segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Professor Mário Quirino da Silva - Um Pioneiro da Educação do Amapá

Mário Quirino da Silva, nasceu no dia 02 de junho de 1925, em Belém do Pará. Filho de Manoel Quirino da Silva e Petronílha Pereira da Silva. Dona Petronílha e seu Manoel foram pais de três filhos: Cláudio, o mais velho, Mário, o segundo e uma menina, a caçula, Maria José. 
Mário e seus irmãos nasceram na mesma casa. Naquela época, as mulheres grávidas não iam ao hospital para ter os bebês, os partos eram feitos em casa pelas parteiras. Assim, uma parteira chamada “dona Guardina”, foi quem trouxe a este mundo o pequeno Mário e seus dois irmãos. 
Ele viveu os primeiros anos de sua vida em Belém, na Rua Padre Eutíquio. Era uma casa pequena, onde, embaixo ficava a pequena marcenaria do seu Manoel, e no andar de cima morava a família.
Era o final da década de 20 quando Dona Petronilha, mãe do Mário, faleceu. Os filhos ainda eram muitas crianças. Cláudio tinha cinco anos de idade, Mário quatro anos e Maria José apenas um ano. Seu Manoel resolveu criar os filhos, agora órfãos da preciosa mãe. Algum tempo depois, ele encontrou uma senhora que havia sido empregada em sua casa e era conhecida da família, de nome Izabel Nunes e de apelido Biló, que aceitou o convite para tornar-se esposa dele e cuidar das crianças. A família aumentou e receberam mais um irmão, filho da Biló, chamado Feliz Quirino. Então ela criou os três filhos do seu Manoel e tratou muito bem deles.
Desde pequeno Mário sempre foi apaixonado por cinema e seria assim toda a vida. O pai lhe dava o dinheiro para ir ao cinema. Mas, desde cedo, havia aprendido a valorizar o trabalho. Na fábrica de móveis o garoto, para ganhar uns trocados, empalhava cadeiras. Os móveis eram em grande número, tanto para fabricar como para consertar ou renovar a palha das cadeiras e mesas. Esse trabalho era feito nas horas vagas da escola e o dinheiro que ganhava era para ele. Gastava em guloseimas e passeios.
Gostava de ler gibi, empinar pipa, jogar peteca e não faltava o esporte favorito de todos: o futebol! 
Participava de campeonatos de futebol e jogava pelo Bangu.
Mário Quirino fez seus primeiros estudos com a professora Rosa Fontes, uma senhora idosa, severa e bem corcunda. Sua escola particular era na própria casa, que ficava ao lado da Lavanderia Paraense, em frente da pequena casa onde o Mário nasceu. 
Depois da escola da professora Rosa Fontes, ao terminar os seus estudos por lá, Mário e seu irmão mais velho, Cláudio, fizeram exame de admissão nColégio Paes de Carvalho, à época, o melhor colégio público de Belém do Pará. Cláudio foi aprovado mas Mário não conseguiu aprovação. Seu pai então o matriculou numa outra escola particular, chamada de "Progresso Paraense", onde deveria continuar os estudos. Em março de 1939 ele prestou exame de admissão e foi aprovado para estudar o 1º ano do ginásio, chamado na época de Curso Propedêutica. Era um colégio muito bom, que ficava na Rua dos Mundurucus, próximo da Praça Batista Campos, com direção do intelectual e educador professor Arthur Theódolo Santos Porto. Lá ele estudou até 1941.
Em abril de 1945, Mário com 19 anos de idade, partiu de Belém para Macapá e, em seguida para o Oiapoque.
No dia 10 de abril de 1945 foi admitido pelo governo do Território Federal do Amapá como “extranumerário-diarista” e trabalhou no Departamento de Viação e Obras Públicas da Prefeitura Municipal do Oiapoque por um ano.
Em abril de 1946, por ordem do secretario geral do território, Raul Montero Valdez, ele foi transferido para a Secretaria de Obras em Macapá. Em 1º de novembro de 1947 já ocupava o cargo de escriturário da Divisão de Obras do Quadro de Funcionários do Território Federal do Amapá.
No primeiro ano em Macapá Mário Quirino continuava longe da família. Morava em uma pensão para jovens, a “Pensão do Lacerda”, localizada no pequeno centro de Macapá, na Rua Cândido Mendes. Dividia o quarto com um amigo, trabalhava e estudava.
