sábado, 13 de dezembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 10 – AURINO BORGES DE OLIVEIRA – O ADMINISTRADOR, O VISIONÁRIO E A HERANÇA HISTÓRICA

 Continuando nossa série de homenagens aos pioneiros do Largo dos Inocentes, vamos conhecer hoje a história de Aurino Borges de Oliveira (1917-1976), nosso décimo e notável homenageado. Sua trajetória não apenas enriqueceu o comércio local, mas se insere em uma linhagem de serviço público que marcou a história de Macapá.

Nascido em 28 de março de 1917, em Macapá, que na época pertencia ao estado do Pará, Aurino Borges de Oliveira destacou-se em dois campos cruciais para o desenvolvimento da capital: a administração pública e o empreendedorismo.

O Administrador Comprometido do Coração da Cidade

Aurino Borges de Oliveira dedicou vários anos de sua vida à gestão do Mercado Central de Macapá, atuando como um de seus administradores. Este cargo exigia dedicação e comprometimento excepcionais, pois o Mercado Central sempre foi o principal ponto de abastecimento e o grande motor comercial de Macapá. A gestão eficiente deste espaço por Aurino contribuiu diretamente para o ordenamento e o cotidiano da cidade.

Ao lado de sua esposa, Maria José da Silva Barbosa, ele construiu uma grande família, sendo pai de doze filhos, demonstrando a mesma dedicação e compromisso na vida pessoal quanto na pública.

Padaria São José: O Aroma do Pioneirismo

Além do serviço público, Aurino Borges de Oliveira revelou-se um empreendedor visionário. Foi ele o proprietário da tradicional Padaria São José (conhecida, na época, como Padaria do Sandó, irmão dele) uma das primeiras padarias a se estabelecer no centro de Macapá. Em uma época em que a cidade estava em franca expansão e consolidação, a Padaria São José não apenas supria a demanda por pães e quitutes, mas se transformou em um símbolo de progresso e tradição, sendo um estabelecimento que, nas palavras da época, "marcou época na história da cidade".

A Linhagem do Serviço Público: Filho do Intendente

A importância de Aurino Borges de Oliveira reflete também a de sua ascendência. Aurino era filho do lendário Intendente Ernestino Borges.

Antes que o cargo de Prefeito fosse instituído, o município de Macapá era liderado pelo Intendente, a maior autoridade do Executivo local. Ernestino Borges ocupou essa posição de comando entre 1921 e 1922, em um período fundamental para a definição do futuro urbanístico e administrativo de Macapá.

O Intendente Ernestino Borges é uma figura tão central na história da capital que seu nome foi imortalizado em uma das vias mais importantes e extensas da cidade: a Avenida Ernestino Borges.

Ao honrar a memória de Aurino Borges de Oliveira, celebramos o legado de uma família que contribuiu de forma indelével para Macapá, desde a administração política e o traçado urbano (com o Intendente Ernestino Borges) até o desenvolvimento comercial e a memória afetiva de seu centro (com Aurino Borges de Oliveira e sua Padaria São José).

O Largo dos Inocentes é, sem dúvida, um palco onde a história dos Borges de Oliveira floresceu e continua viva em nossa memória.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: Filha - Maria José Aurino - 2025

Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 9 – JOSÉ ROSA TAVARES: O PIONEIRO DA CALIGRAFIA E DA HONESTIDADE

No coração pulsante do Largo dos Inocentes - Formigueiro, em Macapá, ergue-se agora a nona homenagem a uma figura que personifica o pioneirismo amapaense: José Rosa Tavares.

Homem de caligrafia impecável, cujas letras traçadas à mão carregavam a precisão de um artista e a confiança de um servidor público, Tavares foi o artífice manual das folhas de pagamento da Prefeitura de Macapá, quando o Amapá ainda era Território Federal. Em tempos em que máquinas ainda eram sonho distante, sua pena era o elo entre o suor do trabalhador e o dever da administração.

Convocado pelo prefeito Heitor de Azevedo Picanço, José Rosa não foi escolhido ao acaso. Sua honestidade inabalável, o capricho em cada traço e o zelo incansável pela tarefa pública o elevaram a essa responsabilidade nobre. Reservado em sua essência, mas de coração aberto aos amigos, ele transformava as noites no calçadão em frente à sua casa — na icônica esquina da rua Mendonça Furtado com Tiradentes — em rodas de prosa genuína. Ali, sob o céu estrelado do Amapá, os temas fluíam como o rio próximo: a roça fecunda, a caça desafiadora e a pesca generosa, tecendo laços que uniam a comunidade em simplicidade e cumplicidade.

Casado com Maria do Carmo Tavares, a inesquecível Dona Mariquinha — mulher de generosidade sem medidas e acolhida farta —, José Rosa construiu uma família exemplar. Dos 12 filhos criados com afeto e princípios sólidos, brotou um legado que transcende gerações: o serviço à comunidade, a modéstia como virtude e o afeto como herança eterna. No Largo dos Inocentes, sua memória agora se eterniza, convidando-nos a refletir sobre os pioneiros que, com mãos calejadas e espíritos retos, forjaram os alicerces de Macapá.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: João do Carmo Tavares, bancário e filho de José Rosa Tavares – depoimento em 2025.

Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

domingo, 7 de dezembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 8 - BENEDICTO ANTÔNIO TAVARES: MESTRE E FIGURA DE PRESTÍGIO NA MACAPÁ ANTIGA


 Nascido em 9 de janeiro de 1868, Benedicto Antônio Tavares recebeu o nome em homenagem a São Benedito, santo de forte devoção popular na Amazônia. O sobrenome Tavares, herdado do pai, acompanharia uma trajetória marcada pelo respeito público, pela ligação com a elite local e por uma atuação comunitária que ecoa até hoje na memória de Macapá.

