domingo, 29 de junho de 2025

MORRE EM MACAPÁ, AOS 94 ANOS - Thereza Tavares Coimbra – Uma Vida Dedicada ao Amapá

No dia 28 de junho de 2025, Macapá perdeu uma de suas figuras mais queridas e respeitadas: Thereza Tavares Coimbra, que partiu no dia em que completava 94 anos. Sua trajetória se confunde com a própria história do Amapá, especialmente nos tempos de formação da capital.


A alma da Casa Leão do Norte

Por mais de 40 anos, Thereza dedicou-se ao atendimento no tradicional comércio Casa Leão do Norte, um dos mais emblemáticos pontos comerciais do centro de Macapá. Mais do que vendedora, ela era uma conselheira, confidente e referência para os fregueses, como se dizia carinhosamente à época.

"Ela sabia exatamente onde estava cada parafuso, cada correia, cada peça de motor. Era impressionante. E sempre com um sorriso no rosto."

— relato de Leão Zagury - Médico 

Uma família de pioneiros

Filha de José Rosa Tavares e Maria do Carmo Tavares, Thereza fazia parte de uma família numerosa e profundamente enraizada na história do Amapá. Era irmã de nomes marcantes como Zeca Tavares, João do Carmo Tavares (Jangito), Faustino, Biló e Quitéria, esta última também funcionária da tradicional loja dos Irmãos Zagury.

Registros históricos

VISITANDO MACAPÁ - Com as amigas/irmãs Quitéria e Thereza Tavares. Foto by Édi Prado. 2013
"Tive a honra de reencontrar dia 3 de fevereiro de 2012 no consultório do Dr. Paulo Rebelo, as amigas Maria Quitéria do Carmo Tavares, de 86 anos e Tereza do Carmo Tavares Coimbra, de 81 anos. Quitéria trabalhou na fábrica do Guaraná Flip e Tereza por muitos anos foi funcionária da empresa Irmãos Zagury."(Paulo Tarso Barros)

Sarah Zagury -> Thereza Tavares faz parte da história de Macapa. Stposnr hm3mg0o9213t623 m13i0nda148c9i7j7 u19 dee
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segunda-feira, 23 de junho de 2025

MEMÓRIAS DO RÁDIO AMAPAENSE > ECOS DA RÁDIO DIFUSORA DE MACAPÁ

“Menino Chorão” e os ecos da Rádio Difusora de Macapá nos anos 60

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Em meio aos sons que embalaram o cotidiano de Macapá nos anos 1960, poucos marcaram tão profundamente quanto “Menino Chorão”, do Trio Jangadeiro. 
Simples e comovente, a canção conquistou os corações dos ouvintes e tornou-se uma das mais pedidas no tradicional programa Carnet Social, transmitido todas as tardes pela Rádio Difusora de Macapá.
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Mais do que apenas uma melodia popular, “Menino Chorão” virou trilha sonora de uma época — das tardes radiadas de emoção, alegria e esperança. Hoje, resgato essa lembrança querida, que ainda ecoa viva na minha memória e, certamente, na de tantos amapaenses daquela geração.

Análise Reflexiva

Menino Chorão: Um Espelho da Infância em Dois Brasis

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A cantiga popular Menino Chorão”, composta por J. Guimarães e eternizada pelo Trio Jangadeiro, permanece viva e pungente mesmo décadas após sua criação. O lamento infantil retratado na letra ultrapassa o tempo, revelando-se hoje como um retrato fiel da infância em um Brasil ainda profundamente dividido entre riqueza e pobreza. Adaptá-la ao cenário atual é olhar com atenção para as novas formas de exclusão, os velhos silêncios e as estratégias de sobrevivência das famílias brasileiras.

