sexta-feira, 20 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA AVIAÇÃO COMERCIAL NO AMAPÁ : RESGATE HISTÓRICO > PASSAGEM AÉREA DA CRUZEIRO DO SUL DE 1945

 Apresentamos um resgate histórico relevante que nos foi enviado por Michel Ferraz, curador do Museu de Justiça do Amapá (TJAP)

Imagens: Acervo do Arquivo do TJAP 

São imagens de uma passagem aérea da Cruzeiro do Sul, no trecho Belém/Macapá, emitida em 26 de novembro de 1945. O passageiro é Laurindo Banha Netto.

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Resumo

Em 26 de novembro de 1945, foi emitido o bilhete de passagem para o voo 24/35 da companhia Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. O trajeto entre Belém e Macapá, em 29 de novembro de 1945. O menor de idade LAURINDO BANHA NETTO embarcou no aeroporto de Val de Cães.

Valores da época:

Passagem        360,00     cruzeiros

Menos 50 %    180,00    por ser menor

Total parcial   180,00

Mais Seguro    18,40

Mais 2% quota previdência 3,60

Total Geral     202,00  cruzeiros.

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Empresa no Amapá

De acordo com publicação no blog, a Cruzeiro do Sul, representada pela empresa Moysés Zagury & Cia, começou a operar em 31 de maio de 1945 e, apesar de ter sido negociada com a Varig, o Agente em Macapá permaneceu responsável por administrar todos os eventos ocorridos, destacando o primeiro pouso noturno em 12 de fevereiro de 1953 e a implementação da rota diária Belém/Macapá/Belém a partir de 23 de julho daquele ano.

Agradecemos ao curador Michel Ferraz pela contribuição!

Fonte: TJAP

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

MEMÓRIAS DA COMUNICAÇÃO AMAPAENSE - AMAPÁ - O PRIMEIRO JORNAL OFICIAL DO ESTADO

Em 25 de janeiro de 1944, quando o Capitão Janary Gentil Nunes assumiu o governo do recém-criado Território Federal do Amapá, uma de suas primeiras medidas foi criar  um Serviço de Imprensa e Propaganda, para divulgar o  seu programa de ação e desenvolvimento.

Um desses órgãos de divulgação foi o Jornal AMAPÁ – um semanário composto e impresso nas oficinas da Imprensa Oficial - que circulou, em primeira edição, no dia 19 de março de 1945, há 79 anos.

Esse era o logo da primeira edição do Jornal Amapá que circulou naquela terça-feira.

Na época, ainda se utilizava a impressão tipográfica, uma técnica de registro em relevo, na qual o texto ou imagem está sobre uma superfície elevada, semelhante a um carimbo de borracha, para a produção das primeiras publicações.

A divulgação das decisões do executivo territorial era replicada no “Jornal Amapá”, impresso da época, que divulgava as ações de governo à população. O processo era mais lento que o atual, totalmente digitalizado desde 2018, contudo, marcou a memória do servidor Raimundo Tavares.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Dos 38 anos de serviço público, 19 foram dedicados à produção do Diário Oficial do Amapá.

Conheço cada parte desse arquivo. As pessoas chegam aqui e pedem alguma informação e eu já sei onde procurar”, conta o servidor.

Após décadas de circulação do Jornal Amapá, que logo depois se tornou o Novo Amapá, foi criado o Diário Oficial do Estado, em 23 de julho de 1964. Ao longo do tempo, o processo foi se modernizando de acordo com os avanços tecnológicos, até atingir sua digitalização completa em 2018.

Digitalização

A última edição do diário impresso foi publicada no dia 17 de junho de 2016, com uma tiragem média de 500 exemplares diários. 

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Desde então, as publicações oficiais da administração pública direta, indireta, outros poderes e particulares têm sido feitas pelos sites diofe.portal.ap.gov.br e sead.ap.gov.br.

