Nos últimos anos, a Prefeitura de Macapá vem realizando um importante trabalho de revitalização dos espaços históricos e culturais da cidade.
Entre as ações mais simbólicas está a
recuperação da Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, um lugar que guarda
séculos de memória e identidade amapaense. O projeto incluiu a instalação de tótens informativos que homenageiam personalidades que deixaram marcas profundas
na formação social e cultural da capital.
Personalidades homenageadas nos totens informativos:
- Benedicto Antônio Tavares (1868–1941)
- Francisca Luzia da Silva – Mãe Luzia (1854–1954)
- Maria Lopes da Silva – Maria Joana (1893–1970)
- Maria Rosa Tavares de Almeida – Micota (1896–1986)
- Raimunda Tavares da Silva – Tia Mundica (1925–1996)
- Maria de Lourdes Serra Penafort (1927–1989)
- Ursula Evangelista da Costa Cecílio – Tia Ursinha (1915–2005)
- José Maria Chaves – Zé Maria Sapateiro (1924–2019)
- Adélia Tavares de Araújo – Tia Guita (1916–1997)
- Lucimar Araújo Tavares – Tia Luci (1920–2013)
- Militina Epifania da Silva – Milica
- Aristarco Figueiredo Brito (1942–)
- Tereza da Conceição Serra e Silva (1860–1940)
- Janiva de Menezes Nery – Dona Nini (1924–)
- Aurilo Borges de Oliveira (1917–1976)
- José Rosa Tavares (1942–)
- Francisco Castro Inajosa – Mestre Chico (1911–1945)
- Maria Germinina de Mendonça Almeida (1942)
- Cacilda da Cruz Pimentel (1910-1974)
- José Duarte Azevedo – Zé Mariano (1902-1986)
- Professora Zaide Soledade (1934 – 2015)
- Antônio Munhoz Lopes (1932 – 2017)
Esses tótens, dispostos ao longo da
praça, não apenas embelezam o espaço público, mas também resgatam histórias de
vida que, por muito tempo, permaneceram guardadas na lembrança oral do povo. É
como se o Largo, renovado e pulsante, se transformasse em um verdadeiro
museu a céu aberto, onde cada nome, cada rosto e cada palavra nos reconectam
com o passado.
É nesse contexto que o Porta-Retrato
– Macapá, espaço dedicado à preservação das memórias da cidade, abre hoje
suas páginas para recordar uma dessas figuras inesquecíveis: Tia Guíta, mulher
de fé, poesia e sabor.
Tia Guíta: Doces Lembranças
Nas margens antigas do rio e nas ruas de chão batido da velha Macapá, vive ainda a lembrança de uma mulher cuja presença iluminava as festas, as cozinhas e as rodas de tradição.
Adélia
Tavares de Araújo, mais conhecida como Tia Guíta (1916–1997), foi uma das
figuras mais queridas e emblemáticas da cultura amapaense.
Nascida na Rua da Praia, coração
pulsante da antiga cidade, Tia Guíta cresceu em meio ao cheiro do peixe fresco,
ao som dos tambores do marabaixo e ao murmúrio do rio Amazonas. Cozinheira de
talento e alma generosa, era procurada por muitos que desejavam saborear seus
quitutes — e, sobretudo, o inesquecível mingau de mucajá, receita que
atravessou o tempo como símbolo de afeto e identidade.
A vida a levou também ao garimpo do Lourenço,
onde aprendeu o francês crioulo com trabalhadores vindos de várias partes. Essa
habilidade rara lhe abriu portas: as autoridades do antigo Território
Federal do Amapá frequentemente a chamavam para traduzir conversas e
documentos, reconhecendo nela uma mulher de sabedoria e sensibilidade.
Devota fervorosa de São José, santo padroeiro de Macapá, Tia Guíta não se limitava à cozinha nem ao trabalho. Era também dançarina e poetisa, presença marcante nas rodas de Marabaixo e Batuque, onde o corpo e a palavra se uniam para celebrar a vida, a fé e a ancestralidade negra amapaense. Sua voz, firme e doce, ecoava nas festas como quem reza dançando e dança rezando.
Hoje, o nome de Tia Guíta está
gravado na história e no coração de Macapá. Sua memória repousa entre o
sagrado e o cotidiano — na fé de São José, no ritmo do tambor, no sabor
do mucajá e na poesia simples que nasce das margens do rio. Lembrá-la é honrar
todas as mulheres que, com trabalho, arte e devoção, ajudaram a construir a
alma dessa cidade amazônica.
Dona Amélia Tavares de Araújo, irmã de Dona Venina Tavares de Araújo, foi esposa do renomado desportista Wenceslau do Espírito Santo, conhecido como o lendário “16”, múltiplo campeão pelo Amapá Clube. Foi mãe de Norberto Tavares de Araújo Neto, que também seguiu os passos do pai, atuando como atacante no Amapá Clube e na Sociedade Esportiva e Recreativa São José.
Fontes: – Placa biográfica instalada
na Praça do Largo do Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura
Municipal de Macapá, 2025.
– Pesquisa e texto original da
Professora Mestra Marilene Gonçalves.
– Registro fotográfico de
@paulotarsobarros.
Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.


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