Casado com Quitéria Rosa Tavares, Benedicto construiu um núcleo familiar que seria, ao mesmo tempo, tradicional e profundamente ligado às raízes da cidade. Do casamento, vieram os filhos Maria Rosa Tavares de Almeida e José Rosa Tavares. Também foi pai de Norberto Tavares, ampliando uma linhagem que se entrelaça com a história social da capital amapaense.

Reconhecido como uma das figuras de destaque na Macapá do final do século XIX e primeiras décadas do XX, Benedicto integrou a elite local não apenas por sua posição social, mas pelo papel que desempenhou no serviço público. Exerceu as funções de oficial de justiça e intendente municipal, cargos que exigiam responsabilidade, senso de justiça e articulação com a vida política e administrativa da época.

Entretanto, sua contribuição mais marcante talvez tenha vindo do ambiente doméstico. Em sua própria residência, Benedicto abria as portas para exercer uma vocação que o aproximava diretamente da comunidade: alfabetizar crianças, jovens e adultos, ensinando leitura, escrita e, especialmente, “a fazer conta”, expressão tão comum no vocabulário cotidiano de então. Era um mestre informal, cuja casa se transformava em espaço de aprendizagem para aqueles que tinham pouco ou nenhum acesso à educação regular.

Esse gesto simples e contínuo — ensinar — conferiu a Benedicto um lugar especial na memória coletiva. Ele representava não apenas o homem público, mas o educador comunitário, figura que ajudava a moldar futuros e a disseminar conhecimento em uma Macapá ainda em formação, com poucos recursos escolares e forte dependência da iniciativa de cidadãos comprometidos com o bem comum. 

Benedicto Antônio Tavares faleceu em 25 de setembro de 1941, deixando um legado de serviço, respeito e educação transmitida de forma generosa. Sua história permanece viva como parte do patrimônio humano que construiu a Macapá do passado e alimenta a identidade da cidade atual.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: Bisneta – Maria das Dores do Rosário Almeida – 2025

Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

sábado, 6 de dezembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 7 - LEMBRANÇAS DE TIA URSINHA

 
TIA URSINHA

Ursula Evangelista da Costa Cecilio 

(1915–2005)

Entre as figuras que moldaram a identidade afetiva e cultural do Largo dos Inocentes, no tradicional Formigueiro, nenhuma presença é tão lembrada quanto a de Tia Ursinha. Nascida em 25 de abril de 1915, Ursula Evangelista da Costa Cecilio tornou-se, ao longo do século XX, uma referência de fé, solidariedade e pertencimento comunitário, marcas que a fizeram permanecer viva na memória social de Macapá.

Pioneira daquela região emblemática da capital, Tia Ursinha não apenas testemunhou as transformações do bairro, mas participou ativamente de suas tradições. Devota e assídua nas celebrações religiosas, era figura certa nas festas, novenas e rituais que uniam os moradores e reforçavam o sentimento de vizinhança. Seu comportamento acolhedor e seu senso de compromisso com o outro fizeram dela um ponto de apoio para famílias inteiras que encontravam, em sua casa e em sua presença, um gesto de escuta e solidariedade.

Mais que uma moradora ilustre, Tia Ursinha tornou-se um símbolo de resistência cultural, preservando costumes e modos de viver que ajudaram a tecer a história do Largo dos Inocentes. Sua trajetória se confunde com a própria memória do território: a fé que professava, o cuidado com a comunidade e a dedicação à família refletem valores que permaneceram, mesmo após sua partida, em 1º de julho de 2005.

Hoje, recordar Tia Ursinha é reconhecer a força das mulheres que sustentaram a vida social de Macapá, transmitindo saberes, valores e tradições às novas gerações. Sua lembrança permanece como um farol afetivo para todos que conheceram sua doçura e sua firmeza.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: Neto – Sociólogo Evandro Milhomem (2025)

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

domingo, 23 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 6 - MÃE COTA: MEMÓRIA VIVA DE MACAPÁ

Hoje abrimos espaço para contar a história de Mãe Cota, cuja força, ternura e ancestralidade deixaram raízes profundas no coração do Formigueiro.

Maria Rosa Tavares de Almeida veio ao mundo em 20 de setembro de 1896, filha de Benedicto Antônio Tavares e Quitéria Rosa Tavares. Nascida em um tempo de grandes desafios, Maria Rosa cresceu entre saberes tradicionais, rezas antigas e a força cotidiana das mulheres negras que moldaram a cultura amapaense. Ainda jovem, descobriu um dom natural para cuidar, ensinar e acolher — virtudes que guiariam toda a sua existência.

Conhecida carinhosamente como Mãe Cota, ela dedicou parte de sua vida à educação. Atuou como professora municipal da 1ª série na comunidade do Curiáu, entre 1938 e 1939, plantando as primeiras sementes de conhecimento que muitos moradores da região levariam para além da infância. Como educadora, era lembrada pelo rigor amável, pela paciência e pelo respeito à formação humana.

Mas Mãe Cota não cabia em um único ofício. Era mulher de muitos talentos, dona de uma habilidade rara nas artes tradicionais que marcam o cotidiano amazônico. Trabalhou como rendeira, lavadeira, cozinheira e amassadeira de açaí — profissões que exigem força, técnica e dedicação. Queimou panelas para alimentar famílias, tingiu fios que viraram arte, lavou histórias que o tempo insistia em guardar. Tornou-se também tacacazeira, levando às ruas sabores que hoje são parte inseparável da memória afetiva de Macapá.

Dotada do dom da cura e do aconselhamento, Mãe Cota foi ainda rezadeira, benzedeira e figura de extrema confiança na comunidade. Em sua casa, muitos encontravam alívio espiritual, palavra firme, escuta atenciosa e esperança. Nas festas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, entoava cantorias de marabaixo, mantendo viva uma das mais importantes expressões culturais do Amapá. Seu canto, dizem, alcançava os que estavam longe — e confortava os que estavam perto.

