Tia Venina marcou a história das mulheres da família e do Quilombo do Curiaú, situado na Zona Rural de Macapá. A sua trajetória é uma inspiração para a luta pelo empoderamento feminino das mulheres negras no Amapá. As homenagens do blog Porta-Retrato a ela, neste dia da Consciência Negra.
Antônia Venina da Silva nasceu em 17 de dezembro de 1909, no
Quilombo do Curiaú, e dedicou-se ao cuidado não somente dos nove filhos, mas
também da comunidade à qual pertencia. Os relatos são unânimes ao afirmar que,
naquele coração de mãe, havia espaço para todos. Ela viveu por 86 anos,
trabalhou como agricultora, rezadeira, dançarina de batuque e marabaixo e
curandeira de garganta.
Após a morte do esposo, Tia Venina, como era conhecida pela
vizinhança, assumiu a responsabilidade de cuidar sozinha de toda a família.
A neta Isis Tatiane da Silva, de 43 anos, disse que sua avó "era
uma mulher muito avançada para o seu tempo e realmente viveu aquela vida. Ela
dançava, cantava batuque e marabaixo, e tinha a habilidade de curar a garganta.
Somente ela tinha esse dom no Curiaú", recorda Isis.
A mulher sempre teve uma voz ativa e lutou com muita
determinação para manter viva a memória do povo quilombola. A família relata
que, durante a tarde, os jovens a procuravam para ouvir histórias dos tempos
idos e conhecer a ancestralidade.
Os estudantes interessados em realizar pesquisas e trabalhos
acadêmicos também se dirigiam a ela, pois sabiam que ela guardava uma memória
viva e vibrante da história do Quilombo.
Para Tia Venina, a educação sempre foi o melhor caminho, por
isso ela incentivava a buscar o conhecimento.
Integrantes da Associação Mulheres Mãe Venina do Curiaú —
Foto: Reprodução / G1
As bandeiras de resistência levantadas pela mulher "a frente do seu tempo" produziram frutos. Em 20 de julho de 1997, dois anos após a sua morte, foi fundada a Associação Mulheres Mãe Venina do Curiaú.
O objetivo inicial era realizar manifestações e eventos
culturais para a comunidade. No entanto, com o decorrer do tempo, o grupo
começou a desenvolver trabalhos voltados para a educação ambiental e,
sobretudo, para o empoderamento feminino.
Para Iracema da Silva, neta de 51 anos, a escolha do nome da
associação foi coerente com a trajetória de vida da avó dentro da comunidade.
As netas mencionam que é possível notar que as matriarcas do Curiaú orientam as
próprias famílias com base no exemplo de vida de Tia Venina.
Walter Jr., publicitário e presidente do Instituto Memorial
Amapá, a classifica como uma das "Guardiãs do Marabaixo".
"Venina não participou apenas do Marabaixo, mas também foi uma guardiã da
nossa cultura, uma mulher que lutou para preservar as raízes culturais do nosso
povo. Graça a ela e a tantos outros, o Marabaixo é hoje reconhecido como uma das
manifestações mais significativas da nossa identidade cultural."
Além disso, ela era uma tacacazeira dedicada, dotada de uma
alegria inconfundível e um amor pela cultura que ultrapassava o tempo e o
espaço. Walter diz, em sua narrativa, a pura verdade: "Conversar com a
Venina era como abrir uma janela para um mundo repleto de energia, tradição e
resistência. Ela demonstrava uma disposição extraordinária para amanhecer
cantando e dançando com os ladrões de Marabaixo, algo que me fascinou
profundamente."
Homenagem honorífica.
Em dezembro de 2020, foram instaladas estátuas de cinco figuras
relevantes da cultura e educação amapaenses em quatro pontos distintos de
Macapá. Tia Venina também foi uma das homenageadas.
Estátua da Tia Venina fica no bairro Laguinho — Foto: Rafaela
Bittencourt/Rede Amazônica
O monumento fica na esquina da Rua Eliezer Levy com a Avenida Mãe Luzia, no bairro Laguinho. Os artistas a reproduziram, com um colar, um sorriso no rosto e ainda segurando a saia rodada representativa de quem dança Marabaixo.
Créditos: G1/PMM e Memorial Amapá
Fonte: Pe. Paulo Roberto Matias Souza (via Facebook)