de escape e meu caderno de recordações imaginário está cheio de episódios felizes dos 22 anos que tive a honra e sorte de conviver com papai.

Textos de Elton Tavares – jornalista

José Penha Tavares faleceu dia 30 de março de 1998, vítima de um câncer de pulmão, e descansa em paz no Cemitério de São José no bairro Santa Rita, em Macapá.

Nota do Editor: Nossos agradecimentos ao confrade Elton Tavares, filho de nosso homenageado, pela colaboração!

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA CIDADE > RETRATO DA MACAPÁ DE OUTRORA

Esta imagem da Macapá antiga foi encontrada na internet, postada por Roque Oliveira, mas não se sabe quando nem quem a tirou.  

De acordo com a legenda, o endereço é Av. Coaracy Nunes, quase na esquina com a Rua São José. O Sr. Roque Batista construiu a residência à direita. Existe atualmente um edifício da Caixa Econômica Federal no local. Por ser raro, decidi publicá-lo no blog Porta-Retrato-Macapá, como um registro histórico da memória da Macapá de outrora.

Fonte: Facebook 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

LENITO, O “CAMPEÃO” DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ

A pauta de hoje, elaborada pelo jornalista Édi Prado, amigo, parceiro e cofundador do blog Porta Retrato-Macapá, reverencia uma figura pioneira do Amapá, cuja profissão faz parte da cultura popular: o garçom Lenito dos Santos, filho de “Seo” Antônio Eurídio e D. Francisca dos Santos é nosso ilustre homenageado neste 11 de setembro, um mês após o Dia do Garçom, que é comemorado anualmente em 11 de agosto.

UM GARÇOM "CAMPEÃO"

Por Édi Prado (*)

O nome dele é desconhecido na Assembleia Legislativa, embora ele tenha ‘desapeado’ por lá em 1991. Ele é filho de Antônio Eurídio e de D. Francisca dos Santos. 

LENITO DOS SANTOS nasceu em 15 de outubro de 1954, no arquipélago de Marajó. Vaqueiro desde “gitinho” e muito habilidoso em derrubar búfalo pelo chifre. Estudou até a 5ª série do então curso primário. Não teve muita oportunidade para lidar com os cadernos, porque tinha que cuidar da boiada, todo dia santo e todo santo dia. Montar e pajear a manada. Nisso, ele tirava a nota máxima. Mas desde cedo foi jeitoso no trato com as pessoas. Ficava de longe observando o jeito de cada um e quando partia para a convivência sabia exatamente o que não fazer e nem falar. Com isso, foi conquistando o carinho e a atenção dos mais velhos, patrões e amigos. Ele é casado com D. Elvira Lúcia Gomes dos Santos com quem tem os filhos Adriano (34), André Santos (22) e Luís Augusto (21). Gosta de pedalar e prefere nem falar da vida de caçador.

E foi assim...

Lenito dos Santos viria a ser o “campeão”, apelido que está incorporado à figura dele em qualquer lugar. Ele trabalhava com o fazendeiro, Evandro Matias, que de viagem para Macapá, trouxe o vaqueiro como companhia.  E desapeando aqui, meio sem jeito e sem boi e búfalo para tocaiar, foi se aprumando diante da nova e desafiadora realidade de Macapá, no final da década de 80. E foi para a Fazendinha, uma praia da cidade, que recebeu este nome devido a uma criação de gado, no começo do então Território. Um processo de adaptação. Trabalhou na cascalheira retirando pedra das águas. Bom de serviço e disposto, logo despertou a atenção do Lavoura, um comerciante português, pioneiro na área do comércio em Macapá.

E não parou mais.

Gostou de trabalhar com o português. Saiu do Lavoura e foi atuar em outra atividade na sorveteria Santa Helena, também de um português.  Sorveteria era muito devagar para quem sempre viveu agitado. Foi para o Bar Brandão Drinks. E lá aprendeu as manhas da noite, o malabarismo com a bandeja e o trejeito em lidar com todo tipo de gente. O famoso breque. E foi por lá que ele cativou o Macaíba, uma figura bem simpática lá do bairro do Laguinho, que era assessor parlamentar do então deputado Nilde Santiago. De dose em doses foi se embriagando pela amizade de Lenito dos Santos, que ainda não era o campeão consagrado. Isso em 1991.

“Vamos pra lá?”

E numa certa e bendita noite, num rompante de decisão, convidou o então Lenito para trabalhar na Assembleia Legislativa (AL). No outro dia ele estava lá, impecável e sorridente. Habilidoso na arte de servir foi logo “se agasalhando” na lanchonete do “Seo” Albino, dono do famoso Xodó. Foram quatro meses de intensos e diários contatos com os deputados, servidores e frequentadores da AL. E nisso, foi exibindo o talento de garçom. Um dia - tem sempre um dia melhor que o outro - o então deputado e presidente da AL, Nelson Salomão, “que Deus o tenha”, diz, benzendo-se em súplica, fez um pedido de urgência para contratar garçons para atender os deputados durante as sessões.  Não existia o cargo no organograma. Mas existia a legalidade para contratar em cargo comissionado. Como ele já estava lá, bom trânsito entre os parlamentares, lá foi Lenito colocar paletó com gravata borboleta e tudo mais para agora ‘bandejar’ dentro do plenário. E todo “pavulagem” exibia todo o talento em manejar com copos, garrafas e o impecável lenço para secar as mesas.

