“Os Mocambos” foram pioneiros na divulgação do folclore amapaense, graças
à visão do seu Hernani Victor Guedes(foto), que não mediu esforços para realizar o
disco, apesar dos percalços desde a gravação (feita de forma simultânea com
todos os instrumentos e vozes, na casa do sociólogo e fotógrafo Alberto Uchôa)
até a chegada no Recife, onde a fita foi filtrada pela gravadora Rozenblitz,
depois de ficar perdida. Bom, depois de achada o disco chegou a Macapá e obteve
muito sucesso nas rádios, aparelhagens de som e nos bailes. Suas músicas, que
tocavam até no “Carnê Social” (aquele programa que oferecia músicas aos
aniversariantes e recém-nascidos, aos que casavam ou aos que eram
batizados),...(Fernando Canto)
Um dos sucessos do disco foi
“Devaneio”, de autoria do Sociólogo Fernando Canto, que também foi premiada em
segundo lugar e melhor Intérprete (José Maria Santos, hoje Jomasan) no IV
Festival Amapaense da Canção (1972).
Ouça aqui:
O grupo “Os Mocambos”, pioneiro nos
anos 1970 na gravação do marabaixo, ritmo tradicional afro-amapaense que até
então não era muito bem visto pela sociedade.
(Foto: Reprodução/blog Som do Norte)
A foto mostra o grupo no baluarte
de Nossa Senhora da Conceição da Fortaleza de São José de Macapá, em 1973.
Da esquerda para a direita: Hernani
Guedes (violinista),
Guimarães (saxofonista, tecladista,
arranjador),
Fernando Canto (guitarra base e
vocal),
Aldomário Henriques (guitarra solo
e vocal),
Zé Maria Teles (contrabaixo), Tito
(Cícero) Melo (voz)
e Pedro Balieiro (bateria)
Ernani Victor Guedes – idealizador
do grupo musical - é natural de Cametá, Pará e farmacêutico de profissão.
Hernani chegou ao Amapá em 1950,
aos 26 anos, para trabalhar no Hospital Geral de Macapá, levando consigo seu
inseparável violino. Antes disso, já tinha conhecido o marabaixo, em viagens
que fizera ao então Território Federal do Amapá desde 1946.
(Foto: Reprodução/acervo Cícero Melo)
(Foto: Contribuição do músico Cicero Melo (Tito), ex-integrande dos Mocambos)
Da esquerda para direita: Hernani Guedes, Tito Melo, Aldomário Henriques, José Maria, Pedro Balieiro, Fernando Canto e Guimarães (falecido).
“Os Mocambos”, foi formado por volta de
1963. Em 1968 ocorreu a ideia de levar o marabaixo ao disco; o grupo concordou em
gravar um LP com 6 músicas autorais e 6 marabaixos. Numa ida a Belém, Hernani combinou
a gravação com seu amigo, o fotógrafo Alberto de Andrade Uchôa, que tinha um
gravador de teclas com microfone. Uchôa se interessou, ficando de levar o
equipamento de gravação para Macapá e depois entregar o material registrado à gravadora Rozemblit, em Recife. Deu-se então
a gravação das 12 músicas, numa sala improvisada como estúdio, na residência de
Uchôa, na Av. Pe. Julio Maria Lombaerd, e em um tempo recorde de quatro horas,
das 22h às 2h. Como às 4h Uchôa já pegava o voo para Pernambuco, o grupo gravou
e não pôde ouvir o resultado em seguida.
Aliás, demorou para ouvir! Em julho
se soube em Macapá que a fita cassete que Uchôa levara havia sido roubada da
pousada onde ele se hospedara no Recife. Coincidiu que Hernani soube da notícia
quando recebia a visita de Livaldo, dono de laboratório farmacêutico da capital
pernambucana, que se comprometeu a localizar o material. Botou um detetive
atrás da fita, enfim localizada num sebo recifense em setembro!
