O cinema chegou a Macapá bem antes
da criação do Território Federal. Existem registros de sessões cinematográficas
promovidas pelo Padre Júlio Maria Lombaerd por volta dos anos 20. O Jornal Correio de Macapá, de 26 de fevereiro de 1918, registra o dia 15 de fevereiro de 1918, como a data em que o padre Júlio Maria Lombaerd
funda, em Macapá, o Cine Olimpia, funcionando sempre aos domingos,
exibindo cenas das vidas de Cristo e dos Santos. Na realidade, foi um
cinematógrafo, conseguido na Bélgica.
Porém a
primeira sala de projeção da cidade foi construída e inaugurada em julho de
1944 por Janary Gentil Nunes, primeiro governador do Amapá.
O Jornal Amapá, de 12 de março de 1946, registra que em 9 de março de 1946, é exibido pela primeira vez em Macapá um filme em longa-metragem: “Um barco e nove destinos”, cujo cenário é a Segunda Guerra Mundial. Produção americana.
( Foto: Reprodução/Cortesia do Museu
Histórico do Amapá )
O Cine Teatro
Territorial funcionava no mesmo prédio da Escola Barão do Rio Branco e no
começo os filmes ainda eram mudos.
( Reprodução / Google / imagens )
Somente em 1948, com a chegada de duas
máquinas alemãs Zeiss Ikon a população pode então assistir ao melhor do cinema
falado. Além de filmes, o Territorial foi palco de inúmeros shows de grandes
artistas brasileiros. Luís Gonzaga, Dalva de Oliveira e Ângela Maria, ícones da
música popular da época, encantaram a plateia macapaense em apresentações
memoráveis naquela casa de espetáculos. São dessa fase as matinês com filas
intermináveis, que atraiam a população para assistir clássicos como “E o vento
levou”.
Durante algum tempo o Territorial abrigou os programas de auditório da
Rádio Difusora. Logo se constataria que só um cinema era pouco.
Já na década de 50 a Prelazia de
Macapá instalou projetores de 16 mm (semelhantes ao da foto menor) em barracões construídos ao lado das
igrejas Matriz e Nossa Senhora da Conceição. Era nessas salas improvisadas que
a juventude oratoriana assistia semanalmente aos seriados de Jim das Selvas e
Robin Hood. A sessão sempre era interrompida na metade para a troca do rolo de
filme, já que só havia uma máquina em cada barracão. Enquanto esperava a
segunda parte a garotada produzia uma barulheira ensurdecedora, sob os olhares
sempre atentos dos padres do Pontifício Instituto das Missões – PIME que tinham
mãos pesadas na aplicação de cascudos na cabeça dos mais afoitos.
Na esteira do desenvolvimento da cidade surgiu o Cine Trianon, de propriedade de Guilherme Cruz, que funcionou por pouco tempo na sede velha do Trem Desportivo Clube. O primeiro filme exibido foi “O Homem de Oito Vidas”, da produtora japonesa RKO. A população crescente do chamado bairro proletário preferiu prestigiar o cinema do governo, obrigando o fechamento precoce do Trianon. Porém o próprio Territorial encerraria suas atividades em 1961, quando o Amapá era governado por José Francisco de Moura Cavalcante. Hoje o local serve de auditório para as reuniões da Escola Barão do Rio Branco e pouca gente sabe que ali funcionou uma casa de espetáculos.
( Foto: Reprodução / Samuel Silva / Diário do Amapá / cópia de arquivo )
A sala de máquinas abriga ainda a sucata dos velhos projetores alemães. (Fotos de 2008)
( Foto: Reprodução / Acervo Olivar Cunha )
( Foto: Contribuição do amigo Olivar Cunha )
Primeira metade dos anos 60. A cidade já apresentava ares de capital, quando o empresário Guilherme Cruz inaugurou o Cine Macapá, na Avenida Raimundo Alvarez da Costa. A sala de projeção comportava seiscentas cadeiras, mas no dia da estreia somente 400 lugares estavam disponíveis.
O filme de abertura, (Ladrão de Casaca) estrelado por Gary Grant atraiu uma enorme multidão às bilheterias. Foram várias sessões contínuas para aplacar a curiosidade do povo. A novidade era o tamanho da tela, que era a maior já vista por estas bandas, própria para a exibição de fitas em Cinemascope.
O cinema de Guilherme Cruz virou ponto de encontro. Estreias as quartas e domingos eram sempre muito concorridas. Chanchadas da Atlântida estreladas por Oscarito e Grande Otelo botavam gente pelo ladrão. Públicos antológicos assistiram filmes da envergadura de“Ben-Hur”, “El Cid”, “Os Brutos Também Amam”, “Coração de Luto” e tantos outros.
Para fugir das chanchadas um grupo de cinéfilos fundou o Cine Clube Humberto Mauro, que semanalmente promovia sessões culturais em horários alternativos, para um seleto grupo de amantes da sétima arte.
Por conta das sessões de cinema teve início um comércio paralelo, com venda de bombom, pipoca, cambistas e a obrigatória troca de revistas em quadrinhos, com destaque para gibis de Gene Autry, Roy Rogers, Zorro e Tarzan.