Profundamente religiosa, integrou o Apostolado da Oração da Igreja Matriz de São José, onde sua presença constante e silenciosa se tornou um símbolo de fé e devoção.

Mãe Cota partiu em 24 de novembro de 1986, aos 90 anos. Viveu quase um século costurando laços de fé, trabalho, sabedoria e amor ao próximo. Deixou um legado que ultrapassa as fronteiras da família e se estende pela cultura e pela história do Amapá. Hoje, é lembrada como exemplo de dignidade, força feminina e ancestralidade — uma daquelas pessoas cuja vida se transforma, por si só, em patrimônio imaterial.

Ao celebrarmos a memória de Mãe Cota, celebramos também a resistência e a beleza das mulheres que moldaram, com suas próprias mãos, os alicerces culturais de Macapá.

Sua história permanece viva, como as vozes do marabaixo que ecoam pelas ruas, como o cheiro de tucupi que anuncia afeto, como o conselho sábio que nunca se perde.

Mãe Cota vive — na memória, no legado e no coração do Amapá.

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Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: Neto – Murilo José, Diones da Rosaiva Almeida – 2023

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 5 - A TRAJETÓRIA DE ZÉ MARIANO

Hoje vamos recordar a trajetória do senhor José Duarte de Azevedo, conhecido como  Zé Mariano — figura ilustre e indispensável à memória afetiva amapaense. Homem simples, íntegro e profundamente enraizado no bairro Formigueiro, Zé Mariano viveu intensamente o cotidiano do antigo Território Federal do Amapá. Sua história, sustentada pelo trabalho incansável, pela fé e pelo amor à família, merece ser retomada e celebrada como parte fundamental do nosso memorial coletivo.

Zé Mariano (1902–1986)

Nascido em Macapá em 1902, José Duarte de Azevedo, o Zé Mariano, cresceu em uma época em que a cidade dava seus primeiros passos rumo à urbanização. Filho de Mariano Duarte de Azevedo e Tereza de Azevedo Picanço, integrou-se desde cedo à realidade dos pioneiros do Formigueiro, área onde muitas famílias tradicionais ajudaram a moldar a identidade local.

Sua vida profissional ganhou novos rumos a partir de um convite decisivo: o então governador Janary Nunes, figura central na consolidação do Território Federal do Amapá, chamou Zé Mariano para integrar a equipe responsável por importantes obras públicas. Ele participou diretamente da construção do Hospital Geral de Macapá e do Macapá Hotel, dois marcos estruturais que transformaram o cenário urbano da capital na década de 1940.

A dedicação, a seriedade e o senso de responsabilidade com que executava suas funções renderam-lhe a confiança do Governo. Por isso, Zé Mariano assumiu mais tarde o cargo de porteiro do Palácio do Governo, acumulando também inúmeras tarefas externas. Era, como muitos lembram com carinho, o “verdadeiro faz-tudo”, sempre presente, sempre pronto, sempre discreto.

No campo familiar, Zé Mariano construiu uma história tão sólida quanto sua vida pública. Casou-se com Tereza de Azevedo Costa, com quem teve oito filhos. Da união nasceu uma linhagem que seguiria contribuindo com a cidade — entre eles, Raimundo Azevedo Costa, que fez história ao se tornar o primeiro prefeito eleito de Macapá, em 1985.

Católico dedicado, Zé Mariano era presença constante nas missas da Igreja Matriz de São José. Carregava consigo um entusiasmo especial pelas festas de arraial, período que marcava encontros, reencontros e a celebração da cultura local. Nessas ocasiões, recebia com alegria parentes e amigos vindos do interior, reforçando os laços afetivos que sempre prezou.

Faleceu em 1986, deixando um legado de simplicidade, trabalho e dignidade. Sua trajetória, embora marcada pela discrição, permanece viva na memória dos descendentes, amigos e moradores que reconhecem em Zé Mariano um dos alicerces humanos que ajudaram a construir Macapá.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Fonte memorial: João do Carmo Tavares (filho)

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

domingo, 16 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 4 - AS LEMBRANÇAS DE MESTRE CHICO

Hoje vamos falar de Mestre Chico, figura essencial na história do Formigueiro e do desenvolvimento urbano de Macapá. Carpinteiro habilidoso, vizinho de outros mestres artesãos, e colaborador de obras que hoje fazem parte do imaginário amapaense, ele representa a força silenciosa dos trabalhadores que edificaram a cidade muito antes de seus espaços ganharem nomes oficiais ou destaque nos mapas.

Francisco Castro Inajosa (1911 – 1995)

Francisco Castro Inajosa, carinhosamente conhecido como Mestre Chico, nasceu em 14 de agosto de 1911. Ao longo de sua vida, deixou marcas profundas na história de Macapá por meio de seu talento como carpinteiro e de sua dedicação ao trabalho comunitário. Faleceu em 8 de agosto de 1995, mas seu legado permanece vivo nas estruturas que ajudou a construir e nas memórias daqueles que conviveram com ele.

Radicado na área onde funcionou o antigo Fórum de Macapá, Mestre Chico tinha como vizinho o respeitado “Mestre Julio”. Quando o então governador Janary Gentil Nunes requisitou o terreno para a construção do Fórum, foi o próprio Mestre Chico quem sugeriu um novo local de moradia. Assim, mudou-se para a Rua José Serafim, esquina com a General Gurjão — região então conhecida como “Formigueiro”, hoje denominada Rua Tiradentes.

