quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ESPECIAL: Dona Eulice de Souza Smith - "Pioneiríssima"

101 anos de integração
A vida dedicada à educação

Mais parece uma mocinha esperando a hora do passeio. Impecável o dia inteiro. Hora lendo, outras vezes conversando e às vezes lembrando as fases desses 101 anos de vida a serviço do outro. Fala mansa e vista aguçada, às vezes é traída pelo ouvido. Mas a lucidez é algo impressionante para uma centenária, às vésperas de inteirar 102 anos. Caminha sem ajuda e sabe exatamente o que vem fazer, sem perder a hora nem a noção do tempo.
* Édi Prado
Anciã, é a vovozinha - Ninguém desavisado consegue ‘adivinhar’ a idade dela. No máximo arriscam uns 70 anos. Eulice de Souza Smith nasceu no dia 02 de março de 1911, na cidade de Bragança (PA), na fazenda Fortaleza, que pertencia ao pai dela, Jorge Inácio de Souza e da mãe, Joana Ferreira de Souza. A educação dela foi rigorosa. Estudou na Escola Santa Catarina, um colégio interno de Belém, dos sete aos 18 anos. Foi neste período que ela formou o caráter, cultivou a religião e base moral, ética e espiritual.
Exercitar a mente sempre - Ela teve a vida dedicada à leitura, poesia, música e ao estudo gramatical. Ainda hoje, por questão de hábito, lê em torno de 8 a 10 h por dia. Religiosa e católica praticante, não só dos rituais litúrgicos, quanto da vida de doação e amor ao próximo, atributos desenvolvidos junto com o marido.
Homem bomD. Eulice Smith fala do marido Ricardo Smith, com muito carinho. Mesmo sendo militar e severo, tinha um coração maior que os quase dois metros de altura, narra D. Eulice Smith. “Ele trazia os moleques e mendigos para comer em casa, na Rua São José, 1124, no centro, onde moro até hoje. Mandava tomar banho e arranjava roupas. Ele teve mais de 500 afilhados, tanto em Macapá quanto nos interiores, onde trabalhou”,relembra.
Coordena as ações - Não mais com o mesmo vigor de outrora, ainda participa dos trabalhos e atividades paroquiais. Era ela, junto com o marido, que conduzia os rumos da educação dos filhos. Era matriarcal quando o marido agia como a disciplina e o rigor militar. Foi para Macapá acompanhada do marido em 1944, quando ele foi convidado a compor o quadro de pessoal do governador Janary Gentil Nunes, o 1º do então Território Federal do Amapá.
Missão sem trégua - Quando enviuvou continuou sozinha na missão de educar os filhos, netos e bisnetos. É também a mãezona dos filhos, genros, amigos e das comunidades onde participa das ações. Os cabelos brancos espelham a beleza de uma mulher que aprendeu a viver e a cultivar o amor e mantém-se vaidosa porque aprendeu a se amar. “Ninguém consegue amar o outro se não se ama”, ensina.
Os filhos - Ela e Ricardo Cardoso Smith tiveram cinco filhos: Maria Regina, Maria Ivone, Maria das Graças, Raimundo de Souza Smith e Ricardo Cardoso Smith Filho. Tem 14 netos, 15 bisnetos. É a matriarca da família Souza Smith. Temperamento dócil. Aparentemente frágil, mas forte e altiva quando necessário.
Perfil biográfico - Atuou como professora do então ensino primário, técnica em contabilidade e taquígrafa. Amiga da professora Predicanda Amorim Lopes, Dayse Nascimento e do marido dela, professor Clodoaldo, Nanci Nina da Costa, Deuzuite Sá Farias, Ernestina Neves Sozinho, José Barroso Tostes, Gabriel de Almeida Café e tantos outros pioneiros da educação no Amapá. Nesta época, relembra, não havia energia elétrica com regularidade e os professores levavam trabalho para casa e tinham que trabalhar a luz de vela ou lamparina e não havia transporte.“Tínhamos que andar a pé sob o sol escaldante ou de bicicleta” narra.
Pioneiríssima - Teve atuação marcante como a 1ª secretária da extinta Escola Normal, depois Instituto de Educação do Amapá (IETA) e da também da extinta Escola Industrial de Macapá, depois Ginásio de Macapá (GM) e atual Escola Antônio Cordeiro Pontes. Pela competência, organização, disciplina e dedicação, foi guindada a gerenciar a Secretaria de Educação do então Território Federal do Amapá, uma espécie de coringa administrativa.
Inaugurou escolas - Quando o marido, Ricardo Smith, militar do Exército foi comandar a guarnição de Clevelândia do Norte, ela teve que ir junto para também ser professora naquela localidade. “Trabalhei muito. Tempos difíceis. Mas nunca desisti de meu trabalho e jamais perdi a esperança no ser humano. E em nenhum momento deixei de agradecer a Deus por tudo que Ele vem me proporcionando”, diz com tanta convicção como que revelando os segredos da longevidade e felicidade.
Atualização: Dona Eulice faleceu dia 4 de junho de 2020, em Macapá.
(*) jornalista - Via e-mail
 Matéria publicada, originalmente, em março de 2012 na Revista Olhar Amazônico.
 Foto: Reprodução

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