Hoje, o menino chorão continua presente — nas ruas, nos condomínios, nas favelas e nas redes sociais. Ainda ouvimos choros: uns abafados por tablets de última geração, outros silenciados pela fome ou pelo medo. A diferença entre os consolos oferecidos aos filhos de ricos e pobres, como denuncia a canção, continua evidente. A criança rica, agora, é acalmada com um celular nas mãos, promessas de viagens ou brinquedos educativos. Seus pais, muitas vezes ausentes fisicamente, tentam compensar com presentes e telas aquilo que não podem — ou não sabem — oferecer em presença e escuta.

Do outro lado, o filho da classe trabalhadora — muitas vezes criado por uma mãe solo que enfrenta uma jornada tripla — é acalmado com palavras improvisadas, com ameaças simbólicas (“vou chamar o velho”, “olha o bicho”) ou simplesmente deixado a chorar, enquanto a mãe luta para pôr comida na mesa, pagar o aluguel e manter o mínimo de dignidade. A farinha para o angu, mencionada na canção, continua simbolizando aquilo que falta: não apenas alimento, mas tempo, acolhimento, estrutura.

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O trecho Dorme, menino, que eu tenho o que fazer ecoa hoje no grito silencioso de tantas mães que criam seus filhos sozinhas em meio à precariedade. Lavar, engomar, cozinhar — hoje substituídos por jornadas em aplicativos, faxinas, cuidados em casas alheias. O cuidado com os filhos, nesse cenário, é feito entre as pausas do cansaço.

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A canção também aponta para a forma como a infância pobre é muitas vezes controlada pelo medo. Em vez de diálogo ou afeto, usa-se o recurso do susto: olha o sapo cururu, olha o velho. Essa pedagogia do medo, ainda presente, reforça uma educação marcada pela urgência e pela sobrevivência, onde não há espaço para escuta ou desenvolvimento emocional.

Adaptada ao presente, Menino Chorão é mais do que uma cantiga: é um alerta. Fala sobre como as infâncias são moldadas pelas condições materiais e afetivas em que se desenrolam. Em um país onde tantas crianças vivem abaixo da linha da pobreza, a canção nos convida a pensar: o que é consolo para uma criança em um mundo desigual? Como podemos garantir uma infância digna, onde o choro seja escutado com atenção — e não silenciado por objetos ou ameaças?

Enquanto houver meninos chorando por razões que não podem dizer — por fome, solidão ou ausência — a canção seguirá atual. É nosso dever coletivo fazer com que, um dia, todas as crianças possam chorar apenas porque são crianças. E que, em vez de silenciadas, sejam acolhidas.


domingo, 22 de junho de 2025

MEMÓRIA DA JUSTIÇA NO AMAPÁ – A HISTÓRIA DO JUIZ SEVERINO E SEU LEAL SERVO NO AMAPÁ IMPERIAL

Por Michel Duarte Ferraz (*)

Em 1859, a então recém-criada Comarca de Macapá recebia seu primeiro Juiz de Direito: Severino Alves de Carvalho Junior. Vindo da Comarca de Vassouras, na província do Rio de Janeiro, o magistrado carregava não apenas a experiência como Promotor Público, mas também um forte elo com o governo imperial. Essa proximidade pode ter contribuído para sua nomeação, assinada no dia 3 de janeiro daquele ano.

A chegada ao Norte foi paulatina. 

ADMINISTRAÇÃO da Justiça. Gazeta Oficial (PA), Ano II, N. 222, 05.10.1859.

Desembarcou em Belém em 23 de maio e, poucos dias depois, seguiu viagem para Macapá, acompanhado por dois servos, Raimundo e Jacinto — ambos registrados pela Repartição de Polícia como escravizados de sua propriedade.

REPARTIÇÃO de Polícia – Relação de pessoas despachadas em 04 de junho. A Época: Folha Politica, Comercial e Noticiosa (PA), Ano II, n. 125, 07.06.1859.

Em 7 de junho, já exercia a função judicial na longínqua comarca amazônica.

