No dia 07 de junho de 1951, há exatos 74 anos, foi feito este precioso registro fotográfico que eterniza um momento de grande significado para a cultura afro-amapaense.
PORTA-RETRATO - Macapá/Amapá - QUINZE ANOS (desde 2010)
São postados aqui fotos antigas e raras, vídeos, documentos, recortes de jornais/revistas, livros digitais e tudo que retrate a história e a memória do Amapá e de seu povo. Fica terminantemente proibida a reprodução total ou parcial (alteração) de qualquer imagem ou texto deste blog, sob pena da Lei nº 9.610, de 19/02/1998 (Lei de Direitos Autorais). Editor: João Lázaro DRT-AP 006/95 - Contato: jolasil@gmail.com - FONE / WhatsApp TIM 55 (12) 98152-3757.
sábado, 5 de julho de 2025
MEMÓRIAS DO TRASPORTE FLUVIAL > Araguary: o rebocador que ajudou a construir o Amapá
Há nomes que se inscrevem na história não apenas por sua imponência, mas pelo papel silencioso e essencial que desempenham no cotidiano de um povo. O rebocador Araguary é um desses nomes. Mais do que uma embarcação, ele se tornou símbolo de um tempo em que o Amapá, ainda isolado geograficamente, começava a afirmar sua identidade territorial e a construir suas primeiras conexões com o restante do país.
Nos anos 1940, com a criação do Território Federal do Amapá, o desafio logístico era imenso: rios extensos, mata fechada e quase nenhuma estrutura de transporte. Foi então que o primeiro governador do território, Janary Nunes, liderou a formação de uma frota fluvial sob a responsabilidade do SERTA Navegação (Serviço de Transportes do Território Federal do Amapá).
Rebocador Araguary - em frente à cidade de Macapá
Entre as embarcações adquiridas, o rebocador Araguary se destacou. Com capacidade para 350 toneladas, tornou-se o principal elo entre Macapá e Belém — a ponte vital do Amapá com o restante do Brasil. Junto dele, vieram a alvarenga Uaçá, as lanchas Veiga Cabral e Amapá, os iates Itaguary, São Raimundo, Macapá e São Francisco, além da canoa Liberdade e dezenas de motores de popa.
Durante cerca de três décadas, o Araguary navegou pelo rio Amazonas, enfrentando distâncias e intempéries para transportar cargas, passageiros, sonhos e progresso. Cada travessia era um esforço coletivo para manter o Amapá abastecido, conectado e em movimento.
Na década de 1970, o rebocador foi sendo gradualmente substituído por embarcações mais modernas, acompanhando a evolução dos sistemas de transporte. Seu desligamento das rotas não foi apenas um processo técnico: foi o encerramento simbólico de uma era de pioneirismo e coragem.
Hoje, relembrar o Araguary é mais do que fazer memória. É reconhecer a importância de quem navegou contra a maré do isolamento para garantir que o Amapá seguisse em frente. É valorizar os alicerces de um desenvolvimento construído com bravura, persistência e visão de futuro.
terça-feira, 1 de julho de 2025
MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA > LARGO DA MATRIZ 1946
Largo da Matriz: o coração histórico de Macapá em uma imagem rara de 1946
A história de Macapá é rica em transformações que refletem o crescimento da cidade, suas tradições e a memória do seu povo. Antes mesmo da criação do Território Federal do Amapá, em 1943, o centro histórico da cidade já guardava vestígios importantes do período colonial e do cotidiano de seus habitantes.
Neste post, resgatamos a memória do Largo da Matriz — ponto central da antiga Vila de Macapá — e sua importância como palco de eventos religiosos, sociais, administrativos e culturais que ajudaram a moldar a identidade local.
Uma raridade histórica: Macapá em 1946
Entre os silêncios que o tempo impõe às cidades, às vezes uma imagem esquecida é capaz de ecoar memórias profundas. Hoje, trazemos uma fotografia rara de 1946 que revela o antigo Largo da Matriz, conhecido inicialmente como Largo de São Sebastião e, atualmente, como Praça Veiga Cabral — localizada no coração histórico de Macapá.
