quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Memória de Macapá: Tambores de Asfalto em Chamas

Por Nilson Montoril


“No início do ano de 1960, o governo territorial adquiriu um lote de tambores de piche destinado ao asfaltamento das principais vias públicas de Macapá. O capeamento de ruas e avenidas utilizaria o processo alto-selante, que, em 1963, a Indústria e Comércio de Minérios S.A. tinha realizado nas travessas da Vila Amazonas, Vila da Serra do Navio e do Escritório Central. O processo consistia em jogar o piche sobre a terra, cobrindo-o com areia. Isso exigia um bom tempo para que o piche absorvesse a areia e a mistura secasse.





O período invernoso não era propicio para um trabalho dessa natureza, por isso, os tambores foram colocados atrás da Fortaleza de São José, próximo ao baluarte de Nossa Senhora da Conceição.
O tempo passou, o mato cresceu em volta dos tambores e a estiagem presente a partir de setembro provocou o vazamento do material de fácil combustão. Na noite de 24 de setembro de 1960, um incêndio de graves proporções irrompeu no local. A sirene da Usina de Força e Luz, situada na Av. General Gurjão foi ligada e o povo ganhou as ruas. O fogo, certamente ateado no capinzal por algum sujeito de má índole atingiu o piche derramado no solo e se expandiu.
Os tambores fechados eram arremessados ao ar com sucessivas explosões. A situação só começou a ser controlada, quando o Corpo de Voluntários de Defesa de Incêndios, conhecido como CVDCI, pertencente à ICOMI chegou ao local do sinistro. 








A unidade de Santana utilizou um caminhão-bomba com capacidade para quatro mil litros d’água, extintores de carga especial e outros dispositivos inexistentes em Macapá. Os bombeiros voluntários da ICOMI integravam duas unidades, em Santana e Serra do Navio, cada uma delas com 42 homens, todos funcionários da empresa mineradora. Bem treinados e agindo com muita cautela, não demoraram a eliminar o fogo. 




Mereceu reconhecimento especial da ICOMI o funcionário Hilkias Alves de Araújo (foto menor em traje escoteiro), chapa 5499, que, usando roupa adequada subiu nos tambores ainda livres das chamas, para despejar água no interior deles. Sem os vedadores das tampas, e, consequentemente, sem gás represado, o piche não iria explodir. Em maior número, os demais membros da CVDCI faziam jorrar muita água sobre os tambores incandescentes.
A cidade de Macapá, que passou maus momentos com pavorosos incêndios, em 1960 ainda não tinha um grupamento de bombeiros regulamentado e aparelhado. Com muita limitação, a Guarda Territorial se virava para apagá-los.”





Artigo assinado pelo historiador Nilson Montoril, publicado - originalmente -  na íntegra na edição do dia 13/01/2017, do jornal Diário do Amapá.
Fonte: Diário do Amapá

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Os 94 anos da Pioneira DINETE FERREIRA BOTELHO