Livaldo
providenciou a entrega do material à Rozenblit e passados mais oito meses o LP
Marabaixo chegava a Macapá "para alegria de de todos os componentes do
grupo Os Mocambos, familiares e a comunidade negra", relembra
Hernani.
(Foto: Reprodução da capa/acervo particular)
Capa original (by Carlos Nilson Costa) do disco do Conjunto "Os Mocambos"
Composições do disco
Folclore de domínio público:
1 - Rosa Branca açucena
Ouça:
2 - Olô Olô
Ouça:
3 - Lírio Roxo
Ouça:
4 - Aonde tu vais rapaz
Ouça:
5 - Vem pra cá Yoyô, Vem pra cá Yayá
Ouça:
6 - Eu tinha mamãe, eu tinha
Ouça:
Composições do Grupo:
7 - Devaneio (Fernando Canto)
Ouça:
8 - Tema de Viver (Aldomário e Fernando)
Ouça:
9 - Brasul? Branorte (José Maria Santos - JOMASAN)
Ouça:
10 - Declaração (Hernani Victor Guedes)
Ouça:
11 - Elizabete (Tito e Fernando Canto)
Ouça:
12 - Amor que sonhei (Hernani Victor Guedes)
Ouça:
Músicos participantes do disco: Bateria: José Maria Santos, Contrabaixo: Eulálio Lucien, Guitarra solo: Aldomário Henrique,Guitarra base: Fernando Canto, Violino: Hernani Victor Guedes, Órgão: Raimundinho, Crooner: Cícero (Tito) Melo, Cantores: Aldomário - Fernando - José Maria e Cícero (Tito), Sax tenor: Ismael, Bongô: Martinho Ramos, Vocal, afuxê: Elizabete Ramos, Fláuta: Cícero (Tito), Banjo: Venilton Leal
O lançamento foi feito no bairro do
Laguinho, onde Hernani conhecera o marabaixo ainda nos anos 40 na casa de
mestre Julião. A prova do acerto da ousadia não tardou: a diretoria do Círculo
Militar, "na época clube fino, da alta sociedade local", convidou “Os
Mocambos” para lançar o disco num baile do clube. Era um respaldo considerável:
"Desse dia em diante o chique era dançar o marabaixo nas festas onde Os
Mocambos tocavam."
Hernani Victor Guedes foi o primeiro músico a gravar um LP,
mostrando não somente as composições dos componentes do grupo, mas o primeiro a
divulgar a raiz do folclore amapaense, o Marabaixo. Possui músicas gravadas em
CD’s de coletâneas comemorativas ao aniversário de Macapá, participou de vários
festivais de música. Em destaque para o I Festival da Canção Amapaense (1971),
onde obteve o 2º Lugar e venceu o prêmio de música mais popular, com a canção
“Declaração”.
Ouça aqui:
(Foto: Reprodução/blog Memorial Poço do Mato)
(Foto gentilmente cedida pela amiga Neca Machado (tem direitos autorias reservados)
Hernani Victor, foi integrante como primeiro
violino da Orquestra Primavera, tendo se apresentado no Teatro Nacional do
Distrito Federal/Brasília, no Teatro das Docas do Pará e na Inauguração do
Teatro Pinheiros – SESC Pinheiros em São Paulo. Realizava apresentações em shows
institucionais e particulares como: Feira Agropecuária, Macapá Verão, feiras culturais
em escolas públicas, Teatro das Bacabeiras, Convenções do Rotary Internacional,
festas de casamentos, aniversários e outros eventos.
Suas apresentações eram marcadas pela
irreverência das melodias apaixonadamente envolventes, que vibravan no bailar do
arco nas cordas do seu violino mágico, mostrando nos seus shows um estilo
próprio e único desse artista erudito para tocar a música brasileiramente
Amapaense.( Kiara Guedes – filha
de Hernani)
(Atualização em 1/08/2022)