A trajetória de Mestre Chico se entrelaça com a história urbana e cultural do Amapá. Seu talento contribuiu para importantes obras da cidade, entre elas a construção do Trapiche Eliezer Levy, um dos cartões-postais de Macapá, e da Igreja de Mazagão Velho. Foi durante esse período que conheceu sua esposa, Ercilia Duarte Inajosa, a Dona Ciroca, nascida em 28 de janeiro de 1921 e falecida em 20 de outubro de 2013, companheira fiel em sua caminhada.

Além disso, Mestre Chico atuou na reforma da Igreja Matriz de São José de Macapá e participou de diversas obras públicas, servindo como mão de obra especializada do antigo setor de Bens de Imóveis da Secretaria de Obras. Ao longo de sua vida profissional, trabalhou ao lado de dois outros grandes artesãos da época: Mestre Antônio e Mestre Benedito, fortalecendo um ciclo de mestres que ajudou a erguer parte significativa do patrimônio amapaense.

Mais do que um carpinteiro, Mestre Chico foi um homem de visão, simplicidade e profundo senso de comunidade. Sua história é a história de uma Macapá que cresceu pelas mãos de trabalhadores anônimos, mas fundamentais — homens que moldaram madeira e também identidades.

O legado de Mestre Chico permanece nos edifícios que ajudou a levantar e, sobretudo, na lembrança de sua contribuição para a construção social e cultural do Amapá.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Depoimento de Mestre Neto – Benedito João Silva

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

sábado, 1 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 3: AS LEMBRANÇAS DE DONA CACILDA PIMENTEL

Hoje nossa terceira homenageada do Largo dos Inocentes, é Dona Cacilda da Cruz Pimentel.

Mulher de fibra, fé e ternura, Dona Cacilda pertenceu a uma geração que não apenas viveu o Formigueiro, mas o inventou com o suor, a coragem e a solidariedade do cotidiano. Com sua presença marcante, ajudou a formar as primeiras famílias que deram origem ao centro da cidade, costurando laços de vizinhança e esperança em tempos de poucos recursos, mas de abundante humanidade.

No compasso dos dias simples, Dona Cacilda fez de sua casa um abrigo e um ponto de encontro. Ali se acolhiam os que precisavam de conforto, ali se partilhavam rezas, saberes, alimentos e alegrias. Era o lar onde se teciam as relações de respeito e união que, ainda hoje, ecoam entre descendentes e vizinhos.

Sua generosidade tornou-se referência para muitos nas horas difíceis, e sua memória, um símbolo de solidariedade. Seu exemplo transcendeu o tempo — não apenas como lembrança familiar, mas como herança viva na cultura popular, nas festas, nas orações e nas tradições que seguem pulsando no Largo dos Inocentes - Formigueiro.

Relembrar Dona Cacilda é celebrar a força das mulheres que, com gestos simples e fé profunda, ergueram os alicerces invisíveis da cidade. É reconhecer que a história também se escreve com afeto e que a memória, quando preservada, continua a iluminar o presente.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Depoimento do ex-Prefeito João Henrique Pimentel

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 2: TIA MUNDICA: SABOR, GENTILEZA E MEMÓRIAS SERVIDAS QUENTES

Hoje recordamos Raimunda Tavares da Silva, a segunda mulher pioneira do Largo dos Inocentes homenageada aqui no blog Porta-Retrato.

Foto: Arquivo da Família

Dona Raimunda Tavares da Silva, carinhosamente conhecida como Tia Mundica, nasceu em Macapá no dia 25 de setembro de 1915 e faleceu em 14 de novembro de 1996, aos 81 anos. Filha de Cláudia Coimbra, casou-se com Benedito Costa da Silva (Biló) e foi morar na localidade de Coração. Lá, teve quatro filhos: Maria Neuzarina e João Gualberto (ambos já falecidos), além de Cezarina Perez, José Raimundo (Billy Pan) e Maria dos Anjos Tavares da Silva Miguel.

Há vidas que passam de forma silenciosa, mas deixam marcas profundas, como cheiro de comida boa que invade a rua e nunca mais sai da memória. Dona Raimunda, Tia Mundica para os mais próximos, foi assim: presença simples, coração generoso e mãos que transformavam afeto em alimento.

Na Macapá das décadas de 1940 e 1950, quando professoras recém-chegadas desembarcavam no Amapá para servir no governo do Cel. Janary Nunes, a casa de Tia Mundica se tornava abrigo. Ali não era só panela no fogo. Era porta aberta, sorriso que descansava o coração e aquele jeito de fazer qualquer pessoa sentir que pertencia. Um gesto simples, mas grande como o rio Amazonas, mostrando o espírito hospitaleiro do amapaense. No prato, mingau de milho quentinho, tacacá que abraçava a alma, açaí batido com carinho. E, por cima de tudo isso, a sensação de lar, costurada com afeto, para quem estava longe de casa e ainda procurando seu lugar.

Seu talento culinário virou referência. Seu cuidado, lembrança viva. Sua mesa, lugar de encontro e afeto. Na simplicidade da vida comunitária, ela criou raízes que ainda florescem nas lembranças de quem provou sua comida e, mais ainda, sua gentileza.

Celebrar Tia Mundica é lembrar que a história de uma cidade também se escreve com tempero, carinho e portas abertas. E que existem pessoas que, mesmo sem grandes títulos, se tornam patrimônio afetivo de um povo.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

Depoimento da filha, Maria dos Anjos (2025)

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

MEMÓRIAS DA HISTÓRIA: O Hino do Amapá e o Legado de Fernando Canto

A memória de Fernando Canto e o dia em que o hino oficial quase se perdeu.

Em 1982, o Amapá vivia um daqueles instantes em que a história parece prender a respiração antes de um salto. O Território Federal sonhava tornar-se Estado, e o espírito coletivo era de construção e pertencimento.

