domingo, 12 de agosto de 2018

No Dia dos Pais, nossa homenagem ( em memória ) a MESTRE "BENÉ" – carpinteiro e marceneiro do Amapá!


Há exatos 106 anos, numa segunda-feira, nascia no município paraense de Curralinho em 12 de agosto de 1912, Benedito Ferreira do Nascimento, Mestre 'Bené', um dos grandes mestres de obras do Amapá.
De família atuante no roçado e na pecuária como todas as comunidades dentro do arco Marajoara, mestre Benedito Ferreira do Nascimento teve seus estudos primários paralisados na segunda série; era autodidata, possuía uma caligrafia corrida e era atento ao noticiário político do Brasil e do mundo, através das leituras diárias dos jornais impressos e de seu rádio à pilha, através das ondas d’A Voz da América’. A carpintaria era sua profissão e a marcenaria sua arte. Era o mais velho de uma família de três irmãos, (Benedito, Nestor, Alcídia).
Casado com Josefina Moura do Nascimento, com quem gerou três filhos, sendo que as duas gêmeas, pereceram de malária, que minava as matas amazônicas, e o caçula Raimundo Moura do Nascimento, adoeceu da mesma doença e para evitar a perda do único filho o casal deslocou-se imediatamente para Macapá, em 1939, passando a residir à Rua Beira da Praia, hoje orla de Macapá.
Nesse período, Benedito Nascimento começou a trabalhar como carpinteiro e nas horas vagas construía mesas, camas e utensílios diversos como marceneiro. Como o serviço rendia pouco sua esposa Josefina, mais conhecida como Dona Nenê, passou a 'lavar para fora' nas águas do caudaloso Rio Amazonas, e tinha no filho Raimundo Moura do Nascimento, conhecido por Gatão, o entregador das roupas lavadas e engomadas.
O Amapá é transformado em Território Federal e com o advento das obras públicas os trabalhadores pedreiros, carpinteiros e pintores se tornam mão-de-obra de primeira linha. O governo Janary Nunes, contempla os grandes mestres e pequenos construtores e os torna Mestres de Obras com assinatura de contratos, e assim passam a construir a infraestrutura da capital amapaense, para as repartições públicas que dariam o ponta pé inicial para o crescimento do novo Território.
Mestre Júlio e Mestre Benedito capitanearam diversos operários e montaram suas equipes. Ele, mestre na carpintaria, recebeu a incumbência de construir os telhados do Hospital Geral de Macapá e da Maternidade Geral. Mestre Benedito participou das obras de escolas e postos de saúde nos municípios, entre eles o Barão do Rio Branco, a Escola Normal de Macapá e o Hospital Geral de Macapá (primeira unidade de saúde pública do Amapá).
Com o crescimento populacional de Macapá e a pretensão do governo em realizar mudanças na frente da cidade, com a construção da residência oficial, Macapá Hotel e as residências dos primeiros gestores do segundo escalão, Janary começou a demarcação de terrenos a partir da General Rondon e os doou aos que prestavam serviços ao governo.
Caso do Mestre Benedito que foi agraciado com um terreno  medindo 35 x 40 na Avenida Presidente Vargas, entre as Ruas Eliezer Levy e Odilardo Silva, que recebeu o número 56, onde começou a construir sua residência; e sua esposa, com a eficiência de seu trabalho de lavadeira, recebeu dos primeiros diretores a missão de lavar os uniforme de Janary Nunes e do Dr. Hildemar Maia, que mais tarde seria padrinho de casamento de Raimundo Moura do Nascimento e de Zoraide Coelho do Nascimento.
Ao ser instalada a mineradora ICOMI no Amapá, o governador Janary Nunes,  a pedido da empresa, indicou nomes de servidores operários de elevado padrão técnico, que haviam atuado nos serviços estruturais de instalação do governo do Amapá, que pudessem trabalhar com os engenheiros americanos.
Mestre Bené foi um dos indicados e colocado à disposição da empresa.
Na ICOMI, contratado em 19 de janeiro de 1954, Mestre Bené foi o Chapa nº 416 e recebeu a incumbência de Encarregado de Conservação de Obras, no Serviço de Conservação. Foram muitas as missões dentro da ICOMI:  manutenção do cais flutuante; da Estrada de Ferro do Amapá, na área interna da empresa; de obras de manutenção na Vila Amazonas, onde recebeu uma residência para morar na Vila Intermediária e quando concluiu sua casa em Macapá, se mudou.
Recebeu diversas honrarias da empresa, uma delas foi quando completou dez anos de serviços prestados e ganhou um relógio e uma ida ao Rio de Janeiro, sua primeira viagem de avião e a primeira vez que se afastava da família, que além do filho, criava dois netos.
Benedito Ferreira do Nascimento era uma pessoa séria e, para muitos, sisuda, porém católico praticante, tanto que foi membro do grupo de homens da Associação São João Bosco, que tratava de trabalhos sociais voltados para os mais carentes; honesto e metódico, não gritava nem ameaçava, mas seu olhar dizia o que ele pensava. Não aceitava injustiça.
Seu meio de transporte desde os primeiros anos foi sempre uma bicicleta Monark com a qual percorria a cidade e carregava seus instrumentos de trabalho.
Após a aposentadoria se dedicou ao empreendedorismo e adquiriu seu primeiro automóvel na Loja dos Irmãos Zagury, que representavam a marca Chevrolet no Amapá e em seguida adquiriu mais três carros e criou uma frota de táxi, onde seus motoristas eram amigos e recebiam suas comissões em dia. Tudo era anotado em seus cadernos, da conta de luz às compras nos supermercados.
Pagava seus credores em dia, desesperava-se com as cobranças, porém a aposentadoria não lhe fez bem, pois por ter tempo livre demais passou a cuidar de plantas e durante a podagem de um abacateiro, com a quebra de um galho, machucou a virilha e trouxe o mau do século para sua vida. Um câncer de próstata que lhe ceifaria a vida.
Foi um tratamento longo e dolorido, pois no Amapá não havia nenhuma estrutura para atender esse tipo de doenças, somente no Pará, e a hemodiálise se tornou o único meio de mantê-lo vivo; foram infindáveis viagens a Belém, com fretes de avião.
A luta foi inglória, mesmo com o esforço sobre-humano de profissionais da época.
Benedito Ferreira do Nascimento faleceu em sua residência no dia 30 de abril de 1985. Não viu o Amapá se transformar em Estado.
Mestre Bené, deixou no Amapá a marca de seu trabalho.
Mesmo autodidata e semianalfabeto curtia de Roberto Carlos a Mozart e adorava beber seu Whisky ouvindo uma sanfona ou um violino na velha vitrola da sala de visita, onde recebia a todos com elegância e educação.
Seu domingo era sagrado para a família, com quem o almoço reunido com todos, era importante.
Texto do jornalista Reinaldo Coelho – neto do biografado – publicado na edição 621, do Jornal Tribuna Amapaense, devidamente adaptado para o blog Porta-Retrato, com a devida anuência do autor.
NOTA DO EDITOR
Quando trabalhei na ICOMI, no período de 1970/77, tive a honra de conhecer o Sr. Benedito Nascimento e posso confirmar muitas das coisas narradas no texto. Ele foi, sem dúvida, um grande homem! João Lázaro.

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