quarta-feira, 20 de novembro de 2024

MEMÓRIA DA CULTURA AMAPAENSE > AS DUAS 'VENINA'S" DO MARABAIXO DO AMAPÁ

Elas são as personalidades femininas que, entre outras, se firmaram na manifestação cultural e religiosa das comunidades negras do Amapá. O reconhecimento do blog Porta-Retrato neste Dia da Consciência Negra.

Tia Venina marcou a história das mulheres da família e do Quilombo do Curiaú, situado na Zona Rural de Macapá. A sua trajetória é uma inspiração para a luta pelo empoderamento feminino das mulheres negras no Amapá. 

Tia Venina, figura histórica do Quilombo do Curiaú, em um dos poucos registros fotográficos dela — Foto: Reprodução
Antônia Venina da Silva nasceu em 17 de dezembro de 1909, no Quilombo do Curiaú, e dedicou-se ao cuidado não somente dos nove filhos, mas também da comunidade à qual pertencia. Os relatos são unânimes ao afirmar que, naquele coração de mãe, havia espaço para todos. Ela viveu por 86 anos, trabalhou como agricultora, rezadeira, dançarina de batuque e marabaixo e curandeira de garganta.

Após a morte do esposo, Tia Venina, como era conhecida pela vizinhança, assumiu a responsabilidade de cuidar sozinha de toda a família.

A neta Isis Tatiane da Silva, de 43 anos, disse que sua avó "era uma mulher muito avançada para o seu tempo e realmente viveu aquela vida. Ela dançava, cantava batuque e marabaixo, e tinha a habilidade de curar a garganta. Somente ela tinha esse dom no Curiaú", recorda Isis.

A mulher sempre teve uma voz ativa e lutou com muita determinação para manter viva a memória do povo quilombola. A família relata que, durante a tarde, os jovens a procuravam para ouvir histórias dos tempos idos e conhecer a ancestralidade.

Os estudantes interessados em realizar pesquisas e trabalhos acadêmicos também se dirigiam a ela, pois sabiam que ela guardava uma memória viva e vibrante da história do Quilombo.

Para Tia Venina, a educação sempre foi o melhor caminho, por isso ela incentivava a buscar o conhecimento.

Integrantes da Associação Mulheres Mãe Venina do Curiaú — Foto: Reprodução / G1

As bandeiras de resistência levantadas pela mulher "a frente do seu tempo" produziram frutos. Em 20 de julho de 1997, dois anos após a sua morte, foi fundada a Associação Mulheres Mãe Venina do Curiaú.

O objetivo inicial era realizar manifestações e eventos culturais para a comunidade. No entanto, com o decorrer do tempo, o grupo começou a desenvolver trabalhos voltados para a educação ambiental e, sobretudo, para o empoderamento feminino.

Para Iracema da Silva, neta de 51 anos, a escolha do nome da associação foi coerente com a trajetória de vida da avó dentro da comunidade. As netas mencionam que é possível notar que as matriarcas do Curiaú orientam as próprias famílias com base no exemplo de vida de Tia Venina.

Foto: Reprodução /Facebook

Walter Jr., publicitário e presidente do Instituto Memorial Amapá, classifica a segunda Venina,  como uma das "Guardiãs do Marabaixo". O nome dela é Venina Francisca da Trindade"Venina não participou apenas do Marabaixo, mas também foi uma guardiã da nossa cultura, uma mulher que lutou para preservar as raízes culturais do nosso povo. Graça a ela e a tantos outros, o Marabaixo é hoje reconhecido como uma das manifestações mais significativas da nossa identidade cultural."

Além disso, ela era uma tacacazeira dedicada, dotada de uma alegria inconfundível e um amor pela cultura que ultrapassava o tempo e o espaço. Walter diz, em sua narrativa, a pura verdade: "Conversar com a Venina era como abrir uma janela para um mundo repleto de energia, tradição e resistência. Ela demonstrava uma disposição extraordinária para amanhecer cantando e dançando com os ladrões de Marabaixo, algo que me fascinou profundamente."

Homenagem honorífica.

Em dezembro de 2020, foram instaladas estátuas de cinco figuras relevantes da cultura e educação amapaenses em quatro pontos distintos de Macapá. A Tia Venina, do Curiaú, também foi uma das homenageadas.

Estátua da Tia Venina fica no bairro Laguinho — Foto: Rafaela Bittencourt/Rede Amazônica 

O monumento fica na esquina da Rua Eliezer Levy com a Avenida Mãe Luzia, no bairro Laguinho. Os artistas a reproduziram, com um colar, um sorriso no rosto e ainda segurando a saia rodada representativa de quem dança Marabaixo. 

Créditos: G1/PMM e Memorial Amapá

Fonte: Pe. Paulo Roberto Matias Souza (via Facebook)

Post atualizado e reeditado em 22/11/2024, por conter incorreções.

Um comentário:

  1. História linda ! Sempre que penso no Curiau lembro da tia Simplicia.

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