Essa imagem foi resgatada de um documento oficial e mostra um cenário urbano singular, ainda nos primeiros anos do recém-criado Território Federal do Amapá. Originalmente, a fotografia trazia duas pessoas em primeiro plano, mas com o auxílio da inteligência artificial, optamos por destacar apenas o cenário ao fundo — silencioso, imponente e revelador.
Para entender melhor a cena registrada na imagem, imagine-se em frente à atual Biblioteca Pública, olhando na direção da Rua Cândido Mendes, no cruzamento com a Avenida General Gurjão.
Ao centro, vemos o espaço que um dia abrigou a Escola Municipal de Macapá, hoje ocupado pelo prédio da Embratel, ao lado do Teatro das Bacabeiras.
Em frente à grande árvore que aparece na fotografia, acredita-se que foi o primeiro local escolhido para a construção do templo da Assembleia de Deus em Macapá. Porém, a obra foi transferida a pedido do governador, por estar muito próxima da Igreja de São José.
A imagem foi colorizada para destacar seus detalhes e permitir que mais olhos a alcancem, mas guardo com afeto sua versão original em preto e branco — um testemunho da cidade que já foi, e que em parte ainda é.
O antigo Largo da Matriz não é apenas um marco geográfico. Ele foi o ponto vital da vila, o espaço onde a vida acontecia, onde a história local se moldava dia após dia. Que esta imagem seja mais do que uma curiosidade — que seja uma ponte, um convite à lembrança, e uma forma de honrar o tempo e as pessoas que construíram Macapá.
Um lugar, muitas histórias
O Largo de São Sebastião foi demarcado em fevereiro de 1758, durante a fundação da Vila de Macapá, próximo ao igualmente importante Largo de São João. Com a construção da Igreja Matriz de São José, passou a ser conhecido como Largo da Matriz. Em 1924, recebeu o nome de Capitão Augusto Assis de Vasconcelos, em sua homenagem. Atualmente, o local é conhecido como Praça Veiga Cabral — um espaço cuja importância simbólica já estava consolidada muito antes da mudança oficial de nome.
Um olhar sobre o passado
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No mesmo quarteirão, funcionaram também a Garagem Territorial e a primeira Usina de Força e Luz da cidade.
Um registro entre o passado e o futuro
Essa imagem é muito mais que uma simples fotografia — é um retrato da transição entre o colonial e o moderno, entre a memória e o futuro. Ao revisitar o Largo da Matriz, revisitamos também uma parte essencial da nossa identidade.
Fonte: Relatório oficial do Governo Janary Nunes, ao presidente Vargas, em 1946.
domingo, 29 de junho de 2025
MORRE EM MACAPÁ, AOS 94 ANOS - Thereza Tavares Coimbra – Uma Vida Dedicada ao Amapá
No dia 28 de junho de 2025, Macapá perdeu uma de suas figuras mais queridas e respeitadas: Thereza Tavares Coimbra, que partiu no dia em que completava 94 anos. Sua trajetória se confunde com a própria história do Amapá, especialmente nos tempos de formação da capital.
A alma da Casa Leão do Norte
Por mais de 40 anos, Thereza dedicou-se ao atendimento no tradicional comércio Casa Leão do Norte, um dos mais emblemáticos pontos comerciais do centro de Macapá. Mais do que vendedora, ela era uma conselheira, confidente e referência para os fregueses, como se dizia carinhosamente à época.
"Ela sabia exatamente onde estava cada parafuso, cada correia, cada peça de motor. Era impressionante. E sempre com um sorriso no rosto."
— relato de Leão Zagury - Médico
Uma família de pioneiros
Filha de José Rosa Tavares e Maria do Carmo Tavares, Thereza fazia parte de uma família numerosa e profundamente enraizada na história do Amapá. Era irmã de nomes marcantes como Zeca Tavares, João do Carmo Tavares (Jangito), Faustino, Biló e Quitéria, esta última também funcionária da tradicional loja dos Irmãos Zagury.