Apesar da curta passagem por Macapá, o juiz Severino deixou marcas significativas. Sua atuação foi elogiada pela imprensa da época como exemplo de legalidade, imparcialidade e probidade. E foi além da esfera jurídica: envolveu-se também em ações que hoje chamaríamos de humanitárias, como a organização de abrigos e o fornecimento de mantimentos para indígenas do rio Vila Nova, trabalho que contou com apoio logístico e financeiro do governo provincial.

CORRESPONDENCIA Particular do Conservador. Brejo, 23 de fevereiro de 1860. O Conservador: Folha Política e Industrial (MA) – Ano II – N. 59 – 10.04.1860

Mas foi em 1860, durante uma visita à sua terra natal — a vila de Brejo, no Maranhão —, que se desenrolou um episódio revelador sobre os limites da justiça, os contornos da escravidão e a tensão racial que permeava o cotidiano do Império.
Imagem ilustrativa criada por IA

Na comitiva do magistrado seguia Raimundo, seu pajem, descrito por jornais da época como “trajando com decência, como é de costume entre pessoas distintas”. A presença de Raimundo causou incômodo. Ao circular pela vila cumprindo ordens de seu senhor, o jovem escravizado foi abordado por um integrante do chamado “grupinho mata-vigário”, facção local envolvida em disputas políticas. Tentaram extrair dele informações sobre conversas privadas da casa da família Carvalho. Ao se recusar, foi preso.

A arbitrariedade do ato foi denunciada por um jornal local:

“Sem causa, sem respeito à hospitalidade, o pajem foi agredido e preso pelo imbecil subdelegado Torquatinho, instrumento dócil do grupinho.”

Para defender seu servo, o juiz Severino impetrou habeas corpus. Raimundo foi solto no dia seguinte, mas não sem antes passar pela humilhação de carregar na cabeça o barril de imundícies da cadeia local. A justificativa oficial da prisão? “Andar o escravo como forro, e fazendo immoralidades.”

Seria “andar como forro” usar sapatos e roupas limpas? E “fazer immoralidades” significaria manter a cabeça erguida e responder com firmeza? Essas perguntas ficaram sem resposta.

Esse episódio escancara não apenas as contradições de um sistema escravocrata em declínio, mas também como as tensões raciais e políticas se entrelaçavam de maneira brutal. O juiz, mesmo distante das intrigas locais, viu seu pajem virar alvo para atingir sua honra e a de sua família. E, como ainda se diz nos dias de hoje, “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.

Além de uma crônica de costumes, essa memória do Amapá imperial é um retrato doloroso de como o poder da força — policial, política ou social — tantas vezes se impôs ao da justiça.

 (*) Museólogo do TJAP

segunda-feira, 16 de junho de 2025

MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA – UM EPISÓDIO REAL DA NOSSA MEMÓRIA URBANA

As cidades guardam histórias que muitas vezes passam despercebidas no corre-corre do presente. Mas, quando olhamos com atenção para as ruas, os prédios, os pontos de encontro e até para os silêncios das esquinas, encontramos fragmentos de uma memória viva — que ainda pulsa, mesmo quando esquecida.

Na publicação de hoje do Porta-Retrato-Macapá, convidamos você a revisitar um episódio marcante da nossa memória urbana. Um fato histórico real, vivido por quem fez parte do cotidiano da cidade e que ajuda a entender quem somos, como evoluímos e o que ainda carregamos das experiências coletivas que moldaram Macapá.

Preservar a memória não é apenas olhar para trás: é iluminar o caminho que seguimos adiante.

Macapá, 1951: O cruzamento que virou caso de polícia

No início da década de 1950, Macapá vivia um período de transição urbana e social. 

Hoje Mendonça Furtado com Rua Tiradentes, atrás da igreja matriz.

