Texto: Édi Prado
Em 1987 fui o primeiro editor do Jornal do Dia. E criei a sessão
pioneira visando resgatar o pioneirismo dos prédios e pessoas. Todo domingo
publicava uma página retratando e registrando os fatos da cidade. A página
ganhou importância e as portas foram se abrindo para entrevistar essas pessoas.
Chegar para conversar com o “seo” Durval foi um desafio. Era tido como
durão, sem meias palavras e não ria nunca. Era alto, compleição física de
domador de búfalo e usava óculos grosso com aro de tartaruga. Ele estava
avisado que iria naquele dia e naquela hora. Nem pensar em atrasar um segundo.
Ele tinha um parentesco com meu pai. Me identifiquei e ele foi logo
perguntando: o que é que tu quer saber? Fala logo que tenho muita coisa para
fazer. E foi assim. Mas foi dócil e suave nas respostas e eu todo suado.
O pioneiro Durval Alves de Melo
nasceu na cidade de Afuá/PA, em 03 de dezembro em 1924. Saiu da terra natal em
18 de março de 1944.
Contou que seus pais morreram cedo e
que foi levado para Belém pela madrinha para trabalhar como carregador de
carga. Mas não era este o sonho dele. Não achava muita vantagem nesta profissão.
Não vislumbrava um futuro decente. Sem alternativa, fugiu da casa dela.
Na capital paraense, Durval trabalhou
na estrada de ferro, depois no Departamento de Limpeza Pública de Belém. E foi
lá que ouviu falar de Macapá. Diziam que estavam precisando de mão de obra e o
governo estava contratando muita gente.
Ele não tinha o dinheiro para a
viagem. Decidiu que tinha que ir para este lugar e resolveu pedir ajuda a um
cidadão de nome Tibúrcio Ribeiro de Andrade, dono do barco que fazia linha para
Macapá. Depois de responder algumas perguntas, lhe concedeu uma passagem.
Mas só de ida.
Ao chegar ao trapiche Eliezer Levy,
encontrou um ancião sentado num banco debaixo de umas mangueiras, bem em frente
à cidade. Enquanto conversava com o idoso, ficava olhando os operários que
trabalhavam na construção do Macapá Hotel. E nessa conversa descobriu que o
cidadão era conterrâneo de Afuá.
Essa coincidência lhe rendeu o
convite para se alojar na casa dele até encontrar emprego e um lugar para
morar. Um lugar para morar e alimento, já era tudo que precisava naquele
instante. Depois ficou sabendo que havia um barraco do governo, uma espécie de
albergue, onde ficavam os "imigrantes".
Conseguiu logo um trabalho. O
Governador Janary Nunes estava contratando. Falava com orgulho por ter ajudado
a construir o Macapá Hotel. Lá ele descascou cebola, batata, e depois passou a
ser uma espécie de apontador, que distribuía tarefas, pela facilidade com que
dominava os serviços.
Depois foi padeiro, cavou valas para
a encanação do primeiro Poço do Mato, o primeiro de Macapá que atenderia a
população da pequena cidade. Devido ao porte físico, foi convidado pelo
governador para exercer a função na Guarda Territorial onde permaneceu durante
sete anos.
Foi um dos primeiros e temidos
"guardas", que formaram o primeiro grupo que patrulhava a cidade.
Durval dizia que sempre teve ambição por dias melhores. Não tinha vocação para
ser empregado. Na folga saia vendendo mercadorias à prestação.
‘Seo’ Durval fez questão de registrar
a atuação dele no Garimpo do Vila Nova na Companhia Ramas Exploration, que
explorava ferro e outros minérios. E com uma certa economia resolveu deixar a
Guarda Territorial. Tinha uma poupança de cem Contos de Réis. Com esse
dinheiro, montou o "Urca Bar" na esquina da Av. Feliciano Coelho com
a rua Eliezer Levy, no bairro do Trem, iniciando as atividades etílicas e um
espaço de encontro noturno.
Depois o badalado C l i p Bar, o barzinho
famoso em frente ao Mercado Central. Um ponto perfeito: Parada de ônibus, local
dos “carros de praça”, como era chamado o táxi, carreteiros, trabalhadores de
um modo geral, bêbados, marreteiros, policiais, um referencial da época.
Era um empreendedor nato. Inaugurou o
King Bar, um misto de mercearia/bar, no Igarapé das Mulheres. Foi quando
resolveu alçar o grande voo: Comprar o Bar Society. O mais chic e frequentado
pela elite. Lá funcionava o bar e restaurante.
Inaugurou também um novo e atraente ponto
de encontro da cidade. E nesse embalo foi representante e distribuidor
exclusivo das cervejarias Antarctica, Brahma e dos refrigerantes Garoto, Pepsi,
Teem e Mirinda.
Em 1987, ano desta entrevista, ‘Seo”
Durval já contabilizava duas fazendolas. Uma com 800 cabeças de gado bovino e
outra com 800 cabeças de búfalos, além da Casa do Pecuarista, hoje sob a
administração dos filhos, também pioneira para atender aos pecuaristas.
Durval Melo, orgulhava-se de ser
pioneiro no Amapá, onde dizia que com o fruto do trabalho e da disciplina,
investiu tudo na terra que ele adotou como a dele.
Durval Melo, casou-se com Dona
Sulamita Fernandes de Melo, em 5 de maio de 1951, com quem gerou seis filhos,
sendo quatro homens e duas mulheres.
O Pioneiro Durval Alves de Melo
faleceu dia 25 de maio de 2001 e Dona Sulamita faleceu em 1º de agosto de 2011.
Ambos estão sepultados em Macapá, no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no
Centro da Cidade.
INFORMAÇÃO HISTÓRICA - O Clip Bar foi um pequeno quiosque instalado em frente ao Mercado Central, em Macapá, onde tomava-se café e conversava-se bastante na cidade. Geralmente era frequentado por jornalistas, professores, empresários além da população, antes de ir para o trabalho, e depois das 18 horas, no retorno.
Foi montado pelo empresário Durval Alves de Melo em 25 de março de 1950.
(...)
Em 1967, o governo militar do Amapá resolveu extinguir o local, em razão “da frequência de vários baderneiros que atentavam contra a segurança nacional”. (Edgar Rodrigues) Fonte: blog "Coisas do Amapá"
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