terça-feira, 26 de julho de 2016

Falecimento: Morre em Macapá, aos 71 anos de idade, o violonista Sebastião Mont’Alverne

Depois de longo período com sérios problemas de saúde, faleceu de um mal súbito, na manhã desta segunda-feira (25), em Macapá, o músico e professor Sebastião Mont’Alverne.
José Sebastião de Mont’Alverne, o “Zeca”, “Caboquinho” ou simplesmente “Sabá”, nasceu em Belém (PA), em 19 de março de 1945. Filho do fazendeiro José Jucá de Mont’Alverne e da professora Aracy Miranda de Mont’Alverne, passou a infância, desde o 1ª ano de vida, na fazenda Redenção, às margens do Rio Araguari, propriedade de seu genitor.


Sebastião foi alfabetizado por sua mãe, com a qual fez todo o ensino fundamental, antigo primário. Sabá aprendeu a tocar de ouvido com o violão da professora Aracy, um Di Giorgio que ela guardava no guarda-roupas. Zeca tocava escondido. A mãe chegou a proibi-lo, já que ser tocador nos tempos do então Território Federal do Amapá era “coisa de boêmio” e ela queria que o filho estudasse.
Sabá foi morar em Macapá aos 12 anos. Mas aos nove, o então menino, que tinha fascínio pela música, já era um violonista autodidata. Aprendeu só, mas ouviu muitos conselhos para aprimorar-se, como o do seu tio, Jurandir, que lhe disse para nunca bater nas cordas e sim tocá-las.
Zeca se inscreveu no programa “Clube do Gurí”, da Rádio Difusora de Macapá, e fora incentivado pelos irmãos músicos Nonato e Oleno Leal, além de Walter Banhos. Logo o menino estava solando, tornou-se um exímio violonista e entrou para o Regional da emissora, acompanhando cantores na rádio como Miltinho, Rosimary e Walter Bandeira.
Ainda jovem, tocou em Belém, com o cantor Orlando Pereira e a banda The Kings, que se apresentavam nos clubes do Remo, Paysandu e Tuna Luso Brasileira. 
Caboquinho também foi integrante da banda “Os Cometas” (que tinha dona Célia, esposa e mãe de seus filhos como vocalista), que fez muito sucesso no Amapá.
Fã do violonista carioca Baden Powell, Sebastião Mont’Alverne fez duo com muitos instrumentistas famosos, entre eles Sebastião Tapajós, Salomão Habib, Paulo Porto Alegre e Nego Nelson.
Sebastião e o músico Aimoré Nunes Batista, eram os únicos afinadores de piano do Amapá. Em 1980, ele fez um curso em São Paulo, que o habilitou para a função. Zeca também foi, em 1962, fotógrafo da campanha do ex-governador do Amapá, Janary Nunes, a deputado. Sebastião foi um dos fundadores do “Bar do Gilson”, que reúne a nata dos músicos de Belém.
Professor de violão Clássico por cinco anos na Escola Walkíria Lima, chegou ao cargo de diretor. Também dirigiu a Escola de Música Almir Brenha.
Em 2001, Sebastião participou do projeto “Pedagogia Sabiá”, que ensinava música nas escolas da rede pública. Caboquinho trabalhou também na Universidade Federal do Amapá (Unifap).
A Prefeitura de Macapá (PMM) o homenageou, em 2005, com uma Placa, pela grande contribuição à arte e à cultura do Amapá. O Conselho Estadual de Cultura o honrou, em 2008, com a “Medalha à Cultura”, pela sua dedicação à música.
Sebastião Mont’Alverne criou seus três filhos com muita dignidade. Fábio é baterista talentoso, reconhecido dentro e fora do Amapá. Nara é funcionária da Politec. E Gustavo, o Guga, é um roqueiro inveterado.
Sebastião Mont’Alverne foi eleito para a Academia dos Notáveis edificadores do Amapá e tomaria posse no dia 11 de setembro de 2016.
O corpo de Sebastião Mont’Alverne foi velado na capela mortuária São José (Rua Jovino Dinoá esquina com Cora de Carvalho), e sepultado nesta terça-feira, no Cemitério São José, no bairro do Buritizal, em Macapá.
Nossas condolências à família enlutada.
Fonte: Tribuna Amapaense (RÉGIS SANCHES)
(Última atualização às 13h, de 26/07/2016)
HOMENAGEM DOS AMIGOS(Reprodução / Facebook)

