Por Nilson Montoril
Os católicos de Macapá e Mazagão tradicionalmente iam passar
o círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém. Como a maioria dos devotos era
constituída de pessoas carentes de recursos financeiros, os proprietários de
embarcações que não perdiam a grande festa transportavam os que lhe eram mais
próximos. O primeiro Círio de Belém aconteceu no dia 8 de setembro de 1793, à
tarde, seguindo o roteiro que ainda hoje é respeitado. Anualmente, os
produtores de Macapá e Mazagão iam a Belém levando grandes balaios de castanha,
cacau e frutas diversas. Os gestores municipais eram obrigados a promover a ida
destes agricultores, mas acabavam arcando com as despesas da viagem dos que se
viam motivados pela fé.
Com a queda do preço da borracha, na primeira década de 1900,
os Intendentes Municipais sentiram a pressão do povo católico que exigia deles
o fornecimento de passagens fluviais. No início do ano de 1934, cansado de ser
pressionado para mandar devotos a Belém, o Intendente de Macapá, major Eliezer
Levy, que era membro da comunidade judaica do Pará, propôs ao Padre Phelipe
Blanck, vigário da Paróquia de São José, a realização do Círio de Nossa Senhora
de Nazaré em Macapá. Sua proposta foi discutida pelas associações religiosas
então existentes e aprovada. As providências iniciais começaram a ser tomadas
em seguidas reuniões realizadas na sala de audiência da Intendência Municipal,
redundando na eleição da diretoria da festa que ficou assim constituída: Juízes
de Honra – Interventor Federal no Pará, Joaquim de Magalhães Cardoso Barata;
Deputados Abel Chermont, Clementino de Almeida Lisboa e Acilino de Leão
Rodrigues; Intendente Municipal de Macapá, Eliezer Moisés Levy. O Dr. Acilino,
natural de Macapá, era médico, literato, professor e político. Fizeram parte da
Diretoria: Phelipe Blanck (vigário de Macapá), Dr. João Gualberto Alves de
Campos (Juiz de Direito da Comarca de Macapá), Tenente-Coronel Jovino
Albuquerque Dinoá (coletor federal e fundador do jornal Correio de Macapá),
Clodóvio Gomes Coelho (comerciante e político), José Maria de Sant’Ana (
segundo faroleiro de Macapá), Vicente Ventura (comerciante) e Secundino Braga
Campos( comerciante, pecuarista e político). A única imagem de Nossa Senhora de
Nazaré existente em Macapá pertencia à família Serra e Silva que a cedeu à
Paróquia de São José. A berlinda foi montada sobre um velho automóvel, devidamente
adaptado para os fins religiosos. A programação fixou os dias 3 e 4 de novembro
de 1934, para a transladação e o círio respectivamente. Às 20h30, de 3 de
novembro, um sábado, os fiéis se concentraram em frente a casa da família Serra e Silva, situada à Travessa
Coronel José Serafim Gomes Coelho(resta apenas o trecho conhecido como Passagem
Barão do Rio Branco), no Largo dos Inocentes, área atrás da Igreja de São José,
de onde saiu a trasladação.
O povo, conduzindo archotes e círios, seguiu pela
Passagem Espírito Santo (entre a igreja e a Farmácia, hoje Biblioteca Pública),...
...Travessa Siqueira Campos (atual Av. Mário Cruz), dobrou à direita na Rua Visconde de Souza Franco (Rua Amazonas), virando à esquerda para alcançar a Rua 24 de Outubro (chamada pelo povo de Rua da Praia) até a casa do Oficial do Registro Civil Cesário dos Reis Cavalcante onde a imagem pernoitou.
...Travessa Siqueira Campos (atual Av. Mário Cruz), dobrou à direita na Rua Visconde de Souza Franco (Rua Amazonas), virando à esquerda para alcançar a Rua 24 de Outubro (chamada pelo povo de Rua da Praia) até a casa do Oficial do Registro Civil Cesário dos Reis Cavalcante onde a imagem pernoitou.
No domingo, dia 4 de novembro, o foguetório iniciado às 6
horas saldava o novo dia e convocava os devotos para a grande festa. Às 8h,
teve início a romaria. À frente do cortejo ia um piquete formado por 60
cavaleiros armados de lanças que, com clarins e fanfarras anunciavam ao povo a
passagem da procissão. A seguir, vinha o anjo Custódio, imagem colocada sobre o
dorso de um boi manso chamado Beleza, seguido de uma corte de anjinhos
ricamente trajados. Depois, o carro dos milagres, onde se via uma reprodução da
imagem da Virgem de Nazaré que salvou a vida de Dom Fuás Roupinho. Marujos
carregavam barquinhas votivas, em ondas e maresias, dando um cunho pitoresco à
procissão. Por fim, a Berlinda puxada à corda por devotos, acompanhada por
autoridades e do povo até alcançar a Igreja de São José.
Durante o transcurso da romaria uma banda de música tocava
hinos em louvor a Nossa Senhora. No fim do cortejo houve missa e depois o
leilão dos doados à Mãe de Jesus, repetido na segunda-feira, dia 5 de novembro,
pela manhã. A festa durou apenas oito dias, com reza diária do terço, ladainha
e cânticos. No arraial havia brincadeiras diversas, venda de produtos da região
e de comidas típicas. Na época Macapá não possuía luz elétrica e os candeeiros,
lampiões, archotes e velas foram usados para clarear o Largo da Matriz. Na segunda-feira, dia 12, deu-se o recírio em
um curto percurso entre a Igreja de São José e a casa da família Serra e Silva
dona da imagem da santa. Nos anos de 1935 e 1636, a imagem de Nossa Senhora
ainda pertencia a particulares. Apenas em 1937, a comunidade católica de Macapá
doou uma imagem à Paróquia de São José.
Pesquisa e texto de Nilson Montoril, extraído do blog
Arambaé, adaptado ao blog Porta-Retrato.
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