Por (*)Humberto
Moreira
“Realmente
a população de Macapá ganhou, com o passar do tempo, muitas facilidades e
avanços que deixaram a vida mais tranquila. Mas já fomos uma cidade onde não
havia supermercados e atacadões. Foi no tempo dos pequenos comércios de gêneros
alimentícios, comumente chamados de “tabernas”. Lembro de minha mãe me mandando
diariamente a esses estabelecimentos para comprar arroz, farinha, açúcar e todo
tipo de gêneros de primeira necessidade. Na época não se comprava em grandes
quantidades e tínhamos de voltar diariamente às tabernas do bairro para comprar
o que era necessário.
E foi
nessas idas e vindas que conheci a Casa Novo Horizonte, que ficava na esquina
da Hildemar Maia com a Mendonça Furtado, na chamada rua do aeroporto. Haviam
alguns outros pequenos comércios que eram mais perto de casa. Porém uma coisa
me atraiu ao local desde o primeiro dia. Naquela taberna havia um senhor e seu
filho que tocavam e quando eu chegava lá acabava ficando um pouco mais para
ouvir as músicas executadas pela dupla. Sentava em cima da sacaria e acabava
atrasando o mandado da Dona Dulce.
O velho
era Seu Mundinho. Um paraense de Ponta de Pedras e o garoto, filho dele, era
nada mais nada menos que Manoel Cordeiro. Fui me aproximando devagar e fiz
amizade com aquele garoto pois, eu já participava dos programas de música ao
vivo na Rádio Difusora e vi ali a oportunidade de mais um parceiro.
Do outro
lado da rua havia um bar chamado Casa Três Padroeiros, de propriedade de um
enfermeiro chamado Francisco Monteverde. Lá aos domingos, se reunia a nata da
música macapaense. Estavam por lá artistas como Francisco Lino, Manoel Sobral,
Beni Santos, Geraldo do Pandeiro, Fernando da Cheirosa, Amilar, Vitaleiro,
Treze e tantos outros.
Nas
minhas idas e vindas à Casa Novo Horizonte fui ficando cada vez mais amigo do
Manoel Cordeiro, chegando a ponto de convida-lo pra gente ir se meter no meio
dos bambas que domingo frequentavam o bar da frente.
Tomamos
coragem suficiente e atravessamos a rua num domingo. No repertório cantado
pelos frequentadores da Casa Três Padroeiros, bolerões de Nelson Gonçalves e
sambas de Ataulfo Alves muito aplaudidos na época.
Lá
chegamos nós meio tímidos, Manoel com seu violão e eu querendo uma oportunidade
pra soltar a voz. Não demorou muito para sermos chamados ao palco. A gente
havia ensaiado um samba que tocava muito no Carnet Social da RDM chamado “Ilha
do Marajó” de Zito Borborema. Tacamos Ficha. Dois moleques atrevidos em meio às
feras musicais da cidade: ‘Recebi um telegrama do meu velho pai me pedindo pra
voltar...”. A casa se derreteu em aplausos depois que terminamos. Saímos de lá
felizes pelo resultado da nossa audaciosa aventura.
Anos
depois, já adultos, integramos os grupos de bailes. Mas nunca estivemos num
mesmo conjunto. Ele foi para Os Inimitáveis e Embalo Sete e eu para os Joviais
e depois Cometas. Ele seguiu sua carreira fazendo sucesso com a Banda Warilou e
eu continuei por aqui na vidinha de sempre.
Há mais
ou menos um mês atrás aquele garoto, meu companheiro, hoje famoso maestro da
música da Amazônia e conhecido no Brasil inteiro, foi infectado pelo Corona
Vírus. Fiquei com o coração apertado, pois essa doença arrancou de mim algumas
pessoas queridas. Gente da música também, como Fábio Mont’alverne e Siney Saboia.
Não sou de rezar toda hora, mas fiz uma oração pedindo pela cura do meu amigo.
Nossos laços, apesar da distância, não se desfizeram nunca e eu ficaria ainda
mais triste se ele partisse.
Graças a
Deus Manoel Cordeiro está se recuperando e eu o vi na semana passada no
programa da Ana Maria Braga, acompanhando a Fafá de Belém. E fiquei feliz
sentindo um alívio de ver que esse gênio da música ainda vai continuar conosco.
Saúde irmão. Você não pode nos deixar agora porque se for, levará consigo muito
da nossa alegria.
(*) Radialista,
jornalista e cantor amapaense
(Fonte:
Facebook)
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“Trajetória
- Manoel Cordeiro começou a tocar aos 12 anos. O avô era maestro no Ceará. A
mãe, cabocla marajoara, tocava cavaquinho. Curioso e autodidata, o então jovem
músico ingressou em bandas de baile na primeira metade dos anos 1970. De 1976 a
1986, deixou o talento de lado e foi funcionário do Banco do Brasil, onde
chegou a ser supervisor de operação. Mas, em 1983, voltou aos estúdios, desta
vez para tocar ao lado do irmão. Nessa época, Manoel recebeu de Alípio Martins
uma proposta irrecusável: montar uma banda base que acompanhasse vários
artistas.
E assim
ele contabiliza, por alto, mais de 700 participações em discos. Na década de
1980, trabalhou na criação do estúdio Gravasom, de Carlos Santos, que tinha
selo, rádio e loja de discos. Quem emplacasse no Pará, tinha distribuição
nacional pela Polygram. Em 1987, Manoel Cordeiro foi contratado como músico e
arranjador de Beto Barbosa e, logo depois, começou a produzir o artista, que
chegou a vender 1,5 milhão de cópias por álbum, um sucesso estrondoso que
acabou atraindo quem não era do ramo.” Agência PA (SECOM)
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