quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Foto Memória de Macapá: Há 58 anos falecia em Macapá, Mãe Luzia

Texto do historiador Nilson Montoril, adaptado ao Porta-Retrato

“Há 58 anos – em  23 de setembro de 1957 – falecia em Macapá  Francisca Luzia da Silva, a Mãe Luzia, aos  88 anos de idade. 

Estava alquebrada e tinha os cabelos brancos como um nicho de algodão. Sua morte deixou os moradores de Macapá imersos em profunda tristeza.
O enterro ocorreu no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, a direita de quem ingressa naquele campo santo, junto ao passeio que leva ao Cruzeiro e à capela.
A morte de Mãe Luzia encerrou o ciclo das renomadas parteiras e mulheres de múltiplos conhecimentos com plantas medicinais.
Mãe Luzia, se devotou aos desvalidos, ministrando-lhes remédios caseiros, benzendo crianças, curando espinhela caída, cobreiro, carne rasgada, erisipela e problemas da cabeça. Nasceu com o divino dom de “aparar” crianças e nenhuma delas pereceu em suas mãos.
Mesmo quando o médico obstetra e cirurgião Cláudio Pastor Darcier Lobato veio para Macapá,em 1944, e passou a chefiar a Unidade Mista de Saúde (que ocupava a área onde foi construída a Biblioteca Pública), Mãe Luzia não foi relegada. Em várias oportunidades o ilustre médico recorreu aos conhecimentos práticos da Mãe Preta da Cidade de Macapá. O Mesmo fez o médico Moisés Salomão Levy, que era pediatra.
A primeira casa de Mãe Luzia era localizada na esquina da Rua dos Inocentes (depois Coronel José Serafim Gomes Coelho) com a Travessa Floriano Peixoto (depois Presidente Getúlio Vargas). Ela deixou o imóvel sob a responsabilidade do filho Cláudio Lino e foi se estabelecer no Largo dos Inocentes.
A segunda casa tinha estrutura em taipa de mão, com vários quartos que ela alugava para caixeiros viajantes e romeiros. Era um casarão de telhado alto situado na esquina da Avenida Mendonça Furtado com a Travessa Francisco Caldeira Castelo Branco (depois Coronel José Serafim Gomes Coelho e atualmente Tiradentes), com frente para o Largo dos Inocentes, também denominado Formigueiro.
Observe a casa localizada ao fundo da passagem entre a velha sede do Senado da Câmara e a Igreja de São José. Ela demorava à margem da Travessa Castelo Branco, de frente para o Largo dos Inocentes e pertinho da casa da Mãe Luzia. A foto é bem antiga, mostrando como era a Igreja. 
O imóvel que ela ocupou até morrer foi desapropriado em 1970, para o alargamento da Rua Tiradentes. Na parte do terreno que não virou leito de rua foi erguido um prédio em alvenaria onde funcionou o Cartório Jucá.
Mãe Luzia foi casada com Francisco Secundino da Silva, próspero lavrador e político macapaense que chegou a exercer o cargo de Prefeito de Segurança (Delegado de Polícia) e obter a patente de capitão da Guarda Nacional. O casal teve duas filhas e quatro filhos: Miquilina Epifânia da Silva (Milica), Cláudio Lino dos Passos da Silva (pai do Francisco Lino da Silva, o Lino da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho), Àguida Chavier da Silva, Francisco Lino da Silva, Raimundo Lino da Silva (Bucú) e José Lino da Silva.
Ela costumava lavar roupas sem usar a parte superior de sua vestimenta e quem a via assim jamais lhe faltou com respeito. O quintal de sua residência era paralelo a Rua Tiradentes e não tinha cerca. Quando se debruçada sobre a gamela, esfregando as roupas, seus seios flácidos se misturavam a elas.”

Post original publicado no blog Arambaé – de Nilson Montoril

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