Registros históricos
"Tive a honra de reencontrar dia 3 de fevereiro de 2012 no consultório do Dr. Paulo Rebelo, as amigas Maria Quitéria do Carmo Tavares, de 86 anos e Tereza do Carmo Tavares Coimbra, de 81 anos. Quitéria trabalhou na fábrica do Guaraná Flip e Tereza por muitos anos foi funcionária da empresa Irmãos Zagury."(Paulo Tarso Barros)
Sarah Zagury -> Thereza Tavares faz parte da história de Macapa. Stposnr hm3mg0o9213t623 m13i0nda148c9i7j7 u19 dee
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segunda-feira, 23 de junho de 2025
MEMÓRIAS DO RÁDIO AMAPAENSE > ECOS DA RÁDIO DIFUSORA DE MACAPÁ
“Menino Chorão” e os ecos da Rádio Difusora de Macapá nos anos 60
Imagem criada com ajuda de IAEm meio aos sons que embalaram o cotidiano de Macapá nos anos 1960, poucos marcaram tão profundamente quanto “Menino Chorão”, do Trio Jangadeiro. Simples e comovente, a canção conquistou os corações dos ouvintes e tornou-se uma das mais pedidas no tradicional programa Carnet Social, transmitido todas as tardes pela Rádio Difusora de Macapá.
Mais do que apenas uma melodia popular, “Menino Chorão” virou trilha sonora de uma época — das tardes radiadas de emoção, alegria e esperança. Hoje, resgato essa lembrança querida, que ainda ecoa viva na minha memória e, certamente, na de tantos amapaenses daquela geração.
Análise Reflexiva
Menino Chorão: Um Espelho da Infância em Dois Brasis
Imagem criada com ajuda de IA
A cantiga popular “Menino Chorão”, composta por J. Guimarães e eternizada pelo Trio Jangadeiro, permanece viva e pungente mesmo décadas após sua criação. O lamento infantil retratado na letra ultrapassa o tempo, revelando-se hoje como um retrato fiel da infância em um Brasil ainda profundamente dividido entre riqueza e pobreza. Adaptá-la ao cenário atual é olhar com atenção para as novas formas de exclusão, os velhos silêncios e as estratégias de sobrevivência das famílias brasileiras.
Hoje, o “menino chorão” continua presente — nas ruas, nos condomínios, nas favelas e nas redes sociais. Ainda ouvimos choros: uns abafados por tablets de última geração, outros silenciados pela fome ou pelo medo. A diferença entre os consolos oferecidos aos filhos de ricos e pobres, como denuncia a canção, continua evidente. A criança rica, agora, é acalmada com um celular nas mãos, promessas de viagens ou brinquedos educativos. Seus pais, muitas vezes ausentes fisicamente, tentam compensar com presentes e telas aquilo que não podem — ou não sabem — oferecer em presença e escuta.
Do outro lado, o filho da classe trabalhadora — muitas vezes criado por uma mãe solo que enfrenta uma jornada tripla — é acalmado com palavras improvisadas, com ameaças simbólicas (“vou chamar o velho”, “olha o bicho”) ou simplesmente deixado a chorar, enquanto a mãe luta para pôr comida na mesa, pagar o aluguel e manter o mínimo de dignidade. A farinha para o angu, mencionada na canção, continua simbolizando aquilo que falta: não apenas alimento, mas tempo, acolhimento, estrutura.
Imagem criada com ajuda de IA
O trecho “Dorme, menino, que eu tenho o que fazer” ecoa hoje no grito silencioso de tantas mães que criam seus filhos sozinhas em meio à precariedade. Lavar, engomar, cozinhar — hoje substituídos por jornadas em aplicativos, faxinas, cuidados em casas alheias. O cuidado com os filhos, nesse cenário, é feito entre as pausas do cansaço.
Imagem criada com ajuda de IA
A canção também aponta para a forma como a infância pobre é muitas vezes controlada pelo medo. Em vez de diálogo ou afeto, usa-se o recurso do susto: “olha o sapo cururu”, “olha o velho”. Essa pedagogia do medo, ainda presente, reforça uma educação marcada pela urgência e pela sobrevivência, onde não há espaço para escuta ou desenvolvimento emocional.
Adaptada ao presente, “Menino Chorão” é mais do que uma cantiga: é um alerta. Fala sobre como as infâncias são moldadas pelas condições materiais e afetivas em que se desenrolam. Em um país onde tantas crianças vivem abaixo da linha da pobreza, a canção nos convida a pensar: o que é consolo para uma criança em um mundo desigual? Como podemos garantir uma infância digna, onde o choro seja escutado com atenção — e não silenciado por objetos ou ameaças?
