domingo, 23 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 6 - MÃE COTA: MEMÓRIA VIVA DE MACAPÁ

Hoje abrimos espaço para contar a história de Mãe Cota, cuja força, ternura e ancestralidade deixaram raízes profundas no coração do Formigueiro.

Maria Rosa Tavares de Almeida veio ao mundo em 20 de setembro de 1896, filha de Benedicto Antônio Tavares e Quitéria Rosa Tavares. Nascida em um tempo de grandes desafios, Maria Rosa cresceu entre saberes tradicionais, rezas antigas e a força cotidiana das mulheres negras que moldaram a cultura amapaense. Ainda jovem, descobriu um dom natural para cuidar, ensinar e acolher — virtudes que guiariam toda a sua existência.

Conhecida carinhosamente como Mãe Cota, ela dedicou parte de sua vida à educação. Atuou como professora municipal da 1ª série na comunidade do Curiáu, entre 1938 e 1939, plantando as primeiras sementes de conhecimento que muitos moradores da região levariam para além da infância. Como educadora, era lembrada pelo rigor amável, pela paciência e pelo respeito à formação humana.

Mas Mãe Cota não cabia em um único ofício. Era mulher de muitos talentos, dona de uma habilidade rara nas artes tradicionais que marcam o cotidiano amazônico. Trabalhou como rendeira, lavadeira, cozinheira e amassadeira de açaí — profissões que exigem força, técnica e dedicação. Queimou panelas para alimentar famílias, tingiu fios que viraram arte, lavou histórias que o tempo insistia em guardar. Tornou-se também tacacazeira, levando às ruas sabores que hoje são parte inseparável da memória afetiva de Macapá.

Dotada do dom da cura e do aconselhamento, Mãe Cota foi ainda rezadeira, benzedeira e figura de extrema confiança na comunidade. Em sua casa, muitos encontravam alívio espiritual, palavra firme, escuta atenciosa e esperança. Nas festas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, entoava cantorias de marabaixo, mantendo viva uma das mais importantes expressões culturais do Amapá. Seu canto, dizem, alcançava os que estavam longe — e confortava os que estavam perto.

Profundamente religiosa, integrou o Apostolado da Oração da Igreja Matriz de São José, onde sua presença constante e silenciosa se tornou um símbolo de fé e devoção.

Mãe Cota partiu em 24 de novembro de 1986, aos 90 anos. Viveu quase um século costurando laços de fé, trabalho, sabedoria e amor ao próximo. Deixou um legado que ultrapassa as fronteiras da família e se estende pela cultura e pela história do Amapá. Hoje, é lembrada como exemplo de dignidade, força feminina e ancestralidade — uma daquelas pessoas cuja vida se transforma, por si só, em patrimônio imaterial.

Ao celebrarmos a memória de Mãe Cota, celebramos também a resistência e a beleza das mulheres que moldaram, com suas próprias mãos, os alicerces culturais de Macapá.

Sua história permanece viva, como as vozes do marabaixo que ecoam pelas ruas, como o cheiro de tucupi que anuncia afeto, como o conselho sábio que nunca se perde.

Mãe Cota vive — na memória, no legado e no coração do Amapá.

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Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: Neto – Murilo José, Diones da Rosaiva Almeida – 2023

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

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