1º JAMBOREE PAN-AMERICANO
Por Nilson Montoril
Para comemorar o IV Centenário do Rio de Janeiro e os 50 anos de realização do acampamento mundial na ilha de Brownsea, ...
... a União dos Escoteiros do Brasil realizou na cidade do Rio de Janeiro, o 1º Jamboree Pan-Americano. O monumental evento, que se tornou realidade no período de 18 a 25 de julho de 1965, reuniu escoteiros de diversos países do globo.
Da esquerda para a direita da foto: Luiz Tadeu, Nelson, Biroba, Mozart Souza, Gerônimo Acácio, Fiúza, Ubaldo Medeiros(centro,de branco), Gitinho (como o Biroba chamava o menor escoteiro do acampamento,) Urivino Bandeira( mostrando o jornal "O GLOBO" que enaltece o escotismo do Amapá), Santiago (lendo o jornal), João Lázaro(agachado), Haroldo Nery e Nilson Montoril(sentado).
A Região Escoteira do Amapá se fez presente com uma delegação composta por 38 discípulos de Baden-Powell, que integravam os grupos Veiga Cabral, Marcílio Dias, São Jorge e João Gualberto da Silva, chefiados pelos chefes Clodoaldo Carvalho do Nascimento, Benedito Santos, Manoel Ferreira, Expedito Cunha Ferro e Hilkias Alves de Araújo. Os preparativos para a longa viagem foram intensos. Os escoteiros aprenderam o hino do Jamboree que o Trio Irakitan havia gravado, realizaram promoções diversas como cordões de pássaros, teatro, bingo, rifas, venda de artesanatos e passagem de livro de ouro para angariar recursos financeiros. Eu(Nilson Montoril)), Raimundo Magalhães, Manoel Ferreira (Biroba) e o lobinho Ângelo Pires da Costa, ensaiamos e apresentamos a peça “A Galinha dos Ovos de Ouro”, encenada no Barracão Pio XII (quintal dos Padres) e nos cine-teatro das vilas Amazonas e Serra do Navio. Personificando o Gigante Ferrabraz, usei um figurino recheado com travesseiros, o que levou muita gente a pensar que artista fosse o irmão Francesco Mazollene, o famoso caterpillar. O sucesso em Serra do Navio foi tão grande que fizemos várias apresentações sábado e domingo. É claro que a ICOMI foi bem generosa conosco em termos de cachê. Embarcamos para Belém ao anoitecer do dia 8 de julho de 1965. A concentração dos escoteiros ocorreu na Praça Tibúrcio Andrade, em frente ao Macapá Hotel. Uniformizados, com as mochilas, bandeiras e outros apetrechos próprios do escoteiro, aguardamos o momento de embarcar no rebocador Araguary. Como o Araguary puxava a alvarenga Uaçá, gastou 46 horas para cobrir o percurso entre Macapá e Belém. No alvorecer do dia 11 de julho desembarcamos na Bacia da Doca Souza Franco e em ônibus fretado rumamos para o Rio de Janeiro. Até alcançarmos a rodovia Bernardo Sayão, o ônibus trafegou sobre pista asfaltada. Após alcançar o trecho próximo a Capanema/Pará, enveredou por uma estrada sem capeamento asfáltico, fazendo-nos enfrentar poeira até Brasília. Na capital federal permanecemos algumas horas na Estação Rodoviária devido à troca de viatura.
Levávamos uma sucuri de 4 metros enrolada em um veado, ambos empalhados (foto acima), fato que aguçou a curiosidade das pessoas, inclusive da imprensa. Diante do espanto dos curiosos dizíamos que aquela sucuri ainda era filhote de cobra. Um ônibus novo nos transportou até o Rio de Janeiro, aonde chegamos por volta das 17h30 do dia 14 de julho. O grande acampamento ainda estava sendo montado, razão pela qual tivemos que nos alojar no prédio que abrigaria o Hospital Universitário da Ilha do Fundão. Estava anoitecendo e descemos do ônibus cantando a “Canção da Alvorada”, mais conhecida como “O Rio Soluça”. Os versos adaptados à bela canção foram concebidos pelo Coronel Luiz Ribeiro de Almeida. Por um capricho do destino, encontramos alojados no mesmo imóvel os escoteiros do Rio Grande do Sul que rapidamente foram ao nosso encontro. Estávamos com tanta fome que em pouco tempo acabamos com o estoque de bananas dos nossos irmãos de ideal. Ao amanhecer do dia 15, fomos conhecer o espaço onde permaneceríamos por 10 dias. A ilha do Fundão possuía algumas instalações da Marinha, na orla da Baia da Guanabara, mas era despovoada na área próximo ao Aeroporto do Galeão e a Avenida Brasil. As máquinas que fizeram à raspagem do terreno delimitaram os campos com a terra removida. Em uma divisória eu tive a ideia de construir um fogão de duas bocas que virou atração no acampamento.