Em janeiro de 1947, o primeiro governador do Amapá, Janary Gentil Nunes, criou o Ginásio Amapaense, mais tarde chamado de Colégio Amapaense. Iniciou a funcionar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco no mês de abril do mesmo ano. Naquele ano, o Mário correu e rapidamente matriculou-se na 1ª série do curso ginasial da 1ª turma que acabara de ser inaugurada.
Sempre dinâmico, comunicativo e dedicado ao estudo, em dezembro de 1950 concluiu o curso ginasial e foi escolhido orador da sua turma.
Fez parte da primeira turma que concluiu o curso ginasial no ano de 1950, junto com José Ramos Conceição, Ubiracy de Azevedo Picanço, Ieda Alcântara, Ivone Oliveira, Mair Bemergui, José Ribamar Cavalcante, Antônio Nelson Abraão, Alceu Paulo Ramos, Raimundo Barata, Kleber Santiago e Hamilton Silva. 
Fundou, junto com Raimundo Barata e Edilson Borges de Oliveira, o Grêmio Cívico e Literário Rui Barbosa do Colégio Amapaense.
No trabalho na Divisão de Obras, por pouco tempo foi chefe da sessão de coordenação no final de 1951.
No ano seguinte, junto com outros grandes amapaenses, matriculou-se na 1ª série do curso técnico em contabilidade na Escola Técnica do Comércio do Amapá.
Participou ativamente da fundação da União dos Estudantes Secundaristas do Amapá e foi eleito seu primeiro presidente em Julho de 1952.
Em março de 1954 recebe o diploma de Técnico em Contabilidade, obteve o 1º lugar em cultura geral e mais uma vez foi o orador na colação de grau de sua turma.  
Naquele mesmo ano o governo do Amapá precisava escolher, treinar e capacitar alguém para trabalhar na tarefa de administrador público. O governador atento à capacidade daquele rapaz, escolheu Mário e o enviou para uma das escolas mais importantes do país: a Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na cidade do Rio de Janeiro. Naquela época o Rio era a capital do Brasil e a EBAP recebia alunos de toda a América do Sul. Na escola novamente ele foi um aluno dedicado ao estudo. Realizou os cursos de “Introdução à Administração Pública”, “Chefia Administrativa” e “Organização e Métodos”. 
Obteve o 2º lugar com a nota 9,5 e recebeu os cumprimentos e um prêmio das mãos do diretor da escola, Professor Benedito Silva. Representou bem o Amapá.
Mário e Delzuith, docemente chamada por ele de “Santa”, se conheceram no dia 08 de dezembro de 1951 num grande baile realizado no antigo Macapá Hotel. Daí então passaram a namorar. Quando Mário ficou noivo, procurou e recebeu uma casa do governo para sua primeira morada. A casa ficava na Rua General Gurjão, próxima à Praça do Cruzeiro, no Bairro Alto.
Sua noiva trabalhava e morava na cidade do Amapá. Antes do casamento, o Governador Janary Nunes permitiu sua transferência para Macapá, para ser professora no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, a primeira escola em alvenaria daquela cidade.
Eles casaram no dia 08 de maio de 1954 na igreja de Sant’ana, em Belém do Pará. O Palacete Azul na mesma cidade foi o local do casamento civil.
O casal permaneceu unido desde o primeiro encontro no Macapá Hotel até o final de sua vida.
Em 1955, no dia 07 de março nasceu seu primeiro filho. Chamou-se Délrio porque o seu nome simbolizava a união do casal. Del, tirado de Delzuith, a mãe e rio de Mário, o pai.
Em 1956, Mário era diretor da Rádio Difusora de Macapá e ainda morava no Bairro Alto. No mês de dezembro, no dia 28, nasceu o segundo filho, um menino com a pele bem branca e com os cabelos claros cheios de cachos. Chamou-se Sérgio.
Em 1959, no dia 08 de novembro, nasceu em casa, no Bairro Alto, o último filho de Mário e chamou-se Márcio José.  
Já com três filhos, o casal residiu por pouco tempo em uma casa na Praça Barão do Rio Branco e mudou-se para outra, na Avenida Getúlio Vargas n° 44, centro de Macapá, onde morou até o ano de 1969.
Preocupado e pensando na família, em meados dos anos 60, ele decidiu adquirir um terreno da prefeitura de Macapá para construir sua própria casa. Comprou um lote de terra e iniciou a construção de uma casa de alvenaria, na Rua Leopoldo Machado n° 1376, esquina com a Avenida Machado de Assis, no bairro central. Foram cinco longos anos de construção. Para sua família, orgulhoso, ele a chamava de “O Castelo da Leopoldo” porque à noite sua iluminação e pintura suave faziam-na parecer um castelo.