No Núcleo de Imprensa Oficial, é possível encontrar documentos históricos, como a primeira divulgação dos atos do Poder Executivo, que aconteceu através da publicação do Jornal Amapá, de 19 de março de 1945.

Diário eletrônico

Em 2018, o governo do Amapá começou a publicar o Diário Oficial de forma eletrônica. A mudança teve como objetivo facilitar o acesso e preservá-lo em um ambiente virtual, além de reduzir os custos.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

O novo método de publicação torna possível a organização de todos os dados da gestão, publicados no Diário Oficial virtual.

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

Hoje, é possível conferir o acervo totalmente digitalizado. 

Foto: Arquivo/Imprensa Oficial

O fim da edição impressa reduziu os custos com papel e manutenção de máquinas, além dos custos para distribuição. A sede da Imprensa Oficial está situada na Avenida Procópio Rola, número 2070, no bairro Santa Rita, em Macapá.

Fonte: Portal AP

terça-feira, 17 de setembro de 2024

MEMÓRIAS DE “ZÉ PENHA – UM CARA SENSACIONAL!”

Hoje, o homenageado do blog Porta-Retrato de Macapá é o saudoso amigo JOSÉ PENHA TAVARES.

A fim de resgatar as memórias desse mazaganense inesquecível, apresentamos, com a permissão expressa do autor, uma compilação atualizada e adaptada de textos elaborados pelo jornalista Elton Tavares, editor do blog De Rocha!

JOSÉ PENHA TAVARES  (Foto: Arquivo pessoal)
Por Elton Tavares 
I

No dia de hoje (17), se meu saudoso pai estivesse entre nós, faria 74 anos. Antes eu dizia “se estivesse vivo”, mas ele está, dentro de nós, por isso, ainda é seu aniversário. É difícil definir um modelo de vida, acredito que cada um vive da forma que lhe é aprazível. José Penha Tavares viveu tudo de forma intensa e foi um homem muito feliz (Era feliz, como poucos). Eu sigo seu exemplo e sou felizão também.

O mais legal é que ele nunca fez mal a ninguém, sempre tratou as pessoas com respeito e foi muito amoroso com os seus. Meu irmão costuma dizer que ele nos ensinou o segredo da vida: “ser gente boa” (apesar de alguns gatos pingados não comungarem desta opinião sobre mim).

Quando o bicho pega, falo com ele. Uma espécie de monólogo, mas juro que sinto conforto em lhe contar meus raros problemas. Acredito que papai escuta e, de alguma forma, me ajuda. Devaneio? Não senhores e senhoras, é que aquele cara foi um grande pai, ah se foi. Portanto, deve mexer os pauzinhos lá por cima.

Ele partiu em 1998, faz e fará sempre falta. Sinto saudade todos os dias e penso nele sempre. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Gostaria de lhe dar um abraço hoje, desejar feliz aniversário e tomar muitas cervas com o Penhão, como costumávamos fazer todo dia 17 de setembro.

II

Há (...) 26 anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu José Penha Tavares, o meu pai. O meu herói. Já que “Recordar, do latim Re-cordis, significa ‘passar pelo coração”, como li em um livro de Eduardo Galeano e dito também em outro texto pelo amigo Fernando Canto, passo pelo meu essas memórias.

Filho de João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares, nasceu dia 17 de setembro,  no município de Mazagão, em 1950, de onde veio o casal. Era o primogênito de cinco filhos.

Ele começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem não os comete?

Em 1975, casou-se com minha mãe, Maria Lúcia, com quem teve dois filhos, eu e Emerson. O velho não foi um marido perfeito, era boêmio, motivo que o levou se divorciar de minha mãe, em 1992.

        Fotos Arquivo pessoal - Penha em diferentes momentos.

Na verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não diminui o grande homem que ele foi.

Após o seu falecimento, li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde ele trabalhava: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos, mas quem se atreve a culpá-lo por este extremo defeito?”.

Zé Penha pode não ter sido um marido exemplar, mas com certeza foi um grande pai. Cansou de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as melhores roupas e bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas, dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir tais peculiaridades.