E foi criado o chá.

Um dia, o então deputado e ex-presidente do Tribunal de Conta do Estado, Regildo Salomão, queixava-se de uma dorzinha incômoda. E sem pestanejar, Lenito lembrou-se do tempo em que morava em Marajó e correu para preparar um milagroso chá para o deputado. Após o chá, Regildo saiu espalhando as virtudes do chá mágico do já bem conhecido Campeão. Mas ele não se conteve apenas com os chás medicinais e calmantes.

O chá das sextas.

Às sextas-feiras inventou o tal chá de marapuama, que dizem ter efeitos afrodisíacos. E os deputados aprovaram com louvor. Só não se sabe bem porque, na sexta-feira.  “Este chá é servido aos deputados e para a imprensa, que cobre as sessões” anuncia, como que contando um segredo. Ele ensinou a alquimia para a D. Corina, a copeira, que se tornou uma mestra na arte de adoçar os bules. “O chá é tradição da AL”, confessa orgulhoso. O sabor varia conforme a pressão da AL. Tem erva cidreira, alecrim, carmelitano, canela, capim marinho, e na sexta, o marapuana.

Origem do apelido

Lenito, além de garçom profissional, que trabalhava na noite macapaense, se envolveu com o Hildomar, que tinha uma “aparelhagem” de som, que tocava nas grandes festas e famosos eventos. “Era o bambambam da época” relembra. Era o parceiro mor de porrinha e uma espécie de aliado secreto na hora da porrinha envolvendo outras pessoas. “Nós treinávamos e estudávamos as jogadas. Criamos códigos. Onde tinha porrinha, Lenito sempre foi o campeão. Eu e o Hildo. Mas o apelido só pegou em mim”, relembra. A aposta era cerveja. Saiam “truviscos”, sem gastar um centavo com cerveja. Essa parceria rendeu outro trampo. E ele foi aprendendo a mexer com os botões e buscando a velha mania de observar as pessoas, que descobriu o segredo de fazer o sucesso musical, depende do lugar e das pessoas presentes no salão. Ele sabia qual a música para cada momento. E nessa brincadeira, o salão enchia de dançarinos e a noite se espichava. O bar vendia mais e as pessoas saiam felizes, embora exaustas de tanto dançar.

 “Era o campeão chegar para a festa animar. Foi o antecessor do Dj em Macapá.  Quando estava chulo e desanimado o pessoal perguntava: cadê o campeão? E era só chegar para a festa animar”, dizia fazendo questão da rima.  E “pegou”. “Pouquíssimas pessoas sabem meu nome. Mas campeão é o campeão e todo mundo sabe”, gaba-se.  Se diz ainda campeão em porrinha. “Quando o negócio está ‘vasqueiro’ a porrinha ajuda muito”, revela.

Cheio de trololó

De vez em quando ele saca do colete da memória, velhas frases adaptadas para cada situação. “Minha cabeça é um chope”, que é um sorvete embalado em pequenas tiras de saco plástico, conhecido ainda como sacolé ou chupe. Diz que costuma atender primeiro os homens, para que as mulheres fiquem embelezando o lugar.  Quem está na chuva é porque não sabe que tem espaço no abrigo dele. Diz que conhece as manhas de cada parlamentar. Estuda caso a caso sem que eles percebam. O açúcar usado para os chás, “para quem é de açúcar” é de frutose, indicado pelo deputado Valdeco Vieira. E para cada um tem o cada um dele, explica o Campeão, dizendo que o “o galo que é bom canta em qualquer terreiro”. Diz ainda que polícia que não é respeitada, zagueiro que não bate, caneta que não escreve e mulher mal amada, tá fora.

As frases do Campeão

1-      A Bandeja é como se fosse uma câmera fotográfica que registra o temperamento de cada deputado ou pessoa que o Campeão serve.

2-      Ele se aproxima sem tirar a atenção de quem está servindo.

3-      Tem sempre o aviso quando a encomenda servida é do jeito que o deputado pediu.

4-      Recolhe o copo vazio e dá uma olhada para saber quem está precisando de quê?

5-      Na saída faz uma filmagem e relembra o que está faltando.

E até hoje, 11 de setembro de 2024, o Campeão está no trampo. 

Antes de começar a sessão da Assembleia Legislativa do Amapá, Campeão entra em campo, como se fosse o capitão da equipe, para fazer bem o que precisa ser feito. Um sujeito simpático, brincalhão, atencioso e muito afetuoso com as pessoas.

(*) Édi Prado é jornalista amapaense, formado pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso (FACHA)- Rio de Janeiro - da turma de 1982. É pós-graduado em Administração de Empresa e Marketing.

FOTOS; Jaciguara e arquivo pessoal