quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Uso de bicicletas em Macapá

(*)Por Nilson Montoril
Não há registros formais sobre a existência de bicicletas em Macapá antes da criação do Território Federal do Amapá, em 1943. Elas começaram a aparecer na cidade a partir do ano de 1945. 
A casa Leão do Norte,(foto) então administrada pela família Zagury foi a primeira a vender os fascinantes veículos da marca Hércules. Em pouco tempo, quem não possuía uma bicicleta podia alugá-la pagando um cruzeiro à hora. O negócio era mantido pelo macapaense Francisco Marques Picanço, o Mixico, que ainda reside na capital do Amapá. O próprio Mixico fazia a manutenção de suas bicicletas e montava e lubrificava as que eram vendidas na Casa Leão do Norte, onde trabalhava.
No decorrer de vários anos o Mixico destacou-se como o melhor ciclista da cidade, representando a Congregação Mariana e o Juventus Esporte Clube. Andar pedalando uma bicicleta Hércules dava um prestigio danado, notadamente se o veículo fosse próprio. O Mixico tinha umas 3 ou 4 bicicletas, todas impecáveis quanto ao estado de conservação. Creio que, atualmente, apenas o José do Carmo Tavares, o Zeca Eletricista é o único cidadão de Macapá a manter em funcionamento suas duas bicicletas da marca Hércules. E saiba que o Zeca tem mais de 80 anos de idade e todos os dias transita pelas ruas de Macapá.
(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/Google images)
Comprar uma bicicleta da marca Hércules não era privilégio reservado a qualquer um. O preço era salgado se comparado ao de outras marcas que depois foram aparecendo. A Casa Leão do Norte manteve a primazia de vender com exclusividade, por muitos anos, as bicicletas Monark. 
(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/Google images)
Foi neste estabelecimento comercial que, em 1966, comprei minha única bicicleta, um modelo com barra circular (semelhante a da foto) intitulado “Monark Copa do Mundo”. 
(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/blog Velhas  Bicicletas)
Antes, tive o prazer de pedalar uma bicicleta Goricke (fabricação alemã)...
(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/site João de Souza Lima)
...e outra Mercswiss (fabricação totalmente brasileira), que pertenceram respectivamente as minhas irmãs Nice e Nancy.
Reprodução: Google images





Lembro que a logomarca da Mercswiss era uma bela caravela(foto), cuja placa vinha presa com rebites na parte do quadro por onde era embutido o garfo da roda dianteira e o guidom. Eram alvo de admiração as bicicletas utilizadas pelos padres italianos. 



Elas pareciam ser frágeis, mas suportavam muito bem o corpanzil do Irmão Leigo Francesco Mazollene, o famoso Catterpilar(foto). Esse devotado religioso transportava com freqüência, sobre os ombros, um quarto trazeiro de carne bovina que os membros do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras consumiam na então Prelazia de Macapá. Fazia isso subindo a Rua Cândido Mendes, trajeto compreendido entre o Frigorífico Territorial (que ficava na esquina da citada rua com a Avenida Coaracy Nunes) e a Casa dos Padres, na Rua São José.





(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/blog bicicletas antigas)
As duas primeiras bicicletas oriundas da Itália, ambas da marca Bianchi, fabricadas em Treviglio, Milão a partir de 1885, pela fábrica de Edoardo Bianchi, chegaram a Macapá no dia 5 de outubro de 1948. 
Elas vieram por via marítima até Belém e daí para Macapá em embarcações do governo territorial. Estavam montadas e prontas para uso imediato. 
Os dois maiores utilizadores das bicicletas eram o Padre Lino Simonelli e o irmão Francisco. O Padre Lino virava Macapá de cabeça pra baixo. Muito brincalhão, ele mesmo apitava com a boca para afastar apalermados do caminho. Ia frequentemente pregar o catecismo na periferia da cidade, notadamente no Igarapé das Mulheres (Perpétuo Socorro) e o Morro do Sapo, assim denominada a parte alta no final da Rua São José, antes um precaríssimo caminho cortado por um braço do igarapé da Companhia, área que depois foi rasgada para a abertura da Avenida Nações Unidas.
Nessas andanças pela periferia da cidade o Padre Lino contava com a colaboração do médico Diógenes Gonçalves da Silva, que fazia uso de uma velha bicicleta da marca Hércules trazida de Belém.
(Reprodução: imagem meramente ilustrativa/Crédito:Josué Santos)

Outra marca de bicicleta que eu conheci e andei foi a Gulliver, fabricada em Bonsucesso no Rio de Janeiro pela firma “B Herzog”, pertencente à família de Leon Herzogera, seu fundador. Isso ocorreu a partir de 1951, e o veículo era de ótima qualidade. Em 1939 Leon Herzog possuía uma pequena fábrica na Polônia, mas a ocupação do país pela Alemanha o fez perder tudo. Em 1945, após a segunda guerra mundial Leon migrou para o Brasil. Sua lojinha de Bonsucesso cresceu até virar fábrica. Entretanto, devido a desentendimentos entre os familiares acionistas a firma encerrou suas atividades no final da década de 1950. As bicicletas de hoje são mais bonitas, leves, resistentes, mas perderam o encanto de outrora. Porém, a bicicleta é disparadamente, o veículo mais usado em todo o mundo.(Nilson Montoril)
(*) Historiador, professor, radialista e blogueiro do Amapá.

Fonte: Texto especialmente adaptado para o blog Porta-Retrato, publicado originalmente em 12/11/2013 no blog do historiador Nilson Montoril. Leia o original, na íntegra, em Nilson Montoril - Arambaé.


Nota do blog: Todas as fotos das bicicletas foram pesquisadas no Google images e extraídas de sites na internet. Estão publicadas no blog apenas a título de ilustração, sem qualquer cunho pessoal com o editor do texto.

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