Para fortalecer esse movimento, o secretário de Planejamento, Antero Lopes, instituiu uma comissão encarregada de coordenar a campanha e escolher os símbolos do futuro Estado: bandeira, brasão e hino. À mesa, nomes que uniam técnica, arte e sensibilidade: o jornalista Paulo Oliveira, o publicitário Carlos Viana, o arquiteto Chikahito Fugishima e o poeta e artista multimídia Fernando Canto.

As inscrições para bandeira e brasão chegaram em grande número. Para o hino, porém, o silêncio governou. Nenhuma proposta. O tempo apertava, e aquele vazio ameaçava transformar um momento histórico em uma pausa desafinada.

Foto montagem

Foi nessa brecha que Fernando Canto apareceu, olhos brilhando como quem acabara de encontrar um rio escondido na mata. Ele carregava consigo a Canção do Amapá, com letra de Joaquim Gomes Diniz e música do maestro Oscar Santos. Naquele instante, o Amapá ganhou a voz que buscava.

O maestro que ensinou a ouvir

Oscar Santos, lembrado com carinho por várias gerações, era mais que maestro. Era jardineiro de talentos. Chegou ao Amapá ainda nos anos 1950, trazido pela secretária de Educação Aracy Miranda de Mont’Alverne, e fez da então Escola Industrial de Macapá uma casa de música pulsante.

Rigoroso no ensino, exigia leitura de partitura e treino de ouvido. Criava disciplina e liberdade, como quem constrói asas e raízes ao mesmo tempo. De seus ensinamentos nasceram músicos como Joaquim França, Nonato Leal, Sebastião Mont’Alverne, Aimorézinho e tantos outros que moldaram a alma sonora do Estado.

Compôs mais de 560 peças. Algumas eram homenagens, como o Dobrado Epifânio Martins, feito para o diretor do colégio, e o Dobrado Os Bonequinhos, inspirado nos uniformes azuis dos alunos, que pareciam pequenas figuras de porcelana andando pelo pátio.

O poeta que semeou versos para o futuro

A letra do hino era de Joaquim Gomes Diniz, amazonense de Coari, nascido em 1893. Diniz chegou ao Amapá em 1929 e deixou marcas profundas como juiz, advogado e poeta. Elegante e culto, era visto por muitos como um verdadeiro gentleman de chapéu, cachimbo e alma literária. Morreu em 1949, mas sua poesia permaneceu, dormindo como semente à espera do tempo certo para florescer. Esse tempo seria quarenta anos depois.

A fita cassete e o desafio final

Nas vésperas da decisão, uma fita cassete surgiu como candidata ao hino, apoiada pela primeira-dama do território, Mariinha Barcellos. A obra era frágil, e o refrão exaltava um “comandante”, clara referência ao governador.

Era preciso agir com delicadeza e estratégia. Em vez de apresentar a Canção do Amapá também em fita, a equipe liderada por Fernando Canto produziu um documentário, editado em Belém, já que Macapá ainda não tinha ilha de edição. O único videocassete da cidade, emprestado do empresário Bira, da Sevel, foi o passaporte tecnológico dessa missão.

No Palácio do Governo, o contraste falou mais alto. Após ouvir a fita concorrente, o governador Aníbal Barcellos assistiu ao vídeo com a Canção do Amapá. Ao final, levantou-se e aplaudiu. Decisão tomada.

Em 23 de abril de 1984, o Decreto nº 008 tornou oficial o Hino do Amapá, com letra de Joaquim Gomes Diniz, melodia do maestro Oscar Santos e a dedicação sensível de Fernando Canto, que acreditava que símbolos também são pontes entre o povo e sua história.

Voz que virou legado

Hoje, a Canção do Amapá ecoa em cerimônias, escolas e praças. Cada vez que suas notas se espalham, parece que uma janela se abre para aquele momento em que o Estado encontrou sua própria identidade sonora.

A crônica original que inspirou esta postagem foi escrita como homenagem, um ano após a partida de Fernando Canto. Poeta, jornalista, músico e guardião da memória coletiva, ele deixou o silêncio apenas para se tornar melodia permanente.

Aqui, onde o rio encontra o céu e a história encontra a canção, seu nome segue navegando. Não só na lembrança, mas na própria alma do Amapá.

Fonte original: texto publicado no Facebook por Walter Jr., Presidente do Instituto Memorial Amapá, em 29/10/2025, em homenagem à Fernando Canto, falecido em 29 de outubro de 2024.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 1: A DOCE LEMBRANÇA DE TIA GUÍTA

Nos últimos anos, a Prefeitura de Macapá vem realizando um importante trabalho de revitalização dos espaços históricos e culturais da cidade. 

Entre as ações mais simbólicas está a recuperação da Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, um lugar que guarda séculos de memória e identidade amapaense. O projeto incluiu a instalação de tótens informativos que homenageiam personalidades que deixaram marcas profundas na formação social e cultural da capital.

Personalidades homenageadas nos totens informativos:

  • Benedicto Antônio Tavares (1868–1941)
  • Francisca Luzia da Silva – Mãe Luzia (1854–1954)
  • Maria Lopes da Silva – Maria Joana (1893–1970)
  • Maria Rosa Tavares de Almeida – Micota (1896–1986)
  • Raimunda Tavares da Silva – Tia Mundica (1925–1996)
  • Maria de Lourdes Serra Penafort (1927–1989)
  • Ursula Evangelista da Costa Cecílio – Tia Ursinha (1915–2005)
  • José Maria Chaves – Zé Maria Sapateiro (1924–2019)
  • Adélia Tavares de Araújo – Tia Guita (1916–1997)
  • Lucimar Araújo Tavares – Tia Luci (1920–2013)
  • Militina Epifania da Silva – Milica
  • Aristarco Figueiredo Brito (1942–)
  • Tereza da Conceição Serra e Silva (1860–1940)
  • Janiva de Menezes Nery – Dona Nini (1924–)
  • Aurilo Borges de Oliveira (1917–1976)
  • José Rosa Tavares (1924–)
  • Francisco Castro Inajosa – Mestre Chico (1911–1945)
  • ⁠Maria Germinina de Mendonça Almeida (1942)
  • ⁠Cacilda da Cruz Pimentel (1910-1974)
  • ⁠José Duarte Azevedo – Zé Mariano (1902-1986)⁠
  • ⁠Professora Zaide Soledade (1934 – 2015)
  • ⁠Antônio Munhoz Lopes (1932 – 2017)

