Um paraense previu a necessidade de
uma ferrovia em frente à Ilha de Santana há mais de 140 anos,...
...bem antes até mesmo do nascimento do lendário Augusto Trajano Antunes (1906-1996) que foi o idealizador da Estrada de Ferro da ICOMI.
Leia, a seguir, a matéria de Emanoel Jordânio:
Por (*) Emanoel JordânioImagem meramente ilustrativa - Reprodução Google Images |
Imagem meramente ilustrativa - Reprodução Google Images |
O extinto Jornal do Pará, um semanário que circulou no
período de 1867 a 1878, considerado o órgão oficial de comunicação da antiga
Província do Pará (a criação desse Estado Brasileiro somente ocorreria em
1889), publicava constantes relatórios da administração paraense, que descreviam as ações aplicadas pelos gestores das províncias e regiões administradas por
militares, detalhando visitas oficiais e providências tomadas por essas
autarquias.
Jornal do século XIX, com publicação em questão - Reprodução |
Na edição 041 do dia 20 de fevereiro de 1876 desse jornal, é
possível encontrar o trecho de um relatório apresentado ao Dr. Francisco Maria
Correia de Sá e Benevides (que então assumia a administração da Província do
Pará), pelo Senhor Domingos Soares Ferreira Penna (1808-1888), considerado um
dos maiores desbravadores naturalista daquela época.
Numa parte desse relatório publicado, observa-se que em abril
de 1875, Domingos Soares visitou as três maiores ilhas ribeirinhas (até então)
existentes ao longo do Rio Amazonas – que eram as Ilhas de Mexiana, de Caviana
– além da pequena e discreta Ilha de Santana, que já era famosa na História do Pará.
Trecho da matéria previa construção de ferrovia - Reprodução |
A matéria do jornal faz um pequeno contexto histórico de cada
ilha visitada pelo desbravador paraense, sendo que a última inspecionada é a
Ilha de Santana, que ficava a menos de três léguas (cerca de 20km) da
comunidade mais próxima, que era a cidade de Macapá.
Além de descrever as invasões estrangeiras que a Ilha sofreu
entre os séculos XVI e XVII, o texto oficial encerra com um parágrafo que
premedita a futura construção de uma ferrovia nas proximidades da Ilha de
Santana, que ajudaria no progresso social e econômico, tanto para a cidade de
Macapá como para o restante do Norte Brasileiro:
“Quando, porém, os recursos dos habitantes e do commercio de
Macapá permitirem ou as conveniências políticas do Estado exigirem a construção
de uma linha férrea da cidade para a costa fronteira à ilha de Sant’Anna,
passando através da planície e dos campos que tanto a facilitam, aquelle
magnifico canal, hade ser o porto da cidade e talvez um dos portos mais opulentos
de todo o valle do Amazonas. Assim Deus o queira!”
No encerramento do conteúdo publicado, o autor da matéria
deixa bem claro que a “vontade Divina” será realizada sobre sua previsão.
Vale ressaltar que essas visitas ribeirinhas, feitas por
Domingos Soares à Ilha de Santana foram novamente confirmadas em 1885, através
de outro periódico paraense.
Visita à Ilha de Santana postada em outro jornal - Reprodução |
O Diário de Belém (que circulou de 1868 a 1889) publicou
essas visitas do desbravador na edição do dia 15 de janeiro de 1885, reforçando
com veemência as perspectivas que ocorreriam nessa pacata região, hoje
pertencente ao município de Santana (AP).
Domingos Soares Ferreira Penna Museu Paraense Emílio Goeldi Arquivo / Coleção Fotográfica. |
Tão bem elogiado pelas autoridades paraenses foi o citado
relatório de Domingo Soares, que o mesmo acabou transformando-o em uma de suas
três únicas obras (livro) publicadas em vida: “A Ilha de Marajó”, contém essas
e outras valiosas informações históricas sobre comunidades e localidades
antigas do atual Estado do Pará, tendo algumas cópias desse exemplo ainda
existentes no Arquivo Público do Pará.
Dúvidas Históricas
A previsão feita na matéria publicada no jornal de 1876 abre
vários leques de dúvidas a serem esclarecidas, algumas que ficarão sem
respostas por um longo tempo.
As dúvidas chegam a ser tão grandes que envolvem até nomes
importantes da História do Amapá, como o engenheiro Augusto Trajano Antunes,
considerado um dos mentores pela construção da Ferrovia Santana-Serra do Navio.
“A ideia de se construir uma ferrovia partiu do Augusto
Antunes (ex-presidente da ICOMI) por volta de 1948. O surgimento dessa
premeditação histórica é mais antiga que o próprio nascimento do Senhor
Antunes, que nasceu em 1906”, comparou o professor Carlos Rogério, que leciona
História em escolas estaduais de Santana.
O professor ainda descreve o último parágrafo desse texto
como uma “curiosa premonição que somente favoreceu os setores econômicos e
sociais do Amapá”.
Outro importante nome da historiografia santanense é o
professor Aroldo Vasconcellos, conhecedor e grande referência em assuntos
relacionados à segunda maior cidade do Amapá (Santana), que também se mostrou
surpreso com a “descoberta” que estava discretamente publicada em um extinto
jornal do século XIX.
“Com certeza Domingos Soares (o desbravador) se mostrou uma
pessoa experiente nessa região e sabia que a construção de uma ferrovia traria
o desenvolvimento um povo pouco assistido como era esse lado do Amapá”,
reconheceu Aroldo.
O professor também acredita que o desbravador estava ciente
das suas opiniões a serem divulgadas, porém, não se sabia os motivos
fundamentais para elas.
“Ele sabia que a instalação de uma ‘Maria Fumaça’ nessa
região seria útil, mas até hoje não sabemos o que seria embarcado ou
transportado nesses vagões ou para onde seria enviada essa mercadoria”.
Dúvidas como essas já cercam os simpatizantes e colaboradores
fascinados pela História do Amapá, que agora buscam responder outras perguntas,
como:
Das três ilhas paraenses que Domingos Soares visitou, por quê
somente a Ilha de Santana que receberia esse privilégio de uma ferrovia? Por
quê já previa a construção de um porto em frente à Ilha de Santana? Será que
chegaram a traçar algo em mapa sobre essa ferrovia?
Enquanto que respostas são procuradas, as certezas que se
podem agora assegurar estão descritas pelos pioneiros que achavam que a única
ferrovia construída foi projetada pela ICOMI há mais de 70 anos, enquanto que
um paraense já atentava por essa necessidade de interligar localidades
distantes através do meio de transporte mais avançado naquele longínquo século
XIX, que era a linha férrea.
No Pará ele é conhecido como Ferreira Pena. Nome de rua e de praça em Belém.
ResponderExcluirEssa matéria só mostra realmente que o Império do Brasil (1876) tinha um projeto de desenvolvimento visionário para nação como um todo!
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