segunda-feira, 16 de junho de 2025

MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA – UM EPISÓDIO REAL DA NOSSA MEMÓRIA URBANA

As cidades guardam histórias que muitas vezes passam despercebidas no corre-corre do presente. Mas, quando olhamos com atenção para as ruas, os prédios, os pontos de encontro e até para os silêncios das esquinas, encontramos fragmentos de uma memória viva — que ainda pulsa, mesmo quando esquecida.

Na publicação de hoje do Porta-Retrato-Macapá, convidamos você a revisitar um episódio marcante da nossa memória urbana. Um fato histórico real, vivido por quem fez parte do cotidiano da cidade e que ajuda a entender quem somos, como evoluímos e o que ainda carregamos das experiências coletivas que moldaram Macapá.

Preservar a memória não é apenas olhar para trás: é iluminar o caminho que seguimos adiante.

Macapá, 1951: O cruzamento que virou caso de polícia

No início da década de 1950, Macapá vivia um período de transição urbana e social. 

Hoje Mendonça Furtado com Rua Tiradentes, atrás da igreja matriz.

O desenvolvimento começava a tomar forma com a abertura de avenidas mais largas, como a Mendonça Furtado, ao passo que ruas antigas, como a Travessa Coronel José Serafim, ainda guardavam o traçado estreito da cidade colonial. Nesse contexto de adaptação entre o antigo e o moderno, registrou-se um dos primeiros acidentes automobilísticos oficiais no centro da cidade.

imagem gerada por ia

O fato ocorreu na manhã do dia 7 de outubro de 1951. Domingo. Envolveu um caminhão da casa comercial Leão do Norte, conduzido por Moisés Zagury, e a caçamba nº 60 da Garagem Territorial, dirigida por Sebastião Silva. O acidente aconteceu próximo à igreja matriz de São José, em um cruzamento central da cidade.

Segundo o relato de Moisés Zagury, ele trafegava pela Avenida Mendonça Furtado a uma velocidade de aproximadamente 25km/h quando foi surpreendido pela caçamba que, segundo ele, entrou na contramão pela Travessa Coronel José Serafim, sem sinais sonoros ou uso de freios. O passageiro do caminhão, Casimiro Dias, confirmou que não se ouviu nenhuma buzina e que o uso dos freios pela caçamba poderia ter evitado o impacto.

Sebastião Silva, por sua vez, alegou estar trafegando a apenas 10km/h e ter buzinado diversas vezes antes de realizar a curva. Seu passageiro, Raimundo Rodrigues, confirmou a versão, acrescentando que a buzina foi usada inclusive para espantar um cachorro que estava na via.

A perícia constatou falhas técnicas em ambos os veículos: a buzina do caminhão apresentava defeito e os freios da caçamba estavam comprometidos. O laudo concluiu pela imprudência de ambos os condutores. O delegado ressaltou que, à época, não havia sinalização de mão única nas vias envolvidas, o que exigia redobrada atenção dos motoristas.

O inquérito policial foi arquivado após parecer do promotor interino, que reconheceu a ausência de dolo na conduta dos envolvidos. Cada motorista arcou com seus prejuízos, e o caso foi encerrado.

Este episódio histórico revela não apenas os desafios da condução no trânsito em uma cidade em transformação, mas também o registro vivo de um tempo em que Macapá começava a caminhar para a modernidade.

Hoje, essa história é mais do que um boletim de ocorrência antigo. É um retrato da cidade em transformação — entre o passado pacato e o futuro urbano.

Nota do Editor: Pesquisa e texto original de Michel Duarte Ferraz, museólogo do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), especialmente adaptados ao blog Porta-Retrato-Macapá, com a devida anuência do autor.

Fonte: Arquivo Geral do TJAP 

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