Foto: Acervo pessoal
Em 1924 - há exatos 94 anos - num domingo, 03 de fevereiro, em Belém-PA, nascia a filha de Manoel Edmundo Ferreira Botelho (agrimensor e matemático, Coronel da Guarda Nacional, terceiro intendente de Marapanim, desde 1916, por 15 anos) com Francisca Albertina Oeiras Botelho, que na pia batismal receberia o nome de Dinete Oeiras Botelho. A menina Dinete, veio ao mundo 19 anos, antes da criação do Território Federal do Amapá, onde moraria e viveria, por muitos anos, depois. É a mais nova de oito filhas e um filho: Diniz, Raimunda, Laura, Ilbertina, Ruth, Romana, Cristina, Dóris e Dinete (não necessariamente nessa ordem). Dinete viveu sua infância na pacata cidade de Marapanim, no interior do Estado do Pará. Foi criada e formada seguindo preceitos e valores de uma família ilustre e política.
Iniciou o curso primário em Marapanim e o secundário (atual segundo grau) em Belém, a mando do seu tio, o jornalista Paulo Maranhão, então proprietário do mais expressivo jornal de Belém: a “FOLHA DO NORTE”.  Estudou o secundário no Colégio Benjamin Constant, próximo à residência dela em Belém: Travessa Rui Barbosa esquina com a Rua Tiradentes. Do Colégio Benjamin Constant, Dinete foi para o Colégio Pedro II onde fez o curso de "normalista". 
Fez, também, enfermagem pela CRUZ VERMELHA BRASILEIRA, Filial do Pará, e concluiu o Curso de Enfermeiras Samaritanas em 1941.
Sua ida para o então recém-criado Território Federal do Amapá, deu-se por incentivo da irmã, Cristina, que já se encontrava em Macapá desde 12 de maio de 1945, que antevia oportunidade de emprego para Dinete, o que aconteceu pouco tempo depois, a convite do primeiro governador do Amapá o Capitão Janary Gentil Nunes, que era vizinho da família em Belém. 
Logo que chegou à Macapá, em 1946, já por conta do governo, Dinete se hospedou na casa das Professoras, onde já morava a professora Cristina. Não quis ficar na casa das Enfermeiras. Dinete foi inicialmente admitida na função de enfermeira diarista no HGM (Hospital Geral de Macapá) entre 01-01-45 a 21-12-51 e só depois, passou a atuar como professora.
Na capital amapaense casou-se com o professor Diniz Henrique Ferreira Botelho (in memoriam), em 20 de dezembro de 1947, quando passou a chamar-se Dinete Ferreira Botelho. Dessa união duradoura nasceram os filhos Manoel Edmundo (Arquiteto, AP), Francisca Denize (Profª. da UFPa), Sandra Regina (Profª  da UFPa), Diniz Filho (Desenhista, criador do logotipo da extinta Teleamapá e dos primeiros projetos de bandeira e escudo do Amapá) e Mário Rubens (Médico, SP). 
O professor Diniz, também já estava em Macapá quando Dinete chegou; já namoravam desde Belém e eram primos.
Dinete ingressou, inicialmente, na Escola Normal de Macapá, no cargo de Professora de Ofícios, onde ficou até 01 de abril de 1980. Na Escola Normal - que se transformou no Instituto de Educação do Amapá, em 1964 - a Profª. Dinete fez o curso de Educação para o Lar, entre outros. 
Teve atuação destacada na ExpoMEC (Exposição Nacional de Educação e Cultura, montada na Praça Veiga Cabral, em 1974, ao lado de muitas outras pioneiras do magistério amapaense. Em Macapá, fez inúmeros outros cursos, na antiga Escola Doméstica de Macapá (hoje Irmã Santina Rioli) entre eles o de Corte e Costura, de 1953 a 1954; de Trabalhos Manuais entre 01 a 21-jun-61, bordados com linhas. 
Em 1963 entre 10 professoras, foi a primeira a ser designada ao SESI, seleção feita no Rio de Janeiro. O Governador Janary Nunes a cedeu ao SESI pela exercer atividades pela parte da manhã, admitida pela instituição como Orientadora em Atividades Sociais, sendo incluída no Quadro Único de Servidores da Delegacia Regional de Macapá - AP a partir de 01.04.63.  No SESI, fez outros cursos de capacitação: Noções de Nutrição, bolos, confeitaria, cozinha e tecidos, em 1967 e Relações Humanas na Família, em 1968. Concluiu o Curso de Artesanato para o Lar VIGORELLI em 1977, na cidade de S. Paulo. Sua aposentadoria aconteceu em agosto de 1981, no cargo de Professora de 1º e 2º graus, do Quadro Permanente do ex-Território Federal do Amapá.
Foto: Diniz Filho
A Pioneira DINETE FERREIRA BOTELHO residiu em Macapá à Av. Mendonça Furtado, 313, Centro, e ao se aposentar foi para Belém do Pará, onde mora com a filha Denize. 
Lúcida, e com uma memória privilegiada, professora Dinete completou em 03 de fevereiro, 94 anos bem vividos, embora, com a visão limitada e sérios problemas de locomoção.
Professora Dinete Botelho, faleceu às 05:00h da terça-feira, 01/05/2018, no Hospital Saúde da Mulher, em Belém do Pará.
Dia 29 de março ela sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e foi logo internada. Ficou 15 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e depois passou para o apartamento.
Ela sofreu dois AVCS, isquêmico e hemorrágico e a causa da morte foi falência múltipla de órgãos.
Texto e Informações de Diniz Botelho (um dos filhos da biografada), adaptado para o  blog.
(Última atualização às 11h50)

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