Por Nilson Montoril
“No início do ano de 1960, o governo territorial adquiriu um lote de tambores de piche destinado ao asfaltamento das principais vias públicas de Macapá. O capeamento de ruas e avenidas utilizaria o processo alto-selante, que, em 1963, a Indústria e Comércio de Minérios S.A. tinha realizado nas travessas da Vila Amazonas, Vila da Serra do Navio e do Escritório Central. O processo consistia em jogar o piche sobre a terra, cobrindo-o com areia. Isso exigia um bom tempo para que o piche absorvesse a areia e a mistura secasse.
O período invernoso não era propicio para um trabalho dessa natureza, por isso, os tambores foram colocados atrás da Fortaleza de São José, próximo ao baluarte de Nossa Senhora da Conceição.
O tempo passou, o mato cresceu em
volta dos tambores e a estiagem presente a partir de setembro provocou o
vazamento do material de fácil combustão. Na noite de 24 de setembro de 1960,
um incêndio de graves proporções irrompeu no local. A sirene da Usina de Força
e Luz, situada na Av. General Gurjão foi ligada e o povo ganhou as ruas. O
fogo, certamente ateado no capinzal por algum sujeito de má índole atingiu o
piche derramado no solo e se expandiu.
Os tambores fechados eram
arremessados ao ar com sucessivas explosões. A situação só começou a ser
controlada, quando o Corpo de Voluntários de Defesa de Incêndios, conhecido
como CVDCI, pertencente à ICOMI chegou ao local do sinistro.
A unidade de Santana utilizou um caminhão-bomba com capacidade para quatro mil litros d’água, extintores de carga especial e outros dispositivos inexistentes em Macapá. Os bombeiros voluntários da ICOMI integravam duas unidades, em Santana e Serra do Navio, cada uma delas com 42 homens, todos funcionários da empresa mineradora. Bem treinados e agindo com muita cautela, não demoraram a eliminar o fogo.
Mereceu reconhecimento especial da ICOMI o funcionário Hilkias Alves de Araújo (foto menor em traje escoteiro), chapa 5499, que, usando roupa adequada subiu nos tambores ainda livres das chamas, para despejar água no interior deles. Sem os vedadores das tampas, e, consequentemente, sem gás represado, o piche não iria explodir. Em maior número, os demais membros da CVDCI faziam jorrar muita água sobre os tambores incandescentes.
A cidade de Macapá, que passou maus
momentos com pavorosos incêndios, em 1960 ainda não tinha um grupamento de
bombeiros regulamentado e aparelhado. Com muita limitação, a Guarda Territorial
se virava para apagá-los.”
Artigo assinado pelo historiador Nilson Montoril, publicado - originalmente - na íntegra na edição do dia 13/01/2017, do jornal Diário do Amapá.
Fonte: Diário do Amapá
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