sábado, 9 de março de 2024

FOTO MEMÓRIA DO COMÉRCIO AMAPAENSE – COMERCIANTE (CASA FLOR DO AFUÁ) - ESDRAS PINHEIRO TORRES (In memoriam)

O comerciante ESDRAS PINHEIRO TORRES – um dos pioneiros do Comércio amapaense – nasceu em Belém (PA), na sexta-feira, dia 03.03.1905, filho de João Torres Filho e Raymunda Pinheiro Torres. O pai dele foi Pastor Moderador da PIB – Primeira Igreja Batista do Pará no ano de 1908 e Pastor da PIB – Primeira Igreja Batista do Maranhão nos anos 1909/1910. Antes de ir para o Amapá, ele desenvolveu atividades de Pintor Decorador, Trabalhador e Mestre de Obras da Construção Civil. Em 1951 foi para Macapá, procedente de Belém, para realizar um trabalho (área da construção civil) na Casa California, a convite de seu proprietário Sr. Salim Elias Mourad. A Casa Califórnia, um dos primeiros estabelecimentos comerciais instalados em Macapá com vendas de fazendas, miudezas e estivas em geral, situava-se na área hoje (2024) ocupada pelo Shopping Popular, na Rua São José, próximo ao Mercado Central.  A partir daí, incentivado pelo Sr. Salim e percebendo que Macapá oferecia boas oportunidades de trabalho, mandou buscar sua família, que morava na capital paraense (a viagem para Macapá foi feita pelo Rebocador Araguari). As oportunidades de trabalho eram resultado do desenvolvimento e crescimento de Macapá, considerando os investimentos do Governo Federal em infraestrutura, após a criação do Território do Amapá, em 1943. Após um breve período atuando na construção civil, mudou de ramo, adquirindo um pequeno ponto comercial na Rua Candido Mendes, entre as atuais Av. Coaracy Nunes e Av. Mendonça Junior. O empreendimento foi registrado na JUCAP, em 01.06.1952, no ramo de Comércio em geral, em nome de sua esposa Marta Trajano Torres, primeiramente com o nome fantasia de Casa Flor da Síria posteriormente mudou para CASA FLOR DO AFUÁ, em homenagem aos afuaenses, que eram fregueses de seu comércio quando iam à Macapá fazer compras. O nome Casa Flor da Síria, posteriormente, foi utilizado por outro comerciante. 

COMÉRCIO ITINERANTE EM SERRA DO NAVIO.

Para impulsionar as vendas, aumentar a receita da Casa Flor do Afuá e, sobretudo, atender clientes distantes da cidade, Seu Esdras realizava viagens mensais à Serra do Navio. Da mesma forma, um grupo de comerciantes de Macapá, autorizados pela ICOMI, seguia para lá durante o período de pagamento dos funcionários da Companhia. A estadia em Serra do Navio durava três dias, com a maioria dos comerciantes improvisando a hospedagem no próprio local de venda ou na casa de algum conhecido. 

As mercadorias eram dispostas no prédio onde funcionava o Manganês Esporte Clube e o Supermercado, seguindo um padrão norte-americano, o que era inovador para a época. Os comerciantes, chamados de "marreteiros", inicialmente viajavam para Santana em um caminhão alugado, saindo da loja na Cândido Mendes por volta das 22h. O trem da ICOMI partia à meia-noite e chegava às 6h em Serra do Navio, onde eram transportados até o local de venda em caminhões da própria companhia. 

Os produtos oferecidos por esses comerciantes não eram encontrados no supermercado local, sendo predominantemente sapatos, roupas, artigos de armarinho e miudezas em geral, armazenados em três ou quatro maletas. A presença dos "marreteiros" em Serra do Navio era permitida pela ICOMI para evitar que as pessoas tivessem que percorrer os 200km até Santana ou Macapá. As viagens eram desgastantes e exigiam diversos sacrifícios, como o preparo e embalagem das mercadorias, viagens de caminhão e trem, além das condições de hospedagem. Mas, tinha o lado positivo: o faturamento dos três dias de venda compensava, pois tudo era pago em espécie e à vista. Nosso informante, que na época (anos 60), estava na faixa etária dos 10 para 15 anos, diz ter boas lembranças dessas aventuras, pois não perdia uma viagem.

Foto: Arquivo do blog

Quando ocorreu o incêndio de 1967, a Casa Flor da Síria, já pertencia à outra firma empresarial. A Casa Flor da Síria, da foto, era adjacente à Casa Flor do AfuáComo comerciante, Seu Esdras exerceu na década de 60, as funções de secretário e tesoureiro da Associação Comercial do Amapá, quando esta funcionava à Praça Veiga Cabral, na Av. General Gurjão, próximo ao prédio da Embratel. O comércio dele funcionou por dezesseis anos (1951 a 1967), e encerrou com o incêndio de parte na área comercial da Rua Cândido Mendes (lado esquerdo no sentido Av. Mendonça Junior para Av. Coaracy Junior), em 24.11.1967. Nesse incêndio, a família perdeu o comércio e a residência. A partir daí ele retomou às atividades anteriores ao comercio, como Construtor Civil. Entre as obras construídas, destacam-se o Supermercado Brunswick, o primeiro supermercado inaugurado em Macapá, em 1976, de propriedade do Sr. João Evangelista Alves Pereira na Av. Pe Júlio Maria Lombaerd (atual Supermercado Santa Lúcia); Galeria de Lojas na Av. Pe Júlio Maria Lombaerd, entre Rua Cândido Mendes e Rua São José, de propriedade do Sr. Celestino Pinheiro, dono da Casa Estrela. Como um dos pioneiros da Igreja Assembleia de Deus, colaborou na construção do primeiro templo da Igreja Pioneira (demolido), situado na Rua Tiradentes com a Av. Presidente Vargas. Na área administrativa, exerceu a função de tesoureiro da Igreja. Foi, ainda, professor da Escola Bíblica Dominical e integrante do Conjunto Coral da Igreja. Nos anos 80, exerceu a função de Evangelista e Diretor de Patrimônio (por um ano) na Igreja Assembleia de Deus, da Av. Cora de Carvalho; casou em Capanema (PA), com Marta Trajano Torres, em 24.03.1934, com quem teve 03 (três) filhos: Lourdes Trajano Torres, Itamar Trajano Torres e Irene Trajano Torres. Pr. ESDRAS PINHEIRO TORRES faleceu em Macapá, dia 18.08.1989, aos 84 anos de idade, vítima de ataque cardíaco (Infarto). Faleceu sem conhecer o Afuá; seu corpo descansa em paz no Cemitério de São José, no bairro Santa Rita. Seu nome foi dado a uma das Ruas do Bairro Jardim Marco Zero, por indicação do Vereador Adonias de Freitas Trajano. Chama-se Travessa Pr. Esdras Pinheiro Torres.

Fonte: Dados biográficos fornecidos pelo amigo Itamar Trajano Torres, filho do biografado. 

(Reeditado e atualizado em 04/04/2024 às 22h08)

3 comentários:

  1. O sr. Esdras também volta à memoria de quem o conheceu. Sempre brota um riso antes do cisco no olho quando se fala dele. Familiares e amigos têm motivos de sobra para ficar relembrando histórias. Mais um pioneiro que alegra a mente

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  2. Muitíssimo peculiar essa história, nossas famílias foram muito próximas, até pq frequentavamos a mesma igreja, e vivíamos na msm cidade! Obrigada Itamar por compartilhar conosco essas memórias!

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