GIGANTES DA COMUNICAÇÃO TUCUJU
Contador: Humberto Moreira
O Galo de Ouro
Quando escolhi o rádio para ser minha forma de sustento, dei
de cara com um monte de gente de quem eu já era admirador desde a minha época
no Clube do Guri. Assim foi que, conheci de perto, gente como Pedro Silveira,
Edvar Mota, Edna Luz, Benedito Andrade, Luciano Amaral, Benedito Silva, Silas
Assis, Carlos Pontes Ernani Marinho e muitos outros. Todos eles faziam parte da
Rádio Difusora, emissora que me receberia como integrante da Equipe Esportiva
da RDM e onde atuou até hoje.
Desde o dia em que passei naquele teste aprendi e continuo
aprendendo com os companheiros que tive e tenho na antiga ZYE-2, “uma voz do
Amapá a serviço do Brasil.” Quando comecei pensei que não me demoraria muito.
Meu sonho era fazer um curso de nível superior, se possível, em Belém, onde a
família da minha mãe era numerosa. Porém fui que fui ficando, como diz a música
do meu amigo Eudes Fraga. Daí quando dei por mim estava inteiramente envolvido
com essa profissão fascinante. Passei a apresentador de programas musicais,
narrador esportivo, noticiarista, repórter, discotecário e até rádio ator, sob
o comando da professora Creuza Bordalo. Quando senti que dava, fui para a
Faculdade para juntar experiência e teoria.
E continuei bebendo na fonte dos mais antigos, coisa que
muito jovem não gosta de fazer. Eu gosto de ouvir as pessoas mais experientes e
sei que sempre posso extrair algo positivo deles.
Mas ao longo dessa trajetória algumas figuras foram muito
importantes. E por enquanto não estou falando de diretores ou comunicadores
famosos. Deles conto em outra oportunidade, pois cada um teve sua influência no
meu trabalho e afinal, nada se cria, tudo se copia, já dizia Abelardo Barbosa.
Estou falando dos auxiliares, aqueles que te ajudam a ir pro ar diariamente e às vezes convivem conosco durante anos fazendo parte da atividade fim de uma
emissora de rádio.
Por isso vou me reportar sobre o meu saudoso amigo Orivaldo Leão dos Santos, que conheci como vendedor de salgadinho na frente da RDM. Filho de família humilde, que veio do interior do Pará, Orivaldo vendia os produtos fabricados por seus familiares, para ajudar no sustento da família. Acontece que a turma da rádio nem sempre tinha dinheiro pra pagar na hora e o meu colega deixava passar alguns fiados. O problema era receber, porque alguns queriam ludibriar o vendedor. E isso dava uma confusão danada. Orivaldo queria sair no braço com alguns devedores.
Naquela época o Brasil cultuava o boxeador Eder Jofre, que
havia conquistado o título mundial de Peso Galo, numa luta no Japão contra
Massahiko Harada. Jofre passou a ser conhecido como Galo de Ouro porque sua
esquerda era poderosa e já tinha criado problemas para muitos adversários. Ele
veio a Macapá para uma exibição no Glicério Marques.
Justo na época em que o nosso vendedor de pastel já tinha se
desentendido com alguns fregueses lá na Difusora. Observador como ele só, Pedro
Silveira sapecou o apelido no Orivaldo. E o pior é que pegou. Dalí em diante o
garoto do salgadinho ganhou a alcunha de
GALO DE OURO. Como ele estava sempre na rádio a direção da emissora arrumou um
lugar de zelador para o nosso amigo. Nas horas em que não estava executando a
limpeza do prédio, ele peruava na técnica. Dessa forma não demorou muito para
virar controlista da RDM. Fui um dos primeiros a anunciar a presença do
“Galinho” como técnico de som.
A gente gostava de trabalhar juntos. Principalmente nas
transmissões esportivas onde o meu amigo era um craque. Mas ele também era um
excelente conhecedor de boa música. Tanto que eu cansei de deixar a seleção
musical dos meus programas sob sua responsabilidade. E como quem trabalha no
rádio aprende vendo os outros fazerem, Orivaldo passou para o microfone. Ele
produzia um programa musical chamado “Toca tudo” que durante um bom período foi
o campeão do recebimento de cartas pedindo música. Sua audiência, principalmente
na Zona Ribeirinha, era incontestável. Aos domingos os ouvintes vinham chegando
cedo e se reunindo na garagem da rádio para conhecer o apresentador. E enchiam
o apresentador de mimos como peixe, frutas etc.
Quando a Radiobrás encampou a Difusora, Orivaldo já estava no
quadro federal e ele não foi incluído na equipe da Nacional. O meu amigo Galo
voou para outras emissoras FMs e foi trabalhar com outros profissionais. Ao
mesmo tempo passou a atuar como funcionário da DANF, um órgão que representava
os funcionários federais no Amapá. Foi lá que o encontrei algumas vezes e onde
a gente se lembrou do muito que produzimos nas comunicações do Estado.
A partida de Orivaldo Leão dos Santos aconteceu de forma
surpreendente e prematura, pois eu tenho a impressão que ele ainda não havia
chegado aos 60 anos. Hoje quando estou falando ao microfone em alguma atividade
na Pioneira penso nele. No Galinho de Ouro. Companheiro fiel e profissional dos
melhores com quem trabalhei. Seu legado não será esquecido por quem conviveu
com sua dedicação e extrema competência.
VOA GALO.
Via Facebook
NOTA DO EDITOR -- Orivaldo Leão dos Santos, faleceu dia 29 de agosto de 2019, aos 64 anos.
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