Enquanto houver meninos chorando por razões que não podem dizer — por fome, solidão ou ausência — a canção seguirá atual. É nosso dever coletivo fazer com que, um dia, todas as crianças possam chorar apenas porque são crianças. E que, em vez de silenciadas, sejam acolhidas.
domingo, 22 de junho de 2025
MEMÓRIA DA JUSTIÇA NO AMAPÁ – A HISTÓRIA DO JUIZ SEVERINO E SEU LEAL SERVO NO AMAPÁ IMPERIAL
Por Michel Duarte Ferraz (*)
Em 1859, a então recém-criada Comarca de Macapá recebia seu primeiro Juiz de Direito: Severino Alves de Carvalho Junior. Vindo da Comarca de Vassouras, na província do Rio de Janeiro, o magistrado carregava não apenas a experiência como Promotor Público, mas também um forte elo com o governo imperial. Essa proximidade pode ter contribuído para sua nomeação, assinada no dia 3 de janeiro daquele ano.
A chegada ao Norte foi
paulatina.
ADMINISTRAÇÃO da Justiça.
Gazeta Oficial (PA), Ano II, N. 222, 05.10.1859.
REPARTIÇÃO de Polícia – Relação de pessoas despachadas em 04 de junho. A Época: Folha Politica, Comercial e Noticiosa (PA), Ano II, n. 125, 07.06.1859.
Apesar da curta passagem por Macapá, o juiz Severino deixou marcas significativas. Sua atuação foi elogiada pela imprensa da época como exemplo de legalidade, imparcialidade e probidade. E foi além da esfera jurídica: envolveu-se também em ações que hoje chamaríamos de humanitárias, como a organização de abrigos e o fornecimento de mantimentos para indígenas do rio Vila Nova, trabalho que contou com apoio logístico e financeiro do governo provincial.
CORRESPONDENCIA
Particular do Conservador. Brejo, 23 de fevereiro de 1860. O Conservador: Folha Política e Industrial
(MA) – Ano II – N. 59 – 10.04.1860
Mas foi em 1860, durante
uma visita à sua terra natal — a vila de Brejo, no Maranhão —, que se
desenrolou um episódio revelador sobre os limites da justiça, os contornos da
escravidão e a tensão racial que permeava o cotidiano do Império.
Na comitiva do magistrado seguia Raimundo, seu pajem, descrito por jornais da época como “trajando com decência, como é de costume entre pessoas distintas”. A presença de Raimundo causou incômodo. Ao circular pela vila cumprindo ordens de seu senhor, o jovem escravizado foi abordado por um integrante do chamado “grupinho mata-vigário”, facção local envolvida em disputas políticas. Tentaram extrair dele informações sobre conversas privadas da casa da família Carvalho. Ao se recusar, foi preso.
A arbitrariedade do ato
foi denunciada por um jornal local:
“Sem causa, sem respeito
à hospitalidade, o pajem foi agredido e preso pelo imbecil subdelegado
Torquatinho, instrumento dócil do grupinho.”
Para defender seu servo,
o juiz Severino impetrou habeas corpus. Raimundo foi solto no dia seguinte, mas
não sem antes passar pela humilhação de carregar na cabeça o barril de
imundícies da cadeia local. A justificativa oficial da prisão? “Andar o escravo
como forro, e fazendo immoralidades.”
Seria “andar como forro” usar sapatos e roupas limpas? E “fazer immoralidades” significaria manter a cabeça erguida e responder com firmeza? Essas perguntas ficaram sem resposta.
Esse episódio escancara não apenas as contradições de um sistema escravocrata em declínio, mas também como as tensões raciais e políticas se entrelaçavam de maneira brutal. O juiz, mesmo distante das intrigas locais, viu seu pajem virar alvo para atingir sua honra e a de sua família. E, como ainda se diz nos dias de hoje, “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.
Além de uma crônica de costumes, essa memória do Amapá imperial é um retrato doloroso de como o poder da força — policial, política ou social — tantas vezes se impôs ao da justiça.
(*) Museólogo do TJAP
segunda-feira, 16 de junho de 2025
MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA – UM EPISÓDIO REAL DA NOSSA MEMÓRIA URBANA
As cidades guardam histórias que muitas vezes passam despercebidas no corre-corre do presente. Mas, quando olhamos com atenção para as ruas, os prédios, os pontos de encontro e até para os silêncios das esquinas, encontramos fragmentos de uma memória viva — que ainda pulsa, mesmo quando esquecida.
