Hoje, o
homenageado do blog Porta-Retrato de Macapá é o saudoso amigo JOSÉ PENHA
TAVARES.
A fim de
resgatar as memórias desse mazaganense inesquecível, apresentamos, com a permissão
expressa do autor, uma compilação atualizada e adaptada de textos elaborados
pelo jornalista Elton Tavares, editor do blog De Rocha!
Por Elton Tavares
O mais
legal é que ele nunca fez mal a ninguém, sempre tratou as pessoas com respeito
e foi muito amoroso com os seus. Meu irmão costuma dizer que ele nos ensinou o
segredo da vida: “ser gente boa” (apesar de alguns gatos pingados não
comungarem desta opinião sobre mim).
Quando o bicho pega, falo com ele. Uma espécie de monólogo, mas juro que sinto conforto em lhe contar meus raros problemas. Acredito que papai escuta e, de alguma forma, me ajuda. Devaneio? Não senhores e senhoras, é que aquele cara foi um grande pai, ah se foi. Portanto, deve mexer os pauzinhos lá por cima.
Ele
partiu em 1998, faz e fará sempre falta. Sinto saudade todos os dias e penso
nele sempre. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a
próxima. Gostaria de lhe dar um abraço hoje, desejar feliz aniversário e tomar
muitas cervas com o Penhão, como costumávamos fazer todo dia 17 de setembro.
II
Há (...) 26
anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu
José Penha Tavares, o meu pai. O meu herói. Já que “Recordar, do latim
Re-cordis, significa ‘passar pelo coração”, como li em um livro de Eduardo
Galeano e dito também em outro texto pelo amigo Fernando Canto, passo pelo meu
essas memórias.
Filho de
João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares, nasceu dia 17 de setembro, no município de Mazagão, em 1950, de onde veio
o casal. Era o primogênito de cinco filhos.
Ele
começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre
conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem
não os comete?
Em 1975, casou-se com minha mãe, Maria Lúcia, com quem teve dois filhos, eu e Emerson. O velho não foi um marido perfeito, era boêmio, motivo que o levou se divorciar de minha mãe, em 1992.
Fotos Arquivo pessoal - Penha em diferentes momentos.
Na
verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não
diminui o grande homem que ele foi.
Após o
seu falecimento, li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde
ele trabalhava: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a
pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos,
mas quem se atreve a culpá-lo por este extremo defeito?”.
Zé Penha
pode não ter sido um marido exemplar, mas com certeza foi um grande pai. Cansou
de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as
melhores roupas e bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos
mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas,
dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir
tais peculiaridades.
Penha não gostava de se envolver em política. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preta, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Aquele cara era extraordinário!
Esportista,
foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da
Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das
incontáveis peladas.
Atravessamos
tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo
e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de
amizade extrema. Ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem
nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre
amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.
Com ele
aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, e aprendi que
para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não
atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.
Acredito
que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava
cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os
13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne”,
como ele mesmo brincava.
Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele, pois acredito que as pessoas morrem, mas nunca em nossos corações.
José
Penha Tavares foi muito mais de que pai, foi um grande amigo. Nosso amor vem
das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava
dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu
comigo ou vi acontecer com alguém”.
Meu mais que maravilhoso irmão, Emerson Tavares, disse: “papai nos ensinou o segredo da vida: ser gente boa e companheiro com os que nos são caros (família e amigos)”. Sempre nos espelhamos nele. Para mim é um elogio quando falam que tenho o jeito dele, pois o Zé Penha foi um homem admirável, um verdadeiro ser humano!
“Quem já
passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. A
frase é do poeta Vinícius de Moraes. Ela define bem o meu pai, que passou
rápido e intensamente por essa vida.
Queria
que o Zé Penha tivesse vivido pra ver a Maitê, pra sacar que consegui me
encontrar e ser um bom profissional, pra ver o grande cara que o Emerson se
tornou. Enfim, pra tanta coisa legal. Também faço minhas as palavras do
escritor Paulo Leminski: “haja hoje para tanto ontem”.
Obs: não
tem um dia na vida que eu não fale ou lembre do meu pai.
III
Lembro da
minha infância com alegria. Eu e meu irmão fomos agraciados com excelentes
pais, que nos proporcionaram tudo de melhor possível (e muitas vezes
impossível, mas eles fizeram mesmo assim). Graças a Deus, minha mãe continua
aqui e é meu anjo da guarda.
Lembro
que nós nunca fizemos a primeira comunhão, nem eu e nem Emerson, pois fugíamos
das aulas de catecismo para ir com o papai pra AABB. Ele ia jogar bola e nós
curtíamos a piscina. Apesar de não ter sido um frequentador de igrejas, Zé
Penha tinha muito mais Deus no coração do que a maioria dos carolas que
conheço.
Lembro-me de quando ele me levava para ver seus jogos de futebol. Era goleiro dos bons. Lembro quando tinha mais ou menos uns quatro anos ele me chamava de “Zôk”, apelido dado por causa da risada que eu dava quando ouvia o nome da moto Suzuki.
Lembro
que sempre foi nosso herói, meu e do meu irmão Emerson. Depois, também virou
ídolo de muitos amigos, por conta do nível caralístico de paideguice que ele
tinha. Lembro que poucas vezes vi meu pai triste ou irritado.
Lembro-me
das poucas broncas, de algumas porradas, de poucas discussões. Disso mais
lembro de esquecer. Lembro muito mais das viagens, da parceria, da amizade, da
proteção, da admiração que tinha e tenho por ele.
Lembro-me
de papai nos levar para jogar bola, ao cinema, circo, arraial ou qualquer lugar
em que ficássemos felizes. Éramos moleques exigentes, mas lembro que ele e
mamãe sempre davam um jeito, mesmo com pouca grana. Lembro dos ensinamentos e
sei que uma porção grande de bondade que trago em mim herdei de meu pai.
Lembro
que conviver com meu pai era viver no paraíso. Lembro-me de como todos o amavam
e até hoje, todos sentimos saudades. Lembro que já são 26 anos sem você.
Lembro, Zé Penha, de o quanto fomos parceiros, confidentes e grandes amigos.
Aliás, pai, fostes o melhor de todos. Lembro de como eras sensacional, cara.
Incrível, mesmo!
Lembro de
tudo amorosamente, pouquíssimas vezes com lágrimas nos olhos, mas a maioria com
sorrisos. Pois o que mais lembro é que tu, pai, era a personificação da alegria
e bom humor. Enfim, de vida. Lembro de ti, Zé Penha, todos os dias. E amo
lembrar o que fostes e o que representas.
Zé Penha, (...) fez a subida dimensional em 1998, mas
vive na minha memória afetiva e coração. Afinal, discorrer sobre vivências é
minha válvula de escape e meu caderno de recordações imaginário está cheio de
episódios felizes dos 22 anos que tive a honra e sorte de conviver com papai.
Textos de
Elton Tavares – jornalista
José
Penha Tavares faleceu dia 30 de março de 1998, vítima de um câncer de pulmão, e
descansa em paz no Cemitério de São José no bairro Santa Rita, em Macapá.
Nota do Editor: Nossos agradecimentos ao confrade Elton Tavares, filho de nosso homenageado, pela colaboração!
Grande Penha. Era do meu tempo. 1950.
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