No sentido dos ponteiros do relógio: Manoel Ferreira ( Biroba -Tropa Marcilio Dias ), Nilson Montoril ( Tropa São Jorge ), Urivino Bandeira ( Tropa Veiga Cabral ), Ubaldo Medeiros ( Tropa Marcilio Dias ) e Nelson ( Tropa João Gualberto da Silva). Em 1965, apenas esses grupos existiam no Território Federal do Amapá.
Também confeccionei uma mesa utilizando bambu. Essas duas pioneirias nos garantiram a bandeira de eficiência por dois dias.
No campo aonde nos instalamos tivemos como vizinhos os escoteiros da Venezuela, Uruguai, Espírito Santo e Escócia. O Biroba só chamava os escoceses de “saiudos”( foto menor - escoteiro escoses no stand do Amapá ) porque o uniforme deles compreende o uso de saias feitas com lã, com xadrez colorido (tartan) chamadas kilt. Elas têm franjas decorativas e um grande alfinete de bebe. A solenidade de abertura do Jamboree ocorreu na manhã do dia 18 de julho e fazia muito frio. Alguns carros do Jornal “O Globo” distribuíram exemplares de edições antigas a fim de que pudéssemos forrar o chão, ainda úmido devido às chuvas e as baixas temperaturas. O dia-a-dia decorreu com alvorada, café, hasteamento da Bandeira, almoço, jantar, serviços de pioneirias, jantar e fogo-de-conselho. A programação comportava passeios aos pontos turísticos do Rio de Janeiro, inclusive ao Maracanã. Também passeamos na Baia da Guanabara, em embarcações da Marinha de Guerra. Dia 26 de julho, ao deixarmos a Ilha do Fundão, fomos hospedados em um casarão, em estilo colonial, no bairro da Lapa. Na manhã do dia 27, numa deferência especial da ICOMI, fomos a São Paulo, viajando pela Rodovia Presidente Eurico Dutra. Permanecemos 8 horas em São Paulo, tempo suficiente para conhecermos o Estádio Paulo Machado de Carvalho, o famoso Pacaembu. Retornamos ao Rio de Janeiro no mesmo dia, prontos para deixar a capital do então Estado da Guanabara. Saímos do Rio de Janeiro, dia 28 de julho, alcançando Belém ao anoitecer do dia 1º de agosto. Deixamos o ônibus e nos agasalhamos na Alvarenga Uaçá, que estava na Doca de Souza Franco aguardando carga. A demora foi de 12 dias, parecendo que tínhamos sido abandonados. Soubemos posteriormente que o comando da revolução militar, em Macapá, estava hostilizando o movimento escoteiro e que alguns escotistas tinham sido presos. Lamentavelmente, a Representação do Governo do Amapá, em Belém, sequer forneceu alimentação aos escoteiros. Eles se alimentaram vários dias com farofa feita com óleo. Só consegui retornar à Macapá no dia 14 de agosto, porque comprei uma passagem dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. A despeito desses percalços a experiência foi extremamente válida. Guardo com muito carinho três fotografias que recebi do Chefe Clodoaldo, retratando as pioneirias que fiz. Outra foto mostra parte da delegação de escoteiros do Amapá.
Nota do Editor:
Eu também fiz parte da delegação de escoteiros que representou o Amapá naquele evento, sem dúvida, inesquecível. Sempre Alerta a todos! ( João Lázaro )
(Repaginado em 2013)