segunda-feira, 19 de outubro de 2020

PIONEIRO DA COMUNICAÇÃO EM MACAPÁ: BENEDITO RODRIGUES DA SILVA

BENEDITO RODRIGUES DA SILVA – UMA DAS MAIS BELAS VOZES DO RÁDIO AMAPAENSE.

Texto: José Machado (*)

Natural de Macapá, teve seu primeiro contato com o microfone aos 17 anos de idade, no serviço de alto-falantes “Boa Vista” do Pelaes - início da atual avenida Diógenes Silva, no bairro do Trem.

Voz grave e a boa dicção foram referenciais para o seu ingresso no Rádio, em 21 de abril de 1966, iniciando suas atividades no prefixo ZYE-2 Rádio Difusora de Macapá como locutor comercial, apresentador do Grande Jornal Falado E-2 e apresentador de vários programas musicais.

Era o início de uma trajetória bem sucedida, com passagens por várias emissoras. Construiu uma sólida carreira e se tornou a "voz-padrão" de chamadas e vinhetas, pelas emissoras que passou.

Em 1975, a convite de Zaire Filho, locutor esportivo da Rádio Clube do Pará, foi contratado por essa emissora através do seu presidente, Edir Proença, como locutor comercial e apresentador de jornal falado da PRC-5 Rádio Clube do Pará. Após um ano retornou à cidade de Macapá.

Com o arrendamento da Rádio Guajará por um grande grupo de produção de celulose, se iniciou um processo de seleção de novos profissionais para seu elenco.

Dentre esses recursos humanos recrutados, estava   o veterano Advaldo Castro, que assumiu a direção geral da emissora, chamando dentre tantos radialistas - Antunes de Carvalho e Luiz Anaice, detentores de grandes audiências em seus respectivos programas.

Anaice, sugeriu o nome do Silva, que foi aceito e se transferiu imediatamente para a nova emissora, substituindo Douglas Marques num programa de linha musical jovem que ia ao ar de 16h as 18h.

Ao ouvi-lo ao vivo AD, com sua audição apurada, foi enfático em afirmar “esse rapaz tem talento para trabalhar em qualquer emissora do Brasil”.

Colocou outro locutor no programa da tarde e Rodrigues da Silva, como ficou conhecido junto aos ouvintes paraenses, passou a compartilhar à apresentação do informativo relâmpago com Antunes de Carvalho.

Mas o AD, tinha um propósito maior que foi realizado. Colocar a emissora entre as mais ouvidas. A nova proposta foi um programa de saudade, com músicas dos anos 40/50 para um público sênior.

Rodrigues da Silva se encaixava no perfil. O programa iniciava as 21h - mesmo horário em que o Eloy Santos começava um congênere na Marajoara.

O quantitativo de cartas e telefonemas comprovou o(target) à pesquisa de opinião pública. O programa tinha alcance em audiência considerável; boa cobertura diária por zonas geográficas, e o tempo médio de audiência estável.

O radialista deputado, que liderou por quase uma década a audiência, passou a dividi-la com Rodrigues da Silva, que tratava o ouvinte de forma compreensível e saudável.

Aliás, uma das funções do radialista é espalhar magia, formas de apreensão do real que os ouvintes vão internalizando e difundindo; que instituem uma percepção que beira o surreal.

O locutor não tem cara, tem voz, e isso ajuda a povoar o imaginário dos ouvintes. A melodia verbal flui a emoção, que completa a fantasia.

Uma nova emissora na grande Belém estava em fase de ajustes de equipamentos. Fernando Arthur, responsável técnico da Guajará, foi quem montou todo o sistema irradiante da Rauland FM e quem apresentou Rodrigues da Silva à direção artística da nova emissora.

Quando a Rádio entrou no ar em caráter definitivo, dividia seu tempo em ambas emissoras. Alguns meses depois, deixou a Guajará vinculando-se à Rauland FM, onde permaneceu por um curto período na divulgação de comerciais para a emissora.


Problemas pessoais fizeram-no retornar à Macapá em julho de 1980, retomando suas atividades na Rádio Difusora de Macapá e, posteriormente, na extinta Rádio Educadora São José de Macapá.

Com a inauguração da Rádio Cidade FM 101,9 – do Jornalista Eraldo Trindade, foi convidado por José Machado – diretor à época a fazer parte do cast da emissora para a apresentação oficial do Jornal da Amazônia FM.

Em 1981 foi concursado como funcionário do CEAG Amapá. Em 1992, já como funcionário público federal, retornou à Rádio Difusora de Macapá, assumindo o cargo de Diretor de Rádio e Jornalismo, onde permaneceu até o ano de 1993, quando assumiu o cargo de técnico em contabilidade na Secretaria da Fazenda-SEFAZ.

A opção por uma atividade que lhe permitisse melhor padrão de vida, o levou ao magistério. Graduou-se em Letras/Francês pela Universidade Federal do Amapá - UNIFAP e Pós graduou-se em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa pelo IBPEX.

Preserva sua privacidade e, por isso, está fora das redes sociais, qualquer contato só através das redes sociais da esposa e dos filhos.

Não é vanguarda nem tradição, convive com esse paradoxo e, tem consciência disso, tenta na sua travessia diária, seguir na contramão desse sistema.

Segue o curso da vida discretamente, gozando da merecida aposentadoria, dedicando-se a escrever poesia uma de suas grandes paixões desde a juventude. Quem sabe um dia possa publicá-las.

Afastado do rádio há alguns anos, mas ao contrário de muita gente que passa em brancas nuvens, ele deixou um belo legado para o público.


Era dele a gravação da primeira vinheta de encerramento das atividades da Difusora (1966), voz firme, densa, com ressonância de locução adequada para o horário. Calma, tranquila como se estivesse declamando um poema.

Muitos ouvintes RDMistas nunca chegaram a conhecê-lo, mas ainda é lembrado pela série de comerciais e vinhetas gravadas; vários programas apresentados, com especificidade “Nos Braços da Saudade”, “Canet Social” e o “Grande Jornal Falado E-2”.

Conquistou uma legião de fãs pelas emissoras que passou, mesmo não sendo em horários nobres.

Leontiev, psicólogo soviético, em seu texto "O Homem e a Cultura" diz que o pensamento do adolescente é engendrado pelas relações, condições sociais e culturais do momento.

Na falta de definição e referências claras de futuro 'do que ser', concentra seus pensamentos e modo de vida no presente, sente necessidade de fantasiar.

Certa vez, ambos adolescentes: o perfilado e o articulista “num papo cabeça” disse, que amava fazer locução. E não é que o homem tinha razão?

(...) quando eu soltar a minha voz, por favor entenda é apenas o meu jeito de dizer o que é amar (Gonzaguinha)

(*) radialista e jornalista amapaense 

(especial para o blog Porta-Retrato-Macapá)

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