Hoje abrimos espaço para contar a história de Mãe Cota, cuja força, ternura e ancestralidade deixaram raízes profundas no coração do Formigueiro.
Maria Rosa
Tavares de Almeida veio ao mundo em 20 de setembro de 1896, filha de Benedicto
Antônio Tavares e Quitéria Rosa Tavares. Nascida em um tempo de grandes
desafios, Maria Rosa cresceu entre saberes tradicionais, rezas antigas e a
força cotidiana das mulheres negras que moldaram a cultura amapaense. Ainda
jovem, descobriu um dom natural para cuidar, ensinar e acolher — virtudes que
guiariam toda a sua existência.
Conhecida
carinhosamente como Mãe Cota, ela dedicou parte de sua vida à educação. Atuou
como professora municipal da 1ª série na comunidade do Curiáu, entre 1938 e
1939, plantando as primeiras sementes de conhecimento que muitos moradores da
região levariam para além da infância. Como educadora, era lembrada pelo rigor
amável, pela paciência e pelo respeito à formação humana.
Mas Mãe Cota
não cabia em um único ofício. Era mulher de muitos talentos, dona de uma
habilidade rara nas artes tradicionais que marcam o cotidiano amazônico.
Trabalhou como rendeira, lavadeira, cozinheira e amassadeira de açaí —
profissões que exigem força, técnica e dedicação. Queimou panelas para
alimentar famílias, tingiu fios que viraram arte, lavou histórias que o tempo
insistia em guardar. Tornou-se também tacacazeira, levando às ruas sabores que
hoje são parte inseparável da memória afetiva de Macapá.
Dotada do
dom da cura e do aconselhamento, Mãe Cota foi ainda rezadeira, benzedeira e
figura de extrema confiança na comunidade. Em sua casa, muitos encontravam
alívio espiritual, palavra firme, escuta atenciosa e esperança. Nas festas do
Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, entoava cantorias de marabaixo,
mantendo viva uma das mais importantes expressões culturais do Amapá. Seu
canto, dizem, alcançava os que estavam longe — e confortava os que estavam
perto.
Profundamente
religiosa, integrou o Apostolado da Oração da Igreja Matriz de São José, onde
sua presença constante e silenciosa se tornou um símbolo de fé e devoção.
Mãe Cota
partiu em 24 de novembro de 1986, aos 90 anos. Viveu quase um século costurando
laços de fé, trabalho, sabedoria e amor ao próximo. Deixou um legado que
ultrapassa as fronteiras da família e se estende pela cultura e pela história
do Amapá. Hoje, é lembrada como exemplo de dignidade, força feminina e
ancestralidade — uma daquelas pessoas cuja vida se transforma, por si só, em
patrimônio imaterial.
Ao
celebrarmos a memória de Mãe Cota, celebramos também a resistência e a beleza
das mulheres que moldaram, com suas próprias mãos, os alicerces culturais de Macapá.
Sua história
permanece viva, como as vozes do marabaixo que ecoam pelas ruas, como o cheiro
de tucupi que anuncia afeto, como o conselho sábio que nunca se perde.
Mãe Cota
vive — na memória, no legado e no coração do Amapá.
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Fontes: –
Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro,
projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.
Fonte
memorial: Neto – Murilo José, Diones da Rosaiva Almeida – 2023
– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

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