O desenvolvimento começava a tomar forma com a abertura de avenidas mais largas, como a Mendonça Furtado, ao passo que ruas antigas, como a Travessa Coronel José Serafim, ainda guardavam o traçado estreito da cidade colonial. Nesse contexto de adaptação entre o antigo e o moderno, registrou-se um dos primeiros acidentes automobilísticos oficiais no centro da cidade.

imagem gerada por ia

O fato ocorreu na manhã do dia 7 de outubro de 1951. Domingo. Envolveu um caminhão da casa comercial Leão do Norte, conduzido por Moisés Zagury, e a caçamba nº 60 da Garagem Territorial, dirigida por Sebastião Silva. O acidente aconteceu próximo à igreja matriz de São José, em um cruzamento central da cidade.

Segundo o relato de Moisés Zagury, ele trafegava pela Avenida Mendonça Furtado a uma velocidade de aproximadamente 25km/h quando foi surpreendido pela caçamba que, segundo ele, entrou na contramão pela Travessa Coronel José Serafim, sem sinais sonoros ou uso de freios. O passageiro do caminhão, Casimiro Dias, confirmou que não se ouviu nenhuma buzina e que o uso dos freios pela caçamba poderia ter evitado o impacto.

Sebastião Silva, por sua vez, alegou estar trafegando a apenas 10km/h e ter buzinado diversas vezes antes de realizar a curva. Seu passageiro, Raimundo Rodrigues, confirmou a versão, acrescentando que a buzina foi usada inclusive para espantar um cachorro que estava na via.

A perícia constatou falhas técnicas em ambos os veículos: a buzina do caminhão apresentava defeito e os freios da caçamba estavam comprometidos. O laudo concluiu pela imprudência de ambos os condutores. O delegado ressaltou que, à época, não havia sinalização de mão única nas vias envolvidas, o que exigia redobrada atenção dos motoristas.

O inquérito policial foi arquivado após parecer do promotor interino, que reconheceu a ausência de dolo na conduta dos envolvidos. Cada motorista arcou com seus prejuízos, e o caso foi encerrado.

Este episódio histórico revela não apenas os desafios da condução no trânsito em uma cidade em transformação, mas também o registro vivo de um tempo em que Macapá começava a caminhar para a modernidade.

Hoje, essa história é mais do que um boletim de ocorrência antigo. É um retrato da cidade em transformação — entre o passado pacato e o futuro urbano.

Nota do Editor: Pesquisa e texto original de Michel Duarte Ferraz, museólogo do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), especialmente adaptados ao blog Porta-Retrato-Macapá, com a devida anuência do autor.

Fonte: Arquivo Geral do TJAP 

sábado, 7 de junho de 2025

ENTRE BALCÕES E MEMÓRIAS > A HISTÓRIA DA PERNAMBUCANA NO AMAPÁ

Pernambucanas em Macapá: A Loja da Marca Olho que Vestiu Gerações

A Chegada das Pernambucanas a Macapá (1949)

A loja Pernambucanas foi um verdadeiro marco no comércio local de Macapá, tornando-se referência para gerações de consumidores. 

Em 1949, registros históricos mostram sua primeira instalação provisória na descida da Rua Cândido Mendes, próxima à tradicional Farmácia Serrano.

Mesmo antes de sua sede definitiva, a loja já atraía os moradores pela variedade de tecidos e produtos do lar, enquanto se construía, nas proximidades, o novo prédio de alvenaria na Praça Veiga Cabral.

O Novo Endereço e a Transformação Urbana

A nova sede da Pernambucanas passou a funcionar oficialmente no sábado, 28 de outubro de 1950, agora na Avenida Presidente Vargas, no trecho entre as ruas São José e Cândido Mendes de Almeida.

Antes da criação do Território Federal do Amapá, em 1943, essa área era um largo corredor que ligava a Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos (atual Praça Veiga Cabral) ao antigo Largo de São João (hoje Praça Barão do Rio Branco). O local também abrigava o campo do Cumau Esporte Clube, um espaço esportivo muito frequentado, além de sediar as futuras instalações da Agência dos Correios e Telégrafos.