Penha não gostava de se envolver em política. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preta, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Aquele cara era extraordinário!

Foto de Arquivo

Esportista, foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das incontáveis peladas.

Atravessamos tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de amizade extrema. Ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.

Com ele aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, e aprendi que para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.

Acredito que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os 13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne”, como ele mesmo brincava.

Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele, pois acredito que as pessoas morrem, mas nunca em nossos corações.

Fotos: Arquivo pessoal

José Penha Tavares foi muito mais de que pai, foi um grande amigo. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu comigo ou vi acontecer com alguém”.

Meu mais que maravilhoso irmão, Emerson Tavares, disse: “papai nos ensinou o segredo da vida: ser gente boa e companheiro com os que nos são caros (família e amigos)”. Sempre nos espelhamos nele. Para mim é um elogio quando falam que tenho o jeito dele, pois o Zé Penha foi um homem admirável, um verdadeiro ser humano!

“Quem já passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. A frase é do poeta Vinícius de Moraes. Ela define bem o meu pai, que passou rápido e intensamente por essa vida.

Queria que o Zé Penha tivesse vivido pra ver a Maitê, pra sacar que consegui me encontrar e ser um bom profissional, pra ver o grande cara que o Emerson se tornou. Enfim, pra tanta coisa legal. Também faço minhas as palavras do escritor Paulo Leminski: “haja hoje para tanto ontem”.

Obs: não tem um dia na vida que eu não fale ou lembre do meu pai.

III

Lembro da minha infância com alegria. Eu e meu irmão fomos agraciados com excelentes pais, que nos proporcionaram tudo de melhor possível (e muitas vezes impossível, mas eles fizeram mesmo assim). Graças a Deus, minha mãe continua aqui e é meu anjo da guarda.

Lembro que nós nunca fizemos a primeira comunhão, nem eu e nem Emerson, pois fugíamos das aulas de catecismo para ir com o papai pra AABB. Ele ia jogar bola e nós curtíamos a piscina. Apesar de não ter sido um frequentador de igrejas, Zé Penha tinha muito mais Deus no coração do que a maioria dos carolas que conheço.

Lembro-me de quando ele me levava para ver seus jogos de futebol. Era goleiro dos bons. Lembro quando tinha mais ou menos uns quatro anos ele me chamava de “Zôk”, apelido dado por causa da risada que eu dava quando ouvia o nome da moto Suzuki.

Lembro que sempre foi nosso herói, meu e do meu irmão Emerson. Depois, também virou ídolo de muitos amigos, por conta do nível caralístico de paideguice que ele tinha. Lembro que poucas vezes vi meu pai triste ou irritado.

Lembro-me das poucas broncas, de algumas porradas, de poucas discussões. Disso mais lembro de esquecer. Lembro muito mais das viagens, da parceria, da amizade, da proteção, da admiração que tinha e tenho por ele.

Lembro-me de papai nos levar para jogar bola, ao cinema, circo, arraial ou qualquer lugar em que ficássemos felizes. Éramos moleques exigentes, mas lembro que ele e mamãe sempre davam um jeito, mesmo com pouca grana. Lembro dos ensinamentos e sei que uma porção grande de bondade que trago em mim herdei de meu pai.

Lembro que conviver com meu pai era viver no paraíso. Lembro-me de como todos o amavam e até hoje, todos sentimos saudades. Lembro que já são 26 anos sem você. Lembro, Zé Penha, de o quanto fomos parceiros, confidentes e grandes amigos. Aliás, pai, fostes o melhor de todos. Lembro de como eras sensacional, cara. Incrível, mesmo!

Lembro de tudo amorosamente, pouquíssimas vezes com lágrimas nos olhos, mas a maioria com sorrisos. Pois o que mais lembro é que tu, pai, era a personificação da alegria e bom humor. Enfim, de vida. Lembro de ti, Zé Penha, todos os dias. E amo lembrar o que fostes e o que representas.

