Memórias de um Tempo Elegante: Uma Noite na Residência Governamental
Por Floriano Lima (*)
Mais uma das antigas... direto do meu arquivo de memórias.
Era mais uma noite memorável na residência governamental — daquelas que permanecem vivas na lembrança pela elegância simples e pelos rostos familiares de uma época que já não volta. O jantar celebrava o aniversário de Dona Irene, esposa do então governador do Amapá, General Ivanhoé Gonçalves Martins, que esteve à frente do território entre 1967 e 1972.
Lembro do General, no seu fusquinha branco, sempre discreto, dirigindo pelas ruas de Macapá. Parava com frequência na banca de jornais da praça Veiga Cabral para comprar o jornal do dia, e não raro era visto chamando a atenção da moçada para que parasse de namorar cedo — como quem zelava, com autoridade serena, pelo bom comportamento da juventude. Era uma presença marcante, mesmo nos gestos mais simples.
A casa estava cheia. Nomes conhecidos, figuras respeitadas da sociedade local — o senhor Eloy Nunes, a carinhosa Tia Anita, o sempre simpático casal Papaléo — todos presentes com a naturalidade de quem fazia parte de um mesmo tempo, de um mesmo ciclo.
Eu conhecia a todos. Não pela política ou pelo prestígio social, mas pela simplicidade do dia a dia. Frequentavam a loja do meu pai, “A Casa Lima – Joalheria e Relojoaria”, a primeira do ramo em Macapá. Um verdadeiro símbolo de tradição e confiança. Foi ali, entre relógios, alianças e conversas, que laços se formaram — e permanecem guardados comigo até hoje.
Memórias assim são como joias raras: não perdem o brilho com o tempo — apenas ganham valor.
Na foto, à esquerda, reconheço Dona Ivaneide e seu esposo Agostinho Costa, um grande cantor nos tempos de ouro da Rádio Difusora de Macapá. À frente, estão Dona Anita e o senhor Eloy Nunes. Mais atrás, junto à parede, de bigode e terno, está o senhor Manoel Luiz, esposo da professora Terezinha Sampaio, que lecionava piano no Conservatório Amapaense de Música.
Depois, aparece o General Ivanhoé, com Dona Irene sendo cumprimentada por um dos convidados. Atrás do governador, vejo o Mauro, funcionário de uma repartição pública localizada atrás da Catedral de São José.
Estavam lá também o senhor José Maria Papaléo Paes, então presidente da CAESA, acompanhado de sua esposa. Atrás dele, identifico meus pais — Dona Iris Lima e o senhor Luiz Lima — discretamente posicionados atrás de uma senhora de vestido estampado.
São fragmentos de uma história que carrego com carinho. Partes de um tempo em que a vida social de Macapá girava em torno de encontros como esse, marcados por afeto, respeito e uma sensação de pertencimento difícil de descrever — mas fácil de sentir, mesmo tantos anos depois.
(*) Fotógrafo
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