A Solenidade de Inauguração (1950)

Segundo artigo do historiador Nilson Montoril, publicado no Diário do Amapá, às 15 horas daquele dia memorável, o governador interino do Amapá, Dr. Raul Montero Valdez, participou da solenidade de inauguração, acompanhado pelo Sr. Henrique Pehtelsohn, diretor da Lundgren Tecidos S.A. — empresa pernambucana com matriz na cidade de Paulista.

Pehtelsohn fez um breve relato sobre a construção da loja, exaltando a colaboração do governo local e agradecendo ao povo de Macapá, que já conhecia os produtos da marca em viagens a outras cidades, como Belém.

Foram apresentados ao público o gerente da filial, Adaucto Benigno Cavalcante, e o fiscal Armando Drummond. Após as falas, o Dr. Valdez declarou oficialmente inaugurada a loja, e os presentes foram recepcionados com frios, gelados e doces, em um clima de celebração e entusiasmo.

Personagens que Fizeram História

O gerente Adaucto Benigno Cavalcante, natural do Ceará, tornou-se uma figura importante na cidade, participando ativamente de ações beneficentes e sociais. 

Ao seu lado, atuaram funcionários dedicados como Nelson Medeiros e Aquino, reconhecidos por sua atenção ao público.

A “Marca Olho” e os Produtos Queridos

Desde 1913, a Marca Olho garante a originalidade e protege o consumidor das imitações.

Inicialmente, a loja vendia apenas tecidos e roupas, com destaque para as fazendas da famosa “Marca Olho”, cujo logotipo trazia dois losangos com um grande olho ao centro — símbolo de qualidade da Lundgren Tecidos.

As donas de casa de Macapá e das redondezas compravam ali toalhas de banho e mesa, lençóis, colchas, travesseiros, entre outros. Os homens buscavam as elegantes camisas da marca Lunfor.


💳 O Crediário Tentação e o Auge da Loja

Nos anos 1970, a loja passou a vender também tapetes, cortinas, eletrodomésticos, artigos de informática e muito mais.

Com o lançamento do famoso “Crediário Tentação”, os consumidores passaram a utilizar carnês e cartões de crédito, o que aumentou consideravelmente o volume de vendas.


Das Origens Pernambucanas ao Declínio

As Casas Pernambucanas nasceram em 25 de setembro de 1906, fundadas pelo sueco Herman Theodor Lundgren, que chegou ao Brasil em 1885. Inicialmente comerciante de pólvora e fertilizantes, Herman se destacou por sua fluência em línguas e, em 1904, comprou a Companhia de Tecidos Paulista, iniciando sua trajetória no setor têxtil. A primeira loja fora de Pernambuco foi aberta em São Paulo, em 1908.

Entre os anos de 1970 e 1990, porém, disputas entre os herdeiros de Herman afetaram o grupo. Somente o braço paulista, liderado por Arthur Lundgren Tecidos, manteve-se forte e continua até hoje no cenário do varejo nacional.

O Encerramento e o Legado em Macapá

A filial de Macapá, infelizmente, acabou encerrando suas atividades, decretando falência após décadas de atuação. Ainda assim, seu legado permanece vivo nas memórias dos que frequentaram seus corredores, compraram tecidos para costurar roupas de festa ou enxovais e vivenciaram uma era de transformação no comércio local.

A imagem acima, datada de 1997, compartilhada pelo nosso colaborador Rogério Castelo, mostra a fachada da filial das Lojas Pernambucanas em Macapá em seus últimos anos de funcionamento, pouco antes do fechamento definitivo da unidade na capital amapaense. O registro é um raro e valioso documento visual que ajuda a preservar a lembrança de um dos marcos do comércio varejista da cidade. Grato, amigo!


domingo, 1 de junho de 2025

MEMÓRIA ESCOTEIRA: O INÍCIO DO ESCOTISMO NO AMAPÁ

No ano de 1942 e nos anos seguintes, o mundo vivia em plena Segunda Guerra Mundial. O Brasil, até então neutro, viu-se envolvido no conflito após o afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães em águas territoriais nacionais. Essa tragédia resultou em perdas humanas e na interrupção do abastecimento entre o Sul e a região Norte, que ainda não contava com rodovias para facilitar o transporte.