Zé Penha, (...) fez a subida dimensional em 1998, mas vive na minha memória afetiva e coração. Afinal, discorrer sobre vivências é minha válvula de escape e meu caderno de recordações imaginário está cheio de episódios felizes dos 22 anos que tive a honra e sorte de conviver com papai.

Textos de Elton Tavares – jornalista

José Penha Tavares faleceu dia 30 de março de 1998, vítima de um câncer de pulmão, e descansa em paz no Cemitério de São José no bairro Santa Rita, em Macapá.

Nota do Editor: Nossos agradecimentos ao confrade Elton Tavares, filho de nosso homenageado, pela colaboração!

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA CIDADE > RETRATO DA MACAPÁ DE OUTRORA

Esta imagem da Macapá antiga foi encontrada na internet, postada por Roque Oliveira, mas não se sabe quando nem quem a tirou.  

De acordo com a legenda, o endereço é Av. Coaracy Nunes, quase na esquina com a Rua São José. O Sr. Roque Batista construiu a residência à direita. Existe atualmente um edifício da Caixa Econômica Federal no local. Por ser raro, decidi publicá-lo no blog Porta-Retrato-Macapá, como um registro histórico da memória da Macapá de outrora.

Fonte: Facebook 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

LENITO, O “CAMPEÃO” DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ

A pauta de hoje, elaborada pelo jornalista Édi Prado, amigo, parceiro e cofundador do blog Porta Retrato-Macapá, reverencia uma figura pioneira do Amapá, cuja profissão faz parte da cultura popular: o garçom Lenito dos Santos, filho de “Seo” Antônio Eurídio e D. Francisca dos Santos é nosso ilustre homenageado neste 11 de setembro, um mês após o Dia do Garçom, que é comemorado anualmente em 11 de agosto.

UM GARÇOM "CAMPEÃO"

Por Édi Prado (*)

O nome dele é desconhecido na Assembleia Legislativa, embora ele tenha ‘desapeado’ por lá em 1991. Ele é filho de Antônio Eurídio e de D. Francisca dos Santos. 

LENITO DOS SANTOS nasceu em 15 de outubro de 1954, no arquipélago de Marajó. Vaqueiro desde “gitinho” e muito habilidoso em derrubar búfalo pelo chifre. Estudou até a 5ª série do então curso primário. Não teve muita oportunidade para lidar com os cadernos, porque tinha que cuidar da boiada, todo dia santo e todo santo dia. Montar e pajear a manada. Nisso, ele tirava a nota máxima. Mas desde cedo foi jeitoso no trato com as pessoas. Ficava de longe observando o jeito de cada um e quando partia para a convivência sabia exatamente o que não fazer e nem falar. Com isso, foi conquistando o carinho e a atenção dos mais velhos, patrões e amigos. Ele é casado com D. Elvira Lúcia Gomes dos Santos com quem tem os filhos Adriano (34), André Santos (22) e Luís Augusto (21). Gosta de pedalar e prefere nem falar da vida de caçador.

E foi assim...

Lenito dos Santos viria a ser o “campeão”, apelido que está incorporado à figura dele em qualquer lugar. Ele trabalhava com o fazendeiro, Evandro Matias, que de viagem para Macapá, trouxe o vaqueiro como companhia.  E desapeando aqui, meio sem jeito e sem boi e búfalo para tocaiar, foi se aprumando diante da nova e desafiadora realidade de Macapá, no final da década de 80. E foi para a Fazendinha, uma praia da cidade, que recebeu este nome devido a uma criação de gado, no começo do então Território. Um processo de adaptação. Trabalhou na cascalheira retirando pedra das águas. Bom de serviço e disposto, logo despertou a atenção do Lavoura, um comerciante português, pioneiro na área do comércio em Macapá.

E não parou mais.