Esses totens, dispostos ao longo da praça, não apenas embelezam o espaço público, mas também resgatam histórias de vida que, por muito tempo, permaneceram guardadas na lembrança oral do povo. É como se o Largo, renovado e pulsante, se transformasse em um verdadeiro museu a céu aberto, onde cada nome, cada rosto e cada palavra nos reconectam com o passado.

É nesse contexto que o Porta-Retrato – Macapá, espaço dedicado à preservação das memórias da cidade, abre hoje suas páginas para recordar uma dessas figuras inesquecíveis: Tia Guíta, mulher de fé, poesia e sabor.

Tia Guíta: Doces Lembranças

Nas margens antigas do rio e nas ruas de chão batido da velha Macapá, vive ainda a lembrança de uma mulher cuja presença iluminava as festas, as cozinhas e as rodas de tradição. 

Adélia Tavares de Araújo, mais conhecida como Tia Guíta (1916–1997), foi uma das figuras mais queridas e emblemáticas da cultura amapaense.

Nascida na Rua da Praia, coração pulsante da antiga cidade, Tia Guíta cresceu em meio ao cheiro do peixe fresco, ao som dos tambores do marabaixo e ao murmúrio do rio Amazonas. Cozinheira de talento e alma generosa, era procurada por muitos que desejavam saborear seus quitutes — e, sobretudo, o inesquecível mingau de mucajá, receita que atravessou o tempo como símbolo de afeto e identidade.

A vida a levou também ao garimpo do Lourenço, onde aprendeu o francês crioulo com trabalhadores vindos de várias partes. Essa habilidade rara lhe abriu portas: as autoridades do antigo Território Federal do Amapá frequentemente a chamavam para traduzir conversas e documentos, reconhecendo nela uma mulher de sabedoria e sensibilidade.

Devota fervorosa de São José, santo padroeiro de Macapá, Tia Guíta não se limitava à cozinha nem ao trabalho. Era também dançarina e poetisa, presença marcante nas rodas de Marabaixo e Batuque, onde o corpo e a palavra se uniam para celebrar a vida, a fé e a ancestralidade negra amapaense. Sua voz, firme e doce, ecoava nas festas como quem reza dançando e dança rezando.

Hoje, o nome de Tia Guíta está gravado na história e no coração de Macapá. Sua memória repousa entre o sagrado e o cotidiano — na fé de São José, no ritmo do tambor, no sabor do mucajá e na poesia simples que nasce das margens do rio. Lembrá-la é honrar todas as mulheres que, com trabalho, arte e devoção, ajudaram a construir a alma dessa cidade amazônica.

Dona Amélia Tavares de Araújo, irmã de Dona Venina Tavares de Araújo, foi esposa do renomado desportista Wenceslau do Espírito Santo, conhecido como o lendário “16”, múltiplo campeão pelo Amapá Clube. Foi mãe de Norberto Tavares de Araújo Neto, que também seguiu os passos do pai, atuando como atacante no Amapá Clube e na Sociedade Esportiva e Recreativa São José.

Fontes: – Totem informativo instalado na Praça do Largo dos Inocentes - Formigueiro, projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de Macapá, 2025.

– Pesquisa e texto original da Professora Mestra Mariana Gonçalves.

– Registro fotográfico de @paulotarsobarros.

Texto integrante do acervo histórico do blog Porta-Retrato – Macapá.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A foto lembrança de hoje foi registrada na Praça da Matriz — atualmente conhecida como Praça Veiga Cabral — há muitos anos, ainda no início do Território Federal do Amapá, embora sem uma data precisa. Ao fundo, destaca-se a esquina entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Cândido Mendes, onde se vê a fachada original do antigo Armazém Macapá, hoje completamente modificada. Nas décadas de 1970 e 1980, esse prédio abrigou a Farmácia Modelo, de propriedade do Sr. Bitencourt.

No imóvel ao fundo, vivia Dona Carmita Machado, enquanto na esquina oposta morava o Sr. Joãozinho Picanço (João Batista de Azevedo Picanço), pai de Heitor, Noca e Naide Picanço.

Imagem crédito: Veneide Chers (modificada por IA)

Via Facebook

terça-feira, 14 de outubro de 2025

MACAPÁ DE MINHAS MEMÓRIAS > DUAS LEMBRANÇAS DE MEU ACERVO

Há momentos que o tempo não apaga — ficam guardados na alma, nítidos como se tivessem acontecido ontem. O Carnaval de 1985 foi um desses capítulos especiais da minha trajetória. 

Naquele ano, o disco de Sambas de Enredo de Macapá foi gravado nos Estúdios Havaí, no Rio de Janeiro, reunindo cantores amapaenses e músicos cariocas sob a direção artística do talentoso Dominguinhos do Estácio.

Tive a honra de integrar a comissão responsável pela produção, atuando como auxiliar de Dominguinhos, que havia sido contratado pela Prefeitura de Macapá para coordenar todo o projeto. Foram dias intensos de aprendizado, convivência e encantamento com o universo da gravação profissional — um verdadeiro mergulho na arte do som.

