segunda-feira, 27 de outubro de 2025

MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA > A DOCE LEMBRANÇA DE TIA GUÍTA

Nos últimos anos, a Prefeitura de Macapá vem realizando um importante trabalho de revitalização dos espaços históricos e culturais da cidade. 

Entre as ações mais simbólicas está a recuperação da Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, um lugar que guarda séculos de memória e identidade amapaense. O projeto incluiu a instalação de tótens informativos que homenageiam personalidades que deixaram marcas profundas na formação social e cultural da capital.

Personalidades homenageadas nos totens informativos:

  • Benedicto Antônio Tavares (1868–1941)
  • Francisca Luzia da Silva – Mãe Luzia (1854–1954)
  • Maria Lopes da Silva – Maria Joana (1893–1970)
  • Maria Rosa Tavares de Almeida – Micota (1896–1986)
  • Raimunda Tavares da Silva – Tia Mundica (1925–1996)
  • Maria de Lourdes Serra Penafort (1927–1989)
  • Ursula Evangelista da Costa Cecílio – Tia Ursinha (1915–2005)
  • José Maria Chaves – Zé Maria Sapateiro (1924–2019)
  • Adélia Tavares de Araújo – Tia Guita (1916–1997)
  • Lucimar Araújo Tavares – Tia Luci (1920–2013)
  • Militina Epifania da Silva – Milica
  • Aristarco Figueiredo Brito (1942–)
  • Tereza da Conceição Serra e Silva (1860–1940)
  • Janiva de Menezes Nery – Dona Nini (1924–)
  • Aurilo Borges de Oliveira (1917–1976)
  • José Rosa Tavares (1942–)
  • Francisco Castro Inajosa – Mestre Chico (1911–1945)
  • ⁠Maria Germinina de Mendonça Almeida (1942)
  • ⁠Cacilda da Cruz Pimentel (1910-1974)
  • ⁠José Duarte Azevedo – Zé Mariano (1902-1986)⁠
  • ⁠Professora Zaide Soledade (1934 – 2015)
  • ⁠Antônio Munhoz Lopes (1932 – 2017)

Esses tótens, dispostos ao longo da praça, não apenas embelezam o espaço público, mas também resgatam histórias de vida que, por muito tempo, permaneceram guardadas na lembrança oral do povo. É como se o Largo, renovado e pulsante, se transformasse em um verdadeiro museu a céu aberto, onde cada nome, cada rosto e cada palavra nos reconectam com o passado.

É nesse contexto que o Porta-Retrato – Macapá, espaço dedicado à preservação das memórias da cidade, abre hoje suas páginas para recordar uma dessas figuras inesquecíveis: Tia Guíta, mulher de fé, poesia e sabor.

Tia Guíta: Doces Lembranças

Nas margens antigas do rio e nas ruas de chão batido da velha Macapá, vive ainda a lembrança de uma mulher cuja presença iluminava as festas, as cozinhas e as rodas de tradição. 

Adélia Tavares de Araújo, mais conhecida como Tia Guíta (1916–1997), foi uma das figuras mais queridas e emblemáticas da cultura amapaense.

Nascida na Rua da Praia, coração pulsante da antiga cidade, Tia Guíta cresceu em meio ao cheiro do peixe fresco, ao som dos tambores do marabaixo e ao murmúrio do rio Amazonas. Cozinheira de talento e alma generosa, era procurada por muitos que desejavam saborear seus quitutes — e, sobretudo, o inesquecível mingau de mucajá, receita que atravessou o tempo como símbolo de afeto e identidade.

A vida a levou também ao garimpo do Lourenço, onde aprendeu o francês crioulo com trabalhadores vindos de várias partes. Essa habilidade rara lhe abriu portas: as autoridades do antigo Território Federal do Amapá frequentemente a chamavam para traduzir conversas e documentos, reconhecendo nela uma mulher de sabedoria e sensibilidade.

Devota fervorosa de São José, santo padroeiro de Macapá, Tia Guíta não se limitava à cozinha nem ao trabalho. Era também dançarina e poetisa, presença marcante nas rodas de Marabaixo e Batuque, onde o corpo e a palavra se uniam para celebrar a vida, a fé e a ancestralidade negra amapaense. Sua voz, firme e doce, ecoava nas festas como quem reza dançando e dança rezando.

Hoje, o nome de Tia Guíta está gravado na história e no coração de Macapá. Sua memória repousa entre o sagrado e o cotidiano — na fé de São José, no ritmo do tambor, no sabor do mucajá e na poesia simples que nasce das margens do rio. Lembrá-la é honrar todas as mulheres que, com trabalho, arte e devoção, ajudaram a construir a alma dessa cidade amazônica.

Dona Amélia Tavares de Araújo, irmã de Dona Venina Tavares de Araújo, foi esposa do renomado desportista Wenceslau do Espírito Santo, conhecido como o lendário “16”, múltiplo campeão pelo Amapá Clube. Foi mãe de Norberto Tavares de Araújo Neto, que também seguiu os passos do pai, atuando como atacante no Amapá Clube e na Sociedade Esportiva e Recreativa São José.

Fontes: – Placa biográfica instalada na Praça do Largo do Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

– Pesquisa e texto original da Professora Mestra Marilene Gonçalves.

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

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