Mário Quirino da Silva foi diretor da Rádio Difusora de Macapá, de prefixo ZYE-2, no período de janeiro de 1956 a março de 1961. Depois, cumulativamente com o de Diretor da Rádio Difusora de Macapá, ocupou o cargo de Diretor da Imprensa Oficial, de dezembro de 1962 a março de 1964.
Em 26 de julho de 1963, o governo do Amapá o envia para um estágio de 15 dias no prédio da Imprensa Nacional na cidade do Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, ocorreu “a fundação da primeira associação de jornalistas da terra: Associação Amapaense de Imprensa e Rádio, em 1963, na Piscina Territorial, pelo então governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto. Entre outros, figuravam como fundadores dessa associação: Paulo Conrado, Alcy Araújo, Antonio Munhoz Lopes, Ezequias Assis, Jorge Basile, Luís Ribeiro de Almeida e Mário Quirino da Silva.” (Edgar Rodrigues).
Na Rádio, ao meio dia, escrevia e apresentava uma crônica com o pseudônimo de “Márcio José”. Chamava-se “Crônica do Meio Dia”. Manuscritos da época mostram que o tema preferido era o custo de vida na cidade de Macapá, sendo o aumento dos preços ferozmente combatido por ele.
Em janeiro de 1965 a Divisão de Educação (DE) do governo de ex-Território Federal do Amapá, junto com Universidade Federal do Pará, ofereceu um curso para formar professores. O nome do curso era CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário). Em silêncio, Mário fez sua matrícula e levou a boa notícia para casa. Ao final foi aprovado e aconselhado a lecionar a disciplina de Português.
A partir de 1965, passou a trabalhar em grandes e conceituadas escolas de Macapá: o Instituto de Educação do Território do Amapá (IETA) e o Colégio Amapaense (CA). Deu aulas de Português no curso ginasial por muitos anos.
Mas tornar-se um professor, mesmo naquela época, não era tão fácil assim. Era preciso muito preparo, dedicação, e, principalmente, estudo. O Mário teria que fazer as provas para mostrar aos professores do curso que estava bem preparado para ser um professor. Durante dois dias ele fez os exames em Macapá para ser um professor dos alunos do ensino médio, na disciplina de Português. Esse exame seria feito pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Federal do Pará. Ele foi aprovado em 1º lugar, com nota 9,6.
Mário Quirino prestou vestibular para o núcleo Universidade Federal do Pará, em Macapá e primeiro realizou o Curso de Licenciatura Polivalente 1º Grau. Depois fez o Curso de Licenciatura Plena em Letras pela mesma universidade.
Mário Quirino foi professor de Português e Gramática Histórica no ensino médio do Colégio Amapaense, o mesmo colégio no qual fora aluno de sua primeira turma. Tornou-se diretor do Colégio Amapaense por duas vezes, de julho/1967 a janeiro/1968 e de agosto/1969 a junho/1971. No Colégio Comercial do Amapá ensinava as matérias de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Redação e Expressão.
Um dos cargos mais importantes no sistema educacional exercidos pelo Professor Mário Quirino, foi como membro do Conselho de Educação do Território do Amapá., em 1973.
Assumiu por várias vezes a presidência da Instituição, durante o impedimento do respectivo titular e foi seu representante nas reuniões conjuntas do Conselho Federal de Educação, quando indicado para representá-lo.
No início da década de 50 ele foi secretário da Federação Amapaense de Desportos e mais tarde juiz do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) de Macapá. Seu esporte preferido era o futebol.
Costumava jogar no Campinho da Matriz, que existia na Praça Veiga Cabral, em frente à Igreja Matriz e, algumas vezes, no Estádio Glycério Marques. Era torcedor do alvinegro da Presidente Vargas, o Amapá Clube.
Em dezembro de 1955 ele foi eleito presidente da Federação Amapaense de Esportes Aquáticos. Estava com 30 anos de idade. Logo um grande desafio o aguardava. No mês de fevereiro de 1956 o Amapá deveria participar de uma grande competição nacional na cidade de São Paulo. Era o XIV Campeonato Brasileiro de Natação Infantojuvenil.
Ano 1956 - Registro raro da Delegação Vencedora do XIV Campeonato Brasileiro de Natação Infantojuvenil, na piscina do Pacaembu, São Paulo.