Na publicação de hoje do Porta-Retrato-Macapá, convidamos você a
revisitar um episódio marcante da nossa memória urbana. Um fato histórico real,
vivido por quem fez parte do cotidiano da cidade e que ajuda a entender quem
somos, como evoluímos e o que ainda carregamos das experiências coletivas que
moldaram Macapá.
Preservar a memória não é apenas olhar para trás: é iluminar o caminho que seguimos adiante.
Macapá, 1951: O cruzamento que virou caso de polícia
No início da década de 1950, Macapá vivia um período de transição urbana e social.
Hoje Mendonça Furtado com Rua Tiradentes, atrás da igreja matriz.
O desenvolvimento começava a tomar forma com a abertura de avenidas mais largas, como a Mendonça Furtado, ao passo que ruas antigas, como a Travessa Coronel José Serafim, ainda guardavam o traçado estreito da cidade colonial. Nesse contexto de adaptação entre o antigo e o moderno, registrou-se um dos primeiros acidentes automobilísticos oficiais no centro da cidade.
imagem gerada por ia
O fato ocorreu na manhã do dia 7 de outubro de 1951. Domingo.
Envolveu um caminhão da casa comercial Leão do Norte, conduzido por Moisés
Zagury, e a caçamba nº 60 da Garagem Territorial, dirigida por Sebastião Silva. O acidente aconteceu próximo à
igreja matriz de São José, em um cruzamento central da cidade.
Segundo o relato de Moisés Zagury, ele trafegava pela Avenida Mendonça Furtado a uma velocidade de aproximadamente 25km/h quando foi surpreendido pela caçamba que, segundo ele, entrou na contramão pela Travessa Coronel José Serafim, sem sinais sonoros ou uso de freios. O passageiro do caminhão, Casimiro Dias, confirmou que não se ouviu nenhuma buzina e que o uso dos freios pela caçamba poderia ter evitado o impacto.
Sebastião Silva, por sua vez, alegou estar
trafegando a apenas 10km/h e ter buzinado diversas vezes antes de realizar a
curva. Seu passageiro, Raimundo Rodrigues, confirmou a versão,
acrescentando que a buzina foi usada inclusive para espantar um cachorro que
estava na via.
A perícia constatou falhas técnicas em ambos os veículos: a
buzina do caminhão apresentava defeito e os freios da caçamba estavam
comprometidos. O laudo concluiu pela imprudência de ambos os condutores. O
delegado ressaltou que, à época, não havia sinalização de mão única nas vias
envolvidas, o que exigia redobrada atenção dos motoristas.
O inquérito policial foi arquivado após parecer do promotor
interino, que reconheceu a ausência de dolo na conduta dos envolvidos. Cada
motorista arcou com seus prejuízos, e o caso foi encerrado.
Este episódio histórico revela não apenas os desafios da
condução no trânsito em uma cidade em transformação, mas também o registro vivo
de um tempo em que Macapá começava a caminhar para a modernidade.
Hoje, essa história é mais do que um boletim de ocorrência
antigo. É um retrato da cidade em transformação — entre o passado pacato e o
futuro urbano.
Nota do Editor: Pesquisa e texto original de Michel Duarte
Ferraz, museólogo do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), especialmente
adaptados ao blog Porta-Retrato-Macapá, com a devida anuência do autor.
Fonte: Arquivo Geral do TJAP
sábado, 7 de junho de 2025
ENTRE BALCÕES E MEMÓRIAS > A HISTÓRIA DA PERNAMBUCANA NO AMAPÁ
Pernambucanas em Macapá: A Loja da Marca Olho que Vestiu Gerações
A Chegada das Pernambucanas a Macapá (1949)
A loja Pernambucanas foi um verdadeiro marco no comércio local de Macapá, tornando-se referência para gerações de consumidores.
Em 1949, registros históricos mostram sua primeira instalação provisória na descida da Rua Cândido Mendes, próxima à tradicional Farmácia Serrano.
Mesmo antes de sua sede definitiva, a loja já atraía os moradores pela variedade de tecidos e produtos do lar, enquanto se construía, nas proximidades, o novo prédio de alvenaria na Praça Veiga Cabral.
