domingo, 1 de agosto de 2021

MEMÓRIA ESTUDANTIL DO AMAPÁ: JORNAL "O BALUFA".

 JORNAL "O BALUFA".

Por Nilson Montoril.
Partiu do ginasiano Carlos Oliveira Nery, a ideia da criação de um jornalzinho independente no Colégio Amapaense. Fui o primeiro a ser informado de tal pretensão, haja vista que integrávamos a 4ª série ginasial B e éramos bons amigos. Isso aconteceu no dia 10 de setembro de 1962, após uma aula de Português, ministrada pelo Professor Raimundo Pantoja Lobo, o popular Aporema.
Ao comentar a respeito do primeiro jornal a circular no Brasil, “A Gazeta”, do Rio de Janeiro, no ano de 1808, o ilustre mestre também se lembrou do Jornal “O Castelo”, periódico que circulou sob a coordenação do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa. Entusiasmado com o assunto, o Carlos Nery decidiu concretizar sua idéia. Rapidamente formou um grupo constituído por ele, Nilson Montoril de Araújo, Pantaleão Gonçalves de Oliveira, Aldony da Fonseca Araújo, José Maria “Gato”,João Eudes Freitas,Raul Soares e Lucas Vale. Em 1962, o Colégio Amapaense era dirigido pelo Engenheiro e Professor de Matemática Manuel Nogueira, que se propôs a nós apoiar, desde que, divulgássemos coisas deveras importantes. A mesma atitude adotou o Professor Murilo Ferreira, que o substituiu em 1963. A cordialidade dos Professores Nogueira e Murilo nos deu ânimo redobrado e nos levou à presença do Professor Antônio Munhoz Lopez, Diretor da Divisão de Educação, nomeado pelo Governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto, a 19 de agosto de 1963. Na época, a Divisão de Educação funcionava em um anexo do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, atrás da Biblioteca e Arquivo Público. Fomos bem recebidos e aproveitamos para reivindicar a doação de papel, tinta e stêncil para mimeógrafo. Firmamos a importante parceria convidando o Professor Munhoz para nos honrar com artigos sobre literatura e cinema. O Carlos Nery era um craque em pedir. Tinha uma conversa capaz de derrubar avião. Dentre os nossos mais frequentes colaboradores, despontava o Carlos Nilson da Costa, que era aluno do Curso Científico, reconhecidamente “bom de caneta”. Em dado momento, lembramos que o jornal ainda não tinha nome.
Como o nosso grupo era muito ativo e levava tudo na brincadeira, além de ter a pecha de anarquista, decidimos usar o apelido do Aldony da Fonseca Araújo: “Balufa”. Ele era bem gordinho e alguém lhe sapecou o adjetivo “Balofo”, que significa muito volumoso em relação ao peso. Acontece que nosso amigo Aldony não se importava com a alcunha ou se ela estava correta. Todos o chamavam de Balufa. A brincadeira virou coisa séria e não faltaram colaboradores. O jornal falava de literatura, cinema, história, educação, esportes, poesia, crônicas, entrevistas, aniversários, humor e algumas fofocas.
Em julho de 1963, a equipe do jornal integrou a embaixada do Grêmio do Colégio Amapaense, que realizou uma visita a Serra do Navio, a convite da Gerência da Indústria e Comércio de Minérios S.A. O exemplar do jornal não era vendido. Dava um trabalho danado deixá-lo no ponto de ser rodado no mimeógrafo. O conteúdo tinha que ser datilografado no stêncil, corrigido e impresso. Nossos parceiros nessa empreitada eram o Ernani Marinho e a Iria Lúcia. O jornal nunca criticou gestores públicos e se manteve alheio às questões políticas. Mesmo assim, sua impressão foi interrompida após a intervenção militar de 31 de março de 1964. O mesmo fato ocasionou o fechamento da sede do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, a destituição de sua diretoria e a clandestinidade da associação. Dentre os fundadores do jornal “O Balufa”, apenas o Pantaleão Oliveira, o Nilson Montoril de Araújo e o Raul Soares vivem em Macapá. O João Eudes, que até pouco tempo residia no Estado de São Paulo, parti para a eternidade.Os demais já faleceram. O Carlos Nery, em 1965, mudou-se para Belém, onde cursou medicina. O Lucas Vale foi residir em Brasília, onde forças de repressão o teriam eliminado, por considerá-lo comunista. O José Maria “Gato” retornou a Manaus. O Aldony Araújo, Balufa para os amigos, que simplificaram sua alcunha para Babá, andou por Belém, mas depois retornou a Macapá e aqui morreu.
Antes do surgimento do Jornal “O Balufa”, outro periódico denominado “O Castelo”, obteve enorme aceitação nos meios educacionais do Amapá. Circulou pela primeira vez no dia 5 de novembro de 1951, como órgão de publicidade do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, criado por um grupo de alunos do Ginásio Amapaense, para progredir nas atividades literárias e jornalísticas. O Ginásio Amapaense funcionava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. A 1ª edição do jornal “O Castelo” colocava em destaque a memória de Rui Barbosa e continha crônicas, poesias e notícias diversas. O jornal tinha 12 páginas e boa ilustração, principalmente a de um castelo em azul e vermelho, ainda hoje símbolo do “Colosso Cinzento”. Vários alunos que o idealizaram e nele publicaram obras literárias, pararam de fazê-lo após a conclusão de curso ginasial. Porém, o jornalismo amapaense ganhou importante participes.
A foto acima, data de julho de 1963, batida junto a Estrada de Ferro do Amapá, em Serra do Navio, momentos antes do nosso regresso a Macapá, numa segunda feira. No sentido horário identificamos os integrantes da embaixada do Colégio Amapaense. Em pé: José Maria Franco, Janete Góes, Esmeralda, Nestlerino Valente, João Nascimento(Bulão), Ernani Marinho, Aldony Araújo(Balufa), João Eudes(Cabeludo), Edilson Brito, Lucas Vale, Raul Soares, Nilson Montoril, Mércia Souza, Arthur Rafael, Dário(Presidente do Grêmio), Asdrubal Andrade, Paulo Armando Andrade, Pedro Assis. Agachadas: Consuelo, Rosa Gillet, Iracema Mendes, Léa Assis, Ronely Souza, Eloisa Gazel, Elcy Lacerda, Leide Picanço, Lauriza Jucá e Vera Pinon. Sentado ao lado do trilho: Dadir Ferreira. Por trás do João Nascimento vemos o Relações Públicas da ICOMI.
Fotos: Arquivos do blog

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