Um visionário chamado Phelippe Daou
Por Emanoel Jordânio (*)
No dia 10 de setembro de 1974, o jornalista Phelippe Daou
desembarcou pela 1ª vez em Macapá, depois de tomar conhecimento de que o
governo amapaense buscava uma forma de colocar uma emissora de TV para
funcionar no então Território Federal do Amapá.
Naquele ano o governador do Amapá Arthur Henning experimentou
a ideia de desenvolvimento de um canal de TV na região a partir da transmissão
dos jogos da Copa do Mundo de 1974. Uma novidade agradou os amapaenses na
época, tanto que uma loja chegou a vender cerca de 100 aparelhos de TV em
apenas um dia.
Mas, passados os 30 dias da transmissão da Copa do Mundo,
houve uma pergunta pública a ser respondida: o que fazer agora com os
equipamentos transmissores de TV?
Como a licença para o funcionamento de uma estação de TV no
Amapá tinha um prazo provisório (de apenas 45 dias), Henning correu contra o
tempo para buscar uma alternativa de aproveitar os equipamentos adquiridos pelo
governo amapaense, já que um dos maiores interesses era atender o desejo e a
ansiedade do povo local que prestigiou com gratidão os dias emotivos de
transmissão da TV na capital amapaense.
Sabendo desses propósitos de cativar a população com a
continuidade dessa ideia, que o jornalista Daou viu a publicação de um Edital
de Serviço emitido no Diário Oficial da União no início do mês de setembro de
1974 e logo marcou um encontro direto com o governador amapaense.
No mesmo dia que desceu em Macapá, foi convidado para um
jantar receptivo na Residência Governamental, onde tratou sobre seu interesse
de assumir os equipamentos de TV obtidos pelo Governo do Amapá e trabalhar o
quanto antes na reativação do canal de TV para a população. Daou até propôs
expandir a transmissão, saindo dos limites da capital para os municipais e
localidades adjacentes, deixando o governador Henning bastante curioso com a
ousadia do jornalista.
“Mas isso é praticamente impossível, nós nos esforçamos para passar de
20km de distância nas transmissões dos jogos da Copa”, disse o
governador Henning, que logo foi surpreendido pela resposta rebatedora do jornalista
amazonense.
“Para vocês isso foi impossível, por não terem acreditado, mas para quem
quer ver uma Amazônia mais conhecida e respeitada, a vontade de expandir a
informação e o conhecimento pode chegar muito mais longe”, disse Daou
ao governador Henning.
O otimismo e a capacidade de trabalhar por um Norte
Brasileiro mais desenvolvido e harmonioso foram uma das grandes motivações que
o jornalista Phelippe Daou sempre carregou por onde quer que fosse.
Tanto que a pequena estação de TV que ele implantou em Macapá
se tornou, não apenas a pioneira no Amapá, como também a primeira a
estadualizar o sinal de TV para os 16 municípios existentes nesse Estado e a 1ª
com sinal em HD.
A sua determinação foi tanta que o saudoso colega de
profissão, o jornalista carioca Roberto Marinho, fundador das Organizações
Globo, reconheceu em uma entrevista para os arquivos Memorial da Televisão
Brasileira (em 1995) o trabalho empenhado por Phelippe Daou para a região
amazônica.
“Depois que criei a TV Globo em 1965, recebi várias sugestões para abrir
filiais e repetidoras do canal por todo o Brasil, mas bem poucos se
interessavam de levar o sinal da Globo para o Norte, tanto que o 1º Estado
dessa região que acreditou em assumir o sinal da Globo foi o Pará (isso somente
em 1978), por que eu achava que os demais Estados da Região Norte ainda não
teriam condições financeiras de manter um canal de TV. Estava totalmente
errado, tanto que Phelippe Daou me visitou (por volta de 1980) apresentando uma
proposta de expandirmos essa ideia de transmitirmos o sinal da TV quando todos
os Estados já tinham suas estações de TV há mais de uma década”,
relatou Roberto Marinho.
Ou seja, o maior empresário do ramo das comunicações da
América Latina achava que causaria um “choque cultural” se implantasse um canal
de TV na Região Norte, enquanto que um colega de profissão já vinha
desenvolvendo a ideia há quase 10 anos antes dele.
Um verdadeiro visionário. Uma prova clara de que nós,
caboclos da Amazônia, somos apressados, somos seres determinados, somos
teimosos nos objetivos que queremos alcançar.
Assim como sempre foi Phelippe Daou, um homem pacato, mas
estratégico, articulador e ousado. Um ser humano que não apenas acompanhou o
surgimento da TV no Norte do Brasil, mas também contribuiu na sua implantação,
construindo uma família que encaixou dentro uma das maiores florestas tropicais
mais preservadas do mundo, assim chamada “Rede Amazônica de Rádio e Televisão”.
Da 1ª visita ao Amapá ao último aparecimento em público –
ocorrido há pouco mais de dois meses, em Manaus (AM), Phelippe Daou deixou para
as atuais e futuras gerações um exemplo firme de homem que pode desbravar novos
horizontes, independente das barreiras que podem aparecer e lutar por um mundo
melhor.
Muito obrigado, ao cidadão que acreditou e construiu um sonho
chamado Rede Amazônica!