Na primeira imagem, apareço sentado à mesa de gravação. Nesse momento, ouvíamos as matrizes já gravadas e editadas do disco de Sambas de Enredo de Macapá — a etapa final antes da prensagem. Um instante de escuta atenta, emoção e dever cumprido.

Na segunda imagem, registro outro momento marcante dessa experiência. O técnico de som, com toda a paciência e generosidade, me explicava o funcionamento dos equipamentos de gravação, mixagem e edição das músicas. Foi um aprendizado valioso, que levo comigo até hoje, não apenas pelo conhecimento técnico, mas pela beleza do encontro humano e pela partilha de saberes.

Essas duas imagens, guardadas com carinho no meu acervo de memórias, me transportam de volta àquele estúdio, ao som das fitas girando e às vozes que ecoavam com tanta emoção. Foram dias que moldaram não apenas um disco, mas também parte da minha história e do amor que carrego pela música e pela cultura do Amapá.

Imagens: Arquivo Pessoal de João Lázaro

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

MEMÓRIA DO FUTEBOL AMAPAENSE > RARIDADE HISTÓRICA: UMA DAS PRIMEIRAS FORMAÇÕES DO ESPORTE CLUBE MACAPÁ

O Porta-Retrato tem o prazer de compartilhar com seus leitores uma relíquia do futebol amapaense: uma raríssima fotografia de uma das primeiras formações do Esporte Clube Macapá, o mais antigo clube em atividade no Amapá e um dos mais tradicionais da região Norte.

Imagem: Recorte de jornal (Reprodução)

Na imagem acima, vemos a representação do E.C. Macapá alinhada para uma partida histórica. A legenda original identifica, da esquerda para a direita, os seguintes integrantes:

Alcolumbre (técnico), Souza, Edílson, Herundino, Zolirio, Louro, Pintor, Zeca Banhos, Brito, Nonato, Ubiracy Picanço e Walter Nery.

Breve História do Esporte Clube Macapá

Fundado em 18 de julho de 1944, o Esporte Clube Macapá nasceu no coração da então pequena cidade de Macapá, ainda no período do Território Federal do Amapá, quando o futebol local começava a se organizar.

Formado por jovens entusiastas e desportistas apaixonados, o time vestia as cores azul e branca, que rapidamente se tornaram símbolo de orgulho e identidade.

Com o passar dos anos, o Macapá se consolidou como um dos clubes mais respeitados da região, participando ativamente do crescimento do esporte amapaense e protagonizando partidas memoráveis contra seus grandes rivais.

Linha do Tempo do Esporte Clube Macapá

📍 1944 – Fundação oficial do clube, que passa a disputar partidas amistosas e torneios amadores.

📍 1945–1950 – O Macapá se destaca nos primeiros campeonatos locais, tornando-se referência técnica no futebol do Território do Amapá.

📍 1952 – Conquista o primeiro título do Campeonato Amapaense, entrando para a história como um dos pioneiros do futebol local.

📍 Década de 1960 – Início da lendária rivalidade com o Trem Desportivo Clube, dando origem ao clássico mais tradicional do estado: o Clássico do Pão com Ovo.

📍 1970–1980 – Consolidação como potência estadual, revelando craques e ampliando sua torcida.

📍 1990–2000 – O clube mantém viva sua tradição, investindo em novas gerações e fortalecendo as categorias de base.

📍 2010 em diante – O Macapá segue como símbolo de resistência e memória esportiva, representando a paixão do povo amapaense pelo futebol.

O Orgulho Azul da Cidade

Mais do que um clube, o E.C. Macapá representa uma história viva do povo amapaense — uma história de superação, de amor ao esporte e de identidade cultural.

Cada uniforme azul que entrou em campo ajudou a construir um capítulo dessa trajetória que mistura emoção, rivalidade e paixão pela bola.

Fonte: Acervo histórico compartilhado por Sabá Ataíde, colaborador do Porta-Retrato.

Imagem: Uma das primeiras formações do Esporte Clube Macapá (Recorte de Jornal)

Década estimada: anos 1940/1950.

domingo, 5 de outubro de 2025

MEMÓRIAS DE SANTANA > LEMBRANÇA DA ÁREA PORTUÁRIA

A lembrança de hoje é um registro especial do acervo do amigo Floriano Lima: uma imagem rara da Área Portuária de Santana, capturada entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1970. Esta fotografia retrata um momento marcante na história da ICOMI no Amapá, fortalecendo a memória do desenvolvimento industrial e portuário da região.

Fonte:Facebook

sábado, 4 de outubro de 2025

MEMÓRIAS DE MACAPÁ > LEMBRANÇAS DO 7 DE SETEMBRO

Outra grata recordação das comemorações de 7 de setembro vem do amigo José Jair de Souza. 

Foto: Reprodução Facebook

A imagem o mostra em 1963, durante o desfile do Tiro de Guerra 130, na Avenida FAB, em Macapá, exercendo com orgulho a função de Guarda de Honra à Bandeira Nacional.

Um registro que eterniza não apenas o momento cívico, mas também o espírito patriótico e o valor da juventude de uma época.

Fonte: Facebook 

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

MEMÓRIAS DE MACAPÁ > LEMBRANÇAS DE LEÃO ZAGURY

Leão Zagury completou 82 anos no dia 23 de setembro de 2025. Embora não tenha nascido no Amapá, sua forte ligação familiar e influência na região lhe renderam o título honorífico de Cidadão Macapaense, concedido pela Câmara de Vereadores da capital do estado.

E, nesse clima de celebração, ele nos traz uma lembrança dos anos 1950: ele, garoto de 13 ou 14 anos, em 1956 ou 1957, com sua bicicleta BSA ornamentada para desfilar todo orgulhoso no 7 de setembro na Av. FAB.