Gostou de trabalhar com o português. Saiu do Lavoura e foi atuar em outra atividade na sorveteria Santa Helena, também de um português.  Sorveteria era muito devagar para quem sempre viveu agitado. Foi para o Bar Brandão Drinks. E lá aprendeu as manhas da noite, o malabarismo com a bandeja e o trejeito em lidar com todo tipo de gente. O famoso breque. E foi por lá que ele cativou o Macaíba, uma figura bem simpática lá do bairro do Laguinho, que era assessor parlamentar do então deputado Nilde Santiago. De dose em doses foi se embriagando pela amizade de Lenito dos Santos, que ainda não era o campeão consagrado. Isso em 1991.

“Vamos pra lá?”

E numa certa e bendita noite, num rompante de decisão, convidou o então Lenito para trabalhar na Assembleia Legislativa (AL). No outro dia ele estava lá, impecável e sorridente. Habilidoso na arte de servir foi logo “se agasalhando” na lanchonete do “Seo” Albino, dono do famoso Xodó. Foram quatro meses de intensos e diários contatos com os deputados, servidores e frequentadores da AL. E nisso, foi exibindo o talento de garçom. Um dia - tem sempre um dia melhor que o outro - o então deputado e presidente da AL, Nelson Salomão, “que Deus o tenha”, diz, benzendo-se em súplica, fez um pedido de urgência para contratar garçons para atender os deputados durante as sessões.  Não existia o cargo no organograma. Mas existia a legalidade para contratar em cargo comissionado. Como ele já estava lá, bom trânsito entre os parlamentares, lá foi Lenito colocar paletó com gravata borboleta e tudo mais para agora ‘bandejar’ dentro do plenário. E todo “pavulagem” exibia todo o talento em manejar com copos, garrafas e o impecável lenço para secar as mesas.

E foi criado o chá.

Um dia, o então deputado e ex-presidente do Tribunal de Conta do Estado, Regildo Salomão, queixava-se de uma dorzinha incômoda. E sem pestanejar, Lenito lembrou-se do tempo em que morava em Marajó e correu para preparar um milagroso chá para o deputado. Após o chá, Regildo saiu espalhando as virtudes do chá mágico do já bem conhecido Campeão. Mas ele não se conteve apenas com os chás medicinais e calmantes.

O chá das sextas.

Às sextas-feiras inventou o tal chá de marapuama, que dizem ter efeitos afrodisíacos. E os deputados aprovaram com louvor. Só não se sabe bem porque, na sexta-feira.  “Este chá é servido aos deputados e para a imprensa, que cobre as sessões” anuncia, como que contando um segredo. Ele ensinou a alquimia para a D. Corina, a copeira, que se tornou uma mestra na arte de adoçar os bules. “O chá é tradição da AL”, confessa orgulhoso. O sabor varia conforme a pressão da AL. Tem erva cidreira, alecrim, carmelitano, canela, capim marinho, e na sexta, o marapuana.

Origem do apelido

Lenito, além de garçom profissional, que trabalhava na noite macapaense, se envolveu com o Hildomar, que tinha uma “aparelhagem” de som, que tocava nas grandes festas e famosos eventos. “Era o bambambam da época” relembra. Era o parceiro mor de porrinha e uma espécie de aliado secreto na hora da porrinha envolvendo outras pessoas. “Nós treinávamos e estudávamos as jogadas. Criamos códigos. Onde tinha porrinha, Lenito sempre foi o campeão. Eu e o Hildo. Mas o apelido só pegou em mim”, relembra. A aposta era cerveja. Saiam “truviscos”, sem gastar um centavo com cerveja. Essa parceria rendeu outro trampo. E ele foi aprendendo a mexer com os botões e buscando a velha mania de observar as pessoas, que descobriu o segredo de fazer o sucesso musical, depende do lugar e das pessoas presentes no salão. Ele sabia qual a música para cada momento. E nessa brincadeira, o salão enchia de dançarinos e a noite se espichava. O bar vendia mais e as pessoas saiam felizes, embora exaustas de tanto dançar.

