Hoje trago, para ativar a Memória da Política Amapaense, uma foto que
encontrei, já há algum tempo, num dos arquivos históricos da cidade, mas que
não havia identificado de que se tratava. Não encontrei, num primeiro momento,
nem pessoas ou ambientes que me facilitassem a identificação daquela ação
registrada nas imagens. Finalmente, através de uma postagem da amiga Rita
Goebel - uma atuante colaboradora e integrante do grupo do Memorial Amapá -
ocorrida em julho passado, tive finalmente, a resposta que tanto procurava.
Num único comentário que a matéria recebeu, o jornalista
Ernani Marinho deixou registrado, de forma clara e brilhante, ricos detalhes de
um momento político eleitoral, vivido no país.
Ele conta que “nas eleições presidenciais de 1950, o governador
Janary Nunes apoiou o candidato do PSD (Partido Social Democrático), seu
partido, Christiano Machado, que concorreu com Getúlio Vargas, candidato do PTB
(Partido Trabalhista Brasileiro). ”
Segundo Ernani “o
candidato vitorioso foi Getúlio Vargas, do PTB, com o Brigadeiro Eduardo Gomes,
da UDN, em segundo. O candidato de Janary ficou em terceiro. ”
Diz ainda que, “com a
posse de Getúlio na Presidência da República, a expectativa geral era que
viesse a substituir Janary Nunes no cargo de governador, o que não aconteceu. Getúlio
o manteve no cargo. ”
Ernani complementa dizendo que “pesou, em favor de Janary, para a sua manutenção no cargo de
governador, o fato de que tinha a mesma formação militar de Getúlio, além de
estar desenvolvendo com sucesso administrativo a implantação do Território,
assim como ter demonstrado grande liderança nas eleições, já que Christiano
Machado só ganhou a eleição no Amapá e no Pará, este também governado por um
militar, o Gen. Barata. ”
Sabendo, agora, de que evento se tratava, resolvi editar um
post para o Porta-Retrato, reproduzindo a foto e sua história para os nossos
leitores.
Voltei ao Ernani, para identificar o local daquela
manifestação. Ele só sabia que era em Macapá.
Recorri então ao amigo Nilson Montoril, que mesmo em férias
com a família, longe do Amapá, nos atendeu e complementou:
“ Em
1950, o candidato do Partido Social Democrático-PSD, era Cristiano Machado, que
concorreu com Getúlio Vargas (PTB), brigadeiro Eduardo de Gomes e outros
candidatos.
Janary
Nunes, que tinha sido nomeado governador do Território Federal do Amapá por
Getúlio Vargas, em 27 de dezembro de 1943, foi o único gestor público filiado
ao PSD que se manteve fiel a seu partido.
Na
eleição de 5 de outubro de 1950, Cristiano Machado superou com boa margem de
votos de todos os adversários ficando na terceira posição no computo geral. A Única
coisa deferente que os eleitores de Cristiano Machado usaram foi um boton
colorido em forma de broche."
"A
imagem de propagandistas do PSD foi captada na atual Avenida Presidente Vargas
quase esquina com Cândido Mendes, em frente à sede do partido.
O
prédio era da família do coronel Manuel Theodoro Mendes (pai de Dona Carmem
Mendes e avô do Machadinho da PMM).
As duas mangueiras são as que estão perto da banca do
Dorimar, na Praça Veiga Cabral. ”
Saiba
quem foi Cristiano Machado:
Cristiano
Monteiro Machado nasceu em Sabará (MG), no da 5 de novembro de 1893, filho de
Virgílio Machado e de Marieta Monteiro Machado.
Bacharel
pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro em 1918, de volta a Minas
Gerais foi oficial-de-gabinete do presidente do estado, Raul Soares, entre 1922
e 1924. Nesse último ano, assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa de
Minas Gerais. Prefeito de Belo Horizonte entre 1926 e 1929, em março de 1930
elegeu-se deputado federal. Renunciou ao mandato em setembro para ocupar a
Secretaria do Interior do governo estadual de Olegário Maciel. Partidário da
Revolução de 1930, que levou Vargas ao poder em novembro desse ano, nesse mesmo
mês deixou a pasta do Interior.
Em
maio de 1933, conquistou uma cadeira na Assembleia Nacional Constituinte e em
outubro de 1934 foi eleito deputado federal. Renunciou ao mandato em 1936, para
ocupar, em setembro, a Secretaria de Educação e Saúde Pública de Minas Gerais,
no governo de Benedito Valadares. Deixou o cargo no início de novembro de 1945,
em decorrência da deposição de Getúlio Vargas (29/10/1945) pelos chefes
militares e do consequente término do governo Valadares. Ainda em 1945,
filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD), em cuja legenda foi eleito
deputado à Constituinte de 1946.
Em 15
de maio de 1950, foi lançado candidato à presidência da República pelo PSD nas
eleições que se realizariam em outubro. Dois dias depois, o conselho nacional
do partido ratificou oficialmente essa decisão, que entretanto ainda dependia
de confirmação na convenção nacional.A ala getulista do PSD do Rio Grande do
Sul (favorável à indicação de Nereu Ramos) recusou-se a aceitar a candidatura
de Cristiano Machado.
Ainda
em maio, membros do Partido Social Progressista (PSP), de Ademar de Barros,
comunicaram que não apoiariam Cristiano, já que a candidatura de Getúlio
Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), apoiada por Ademar, seria
lançada em 17 de junho. Embora o PSD ficasse dividido, o nome de Cristiano
Machado foi aclamado no dia 9 de junho, na convenção nacional do partido. Em
julho, a maioria do Partido Republicano (PR) manifestou-se favorável ao
candidato oficial do PSD, indicando o seu afiliado Altino Arantes para a
vice-presidência. Cristiano fez ainda uma aliança com Hugo Borghi, candidato ao
governo de São Paulo pelo Partido Trabalhista Nacional.
Nas
eleições de 3 de outubro de 1950, a chapa Cristiano Machado-Altino Arantes
(PSD-PR) concorreu com as de Eduardo Gomes-Odilon Braga (União Democrática
Nacional) e Getúlio Vargas- João Café Filho (PTB-PSP), entre as mais
importantes. Vargas saiu amplamente vitorioso, contando, inclusive, com votos
de vários redutos do PSD. A transferência dos votos de Cristiano para Vargas
caracterizou um processo de esvaziamento eleitoral que ficou conhecido no
jargão político como "cristianização". A chapa udenista ficou em
segundo lugar.
Em
1953, foi nomeado embaixador do Brasil junto à Santa Sé. Tendo assumido o cargo
em outubro, faleceu pouco depois, em Roma, no dia 26 de dezembro de 1953.
Foi
casado com Celina Magalhães Gomes. Viúvo, casou-se pela segunda vez com Hilda
von Sperling.
Seu
arquivo pessoal encontra-se depositado no Centro de Pesquisa e Documentação da
História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas.
(Disponível em cpdoc.fgv.br/)