O primeiro registro foi feito na Avenida Presidente Vargas, em Macapá. Na residência ao fundo vivia a família do Dr. Raphael Moura de Paula Ribeiro, agrônomo que integrou a equipe do Território Federal do Amapá e foi Chefe da Divisão de Produção na gestão do Coronel Janary Gentil Nunes.

Esta segunda foto, datada de 1958, foi registrada na Praça Barão do Rio Branco e ao fundo observa-se a obra do prédio do Banco do Brasil, em construção, localizado na esquina da Av. Coriolano Jucá com a Rua Cândido Mendes, fundos com a antigo Fórum dos Leões.

É aquele tipo de memória que carrega o cheiro da infância, a simplicidade de uma época e a alegria genuína de ser jovem no Amapá. O tempo passou, mas Leão, mesmo longe, nunca perdeu esse elo com suas raízes, nem com a história de sua família por lá. É bonito ver como essas lembranças nos mostram a importância de valorizar o que a gente viveu.

Fonte: Facebook

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

MEMÓRIAS DE MACAPÁ > LEMBRANÇAS DE QUATRO JOVENS AMIGAS

Na foto de hoje, gentilmente compartilhada nas redes sociais pela amiga Tânia Regina Monteiro Batista, retornamos a um tempo de boas lembranças em Macapá. São imagens de quatro amigas reunidas sobre as pedras banhadas pelo imponente Rio Amazonas, na antiga prainha que ficava atrás da Fortaleza de São José de Macapá — um espaço que marcou gerações e que hoje já não existe.

Foto:Reprodução Facebook

Da esquerda para a direita, vemos Solange Sussuarana, Heiliana Picanço e Cristina, em segundo plano, enquanto em primeiro plano está a própria Tânia.

Um registro que desperta memórias e celebra amizades que resistem ao tempo.

Créditos foto: Tânia Regina Monteiro Batista

Fonte: Facebook

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA > ADOLESCENTES DO BAIRRO DO TREM

Cinco rapazes que cresceram nos arredores da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Trem, onde nasceram a JOT e o Ypiranga Clube.

Eram peladeiros de pés descalços, moleques que fizeram história nas brincadeiras e partidas de futebol improvisadas na Praça da Conceição. Ali, além das jogadas cheias de entusiasmo juvenil, ganhava destaque a criatividade das narrativas de Manoel Ferreira, o inesquecível “Biroba”.

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Na fotografia do “Fundo do Baú”, compartilhada nas Redes Sociais pelo amigo João Silva, estão: em pé, da esquerda para a direita, Valdemar Vilhena (o Vavá), Célio Nobre e Zé Assis; agachados, Orlandino Gadelha e Osvaldo.

Uma lembrança simples, mas carregada de afeto e da força da memória coletiva.

Créditos foto: João Silva

Fonte: Facebook

domingo, 21 de setembro de 2025

MEMÓRIA DE NOSSA CIDADE: ANTIGA BAIXADA ALAGADA DE MACAPÁ

A fotografia publicada hoje no Porta-Retrato nos devolve um pedaço precioso da história de Macapá, e revela uma vasta área verde e alagada, situada na continuação da Avenida Feliciano Coelho, no ponto em que se encontra com a Rua Tiradentes, no bairro do Trem.

O registro chegou até nós pelas mãos do amigo José Jair, filho do senhor Aprígio Marinho de Souza, barbeiro do histórico Macapá-Hotel

Reproduzida do Facebook - Colotizada por IA

A imagem, feita entre 1959 e 1960, captada dos altos da conhecida curva da Santa Maria, retrata um tempo em que a área permanecia alagada, de terrenos encharcados e poucas casas, onde famílias simples viviam em estreita adaptação às condições do lugar. Mais do que um registro fotográfico, ela guarda a memória de um espaço em transformação, revelando a força cotidiana de quem construiu sua história em meio às adversidades do ambiente.

Antes de ser aterrada, essa região era chamada informalmente de Baixada do Adonias. Ao fundo é vista a´área o Remanso. Com o tempo, foi incorporada ao bairro Santa Inês, acompanhando o ritmo de transformação e crescimento da cidade.

Moradores antigos lembram ainda que o lugar recebeu outros nomes, como Baixada da Crisonta e Baixada do Jagunço, apelidos que guardam a memória das famílias que ali viveram e deixaram suas marcas.

Em primeiro plano, surge a casa de Dona Quiquita, mãe de José Penha — o inesquecível Zé Crioulo, músico de talento ímpar, cuja memória ainda ecoa na cultura amapaense.

Com o passar das décadas, a paisagem mudou por completo. Onde havia água e lama, vieram o aterro, o saneamento e, por fim, a urbanização. O espaço transformou-se, mas deixou para trás lembranças que hoje sobrevivem apenas em registros como este.

Agradecemos de forma especial à Familia Marinho de Souza, pelo compartilhamento dessa fotografia de arquivo. Com autorização de José Jair e, com o auxílio de recursos de inteligência artificial, as pessoas que apareciam na cena foram removidas, preservando apenas o cenário de fundo — gesto que reforça o valor histórico do registro ao destacar a memória da área retratada.

Mais do que uma fotografia, trata-se de um testemunho da memória coletiva. Uma ponte entre lugares, pessoas e histórias, que preserva as raízes da capital e nos ajuda a compreender o quanto Macapá mudou ao longo de sua trajetória.

Créditos foto: Família Marinho de Souza

MEMÓRIAS DO LARGO DOS INOCENTES - FORMIGUEIRO – PARTE 10 – AURINO BORGES DE OLIVEIRA – O ADMINISTRADOR, O VISIONÁRIO E A HERANÇA HISTÓRICA

  Continuando nossa série de homenagens aos pioneiros do Largo dos Inocentes , vamos conhecer hoje a história de Aurino Borges de Oliveira ...