 “Era o campeão chegar para a festa animar. Foi o antecessor do Dj em Macapá.  Quando estava chulo e desanimado o pessoal perguntava: cadê o campeão? E era só chegar para a festa animar”, dizia fazendo questão da rima.  E “pegou”. “Pouquíssimas pessoas sabem meu nome. Mas campeão é o campeão e todo mundo sabe”, gaba-se.  Se diz ainda campeão em porrinha. “Quando o negócio está ‘vasqueiro’ a porrinha ajuda muito”, revela.

Cheio de trololó

De vez em quando ele saca do colete da memória, velhas frases adaptadas para cada situação. “Minha cabeça é um chope”, que é um sorvete embalado em pequenas tiras de saco plástico, conhecido ainda como sacolé ou chupe. Diz que costuma atender primeiro os homens, para que as mulheres fiquem embelezando o lugar.  Quem está na chuva é porque não sabe que tem espaço no abrigo dele. Diz que conhece as manhas de cada parlamentar. Estuda caso a caso sem que eles percebam. O açúcar usado para os chás, “para quem é de açúcar” é de frutose, indicado pelo deputado Valdeco Vieira. E para cada um tem o cada um dele, explica o Campeão, dizendo que o “o galo que é bom canta em qualquer terreiro”. Diz ainda que polícia que não é respeitada, zagueiro que não bate, caneta que não escreve e mulher mal amada, tá fora.

As frases do Campeão

1-      A Bandeja é como se fosse uma câmera fotográfica que registra o temperamento de cada deputado ou pessoa que o Campeão serve.

2-      Ele se aproxima sem tirar a atenção de quem está servindo.

3-      Tem sempre o aviso quando a encomenda servida é do jeito que o deputado pediu.

4-      Recolhe o copo vazio e dá uma olhada para saber quem está precisando de quê?

5-      Na saída faz uma filmagem e relembra o que está faltando.

E até hoje, 11 de setembro de 2024, o Campeão está no trampo. 

Antes de começar a sessão da Assembleia Legislativa do Amapá, Campeão entra em campo, como se fosse o capitão da equipe, para fazer bem o que precisa ser feito. Um sujeito simpático, brincalhão, atencioso e muito afetuoso com as pessoas.

(*) Édi Prado é jornalista amapaense, formado pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso (FACHA)- Rio de Janeiro - da turma de 1982. É pós-graduado em Administração de Empresa e Marketing.

FOTOS; Jaciguara e arquivo pessoal

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

MEMÓRIA DA AVIAÇÃO EM MACAPÁ > INSTALAÇÕES DA PANAIR DO BRASIL > ESTAÇÃO RADIOTELEGRÁFICA

 

Uma preciosidade histórica: imagens dos anos 1940 das instalações da Panair do Brasil, no Amapá > Estação radiotelegráfica no antigo aeroporto, em Macapá.

Do acervo pessoal de Duarte Moraes, primeiro administrador do aeroporto.

sábado, 7 de setembro de 2024

ADEUS, DONA NELMA SANTOS -> DOCES LEMBRANÇAS DE PARENTES, FAMILIARES E AMIGOS

O falecimento de NELMA SANTOS DA SILVA, conhecida como Nena, ocorreu em 18 de junho de 2024. A última filha do Mestre Oscar Santos, que ainda vivia. Viúva há mais de 40 anos, residia com a filha mais velha no mesmo endereço, à Av. Ceará, 340, entre as ruas Guanabara e São Paulo, bairro do Pacoval. Uma mulher extraordinária, devotada à sua família e à igreja. Ela completaria 93 anos em 08 de agosto, mas não viveu até aquele dia. Teve uma passagem tranquila: dormiu e, quando amanheceu, perceberam que ela havia partido no silêncio da madrugada! O blog Porta-Retrato – Macapá presta uma homenagem póstuma à dona Nelma, perpetuando lembranças e imagens de sua trajetória em vida.