A partir da esquerda, nas imagens acima, vemos: Mário Quirino(em pé); sentados: Pereira, Gil, Paulo (atrás)_ Benicinho, Vitor, Cap. Euclides (treinador) e ao lado um acompanhante do departamento médico(não identificado). Agachados: Carmito Santos, Anselmo Guedes e Adonias Trajano.
Após ferozes batalhas nas piscinas do estádio do Pacaembu, o Amapá tornou-se campeão brasileiro de natação daquela categoria. O professor Mário Quirino orgulhosamente participou dessa conquista inédita como chefe da delegação amapaense. Ele permaneceu como presidente da Federação até o ano de 1957. Nesse ano ainda representou o Amapá no II Congresso das Federações do Norte e Nordeste na cidade de Salvador/BA e presidiu a delegação adulta de natação do Amapá no Campeonato Brasileiro na cidade de Porto Alegre/RS. (Vide foto abaixo)
Nesta foto de 1957, vemos a Delegação Amapaense de Natação, adulta, integrada pelos seguintes componentes: A partir da esquerda (de terno e gravata), 01 - Mário Quirino chefiando a Delegação; 02 - ao lado o treinador Capitão Euclídes Rodrigues e os atletas: 03 - Gil; 04Anselmo Guedes; 05Getúlio, na parte superior das imagens. Sentados: 06 - Paulo. 07-Pereira; 08-Carmito; 09-Vitor; 10-Nonato; 11-Adonias Trajano e 12-Benicinho.
Quando estudante da Escola Técnica do Comércio em Macapá, o jovem Mário Quirino liderou a fundação da Associação dos Estudantes Secundaristas do Amapá (UECSA) e foi eleito seu primeiro presidente em julho de 1952, no salão nobre do Colégio Amapaense. Por várias vezes lutou para que a voz do estudante fosse ouvida e pelo “direito de discordar”.
Em 17 de novembro de 1950, Mário Quirino iniciou como “aprendiz” na Loja Maçônica Duque de Caxias em Macapá, que era parte da grande loja do estado do Pará. Ele foi depois “companheiro Maçon” em dezembro de 1951. Em 14 de maio de 1952, chegou ao grau de exaltado a mestre.
Mário foi “Venerável Mestre” da loja maçônica Duque de Caxias de Macapá, eleito por dois mandatos consecutivos, nos anos de 1967 e 1968.
Em 1977, o professor Mário Quirino foi o primeiro Diretor do Centro de Formação Profissional de Macapá, do SENAI.
Mário Quirino sempre foi uma pessoa de boa saúde. Não tomava remédios, fazia exercícios em uma bicicleta ergométrica e não tinha nenhum sintoma.
Entretanto, no começo de 1980, ele iniciou um breve tratamento para problemas digestivos em Macapá. Como os sintomas continuaram ele resolveu fazer uma consulta médica em um hospital de Belém. Após os exames, foi diagnosticado um tipo de câncer muito avançado no intestino. A equipe médica resolveu operá-lo para retirar o tumor. Após realizar uma primeira cirurgia sem sucesso, uma segunda foi realizada. Foi uma cirurgia muito longa e trabalhosa porque o tumor situava-se em um local de difícil acesso.
Algum tempo depois, como os sintomas continuaram, outra equipe médica foi chamada, mas já era tarde demais.
Mesmo assim, o Mário já abatido pela grave enfermidade que o consumia continuou o curso superior com grande esforço, dedicação e responsabilidade. Diante daquela grave e difícil situação, enfermo, ele ainda trabalhava, estudava e com nobreza mantinha sua família.
No dia 01 de setembro de 1985, com 60 anos de idade, ele faleceu no Hospital São Paulo, na cidade de São Paulo. Seu corpo foi transladado para sua terra natal e sua esposa e filhos o sepultaram no cemitério de Santa Izabel, ao lado de seus pais, Manoel e Petronílha, em Belém do Pará.

Por determinação da família, foi lançado em Macapá, um livro de memórias e um DVD, com fotos inéditas, onde é contada a história intelectual e pública  de importantes fases da vida de Mário Quirino da Silva, como filho, pai, educador e trabalhador público. Local para consultas Escola Mário Quirino da Silva, no buritizal e Biblioteca Pública.

Fonte: Resumo biográfico com base em informações repassadas pela família do homenageado, póstumo, e que estão publicadas no Livro Biografia de Mário Quirino da Silva.

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