Por Humberto
Moreira
Decorria
o ano de 1974 quando aqui surgiu a notícia que a então CBD estava planejando a
realização de um torneio de futebol, envolvendo os ex-Territorios Federais da
Amazônia.
A nossa Federação era presidida pelo engenheiro Manoel Antônio Dias,
que tinha dado uma alavancada no futebol local fazendo parceria com a imprensa
e restabelecendo a confiança dos clubes na entidade.
No Rio as
reuniões se sucediam na CBD sob o comando do Almirante Heleno Nunes. Entre os
que defendiam a realização da competição estava um paraense, que morou em
Macapá por muito tempo e por motivos de saúde havia se mudado para o Rio de
Janeiro.
Raimundo Osmar Pontes Holanda se tornou amigo do presidente da
confederação e foi o maior defensor do oficialmente chamado de Torneio da Integração.
Tanto que, depois, Holanda passou a ser chamado pela imprensa de “Pai do
Copão”.
Passou-se
quase um ano nas tratativas e finamente foi batido o martelo. Haveria o Copão e
a primeira edição foi marcada para julho de 1975 em Porto Velho, capital de
Rondônia. Poderiam participar os campeões das quatro unidades envolvidas.
Pelo
Amapá o representante seria o Esporte Clube Macapá, maior detentor de títulos
locais da época e dono de um senhor time de futebol.
O Acre já
era Estado, mas o futebol lá ainda era amador, como acontecia nos demais
participantes. O representante acreano era o Juventus, uma potência comandada
pelo craque Dadão, coadjuvado por Emilson e Carlinhos. O Baré jogaria por
Roraima e o Ferroviário, denominado Tricolor da Madevia, por ser ligado à
estrada de ferro Madeira-Mamoré, seria o anfitrião.
Imaginem
uma delegação de 27 pessoas se deslocando de Macapá para Porto Velho, numa
longa viagem no YS-11 da Cruzeiro do Sul, passando por Santarém, Manaus e por
fim duas horas sobre a floresta amazônica até chegar à capital de Rondônia.
Para nós era como se fosse a própria Copa do Mundo. Um grupo barulhento de
jogadores, dirigentes e imprensa ficou hospedado no Hotel Vitória, centro da
capital e se preparou para encarar a competição. Logo depois da chegada baixou
sobre Porto Velho um fenômeno chamado friagem, que desce da cordilheira dos
Andes e atinge locais como Porto Velho e Rio Branco, que estão próximos da
fronteira com Perú e Colombia.
E foi num
frio de 16 graus que o Macapá fez sua estreia diante do Ferroviário, o dono da
casa. O azulino jogou uma partidaça e bateu o tricolor por quatro a um. Antes
disso houve abertura da competição com a presença dos presidentes das
Federações e com Raimundo Holanda representando a CBF. Eu havia trabalhado com
ele em 1971 numa escapada de oito meses até o Rio de Janeiro e já o conhecia
muito bem. Era um sujeito calmo e ponderado que não levantava a voz nunca e
tratava a todos com delicadeza. Ele ficou alegre ao me rever. Holanda seria
presidente da Confederação Brasileira de Basquetebol tempos depois.
Mas
voltemos ao torneio. Depois da primeira rodada os rondonienses encasquetaram
que deveriam colocar um segundo representante deles na competição. Convocaram
uma reunião à noite e a gente foi pra lá. No grupo estavam Raimundo Anaice,
Mair Bemerguy e Edésio Lobato pelo Macapá. Pedro Assis e Manoel Dias pela
Federação Amapaense. Da imprensa Guilherme Jarbas, João Silva, Nilson Montoril
e eu. Numa manobra muito bem montada o presidente Manoel Dias propôs que a
entrada do Moto Clube deveria ser por unanimidade, dando a entender que votaria
a favor. O resto dos dirigentes caiu na esparrela. Para a surpresa de todos o
Duca (apelido dele) votou contra e jogou um balde de água gelada, como o vento
daquela noite, nas pretensões do pessoal de Porto Velho. Mas a primeira rodada
foi anulada e o Macapá teve que começar tudo de novo.
Aí foi a
vez de encarar o Juventus. A imprensa acreana, composta pelo jornalista José
Chalub Leite (Placar), Belmiro Xavier e Valdemir Canizo (Difusora Acreana) e
Campos Pereira (Rede Amazônia) nos falava maravilhas do time juventino. E era
realmente verdade. Dadão havia jogado no Fluminense e voltara para Rio Branco
ainda exibindo um grande futebol. O centro avante Bira disse depois que “tomar
a bola do Dadão só se bater nele com um pau”.
Mas o
Macapá era o Macapá. Depois de várias escaramuças de ambos os lados o time do
Acre começou a estudar mais as jogadas, pois percebeu que entrar na zaga
comandada por Nariz e Albano não seria fácil. Mais atrás, no gol azulino estava
Aluísio pegando até pensamento. De repente um contrataque, Marco Antonio chegou
quase debaixo do gol e cabeceou no ângulo. GOOOOOLL DO MACAPÁ. E bastou só
aquele. O azulino despachou o poderoso Juventus de volta pra casa. Me vi correndo
dentro de campo para abraçar o goleiro do Leão da avenida FAB. Aluísio jogou
uma partida impecável. Tanto que foi o jogador mais cumprimentado pelos
adversários.
Veio o
jogo contra o Baré de Roraima que não chegou a ser fácil como a gente esperava,
mas o Leão ganhou de novo e desta vez por três a dois. O time vermelho de Boa
Vista lutou muito, porém teve que se curvar ao melhor futebol do time comandado
pelo Tenente Amaral.
Agora
faltava encarar o Ferroviário novamente. Surgiu um impasse de última hora. Alguns
jogadores do Macapá não queriam entrar em campo. Afinal na primeira partida do
Torneio eles já haviam jogado e vencido o tricolor. Ao baterem os outros
adversários já seriam campeões. Reúne, chama todo mundo para o debate. Eu
estava no meu apartamento com o João Silva quando fomos chamados a opinar
também. Disse ao grupo que realmente o time já era campeão, mas já pensou
vencer os rondonienses pela segunda vez? Entrem em campo de novo e batam neles.
Assim foi feito. A torcida do Ferrim passou a noite na frente do Hotel Vitória
espocando foguetes, batendo tambores e fazendo barulho pra não deixar o time
amapaense dormir. Não adiantou. O nosso representante deu um baile de bola e
venceu com gols de Barrado, Carlos Roberto (Pé) e Aldo.
Eram 08hs
da manhã do dia seguinte. No Mercado de Porto Velho um grupo fazia a maior
festa em meio a muita cerveja, para o espanto dos que estavam ali fazendo
compras. Eram os dirigentes, jogadores e a imprensa amapaense festejando aquela
vitória épica. Porto Velho ainda nos veria em outras edições do Copão da
Amazônia, mas nunca como naquela manhã, depois do Macapá conquistar o I Torneio
da Integração.
Fonte: Facebook