O Novo Endereço e a Transformação Urbana
A nova sede da Pernambucanas passou a funcionar oficialmente no sábado, 28 de outubro de 1950, agora na Avenida Presidente Vargas, no trecho entre as ruas São José e Cândido Mendes de Almeida.
Antes da criação do Território Federal do Amapá, em 1943, essa área era um largo corredor que ligava a Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos (atual Praça Veiga Cabral) ao antigo Largo de São João (hoje Praça Barão do Rio Branco). O local também abrigava o campo do Cumau Esporte Clube, um espaço esportivo muito frequentado, além de sediar as futuras instalações da Agência dos Correios e Telégrafos.
A Solenidade de Inauguração (1950)
Segundo artigo do historiador Nilson Montoril, publicado no Diário do Amapá, às 15 horas daquele dia memorável, o governador interino do Amapá, Dr. Raul Montero Valdez, participou da solenidade de inauguração, acompanhado pelo Sr. Henrique Pehtelsohn, diretor da Lundgren Tecidos S.A. — empresa pernambucana com matriz na cidade de Paulista.
Pehtelsohn fez um breve relato sobre a construção da loja, exaltando a colaboração do governo local e agradecendo ao povo de Macapá, que já conhecia os produtos da marca em viagens a outras cidades, como Belém.
Foram apresentados ao público o gerente da filial, Adaucto Benigno Cavalcante, e o fiscal Armando Drummond. Após as falas, o Dr. Valdez declarou oficialmente inaugurada a loja, e os presentes foram recepcionados com frios, gelados e doces, em um clima de celebração e entusiasmo.
Personagens que Fizeram História
O gerente Adaucto Benigno Cavalcante, natural do Ceará, tornou-se uma figura importante na cidade, participando ativamente de ações beneficentes e sociais.
Ao seu lado, atuaram funcionários dedicados como Nelson Medeiros e Aquino, reconhecidos por sua atenção ao público.
A “Marca Olho” e os Produtos Queridos
Inicialmente, a loja vendia apenas tecidos e roupas, com destaque para as fazendas da famosa “Marca Olho”, cujo logotipo trazia dois losangos com um grande olho ao centro — símbolo de qualidade da Lundgren Tecidos.
As donas de casa de Macapá e das redondezas compravam ali toalhas de banho e mesa, lençóis, colchas, travesseiros, entre outros. Os homens buscavam as elegantes camisas da marca Lunfor.
💳 O Crediário Tentação e o Auge da Loja
Nos anos 1970, a loja passou a vender também tapetes, cortinas, eletrodomésticos, artigos de informática e muito mais.
Com o lançamento do famoso “Crediário Tentação”, os consumidores passaram a utilizar carnês e cartões de crédito, o que aumentou consideravelmente o volume de vendas.
Das Origens Pernambucanas ao Declínio
As Casas Pernambucanas nasceram em 25 de setembro de 1906, fundadas pelo sueco Herman Theodor Lundgren, que chegou ao Brasil em 1885. Inicialmente comerciante de pólvora e fertilizantes, Herman se destacou por sua fluência em línguas e, em 1904, comprou a Companhia de Tecidos Paulista, iniciando sua trajetória no setor têxtil. A primeira loja fora de Pernambuco foi aberta em São Paulo, em 1908.
Entre os anos de 1970 e 1990, porém, disputas entre os herdeiros de Herman afetaram o grupo. Somente o braço paulista, liderado por Arthur Lundgren Tecidos, manteve-se forte e continua até hoje no cenário do varejo nacional.
O Encerramento e o Legado em Macapá
A filial de Macapá, infelizmente, acabou encerrando suas atividades, decretando falência após décadas de atuação. Ainda assim, seu legado permanece vivo nas memórias dos que frequentaram seus corredores, compraram tecidos para costurar roupas de festa ou enxovais e vivenciaram uma era de transformação no comércio local.
A imagem acima, datada de 1997, compartilhada pelo nosso colaborador Rogério Castelo, mostra a fachada da filial das Lojas Pernambucanas em Macapá em seus últimos anos de funcionamento, pouco antes do fechamento definitivo da unidade na capital amapaense. O registro é um raro e valioso documento visual que ajuda a preservar a lembrança de um dos marcos do comércio varejista da cidade. Grato, amigo!
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