(Foto: Reprodução de livro)
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Sra. Alegria Peres Alcolumbre - uma Pioneira do Amapá.
Entre 1870 e 1910, como a Amazônia vivia um período de grande prosperidade e importância para a economia do país devido à exploração da borracha, era natural que muitas famílias, não só de judeus, mas das mais diversas origens, optassem por fixarem-se naquela região, visto que as perspectivas eram bastante promissoras. Presume-se que nessa época devem ter desembarcado em Belém muitos dos judeus que, posteriormente, foram para Macapá e Mazagão e cujos filhos iriam constituir negócios e famílias no Amapá.
Dentre essas famílias estavam as dos jovens Salomão Peres e Syme Gabbay, oriundas de Tânger, cidade e porto do Marrocos no estreito de Gibraltar. Salomão Peres iniciou a vida no Amapá como carroceiro e, por não ser alfabetizado, mas por ter grande força de vontade, andava com uma cartilha e uma tabuada por onde ia, muitas vezes tirando suas dúvidas com os transeuntes no caminho.
Com tanta perseverança conseguiu montar posteriormente uma sortida loja de secos e molhados no lugar denominado Padre Inácio entre os rios Vila Nova e Matapi em 1929.
Salomão Peres e Syme Gabbay Peres vieram a ter 9 filhos, dentre eles, Alegria Gabbay Peres, posteriormente Alegria Peres Alcolumbre, nascida em 03/01/1916, sendo a 6ª filha do casal. Seus irmãos eram: Júlia, Hanna, Fortunato, Fortunata, Abraham, Isaac, Messody e Esther.
Em 1940 desembarcava em Macapá o jovem Isaac Menahem Alcolumbre, também judeu, vindo de Belém, filho de Alberto e Sarah Alcolumbre. Ele chegou depois de ter residido em 1939, em Porto Velho, onde atuara no Serviço de Saúde Pública – SESP como -- mata-mosquito -- na luta pela erradicação da malária.
Isaac fora para Macapá para contrair núpcias com a jovem Alegria Gabbay Peres, casamento este realizado no Fórum da Comarca que então funcionava no prédio da Intendência Municipal. Seus padrinhos foram José Valente, comerciante no rio Vila Nova e Caetana Peres, cunhada de dona Alegria e esposa de Abraham Peres.
Quando dona Alegria casou, seu pai já havia falecido em Belém, em 19/12/1939. As atividades comerciais da família estavam então sob a responsabilidde de dona Syme, mãe de dona Alegria.
Após o casamento civil, Isaac Alcolumbre passou à condição de sócio da sogra na firma -- Syme e Alcolumbre, cabendo-lhe a função de gerente. Comunicativo, voluntarioso e trabalhador, Alcolumbre ganhou a amizade do povo macapaense. Foi o primeiro comerciante da cidade a sair do simples sistema de trocas – usual naquela região. Comprava borracha, farinha, peixe e carne de caça salgados, peles de animais silvestres, ouro e qualquer outro produto que ele achasse viável comercialmente. Quando foi criado o Território do Amapá, em 13/04/1943, os negócios da Casa Fé em Deus prosperaram bastante, e Isaac Alcolumbre passou a ser conhecido como ―Rei do Ouro. Dona Alegria, sempre companheira e batalhadora, assumindo a gerência da loja na ausência do marido.
Em 1946 a sociedade entre Isaac Alcolumbre e Syme Gabbay Peres foi desfeita, e dona Syme permaneceu em Macapá, residindo em um casarão que ocupava praticamente todo o quarteirão na Rua Cândido Mendes, entre as Ruas General Gurjão e Cora de Carvalho até seu falecimento, em 22/07/1965.
Seus restos mortais repousam no sepulcrário israelita, área direita do cemitério Nossa Senhora da Conceição, junto a alguns de seus filhos e contemporâneos da imigração do Marrocos, em Macapá.
A Casa Fé em Deus funcionou inicialmente na então Travessa Barão do Rio Branco (depois Cândido Mendes de Almeida), à esquerda de quem a trilhava no sentido da doca da Fortaleza. A rua era estreita e tortuosa, e, no centro dela, em uma velha casa de madeira, funcionava o comércio e padaria de Isaac Peres, irmão de dona Alegria. Em 1959, quando a rua foi ampliada, a velha casa desapareceu. Por trás dela havia sido construído o prédio de número 1206, que passou a servir de comércio e residência para a família Alcolumbre.
No lugar da antiga Casa Fé em Deus hoje funciona a Loja Pierre Importados.
A união de Isaac e Alegria Alcolumbre durou 30 anos, só terminando com o falecimento de Isaac, em Belém, em 11/07/1971, em decorrência de complicações após uma cirurgia.
Do próspero casamento nasceram 11 filhos: Sarah Alcolumbre Tobelem, Alberto Alcolumbre, Ana Alcolumbre Moura, Salomão Alcolumbre, Menahem Alcolumbre, Nissim Alcolumbre, José Alcolumbre, Sime Alcolumbre Pinto, Júlia Peres Alcolumbre, Sônia Alcolumbre de Albuquerque e Pierre Alcolumbre.
Dados biográficos pesquisados pelo historiador e professor Nilson Montoril de Araújo, cedidos à Sra. Julia Alcolumbre para serem publicados no 3° volume de Personagens Ilustres do Amapá, livro de Coaracy Barbosa, edição não impressa. A foto também foi reproduzida do livro.