Nelma Santos da Silva, filha de Oscar Santos e Júlia Guedes dos Santos, nasceu em 08 de agosto de 1931, na cidade de Abaetetuba, no Pará. Era a terceira filha de Mestre Oscar Santos. De fato, o seu nome deveria ser NEUMA (com U). No entanto, no cartório o registro foi grafado NELMA (com L), erro não percebido de imediato pelo pai. Para Mestre Oscar, ela era sempre NEUMA. Nelma Santos iniciou seus estudos em Belém.  Passou pelo Colégio Santa Rosa. Chegou a Macapá quando ia completar 14 anos em 1945. 
Mestre Oscar Santos mandou buscá-la com Sandoval Santos, seu irmão mais velho, e Marlene Santos, a mais nova. Apenas a segunda filha, Olásia Santos, permaneceu em Belém. Em Macapá, Nelma integrou a primeira turma do antigo Grupo Escolar Barão do Rio Branco, onde concluiu o Curso Primário. Depois, passou para o Colégio Amapaense e também fez parte da primeira turma do Curso Ginasial. Cursou até o segundo ano e, após se casar, interrompeu os estudos para se dedicar à sua família. Fora de casa, trabalhou apenas com o irmão Sandoval, que era sapateiro da Guarda Territorial de Macapá. Ela o auxiliava a costurar os coturnos de couro dos policiais.

Casou em 11 de novembro de 1950, na Igreja de São José, com Raymundo Nonato da Silva, com quem teve sete filhos: cinco mulheres e dois homens: Maria de Lourdes, Maria Neuma, Maria Lúcia, Raimundo Nonato, Maria do Socorro, Maria de Fátima e Benedito Oscar. Teve 20 netos e 25 bisnetos. Não aprendeu a tocar nenhum instrumento musical.  No entanto, ela admirava o som da Flauta Transversal, que naquela época somente homens tocavam. Apesar disso, foi a herdeira que transmitiu para os netos a herança musical de Mestre Oscar. 

O maestro compôs uma música para ela chamada NEUMA (com U). Lúcia, neta, com mestrado em Musicologia, a pedido do orientador Régis Duprat (*), fez o arranjo dessa valsa para piano (por ser uma obra de seu avô), e a apresentou no dia de sua defesa, em São Paulo. A dissertação foi sobre “AS BANDAS NO AMAPÁ E O MESTRE OSCAR SANTOS”. 

Lúcia Uchôa recorda que sua mãe fazia costura em casa e que, durante muito tempo, dona Nena confeccionou vestidos para a professora Maria das Dores Gomes Correia e para as doutoras Emília, Clara e Alice Ventura. Bordava e cozinhava muito bem! Tinha uma bela escrita, gostava de ler e apreciava poesia. 

Defendia firmemente a fé católica em Nossa Senhora e no Sagrado Coração de Jesus; tinha devoção especial por São Benedito, a quem recorreu e foi atendida, em um momento difícil de sua vida; zeladora devota do Apostolado da Oração na igreja de São Benedito, no Laguinho, por um longo período, exerceu a função de secretária da Associação das Zeladoras do Sagrado Coração de Jesus. O corpo de dona Nelma Santos da Silva, falecida em 18 de junho de 2024, descansa em paz em jazigo da família, no Cemitério de Nossa Senhora da Conceição, no centro da cidade, onde também está sepultado o mestre Oscar Santos.

(*) irmão do compositor, arranjador e maestro brasileiro Rogério Duprat

Nota do editor: Agradecemos à amiga Maria Lúcia Uchôa, musicóloga e neta de Mestre Oscar, por haver repassado ao blog todas as informações referentes à mãe dela o que nos permitiu a montagem da biografia de dona Nelma Santos, nossa homenageada, hoje!

MEMÓRIA DA AVIAÇÃO COMERCIAL NO AMAPÁ : RESGATE HISTÓRICO > PASSAGEM AÉREA DA CRUZEIRO DO SUL DE 1945

  Apresentamos um resgate histórico relevante que nos foi enviado por Michel Ferraz, curador do Museu de Justiça do Amapá (TJAP) Imagens: Ac...