Graça Viana  Jucá

Zeca!!! Sabazinho!!!
Vivemos instantes preciosos nos cruzamentos de nossos caminhos. Éramos “parentes”, fomos “vizinhos”, “colegas de trabalho”, mas, sobretudo e independente de qualquer coisa, Amigos!!! Nos dias, nas noites, em nossos encontros nas rodadas de amigos, nos momentos de muita música e alegria, quantas vozes não acompanhaste com os acordes do teu violão... Quantas?
Gostava da noite, das serestas, do violão... E estávamos sempre juntos (Zeca, Noel, Aimoré, Amilar, Humberto, Nonato). Gostavas de tocar Baden Powell, Paulo César Pinheiro. Lembro que certa vez apareceste com o disco “É importante que nossa emoção sobreviva” – Márcia e Paulo César Pinheiro. Aí me incentivaste (porque gostavas do timbre e do meu jeito (meio sem jeito) de interpretar) a cantar o Desafinado e outras músicas do João Gilberto; a aprender a letra de Ingênuo, Última Forma, Wave e uns sambinhas para que me acompanhasses. Era só diversão e cantoria...
O tempo passou... Mudamos de hábitos, de vida, nos perdemos...
Depois, bem mais tarde veio a doença e o violão foi emudecendo pouco a pouco... Com o violão sem os acordes, tua arte, do mesmo jeito, foi também apagando... Aqueles foram tempos bons que marcaram nossas vidas... Lembranças boas que permanecem para sempre, enquanto durar o PRESENTE de cada um.
Tenho as minhas dificuldades... O que tenho em mim, a minha sensibilidade.... Sabes?... Ela me faz compartilhar... Eu Sinto tudo!! Perdoa!! Perdoa minha fraqueza, minha fragilidade. Não conseguia ir ter contigo, porque não suportava sentir a tua dor... Minha alma sentia o teu sofrimento. E era tão duro! Sei o quanto te foi difícil não poder dedilhar teu violão...
Hoje, à noite, a Lua vai iluminar os céus de Macapá com sua LUZ e a Estrela, a tua estrela, vai indicar o caminho em direção ao Pai...
Tudo é Luz, tudo é brilho! Todas as estrelas e constelações estarão sorrindo, felizes, ao ouvir os acordes suaves e harmoniosos do teu violão que se introduz na música celestial ... Melodia que os anjos de Deus conhecem tão bem e que agora, todos juntos e em concerto, celebram tua chegada...
Que fiques em Paz, meu amigo, seja feliz nos braços do Pai!
Em Macapá, na nossa Macapá, a melodia do Amor, seus acordes, sua sonoridade vai permanecer na noite da Vida, infinitamente, porque essa música é única, é viva e permanece para sempre!...

Humberto Moreira:

MEU COMPADRE ZECA
Cumprida a missão fica um vazio que só o tempo vai remediar. Sebastião Mont'Alverne virou lembrança. Levou consigo inconfundíveis acordes dissonantes.
Foi no Clube do Guri. Era domingo e minha mãe, mandou-me à Difusora. Foi lá que vi pela primeira vez o Cabuquinho e seu violão. Junto com Nonato Leal, Walter Banhos e Deusdeth Vale ele compunha o casting da pioneira. Algum tempo depois eu já peruava os bailes da Piscina Territorial onde Sebastião tocava guitarra no conjunto "Os Cometas". Fui surpreendido com o convite do baterista Walfredo, passando a integrar o grupo em 1968. Mas a essa altura Sebastião já tinha ido pra Belém. Só depois que ele voltou pra Macapá fomos nos conhecer melhor. Soube então que para os íntimos ele era o Zeca exímio violonista, fã de Baden Powell cujas músicas executava com maestria. Zeca me escolheu para intérprete e caminhamos juntos por mais de trinta anos em shows, serestas, saraus e pescarias. Dificilmente não estávamos juntos aos finais de semana. Dividimos o gosto pela música popular a paixão pelo interior do Estado e um sem número de amigos comuns. De comum acordo com a Célia sua mulher, que integrou o conjunto Os Cometas com sua bela voz, batizamos o meu mais velho solidificando ainda mais a nossa amizade. Zeca reunia em torno de si amigos e familiares atraídos principalmente pelo som do seu violão. Eram figuras obrigatórias como: Meton Jucá, Léo Platon, Arimathéia Werneck e Ezequias Assis entre outros que também estão no andar de cima.
Eu e o Zeca tínhamos o gosto musical muito parecido. Só havia discordância no futebol. Como bom flamenguista ele não dispensava uma gozação quando o Botafogo tomava uma taca.
Os Cometas reapareceram e a batida inconfundível daquela guitarra estava presente. De repente a enfermidade. Zeca parou de tocar deixando os seus amigos preocupados. A recuperação não veio. A depressão abateu-se sobre o outrora virtuose do violão. Faz uma semana que nos vimos pela última vez. Sentado na sala da casa Zeca balbuciou ao me ver: "Meu cumpadre". Fiz umas duas piadas tentando anima-lo, mas ele parecia distante como acontecia nos últimos tempos. Despedi-me dele, dei um abraço na minha comadre e saí segurando uma lágrima. Me pareceu que o fim estava perto.
O cabuquinho José Sebastião Miranda de Mont'Alverne que nasceu no dia de São José nos deixou no dia de São Tiago e fez a passagem na companhia de São Cristóvão. Foi tocar violão no céu. Aqui ficamos nós saudosos. Vá em paz meu compadre Zeca. E prepare o pinho para quando a gente se encontrar de novo.
Humberto Moreira
Jornalista e integrante de Os Cometas

Um comentário:

  1. Parabéns Guga pelo brilho do seu pai agora brilhará mais ainda lá no céu.

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