Belém do Pará, cidade natal de José Raimundo Barata, não ficou imune aos reflexos da guerra. Com a entrada do Brasil como aliado dos Estados Unidos, Belém tornou-se uma base estratégica para operações militares. Aviões aliados faziam escala em Macapá, no Território Federal do Amapá, onde os americanos haviam construído uma base aérea — posteriormente transformada na Escola de Iniciação Agrícola do Amapá.


Essa parceria trouxe melhorias estruturais significativas às cidades de Amapá, Belém e Natal, especialmente quanto à infraestrutura dos aeroportos, que foram adaptados para funcionar como bases militares. Além disso, houve aumento de empregos diretos e indiretos, contribuindo para o desenvolvimento econômico local.

Naquela época, Raimundo cursava o segundo ano de Marcenaria numa escola técnica de Belém, que oferecia regime de semi-internato com refeições diárias incluídas. Entre os alunos, havia uma forte união, alimentada pela diversidade social e pelo espírito coletivo de aprendizado. 

Imagem; reprodução internet

Além disso, ele participava do grupo escoteiro católico “São Raimundo Nonato”, vinculado à igreja de mesmo nome no bairro do Telégrafo.

Filho de uma família modesta, Raimundo via seu pai, embarcadiço em uma companhia fluvial, sustentar todos sozinho. Após o falecimento do genitor em abril de 1944, a situação financeira da família se agravou. Para ajudar, sua irmã de criação e sua mãe passaram a vender gêneros alimentícios e lavar roupas para fora, enquanto Raimundo buscava trabalho sem sucesso. 

Foi então que, em abril de 1945, surgiu uma oportunidade inesperada.

Imagem meramente ilustrativa

O chefe escoteiro Glycério de Sousa Marques apareceu em sua casa com uma proposta promissora: recrutar dois jovens para fundar o movimento escoteiro no recém-criado Território Federal do Amapá. O governador Janary Gentil Nunes era um entusiasta das ideias de Baden-Powell e enxergava no escotismo um instrumento de formação cívica e moral.

Raimundo foi indicado ao cargo por ser considerado apto ao perfil desejado e por estar em situação difícil. Antes de assumir a missão, porém, precisou passar por um curso intensivo promovido pela Federação Paraense de Escoteiros, sob a orientação do experiente Chefe Castelo (Gonçalo Lagos Castelo Branco Leão). Ao final dos 90 dias de treinamento prático e teórico, estava pronto para partir.

Em 17 de agosto de 1945, Raimundo Barata e Clodoaldo Nascimento, seu parceiro de missão, embarcaram no Iate "São Raimundo" com destino a Macapá. A viagem foi longa e desconfortável, mas, ao chegarem na manhã do dia 21, iniciavam ali uma nova fase: a implantação do escotismo no Amapá. Apesar das instalações precárias e das dificuldades enfrentadas, os jovens seguiram firmes no propósito, guiados pelo lema escoteiro: "O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades."

Assim, com dedicação e resiliência, José Raimundo Barata tornou-se um dos pioneiros do escotismo no Amapá, contribuindo para a formação de jovens e para o fortalecimento de valores essenciais à sociedade.

O Chefe José Raimundo Barata, hoje (2025) aos 98 anos, embora com problemas de saúde, está lúcido e reside em Belém do Pará.

NOTA DO EDITOR:

Início do escotismo no  Amapá narrado pelo Chefe José Raimundo Barata, um dos pioneiros do Escotismo na região.

MEMÓRIA DO MOVIMENTO ESCOTEIRO DO AMAPÁ

Nos primeiros anos do Território Federal do Amapá , os tradicionais desfiles cívicos eram realizados na Praça Barão do Rio Branco , um dos ...