O cinema de Guilherme Cruz virou ponto de encontro. Estreias as quartas e domingos eram sempre muito concorridas. Chanchadas da Atlântida estreladas por Oscarito e Grande Otelo botavam gente pelo ladrão. Públicos antológicos assistiram filmes da envergadura de“Ben-Hur”, “El Cid”, “Os Brutos Também Amam”, “Coração de Luto” e tantos outros.
Para fugir das chanchadas um grupo de cinéfilos fundou o Cine Clube Humberto Mauro, que semanalmente promovia sessões culturais em horários alternativos, para um seleto grupo de amantes da sétima arte.
Por conta das sessões de cinema teve início um comércio paralelo, com venda de bombom, pipoca, cambistas e a obrigatória troca de revistas em quadrinhos, com destaque para gibis de Gene Autry, Roy Rogers, Zorro e Tarzan.
(Foto: Reprodução de Arquivo)
Foi nessa época (1965) que a prelazia de Macapá anunciou a inauguração do Cine João XXIII, extinguindo as sessões de domingo nos barracões paroquiais. O cinema da Prelazia trouxe um pouco mais de modernidade, com cadeiras confortáveis, balcão, sala de projeção mais ampla e máquinas mais sofisticadas. Durante as sessões, uma sorveteria ficava a disposição, com acesso direto à sala de projeção para a alegria da plateia.
Na estreia o filme exibido foi “Melodia Imortal”, com a espetacular Kim Novak. O fino da sociedade local se fez presente para prestigiar o empreendimento dos padres, que inicialmente foi gerenciado por Walter Banhos de Araújo. Na trajetória do João XXIII filmes do quilate de “Roma” de Federico Felini, “Operação França”, “Três Homens em Conflito” e “O Dólar Furado”. Muito namoro começou na sala de projeção e acabou em casamento.
A rivalidade entre as duas casas de espetáculos da cidade perdurou por muitos anos. Era comum assistir a um filme em cada cinema na mesma noite. Filas, empurra-empurra e até brigas se registravam antes da estreia de fitas famosas.
(Foto: Reprodução/blog da Alcinéa)
Nem mesmo a inauguração do Cine Paroquial do Trem tirou a hegemonia dos cinemas do centro da cidade. O principal programa era assistir o filme de domingo e depois saborear a brisa do Amazonas no Macapá Hotel.
Em meados da década de 70 surgiu a televisão, inimiga mortal do cinema. A curiosidade em torno do novo veículo de comunicação foi muito grande. A frequência nas salas de exibição caiu verticalmente. O Cine João XXIII acabou encerrando suas atividades, quebrando um pouco da rotina domingueira da cidade.
Logo em seguida entraram em funcionamento os Cines Orange e Imperator, especializados em filmes de segunda categoria. Os dois eram muito frequentados pela classe estudantil, devido estarem localizados às proximidades dos principais estabelecimentos de ensino de Macapá. Na época proliferavam produções pornôs e Kung-fus. A sétima arte entrou em franca decadência em Macapá. À certa altura não havia nenhuma sala em atividade. As dívidas com distribuidoras, empresa de energia elétrica e funcionários transformaram o cinema numa empreitada inviável.
Nossa reportagem foi ouvir o Padre Paulo Lepre, administrador da Paróquia de São José, que explicou os motivos que levaram o cine João XXIII ao fechamento: “A maioria dos filmes que vinham da distribuidora não era adequada para exibição num cinema católico”.
Hoje a antiga sala de projeção serve para as reuniões da paróquia. O padre diz que reativar o cinema é impossível. Porém a diocese, que já tem um canal de televisão, poderá inaugurar em breve uma nova emissora de rádio: “Estamos lutando para conseguir a concessão".
O prédio onde funcionou o Paroquial do Trem foi cedido a uma Associação de Agricultores, que administra o imóvel desde 1977.
O surgimento da televisão, locadoras de vídeo e Internet não foi suficiente para enterrar de vez a paixão do macapaense pelo cinema. Hoje funcionam quatro salas de projeções na capital com 120 lugares cada uma, todas elas no bairro do Trem. O Cine Imperator exibe atualmente lançamentos mundiais e pelas informações dos funcionários as sessões são muito concorridas. Nada parecido com as sessões dos Cines Macapá e João XXIII. Quem viveu aquela época nunca esquecerá.
(*) Texto - atualizado e adaptado por João Lázaro - escrito por Humberto Moreira, foi publicado originalmente no dia 08/09/2008 sob o título A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA no blog Camisa 10, do conceituado jornalista/radialista e cantor.
Que legal João vou compartilhar,ir ao cinema em Macapá nos anos 50 era tudo de bom. Era aí que passavam os filmes da nossa infância: Gordo e Magro, faroeste...Sarah Zagury
ResponderExcluirAmigos, estranho falar da história do cinema no Amapá, e não citar: Cine Santana, Veneza, Columbia, Cine Teatro de Macapá; assim como o nome do Empresário Raul Silva. Gostaria muito de colaborar com mais informações para que se torne essa história mais completa e detalhada. Sou proprietário do Cine IMPERATOR3D, e aproveito para informar que o antigo João XXIII, está dando espaço a novas salas de cinemas, que se encontram em construção. Por favor entrem em contato comigo.
ResponderExcluirUm forte abraço,
Jack Silva
Épocas de nossa juventude e de boas amizades o presente teve um bom alicerce lá atrás quando frequentávamos a sede do trem e os mencionados cinemas
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